Saúde, educação, transportes, banca, comércio foram alguns dos sectores de actividade onde a greve de 24 horas se fez sentir bastante, com os trabalhadores gregos a darem uma resposta contundente às reformas laborais promovidas pelo governo liberal de Kyriakos Mitsotakis.
A jornada de luta centrou-se na defesa da semana laboral de 35 horas, de aumentos salariais e da conciliação entre o trabalho e a vida pessoal, por oposição ao conteúdo do projecto de lei que o governo pretende aprovar ainda este mês, que contempla a possibilidade de prolongar a jornada diária de trabalho até às 13 horas e uma semana laboral de seis dias.
O governo pró-patronato de Mitsotakis argumenta que o tempo de trabalho além das oito diárias será compensado com um acréscimo de 40% de bonificação, mas os sindicatos denunciam a legislação como «esclavagista» e «bárbara», porque transforma os trabalhadores em «escravos dos tempos modernos», impede a conciliação familiar e destrói o tempo de lazer.
Os principais sindicatos gregos destacam a gravidade do pacote laboral que o governo pretende ver aprovado e exigem a revogação de medidas já existentes que consideram gravosas para os trabalhadores, como os despedimentos sem indemnização no primeiro ano de contrato, a restrição do direito à greve, bem como a recuperação e valorização da negociação colectiva.
A Frente Militante de Todos os Trabalhadores (PAME) classificou a reforma laboral como um «ataque brutal ao movimento operário», sublinhando que as conquistas históricas dos trabalhadores não podem ser postas em causa.
Grandes manifestações
As principais cidades gregas foram palco de grandes manifestações, também contra a «economia de guerra», com as de maior dimensão a ocorrerem em Atenas e Salónica.
Na Praça Sintagma, em Atenas, Makis Kontogiorgos, delegado sindical numa empresa de tecnologia, afirmou que «os gregos já são obrigados a sobreviver com os piores salários da Europa». «E agora ainda nos pedem que, de facto, trabalhemos a maior parte do dia», denunciou em declarações à imprensa.
Com o primeiro-ministro grego a assumir a defesa de «maior flexibilidade» no mundo do trabalho por via do ataque aos sindicatos e à negociação colectiva, e a ministra do Trabalho, Niki Kerameus, a confirmar que a nova legislação vai potenciar essa flexibilidade, os manifestantes defenderam que o rumo tem de ser exactamente o inverso.
Katerina Andritsopoulou, de 55 anos, trabalhadora numa empresa de manufactura, disse temer que, com a nova legislação, muitos trabalhadores «sejam vítimas de abusos».
Em declarações a um repórter do The Guardian, sublinhou que no resto da Europa se fala em menos horas de trabalho e que na Grécia «é só mais horas e salários que não reflectem o custo de vida».
«Estamos aqui porque há muitas pessoas vulneráveis por aí que não conseguirão negociar com o patronato quando leis como esta forem aprovadas», alertou.
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