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Máquinas chinesas podem reduzir «jornada tripla» das agricultoras no Nordeste

Os equipamentos estão em fase de teste no estado brasileiro do Rio do Grande do Norte e a expectativa é de que possam melhorar a qualidade de vida no campo, sobretudo a das mulheres.

A expectativa é de que, com a mecanização possibilitada pelas máquinas chinesas, a produção aumente em pelo menos 25% 
CréditosNacho Lemus / MST

O início da operação das máquinas chinesas na região Nordeste do Brasil pode ter um impacto positivo no trabalho das agricultoras. A apreciação é das próprias trabalhadoras, que esperam que, com a chegada da maquinaria, possa diminuir o tempo de trabalho e aumentar o rendimento da produção.

«Infelizmente, as mulheres têm jornada tripla, né? Elas trabalham na roça, elas trabalham em casa e muitas vezes ainda têm que ir para a feira. Muitas vezes ainda estudam. E isso [as máquinas chinesas] vai otimizar o nosso tempo na roça porque a gente também precisa ir para a feira, a gente também precisa vir para os encontros do movimento para mostrar a nossa produção e ainda precisamos de outra coisa que é a logística de mercado», disse Antônia Diana da Silva, agricultora e moradora no Assentamento São Romão, na cidade de Mossoró (Rio Grande do Norte).

«É um sonho também do agricultor e da agricultora familiar essa mecanização do campo. Enquanto eu limpo uma carreira com a enxada, eu vou limpar quatro com a máquina», afirma a trabalhadora, referindo-se ao grande salto que os equipamentos podem proporcionar ao cultivo familiar e para a agroecologia.

Diversas personalidades e entidades estiveram presentes no acto de celebração da parceria Brasil-China, em Apodi // Morgana Souza / MST

«Dá pra usar a máquina pra tudo. Dá sim pra usar essas máquinas na produção agroecológica, trazendo alimento de qualidade e sem agrotóxico para mesa do trabalhador e para mesa da população brasileira», acrescenta.

Início da operação

Na sexta-feira passada, iniciou-se a operação em solo brasileiro dos equipamentos fabricados por empresas chinesas, durante uma demonstração na cidade de Apodi (Rio Grande do Norte). O acto contou com a presença do ministro brasileiro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, e da governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (ambos do PT), além de dirigentes sindicais e de movimentos populares, indica o Brasil de Fato.

Esta iniciativa faz parte de uma parceria entre o Brasil e a China, alinhavada pelos movimentos populares e o Consórcio Nordeste. O acordo teve início em 2022, quando o Consórcio assinou um memorando de entendimento com o Instituto Internacional de Inovação de Equipamentos Agrícolas e Agricultura Inteligente da Universidade Agrícola da China, e a Associação de Fabricantes de Máquinas Agrícolas do país asiático. Também foi subscrito pela Associação Internacional para a Cooperação Popular (conhecida como Baobá).

«Os companheiros da China têm um compromisso connosco: a partir das máquinas que nós acharmos que são importantes, eles ajudarão a implantar fábricas de máquinas para a agricultura familiar aqui no Nordeste», apontou João Pedro Stédile, da direcção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Mulheres agricultoras testam máquinas chinesas no Rio Grande do Norte (Brasil) // Afonso Bezerra / Brasil de Fato

«Não tem política bem-sucedida sem participação dos movimentos sociais. O MST é quem sugeriu e ajudou a viabilizar essa parceria», explicou o ministro Paulo Teixeira, durante uma conferência de imprensa em Apodi.

Por seu lado, a professora Yang Minli, da Universidade Agrícola da China e uma das principais intervenientes neste intercâmbio, citou as semelhanças entre as realidades do Brasil e da China, e enalteceu a parceria entre os dois países.

«Tanto a China como o Brasil são grandes países agrícolas. Nos últimos anos, a nossa parceria em agronegócio vem crescendo e cada um se beneficia com essa transacção comercial. Porém, devemos lembrar que a China, apesar de ser um grande país, tem uma agricultura pequena, tal como aqui. A nossa agricultura fica a cargo de pequenas famílias, como aqui no Nordeste», disse, citada pelo Brasil de Fato.

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Delegação chinesa no Brasil antes de chegarem máquinas para a agricultura familiar

Uma delegação chinesa está no país sul-americano para promover o intercâmbio tecnológico e conhecer a realidade rural. Consórcio Nordeste, governo do Rio Grande do Norte e MST estão envolvidos em parceria.

No âmbito da parceria, devem chegar da China, em Novembro, 25 máquinas para serem testadas em Apodi, no Rio Grande do Norte 
CréditosLucas Weber / Brasil de Fato

Um grupo de 14 representantes da Universidade Agrícola da China tem estado a realizar um périplo pelo Brasil desde dia 10, que deve terminar esta terça-feira. Segundo revela o Brasil de Fato, trata-se do mais recente capítulo de uma troca de conhecimentos e tecnologia entre entidades de ambos os países, depois de uma aproximação que se deu há cerca de ano e meio.

