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EUA e Reino Unido são «obstáculos à paz» no Iémen

Washington e Londres têm perturbado as negociações de paz, revelam fontes em Saná a um diário libanês, que se refere a pressões externas, ao «interesse israelita» e às divergências emiradenses e sauditas.

Presos iemenitas libertados, à chegada ao aeroporto de Saná, em Abril de 2023 
CréditosHani Mohammed / Al Mayadeen

«Washington e Londres estão a perturbar activamente as negociações políticas iemenitas-sauditas», escreve o diário Al-Akhbar na sua edição de ontem.

De acordo com o periódico libanês, EUA e Reino Unido estão a tentar «obstruir todos os esforços que podiam conduzir à paz e colocam entre as suas primeiras considerações o interesse de Israel».

Este «interesse israelita» é a razão pela qual a Arábia Saudita tem estado a «adiar» os acordos que fez com Saná, que incluem o levantamento de todos os bloqueios e o pagamento dos salários aos funcionários, revela o jornal.

Isto, em conjunto com o envolvimento norte-americano e britânico, visa manter o Iémen num «estado sem guerra, mas sem paz».

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Multidões enchem as ruas no Iémen para assinalar oito anos de guerra de agressão

De acordo com a cadeia al-Masirah, as mobilizações envolveram milhões de pessoas em vários pontos do país arrasado, exigindo o fim da guerra e do cerco impostos pela coligação liderada pelos sauditas.

Em Saná, centenas de milhares de pessoas gritaram palavras de ordem de apoio à resistência e contra o cerco 
CréditosAbulsalam Sharhan / The Cradle

Centenas de milhares de pessoas manifestaram-se este domingo na capital do país, Saná, no contexto do Dia Nacional de Resistência e do oitavo aniversário do início da guerra imposta pela coligação dirigida pelos sauditas (26 de Março de 2015).

Durante a mobilização, os participantes gritaram palavras de ordem de apoio à resistência aos agressores, tal como ocorreu em Sa'ada, segundo refere a cadeia de TV al-Masirah.

Outras mobilizações tiveram lugar em províncias igualmente sob controlo do movimento de resistência Huti Ansarullah, como Ta'izz, Hajjah, al-Jawf, Ibb e al-Bayda, com concentrações nas praças das principais cidades, também com palavras de ordem, cartazes e faixas com mensagens de apoio à resistência e pelo fim da guerra.

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Unicef: mais de 11 mil crianças mortas ou feridas durante a guerra no Iémen

Em 2015, teve início a guerra de agressão liderada pelos sauditas contra o Iémen. Desde então, mais de 11 mil crianças morreram ou ficaram feridas no país, de acordo com a directora executiva da Unicef.

Um homen transporta uma criança ferida após um bombardeamento saudita no Iémen (imagem de arquivo) 
Créditos / PressTV

Milhares de crianças perderam a vida e centenas de milhares correm risco de vida, devido a doenças evitáveis ou à fome, afirmou Catherine Russell, directora executiva do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), após uma visita ao Iémen.

«É provável que o verdadeiro número de vítimas deste conflito seja bastante maior», disse Russell, ao comentar as consequências da guerra e a situação de crise humanitária no Iémen.

Em Março de 2015, a Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido, da França e de outras potências europeias e regionais, lançou uma agressão militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

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Com a guerra a arrastar-se no Iémen, uma criança é morta ou ferida todos os dias

Apesar da trégua de seis meses, 92 crianças morreram e 241 foram feridas entre 1 de Janeiro e 15 de Novembro deste ano no contexto da guerra, revela a organização Save the Children.

Créditos / ilkha.com

Devido à guerra que se arrasta no país árabe (que conhece um período de escalada), 333 crianças iemenitas foram mortas ou feridas desde o início do ano até 15 de Novembro último, o que dá uma média superior a uma criança morta ou ferida por dia em 2022, informa a organização não governamental (ONG).

A informação foi divulgada num texto emitido a propósito do Dia Mundial da Criança, que se celebra a 20 de Novembro – data que marca a aprovação da Declaração dos Direitos da Criança (1959) e a adopção da Convenção sobre os Direitos da Criança (1989).

A nota acrescenta que as crianças iemenitas pedem às partes envolvidas na guerra que se empenhem novamente na prevenção dos ataques e da violência contra a população civil.

