«Poderei eu alguma vez esquecer o Sol, fonte da vida do nosso planeta, exuberante, de um branco azulado, completamente diferente da sua imagem observável desde a Terra? Os que o viram tal como ele é são ainda pouco numerosos. De todas as maneiras, estou certo de que muitos o verão, dezenas, centenas de terrestres, homens de todas as profissões e cidadãos de todos os países. Procurando decifrar os mistérios do Universo, eles sonharão com o bem dos homens.»
Estas palavras do cosmonauta e herói soviético, escritas por ocasião do cinquentenário da Revolução de Outubro, são de sobra conhecidas pelos que abordaram textos evocativos da sua vida e do feito inesquecível que a ela ficou associada. E nunca é demais lê-las. Testemunho de uma experiência humana pioneira, elas são também demonstrativas do espírito com que Iúri Gagárin abordou a viagem ao espaço extra-terrestre.
Posteriormente, dirá: «Konstantin Tsiolkovski, sábio dotado de um poder de previsão extraordinário, disse que os homens acabariam por conquistar todo o espaço à volta do Sol. Apercebo-me de que esta obra exigirá o esforço de numerosas gerações, desenvolvendo-se em consonância com o ritmo do progresso científico e técnico. Se os homens progressistas unirem os seus esforços, estou convencido de que a Humanidade construirá os primeiros degraus que conduzirão ao Espaço, talvez a Marte. Esta domesticação do Cosmos, realizada num clima de amizade, trará vantagens infinitas também segundo o plano puramente terrestre, por exemplo, em matéria de controlo do clima.»
A visão, profundamente humanista, ganhou actualidade no reconhecimento, por parte das Nações Unidas, ao contributo decisivo que o cosmonauta soviético deu para o «início da era espacial».
Na resolução A/RES/65/271, aprovada a 7 de Abril de 2011, as palavras de Gagárin ganham presença quando a Assembleia Geral se mostra «profundamente convencida de que convém a toda a Humanidade fomentar e expandir a exploração e utilização do espaço extra-terrestre, como património de toda a Humanidade, com fins pacíficos, e perseverar nos esforços para que todos os estados possam gozar dos benefícios derivados dessas actividades».
1 hora e 48 minutos em redor da Terra
Iúri Gagárin entrou para a História como o primeiro homem a viajar pelo espaço a bordo da Vostok 1 – a nave que, lançada do Cosmódromo de Baikonur, completou uma volta em órbita da Terra em 1 hora e 48 minutos, a 12 de Abril de 1961.
O interesse do jovem soviético pelo espaço vinha desde meados da década anterior. Concluída a formação num clube de aviação, onde realizou o seu primeiro voo a solo, entrou para a Força Aérea Soviética e para a Escola de Aviação Orenburg. Em 1959, já piloto de caça, candidatou-se à equipa de cosmonautas e, no ano seguinte, integrou os 20 seleccionados que foram submetidos a cursos e treinos exigentes, acabando por ser um dos seis pré-seleccionados para a preparação do primeiro voo espacial tripulado. Como um dos dois melhores qualificados, acabou por ser o escolhido para ocupar o voo da Vostok 1.
Feito de Gagárin e da União Soviética
A façanha de Iúri Gagárin, com um valor universalmente reconhecido, é igualmente um feito da União Soviética e da sua cosmonáutica na fase de maior pioneirismo. Convém não perder de vista que a impressionante força científica e tecnológica que sustentou o passeio espacial de Gagárin era potenciada num país que, 20 anos antes, fora invadido pelas forças de Hitler e que, na sua luta heróica de resistência contra o aniquilamento, perdeu mais de 20 milhões de vidas – expulsando finalmente as hordas nazi-fascistas do seu território e correndo com elas até Berlim.
O voo de Gagárin evidenciou a pujança do programa espacial soviético e o seu pioneirismo na conquista espacial: em Outubro de 1957, a URSS lançou o primeiro satélite artificial, o Sputnik, e, no mesmo ano, o primeiro ser vivo entrou em órbita: a cadela Laika. Em 1959, a sonda Luna 2 alcançou a Lua, de cujo lado oculto a sonda Luna 3 enviaria as primeiras imagens, também nesse ano. Em 1960, os cães Belka e Strelka foram os primeiros seres vivos a regressar em segurança à Terra, depois de um voo espacial. Já depois do voo de Gagárin, Valentina Tereshkova tornar-se-ia a primeira mulher a conquistar o espaço, em 16 de Junho de 1963.
Com erros, falhanços e perdas de vidas humanas, foi também um programa repleto de sucessos, ou, dito de outra forma, de contributos fundamentais para o avanço da ciência, do desenvolvimento da tecnologia e da aventura espacial em que a Humanidade se lançou.
Gagárin, herói soviético e da Humanidade, morreu novo, num voo de treino, a 27 de Março de 1968, pouco tempo depois de ter completado 34 anos. Hoje, 59 anos passados sobre aquele 12 de Abril, o seu feito inesquecível continua a ser lembrado, assim como a sua audácia, a sua coragem e o seu sorriso confiante e contagiante, que parecia vir de quem sabia que ajudara a abrir uma nova era e parecia dizer-nos que sonhava «com o bem dos homens».
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