Tendo como propósito conhecer a realidade da agricultura familiar brasileira, a delegação chinesa esteve na Escola Nacional Florestan Fernandes, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), seguindo depois um grupo para a Bahia e outro para o Rio Grande do Sul.

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No centenário de Florestan Fernandes, MST celebra os 15 anos da Escola Nacional

No centenário do nascimento de Florestan Fernandes, o MST lembra que, para o intelectual, só existe uma força capaz de transformar a sociedade brasileira: «o movimento político das classes trabalhadoras».

Casa de Artes Frida Kahlo na ENFF
CréditosMichele Gonçalves / Brasil de Fato

Esta quarta-feira, 22 de Julho, passaram 100 anos sobre o nascimento do intelectual e um dos grandes pensadores do povo brasileiro, Florestan Fernandes. A ocasião é aproveitada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) para evocar a sua figura e os 15 anos da fundação da Escola Nacional que tem o nome do pensador.

Na página do MST lembra-se que Florestan Fernades se licenciou em Ciências Sociais e foi professor titular de Sociologia na Universidade de São Paulo (USP). No período de exílio, durante a ditadura militar brasileira, leccionou nas universidades de Yale, Columbia e Toronto, nos EUA e no Canadá. No regresso ao Brasil, foi eleito deputado constituinte pelo Partido dos Trabalhadores (PT), em 1986, e reeleito para a Câmara, em 1990, até à sua morte, em 1995.

Enquanto «pensador das classes trabalhadoras», desenvolveu uma visão do Brasil e da sociedade brasileira fundamental para entender o contexto actual, de aprofundamento das desigualdades sociais, afirma o MST, lembrando que Florestan Fernandes foi ele mesmo «parte da classe trabalhadora, fazendo da sua própria vida seu legado». Filho de uma imigrante portuguesa que prestava serviços domésticos, começou a trabalhar aos seis anos como engraxador e exerceu várias outras ocupações para ajudar a sustentar a família.

Adelar Pizetta, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), membro do sector de formação do MST e colaborador da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), explica que para Florestan só havia uma força capaz de transforma a sociedade brasileira: «o movimento político das classes trabalhadoras.»

Inspirados no legado de Florestan Fernandes, mais de mil trabalhadores sem-terra, com o apoio de outros movimentos sociais e de uma campanha internacional de recolha de fundos – em que participaram o músico Chico Buarque, o escritor José Saramago e o fotógrafo Sebastião Salgado – lançaram mãos à obra, de forma voluntária e auto-organizada. E, assim, há 15 anos foi inaugurada a ENFF, em Guararema, no interior do estado de São Paulo.

«Na concepção do pensador, o estudo deveria estar ligado sempre a uma forma de acção política para transformar a realidade e criar uma sociedade mais democrática», lê-se na página do MST. De acordo com a equipa da Coordenação Política Pedagógica (CPP) da ENFF, desde sua fundação, a escola tornou-se um «espaço de formação política-ideológica e técnica para a classe trabalhadora brasileira, compreendendo a função transformadora da educação».

«A ENFF procura ampliar o acesso da classe trabalhadora ao estudo e aos conhecimentos dos quais é historicamente excluída. E vincular esses conhecimentos e saberes a um projecto de país, uma concepção de transformação social em prol dos excluídos», afirma a equipa.

Geraldo Gasparin, coordenador do sector de formação do MST, explica que a escola também colocou como desafio nestes 15 anos «formar quadros políticos com o compromisso que teve Florestan Fernandes». «Estudar a realidade brasileira para propor as mudanças e um projecto socialista de sociedade», disse.

Sendo um «profundo conhecedor da dureza e dinâmica de exploração das classes trabalhadoras pelas elites, Florestan formulou várias contribuições às classes trabalhadoras brasileiras», algumas das quais actuais e que ajudam a compreender «a lógica de desenvolvimento do capitalismo, as características da burguesia nacional e as perspectivas históricas de luta, para criação de instrumentos que possibilitem as transformações estruturais na sociedade», realça o MST.

Um espaço de referência para os trabalhadores a nível internacional

Quinze anos após a sua fundação, a 23 de Janeiro de 2005, a escola transformou-se numa referência para a classe trabalhadora internacional, tendo por ali passado militantes e dirigentes de várias organizações populares de diversos países.

O espaço conta com aulas e espaços de formação, ministrados por educadores e intelectuais voluntários de universidades públicas, profissionais parceiros e representantes de movimentos, organizações e partidos populares, explica o MST. As temáticas da formação incidem na questão agrária, na realidade brasileira, na luta de classes, no marxismo, no feminismo, entre outras.

Inspirada em Florestan e Paulo Freire, a ENFF pratica a pedagogia colectiva do pensar e fazer cotidiano em várias frentes, nomeadamente o processo de busca e produção do conhecimento, manutenção dos espaços colectivos, mística, produção de alimentos.


