Na nota que emitiu este sábado – «Escolasticídio em Gaza: como Israel quer matar o futuro da Palestina» –, o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) sublinha que aquilo que está a acontecer na Faixa de Gaza «é um escolasticídio».
O organismo solidário lembra a grande preocupação expressa em Abril deste ano por peritos da ONU com «o padrão de ataques a escolas, universidades, professores e estudantes na Faixa de Gaza», tendo lançando um «sério alarme sobre a destruição sistémica do sistema educativo» palestiniano.
«Com mais de 80% das escolas em Gaza danificadas ou destruídas, pode ser razoável perguntar se existe um esforço intencional para destruir de forma abrangente o sistema educativo palestiniano, uma acção conhecida como "escolasticídio"», disseram então os peritos.
Escolasticídio, lembra o MPPM, é definido como «obliteração sistémica da educação através da prisão, detenção ou assassinato de professores, estudantes e funcionários, e da destruição das infra-estruturas educativas».
«Todas as 12 universidades de Gaza foram bombardeadas e total ou parcialmente destruídas. 85% das escolas requerem reconstrução total ou parcial. Quase 10 mil estudantes e mais de 400 profissionais de ensino, incluindo pelo menos 95 professores universitários foram mortos», denuncia o texto.
A educação como grande património dos palestinianos
A educação dos filhos assume um papel especial para os palestinianos, num contexto em que, recorda o MPPM, Israel lhes rouba as terras, lhes derruba as casas, lhes destrói as colheitas, lhes coarcta a liberdade, lhes nega uma pátria.
«Para os palestinianos, a educação é uma forma de resistência. As crianças vão à escola ainda que tenham de passar horas nos checkpoints. Nas comunidades beduínas, as escolas que Israel destrói são reconstruídas dezenas, centenas de vezes. Na educação fortalece-se o sentimento nacional do povo palestiniano», sublinha o MPPM, acrescentando: «É isso que Israel não pode tolerar. Por isso arrasa escolas e universidades e chacina professores e alunos.»
De acordo com o Gabinete Central de Estatística da Palestina, a taxa de literacia em 2022 era de 98,2% na Faixa de Gaza e de 97,8% em toda a Palestina. A mesma fonte revelava que, em 2017, frequentavam a escola 98,1% das crianças entre seis e 11 anos, 97,0% dos 12 aos 14 anos e 84,3% dos 15 aos 17 anos.
Novo ano escolar em Portugal, não na Faixa de Gaza
Em 6 de Novembro de 2023, na sequência do ataque israelita, «as autoridades de Gaza foram forçadas a suspender o ano escolar, [e] não mais os 625 mil jovens e crianças do território voltaram à escola», recorda ainda o MPPM.
No contexto da «brutal agressão militar» lançada por Israel contra a Faixa de Gaza «com o pretexto de silenciar a resistência» palestiniana, foram mortos mais de 41 220 palestinianos (estimando-se que pelo menos 15 mil sejam crianças) e mais de 95 410 ficaram feridos – uma grande parte dos quais são também crianças.
As instalações escolares têm sido particularmente visadas por Israel, que «alega que albergariam resistentes palestinianos», refere a nota, na qual o MPPM sublinha que tal alegação «não se coaduna com o facto de muitas das vítimas serem crianças e que não pode ser validada porque Israel recusa a presença de comissões de inquérito independentes».
«Escolas e hospitais têm servido de abrigo temporário para a maioria dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza que Israel mantém em permanente deslocação forçada», afirma.
O povo palestiniano não está só
O organismo solidário português destaca a solidariedade internacionalista que tem sido expressa pelo mundo fora ao povo palestiniano, para afirmar: «Mas é preciso mais.»
Neste contexto, declara a necessidade de «denunciar todas as formas de cooperação com o governo genocida de Israel» e de «suspender os programas europeus de financiamento de projectos que Israel desvia para alimentar a sua máquina de guerra».
Também diz ser preciso «cortar os laços com as universidades israelitas instaladas em colonatos ou envolvidas em projectos militares» e pôr fim a transacções de material militar com Israel».
«É preciso que cada pessoa se informe e se abstenha de contribuir para a economia de guerra de Israel ao adquirir produtos israelitas ou de empresas que beneficiam economicamente do sistema de colonização e de apartheid israelita», defende o MPPM.
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