Ao intervir no evento em Xangai, Vijay Prashad, director do Instituto Tricontinental de Investigação Social, criticou a deturpação da história por parte dos países ocidentais para servir os seus próprios interesses hegemónicos.
O especialista destacou o papel fundamental dos países asiáticos na luta contra o militarismo japonês durante a Segunda Guerra Mundial, bem como o protagonismo assumido pelo Exército soviético contra o fascismo alemão.
No entanto, denunciou, a história escrita pelo Ocidente apaga esses contributos e glorifica as potências aliadas como grandes libertadoras.
Prashad explicou a complexa relação entre fascismo, capitalismo e colonialismo, defendendo a restauração da verdade histórica – no âmbito da qual foi apresentado o relatório intitulado «O 80.º Aniversário da Vitória na Guerra Mundial Antifascista».
O académico indiano referiu-se ainda ao uso indevido de armas nucleares em Hiroxima e Nagasáqui como uma demonstração de poder que ofusca os sacrifícios feitos nas lutas antifascistas na Ásia.
Destacou, além disso, as políticas genocidas contra as populações indígenas sob o domínio colonial, comparando o fascismo e o colonialismo pelas suas características comuns de negação da soberania e da dignidade, indica a Prensa Latina.
Situação internacional «mais insegura e incerta»
Por seu lado, o embaixador cubano na China, Alberto Blanco, observou que este ano se assinala o 80.º aniversário da vitória na Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a agressão japonesa e sublinhou que, apesar das tentativas de distorcer a história, o país asiático deu um contributo significativo para a derrota do fascismo.
Blanco salientou que a actual situação internacional se está a tornar mais insegura e incerta devido ao hegemonismo, ao unilateralismo desenfreado, à intolerância ideológica e cultural, e às medidas coercivas unilaterais.
Na sua intervenção, o diplomata condenou as acções militares e extrajudiciais dos Estados Unidos no Mar das Caraíbas e no Pacífico, classificando-as como uma violação do direito internacional e uma ameaça à paz e à segurança regionais.
Reafirmando o repúdio do seu país pela Doutrina Monroe e por todas as formas de militarização ou intervenção na América Latina e Caraíbas, proclamada Zona de Paz em 2014, o representante cubano destacou que a China socialista constitui um factor de estabilidade e oportunidade a nível mundial, com iniciativas como a cooperação Sul-Sul, a promoção do grupo BRICS e a defesa do papel das Nações Unidas e do direito internacional.
«Romper a hegemonia do discurso ocidental»
Em declarações à Prensa Latina, Lu Xinyu, presidente do Fórum Académico do Sul Global, apelou à ruptura da narrativa hegemónica da Guerra Fria e à reconstrução de uma visão mundial, centrada na justiça e na paz.
A especialista afirmou que a comemoração do 80.º aniversário da vitória sobre o fascismo na Frente Oriental é fundamental para este propósito e um dos principais objectivos do encontro que está a decorrer em Xangai.
Mais de 200 convidados, de cerca de três dezenas de países, participam no Fórum Académico do Sul Global, em torno da conferência «A Vitória da Guerra Mundial Antifascista e a Ordem Internacional do Pós-Guerra: Passado e Futuro».
A propósito do evento, co-organizado pelo Fórum a que preside, a Universidade Normal do Leste da China, o Instituto Tricontinental de Investigação Social e a Universidade de Joanesburgo, Lu referiu que 2025 representa o momento mais crítico de uma mudança global sem precedentes, que exige uma redefinição histórica e conceptual da ordem mundial.
A professora chinesa sublinhou que os contributos da China e da União Soviética para a derrota do fascismo foram minimizados por uma narrativa dominante que privilegia a perspectiva dos vencedores da Guerra Fria.
Disse ainda que esta narrativa silenciou o papel do socialismo e do comunismo na luta pela paz, uma narrativa reproduzida nos media e na academia mundiais.
Lu defendeu que o socialismo, em todas as suas formas, representa os interesses da maioria popular e se opõe a todas as formas de imperialismo e de agressão.
«O Partido Comunista da China e todos os partidos socialistas do mundo em geral representam os interesses progressistas e populares do mundo; todos se opõem à guerra e defendem acordos», disse à Prensa Latina.
O desenvolvimento abrangente da China – a nível militar, industrial e agrícola – constitui um modelo alternativo à ordem hegemónica, defendeu, tendo ainda afirmado que o Sul Global, unido na defesa da paz e da justiça, é a força mais eficaz contra o ressurgimento do fascismo e das práticas de poder unilateral.
O lema «A justiça prevalecerá, o povo prevalecerá, a paz prevalecerá» orienta esta reconfiguração histórica e ética do mundo contemporâneo, lembrou.
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