Desta forma, explica a página do MST, desenvolve-se o método do trabalho colectivo, a pedagogia sem-terra assente na realidade do campo e dos saberes populares, o diálogo e a troca de experiências.

«O centro desse esforço dialéctico é voltado para a apropriação dos conhecimentos da história, da formação social do nosso país e dos seus abismos sociais, que só com as mudanças estruturais, feitas pelos trabalhadores auto-organizados, sob a unidade com os deserdados da terra e da cidade, a luta dos de baixo poderão garantir dignidade ao povo brasileiro», afirma a CPP da ENFF.

Adelar Pizetta, membro do sector de formação do MST e professor da UFES, destaca que entre as várias lutas de Florestan na sociedade brasileira, uma das principais foi pelo direito da classe trabalhadora ao acesso à educação pública e de qualidade.

«Uma educação que ao criar a consciência crítica pudesse colocar os trabalhadores numa posição ofensiva nas lutas de classes. Não era qualquer escola, nem qualquer educação, mas aquela que ajudasse "os debaixo" a entrarem na arena e disputas políticas fazendo a história», defende.

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No Nordeste do Brasil, os elementos da delegação chinesa visitaram as unidades produtivas do MST no município de Prado e a Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto. No Sul, passaram pelas cooperativas da cadeia de produção de arroz orgânico do movimento.

Posteriormente, os representantes da Universidade Agrícola da China dirigiram-se  para o estado do Rio Grande do Norte. Ali, visitaram a cidade de Apodi, que vai ser a sede da unidade demonstrativa onde devem chegar e ser testadas, em Novembro, máquinas agrícolas chinesas de diferentes modelos.

No total, refere o Brasil de Fato, devem chegar ao Brasil 25 máquinas viradas para a agricultura familiar, na sequência de uma parceria que envolve o Consórcio do Nordeste, o governo estadual do Rio Grande do Norte, a Associação Internacional para a Cooperação Popular (AICP), o MST, a Universidade Agrícola da China e a Associação de Fabricantes de Máquinas Agrícolas chinesa.

Em declarações ao portal brasileiro, Luiz Zarref, investigador da AICP, disse que «a sede será no município de Apodi, mas também vai ser possível que essas máquinas sejam testadas em outras regiões do Nordeste, espaços de cooperativas, assentamentos da reforma agrária e centros de formação. A ideia é que num prazo de dois anos sejam testadas a qualidade, a capacidade de adaptabilidade com implementos que já existem aqui no Brasil e as condições com a agricultura camponesa».

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Tanto mar... mas a maré inverteu-se

Num mundo a preto e branco, partilhado entre um paradisíaco “jardim” ameaçado e uma tenebrosa “selva” sem escrúpulos, quem não está connosco está contra nós. E Lula, não haja dúvidas, está contra nós.

CréditosAntónio Pedro Santos / Agência Lusa

Uma primeira nota antes de entrar na matéria substantiva.

A primeira visita de Estado do presidente brasileiro Luiz Inácio da Silva (Lula) foi aos Estados Unidos para se encontrar com o decrépito homólogo Joseph Biden, sinalizando assim uma política de continuidade em relação à tradição de Brasília. Ou, pelo menos, a intenção de não agitar imediatamente as águas no relacionamento com o sempre ameaçador vizinho do Norte.

À luz factual das relações entre o Brasil e os Estados Unidos durante a última década pode considerar-se intrigante que Lula da Silva tenha dado primazia a Biden nas suas deslocações ao estrangeiro, porque não se trata de um qualquer presidente norte-americano. Biden foi interveniente, como vice-presidente na administração Obama, no desenvolvimento do lawfare, a manobra jurídica, conspirativa e golpista que levou Lula à cadeia como passo determinante para tentar acabar com a sua carreira política; no seguimento da operação, a mesma administração dos democratas de Washington manipulou o golpe/”revolução colorida” que provocou a dissolução da administração de Dilma Rousseff, igualmente do Partido dos Trabalhadores, o mesmo de Lula, e abriu portas à gestão desastrosa do fascista Bolsonaro. Tudo isto dá que pensar.

Na recente visita a Washington, Lula fez coro com o anfitrião na condenação da intervenção militar russa na Ucrânia e defendeu a integridade territorial deste país, posições que, no plano formal, quase o sintonizam plenamente com os Estados Unidos e os seus satélites da União Europeia e da NATO.

Postas as coisas neste pé, as polémicas que explodiram em Portugal a anteceder e durante a visita oficial do presidente brasileiro funcionaram desde logo como montagens artificiais e calculistas, sobretudo por envolverem o período das celebrações populares e oficiais (não as confundir) do 25 de Abril. O que foi uma coincidência de agendas funcionou como oportunidade para misturar coisas, levantar muita poeira, tentar abafar as comemorações da Revolução e catapultar matéria acessória como tema único da destrambelhada gritaria mediática dos meios corporativos. Nas motivações mal encobertas de uma típica reacção pavloviana da casta dominante em Portugal acabaram por revelar-se diferenças entre o Brasil e o Portugal de hoje que são mais do que pormenores – mesmo dizendo-se que é logo a partir destes que o diabo penetra nas engrenagens.

A entranhada mentalidade colonial

Passemos agora aos factos concretos e extensivos que cavam as diferenças entre o Brasil e o regime português actual e que tanto preocupam a camada dirigente implantada ao serviço da União Europeia e da NATO.

Até ver, o posicionamento internacional da nova gestão de Lula parece corresponder a uma estratégia ainda aparentemente indefinida de alguém à procura de um difícil equilíbrio, em tempos de profundas alterações mundiais, assente na proclamação de princípios intocáveis e na soberania nacional.

Como se percebeu a propósito da deslocação do presidente brasileiro a Portugal, o comportamento de Lula é inadmissível para a submissa classe dirigente lusitana, porém arrogante e obsessiva na defesa e proclamação de interesses alheios aos dos povos português e brasileiro. A prática do chefe de Estado brasileiro, ainda que omissa em vários aspectos definidores, distancia-se desses interesses, assume uma postura de quem pensa pela própria cabeça na qual se percebe uma preocupação com a independência nacional. Lula não deixa dúvidas de que defende acima de tudo aquilo que interpreta como sendo os interesses dos brasileiros.

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Indignados com Lula da Silva. Porquê?

Pacheco Pereira considera inaceitáveis as declarações de Lula sobre a guerra da Ucrânia. Marques Mendes defende que “casos e casinhos” legitimam a convocação de novas eleições. Raquel Varela afirma que o assédio moral e sexual são também fruto da desigualdade. Estes são os temas para mais uma edição de “Os Comentadores, com Nuno Ramos de Almeida e Pedro Tadeu, que ainda debatem um caso de censura numa exposição.

Pacheco Pereira considera inaceitáveis as declarações de Lula sobre a guerra da Ucrânia. Marques Mendes defende que “casos e casinhos” legitimam a convocação de novas eleições. Raquel Varela afirma que o assédio moral e sexual são também fruto da desigualdade. Estes são os temas para mais uma edição de “Os Comentadores, com Nuno Ramos de Almeida e Pedro Tadeu, que ainda debatem um caso de censura numa exposição.

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Ora, soberania e independência nacional são conceitos arcaicos para a europeíssima e natíssima elite que corrói Portugal, cada vez mais receptiva às variantes de colarinho branco e trauliteira do neo-salazarismo e ao troar de uma comunicação social ferozmente totalitária que as acarinha com enlevo. Uma situação em que, ao contrário dos interesses brasileiros, os dos portugueses são quotidianamente dizimados. Por exemplo, pelas auto-flageladoras sanções que Lisboa impõe por exigência de outrem e que Brasília rejeita liminarmente.

Assim sendo, o Lula que desembarcou em Portugal não passa de um putinista mais ou menos encapotado porque, mesmo reconhecendo a soberania e integridade territorial da Ucrânia, não se dispôs a enviar armas para prolongar a matança em curso e, talvez pior, insiste em falar de paz, de direito internacional, de reorganização da ONU, do FMI e do Banco Mundial e de outras coisas inadmissíveis para a “ordem internacional baseada em regras” ditadas de Washington.

Num mundo a preto e branco, partilhado entre um paradisíaco “jardim” ameaçado e uma tenebrosa “selva” sem escrúpulos, quem não está connosco está contra nós. E Lula, não haja dúvidas, está contra nós.

O presidente brasileiro deveria estar obrigatoriamente connosco para que se respeitem as afinidades burocraticamente invocadas em Lisboa, Bruxelas, restantes capitais da União Europeia e Estados Unidos e que não passam de assanhados tiques coloniais e imperiais finalmente a perder espaço e poder ao nível planetário. O presidente brasileiro, se observarmos objectivamente o seu posicionamento perante as contradições dos tempos em mudança, pretende actuar como sujeito da História. Ao contrário de Portugal.

A fronteira da ordem mundial

Essa é uma diferença de fundo entre um país que foi colónia, mas agora luta por ser autenticamente independente e um país colonial transformado em colónia sem perder os ademanes presunçosos de “civilizador”, “justiceiro” e “missionário”, agora do globalismo predador. A inquisitorial entrevista montada pela RTP a Lula, formatada como um julgamento em que o réu, já condenado sem remissão, deveria responder da maneira exigida pelo ríspido juiz de turno, foi um exemplo vivo do terrível choque de mentalidades entre o norte e o sul do Oceano Atlântico.

O que verdadeiramente separa Lula do poder português, e que tanto preocupa políticos, analistas e comentadores incapazes de admitir qualquer coisa que não respeite a opinião única, são os conceitos em que deve assentar a nova ordem mundial.

A dominante económica e política em Portugal, seguindo obedientemente os caminhos suicidas que lhe são impostos, agarra-se a uma “ordem internacional baseada em regras”, a estrutura unipolar e imperial que conduz o mundo desde a queda do muro de Berlim e se arrasta agora numa agonia belicista e perigosa; ao invés, a gestão de Lula orienta-se por uma ordem internacional multipolar nascente, constituída por Estados soberanos e iguais entre si, baseada na cooperação mutuamente vantajosa e sem ingerências nos assuntos uns dos outros – tal como determinam a Carta das Nações Unidas e o direito internacional. A nova ordem em construção, demonizada pela mentalidade que se pretende única, mais não é do que o restabelecimento do direito internacional, descredibilizado e desacreditado por uma oligarquia globalista que o encara como um estorvo aos seus “direitos” divinizados e “civilizadores” vigentes no tal “jardim”, sempre empenhado em universalizá-los, preferencialmente à custa de guerra, destruição e muito sangue humano.

“Eles querem uma nova ordem mundial!”, escandalizou-se recentemente o presidente da Assembleia da República, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e putativo candidato à Presidência, o inenarrável Santos Silva. Falava a propósito das intenções soberanistas da Rússia, China e muitos outros países que formatam um novo tipo de relacionamento entre as nações mundiais do qual estejam ausentes os agora omnipresentes mecanismos de subordinação - a aplicação imperial da lei do mais forte.

«A dominante económica e política em Portugal, seguindo obedientemente os caminhos suicidas que lhe são impostos, agarra-se a uma “ordem internacional baseada em regras”, a estrutura unipolar e imperial que conduz o mundo desde a queda do muro de Berlim e se arrasta agora numa agonia belicista e perigosa; ao invés, a gestão de Lula orienta-se por uma ordem internacional multipolar nascente, constituída por Estados soberanos e iguais entre si.»

A defesa da soberania brasileira é, como vimos, um aspecto em que Lula contradiz o comportamento da elite portuguesa. E essa opção implica outras que cavam ainda mais o fosso entre Brasília e Lisboa.

O conteúdo da recente visita do presidente brasileiro à China funciona como pedra de toque essencial desse distanciamento.

Lula e Xi Jinping falaram de paz, e não apenas na Ucrânia, um tema tabu e subversivo no chamado Ocidente colectivo. E, como consequência natural disso, sublinharam a necessidade de negociações para solucionar a guerra ucraniana e travar a matança em curso.

A abordagem de temas como a paz, a solução negociada de conflitos, a igualdade entre Estados, a complementaridade equilibrada das economias e do comércio internacional tal como foram abordadas em Pequim não estão sintonizadas, obviamente, com a NATO na qual Portugal se enterrou com o que tem e não tem.

“Deixou de se falar de paz”, lamentou Lula em Portugal num tom educadamente conciliatório mas que funcionou como um recado diplomaticamente poderoso estabelecendo, desta maneira, uma fronteira estanque entre Lisboa e Brasília. Por isso, a inclusão do termo “paz” nos documentos conjuntos luso-brasileiros acordados em Lisboa é um exercício de hipocrisia do lado de cá. As autoridades portuguesas limitaram-se, afinal, a seguir os comportamentos mistificadores assumidos por parceiros maiores da União Europeia, como a Alemanha e a França, assinando compromissos sem a menor intenção de os respeitar – como aconteceu nos acordos de Minsk, que poderiam ter evitado a chacina ucraniana. Isso mesmo foi confirmado por François Hollande e Angela Merkel a qual, no entender do chefe de Estado, merece uma das mais altas condecorações portuguesas, tal como aliás o ucraniano Zelensky. Depois não venham insultar os cidadãos portugueses que se recusam a ser agraciados por Belém para não terem de partilhar comendas com tal gente.

O papel e o teste dos BRICS

A China e o Brasil, recorda-se, são membros fundadores do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), uma entidade que lentamente se vem transformando no pior pesadelo para as mordomias do Ocidente colectivo.

Compreende-se porquê.

Através das dinâmicas abertas pelos BRICS e por outras entidades complementares onde se associam nações soberanas - como a Iniciativa Cinturão e Estrada da China (ICE), a Organização de Cooperação de Xangai (OCX) fundada pela China e a Rússia, a União Económica da Eurásia e o Tratado de Segurança Colectiva (OST), lançadas pela Rússia - a China tornou-se, a grande distância, o maior parceiro económico e comercial do Sul Global – incluindo a América Latina, o “quintal das traseiras” dos Estados Unidos da América. A estes grupos dinâmicos podem acrescentar-se outros acordos recentes como o Corredor Internacional de Transportes Norte-Sul, ligando a Rússia, o Irão e a Índia; e o Corredor Económico China-Ásia Central-Ásia Ocidental (que inclui o habitualmente designado Médio Oriente).

Estas novas estruturas traduzem uma potencial revolução em relações multilaterais e poderes regionais, na cooperação, no comércio e nas rotas mundiais de circulação de bens, matérias primas estratégicas, artefactos tecnológicos de ponta e mercadorias, funcionando alternativamente em relação aos circuitos transcontinentais há muito definidos ao sabor dos interesses específicos e exclusivistas de índole colonial e imperial.

O “jardim” do Ocidente colectivo, com os seus 15% da população mundial, começa a sentir a marginalização inerente. Entrou em pânico, em desespero e a insistência selvagem na guerra da Ucrânia, manifestando um criminoso desprezo por um e todos os ucranianos dos quatro pontos cardeais, é um dramático sinal dessa agonia. Implícitas estão a estratégia de minar não apenas o poder e a soberania da Rússia mas também a intenção de desmantelar o país como uma espécie de golpe de misericórdia para salvar a velha ordem imperial, a tal “baseada em regras” verdadeiramente desconhecidas até que qualquer cidadão do mundo sinta os seus efeitos nefastos.

O dólar perde a validade

Neste novo mundo emergindo das convergências de interesses e soberanias dos BRICS e várias outras organizações começou a praticar-se aquilo que traduz uma machadada num dos grandes pilares do globalismo, isto é, a fuga crescente da maioria da população mundial à moeda única, o dólar.

A desdolarização está na ordem do dia. As organizações transnacionais que actuam na criação da ordem internacional multipolar estão a trabalhar activamente em mecanismos de relacionamento que, para já, substituem o dólar por moedas nacionais; e também na criação de moedas de cariz transnacional baseadas em “cestas” de riqueza tangível como o ouro, matérias-primas mais valiosas e produtos alimentares. Tudo ao contrário do dólar, transformado em papel impresso associado somente à especulação financeira e que perdeu qualquer contacto com a riqueza concreta. O fim da época do dólar, que induz um requiem pelo euro, traduz o confronto aceso entre o capitalismo financeiro e o capitalismo produtivo, travado em planos diferentes de uma única ideologia, o capitalismo explorador. Daí que o esforço de situar o confronto entre a velha e a nova ordem internacional, num plano de cruzada da “democracia liberal” contra os autoritarismos e as autocracias, seja apenas mais uma manobra de manipulação porque, como está mais do que comprovado, ninguém tem as mãos limpas em matéria de respeito pela democracia, direitos humanos e valores universais. As chacinas no Iraque, Afeganistão, Síria e Líbia não são mais “civilizadas” do que a matança na Ucrânia. E as “democracias liberais”, tratando tecnocraticamente os seus cidadãos como ferramentas, números e estatísticas, servindo-se de um aparelho triturador de vidas humanas como a NATO, não hesitam em sangrar-se a si próprias para sustentar o regime autocrático, racista e de inspiração nazi-banderista como o ucraniano de Kiev.

«As organizações transnacionais que actuam na criação da ordem internacional multipolar estão a trabalhar activamente em mecanismos de relacionamento que, para já, substituem o dólar por moedas nacionais; e também na criação de moedas de cariz transnacional baseadas em “cestas” de riqueza tangível como o ouro, matérias-primas mais valiosas e produtos alimentares.»

O declarado apoio de Lula à substituição do dólar nas relações entre Estados soberanos, que corresponde aos objectivos programáticos dos BRICS, é uma das principais razões da desconfiança que os dirigentes ocidentais nutrem por ele. Nos Estados Unidos a sensação é de pânico, perceptível em reprimendas proferidas pelo próprio Biden em relação à política externa do Brasil: imagine-se o retorno e o despejo de biliões de pedaços de papel impresso com valor real ínfimo na economia degradada de um país que tem uma dívida soberana impagável mas sustentada, até agora, pelas nações e povos do mundo através da utilização potencialmente exclusiva do dólar.

A desdolarização não é um objectivo idealizado somente lá para as calendas. É um movimento concreto em curso: dados do FMI explicam que a participação do dólar nas reservas globais era de 73% em 2001, descendo para 55% em 2021 e para 47% em 2022. A descida de oito pontos em apenas um ano revela que, na actualidade, a velocidade de abandono do dólar no comércio internacional aumentou dez vezes. Essa vertigem é consequência, por exemplo, do facto de a Arábia Saudita e a China passarem a comercializar petróleo – o maior negócio bilateral do mundo – nas moedas nacionais (um golpe terrível no petrodólar); de a Rússia ter adoptado o mesmo sistema em trocas com a Índia, o Irão, a China e vários outros países; e de o Brasil ter dado indícios de passar a negociar com a China, uma parceria de grande envergadura, em yuan chinês.

Estas mudanças de fundo registam-se numa fase em que, ainda segundo o FMI, os BRICS (apenas com cinco países) representam 32,1% da economia global contra apenas 7,29% do G7, Grupo dos Sete, o cartel dos “donos do mundo” ansiosos por imporem o globalismo totalitário através da NATO e da neutralização da vontade dos cidadãos recorrendo à morfina da comunicação social e da indústria de entretenimento à escala planetária. Como pode ver-se, o “jardim” de Borrell começa a confrontar-se com a sua própria insignificância demográfica e territorial. E também com as suas crescentes insuficiências económicas, tecnológicas e, principalmente, de recursos naturais, energéticos e matérias-primas

Portugal é um canteiro irrelevante desse “jardim”; o Brasil é um gigante no meio da “selva” em progressão. O mal contido azedume raivoso colonial da triste “intelligentsia” lusa perante Lula tem essencialmente a ver com este quadro global e muito menos com a tão invocada e suposta diferença de posições em relação à Ucrânia. Que não passa de uma simples manifestação de hipocrisia porque a elite dirigente portuguesa, tal como as dos países da NATO e da União Europeia, desprezam liminarmente todos os ucranianos. Caso contrário não os condenavam a uma matança sistemática como a que continua a ser incentivada e alimentada.

O Verão pode ser muito quente

Atentemos, a propósito, no que pode acontecer já no próximo Verão com a cimeira dos BRICS na África do Sul. Como indicador importante da consistência actual do grupo veremos se Lula comparecerá nessa reunião de alto nível em que estarão também os presidentes chinês e o russo; e se o presidente brasileiro se avistará com Putin.

No entanto, como sinal do seu empenhamento em relação ao papel dos BRICS deve notar-se, por outro lado, que Lula designou Dilma Rousseff, outrora sua sucessora no cargo presidencial, como directora do banco da organização, o Novo Banco de Desenvolvimento, com sede em Xangai.

Porém, o aspecto com maior impacto estratégico dessa cimeira será o de saber qual a dimensão do alargamento dos BRICS, que pode implicar uma tremenda alteração qualitativa no cenário mundial. São 19 os países que apresentaram a sua candidatura à organização, entre eles o Irão, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, a Argentina, o México, a Turquia (membro da NATO) e a Indonésia. Países muito diferenciados, tanto ao nível político como geográfico. Mas que parecem dispostos a privilegiar interesses soberanos e a potenciar a cooperação em detrimento do que os separa. Repare-se na convergência – que parecia impossível – do Irão e da Arábia Saudita num mesmo grupo, depois de a China ter gerido um processo surpreendente, e alarmante para o Ocidente, que conduziu ao restabelecimento de relações diplomáticas entre os rivais. Repare-se ainda que este grupo de países, representando muito mais de metade da população mundial, possui a esmagadora maioria das reservas de recursos e matérias-primas estratégicas das quais dependem todo o desenvolvimento tecnológico, a inovação, a indústria de ponta e até a tão mistificadora “transição verde”.

Com Lula, o Brasil passou a actuar como uma grande potência em toda a construção deste processo capaz de determinar a nova ordem internacional multipolar. Sem quaisquer dúvidas, sobretudo a partir do alargamento, muitos outros países do Sul Global serão tentados por esta nova realidade, com as inerentes consequências restritivas para o espaço colonial/imperial.

É inevitável, portanto, que o Brasil soberano, com alma renovada, e o Portugal dependente, sem saber já muito bem o que realmente é, tenham poucos pontos de sintonia na situação mundial em transformação.

“Tanto mar a nos separar”, cantou Chico Buarque, agraciado com o mais do que merecido Prémio Camões, invocando há quase cinco décadas a enorme distância entre o Portugal libertado e o Brasil oprimido. Hoje a maré inverteu-se. Continua a haver “tanto mar” a separar, agora um Brasil que trata em primeiro lugar de si próprio e dos seus, e um Portugal verdadeiramente governado algures por máfias não eleitas e que despreza rudemente os portugueses.

«É inevitável, portanto, que o Brasil soberano, com alma renovada, e o Portugal dependente, sem saber já muito bem o que realmente é, tenham poucos pontos de sintonia na situação mundial em transformação.»

Neste 50.º ano da Revolução de Abril que atravessamos cabe ao povo português, que necessita urgentemente de recuperar a vontade, a capacidade de intervenção e a união perdidas, fazer tudo o que for necessário para dar substância à democracia e devolver a soberania a Portugal.

A soberania, ao contrário do que pretendem explicar-nos os serviçais da oligocracia e do atlantismo globalistas, não é subversiva nem autocrática. É a essência dos Estados, a base de afirmação dos interesses autênticos de cada povo. O governo não é global, os interesses próprios das nações não são transformáveis em argamassa indefinida manipulada por entidades cuja degeneração sociopática se exibe periodicamente no Fórum de Davos, os seres humanos não são zombies.

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Na conclusão do périplo pelo Brasil, a delegação asiática desloca-se à capital, onde tem agendada uma reunião sobre projectos de cooperação com a Universidade de Brasília. «Também vão ser recebidos por membros do governo federal responsáveis pela pauta da mecanização agrícola, dos bio-insumos da diversificação genética das sementes para alimentos», disse Zarref.

Desigualdade no acesso à mecanização

Por seu lado, Débora Nunes, da direcção nacional do MST, explicou que este processo de cooperação «é no sentido de a gente superar uma lacuna histórica no Brasil no que se refere ao processo de mecanização e acesso à tecnologias pela reforma agrária».

Entre os produtores da agricultura familiar no país sul-americano, 88% trabalham manualmente, contando apenas com a ajuda de animais, de acordo com os dados do último Censo Agropecuário, divulgado em 2017.

No Nordeste, a desigualdade no acesso à tecnologia é mais acentuada. Numa região que concentra cerca de 50% da agricultura familiar do país, apenas 1,5% desses camponeses trabalham com máquinas.

«A mecanização traz resultados que envolvem outras dimensões da vida. É também um factor fundamental para a gente enfrentar o debate da própria sucessão rural. De facto, a nossa juventude quer permanecer no campo. Mas quer permanecer no campo com condições de acesso à educação e ao trabalho», explica Nunes. «É uma geração que tem acesso a outras tecnologias e quer ver isso sendo aplicado também no processo produtivo», acescenta.

O intercâmbio com a China

O início formal da parceria ocorreu em Setembro do ano passado, quando as autoridades chinesas e brasileiras assinaram o Memorando de Entendimento sobre cooperação em mecanização e energia agrícolas.

Apenas 1,5% dos pequenos agricultores do Nordeste têm acesso a máquinas agrícolas / Brasil de Fato

As trocas, lembra o Brasil de Fato, já tinham começado ao longo da pandemia.

Este acordo foi firmado entre o Consórcio do Nordeste, que representa os nove estados da região, a plataforma de inovação internacional da Universidade Agrícola da China e a Associação de Fabricantes de Máquinas Agrícolas chinesa – uma organização industrial formada pelas principais fabricantes de máquinas agrícolas do país asiático.

A ponte foi facilitada pela AICP, organização sem fins lucrativos criada por movimentos populares da América Latina, África e Ásia no intuito de combater a fome, promover formações técnicas e intercâmbio tecnológico para a agroecologia.

Em solo chinês, a parceria foi reforçada por João Pedro Stedile, líder do MST, e a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), quando visitaram o país juntamente com a comitiva do presidente Lula da Silva, em Abril.

Instalação de fábricas no Brasil

A expectativa, segundo a AICP, é que, como desdobramento deste processo, se instalem no Brasil fábricas que produzam máquinas para a agricultura camponesa.

João Pedro Stedile, dirigente do MST (à direita), numa foto com o presidente da China, Xi Jinping, e do Brasil, Lula da Silva, durante a visita oficial em Abril último / brasil247.com

«Depois da fundação da República Popular da China, em 1949, a mecanização agrícola se desenvolveu rapidamente», explica um documento da Associação Internacional para a Cooperação Popular. «Actualmente existem mais de 1600 empresas de máquinas agrícolas que proporcionam apoio técnico e equipamento para garantir a segurança alimentar», afirma a organização.

«A intenção está casada com aquela do próprio governo Lula, que está nesse processo de retomada da industrialização nacional. Temos o objectivo de que, com essa aproximação da tecnologia chinesa, fábricas de lá sejam atraídas para o Brasil», defendeu Zarref.

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Agora, a ideia é testar a eficiência destas máquinas que vêm da China em solo brasileiro. «Vamos analisar a quantidade de combustível que se consome, o desgaste das peças, a manutenção, ver o seu desempenho dentro do campo, seja na colheita do arroz, seja na questão do manejo da terra. A ideia desse campo de testagem é ver sua eficiência no campo para daí fazermos as sugestões possíveis de adaptação», explicou Maria da Saúde, do sector de produção do MST, em Pernambuco.

Desenvolvimento do Nordeste

A expectativa, segundo João Pedro Stédile, é avançar na construção de unidades fabris nos estados nordestinos. Durante o discurso no acto político em Apodi, na sexta-feira, Stédile criticou o mercado concentrado de máquinas no Brasil e explicou como esse cenário é um grande obstáculo para a agricultura familiar camponesa.

«Aqui no Brasil tem oito fábricas de tractor. Na China tem oito mil. Aqui no Brasil não tem nenhuma fábrica de fertilizante orgânico. Na China tem mil e duzentas fábricas de fertilizantes orgânicos e faz o adubo com matéria orgânica, com o que sobra das famílias, dos restaurantes», disse.

«Sem fábrica no Nordeste, nós não teremos mecanização. Nós queremos que essas fábricas venham para cá para o Nordeste, venham para o Rio Grande do Norte, para que nós possamos ampliar a oferta de mecanização com preço justo», explicou Alexandre Lima, Secretário de Agricultura Familiar do Rio Grande do Norte.

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