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Iémen: 19 milhões sofrem de insegurança alimentar, alerta Cruz Vermelha

Dois terços dos iemenitas estão em situação de insegurança alimentar, alertou um representante da Cruz Vermelha. A guerra e o cerco continuam mas o Iémen afastou-se do foco mediático.

Karima, uma criança iemenita de sete anos, vê a sua mãe a fazer pão 
Créditos / Programa Alimentar Mundial

Na sequência de uma visita recente ao mais pobre dos países árabes, Martin Schüepp, director de operações do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), afirmou no Twitter que «cerca de dois em cada três iemenitas estão em situação de insegurança alimentar. Isso representa cerca de 19 milhões de pessoas».

«Mais não têm acesso a cuidados básicos de saúde. Apesar de tudo isto, o Iémen está muitas vezes fora do foco mediático», disse.

Durante a sua visita ao Iémen, Martin Schüepp pôde ver em primeira mão «como médicos locais, juntamente com pessoal do CICV, tratavam pessoas com ferimentos de bala numa unidade de emergência local» e teve a possibilidade de «falar com agricultores cujos rendimentos foram severamente afectados por anos de conflito».

A Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou, em Março de 2015, uma agressão militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

A campanha militar, acompanhada por um cerco que privou o país dos bens essenciais, provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes, espalhou a fome e disseminou doenças infecciosas, estando na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

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Mais de 19 milhões de iemenitas passam fome e as ajudas diminuem

Depois de o Programa Alimentar Mundial ter anunciado cortes drásticos na ajuda ao Iémen, a ONU revela que a fome atinge o patamar mais elevado no país árabe desde o início da guerra de agressão, em 2015.

Créditos / @UNOCHA

Numa nota emitida esta terça-feira, o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA, na sigla em inglês) afirma que os cortes nos fundos estão a limitar a sua capacidade de ajudar as pessoas que necessitam de assistência, incluindo os 160 mil iemenitas que se encontram à beira da fome.

«Cinco milhões de pessoas receberão menos de metade das suas necessidades diárias e oito milhões de pessoas receberão menos de um terço daquilo de que necessitam diariamente», revelou a UNOCHA.

Explicou que, em Dezembro último, o Programa Alimentar Mundial (PMA) foi obrigado a reduzir as rações alimentos para oito milhões de pessoas no país árabe devido a falta de financiamento e que teve de efectuar mais cortes no mês passado.

No domingo, o PMA anunciou na sua conta de Twitter que foi obrigado a «tomar decisões extremamente difíceis» no que respeita à ajuda alimentar que presta à população iemenita, por não receber fundos suficientes, devido às condições económicas a nível global e aos efeitos colaterais contínuos da guerra na Ucrânia.

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Iemenitas denunciam continuidade do bloqueio imposto pelos sauditas

Um membro do Conselho Político Supremo do Iémen afirmou que se mantém o bloqueio naval e aéreo liderado pelos sauditas, classificando-o como um «crime» contra a população civil.

Navio atracado no porto iemenita de Hudaydah (imagem de arquivo) 
Créditos / PressTV

Em declarações efectuadas este domingo numa rede social, o dirigente político denunciou que a coligação liderada por Riade está a usar a fome como arma de guerra contra o povo iemenita, refere a PressTV.

«O prosseguimento do cerco e a recusa da coligação liderada pela Arábia Saudita em implementar as disposições da trégua, que é um documento oficial sob os auspícios das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança, equivale a um crime intencional contra todo o povo iemenita», disse al-Houthi.

Por seu lado, o vice-primeiro-ministro para a Defesa, Jalal al-Ruwishan, disse numa entrevista à cadeia de TV em língua árabe al-Masirah que há «sinais claros» de que a coligação mantém a «agressão total» contra o Iémen, violando os termos do cessar-fogo alcançado pela ONU no início de Abril e prolongado por mais dois meses no início de Junho.

Ruwishan disse que a trégua «não faz sentido e é inútil» se não permite a abertura dos portos e aeroportos iemenitas, bem como o pagamento dos salários aos funcionários públicos.

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Trégua no Iémen prolongada por mais dois meses

As partes em conflito aceitaram renovar o cessar-fogo vigente no país árabe por um período de dois meses, anunciou um representante das Nações Unidas esta quinta-feira, horas antes de a trégua expirar.

Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas desta madrugada 
Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas Créditos / Al Jazeera

«Gostava de anunciar que as partes em conflito aceitaram a proposta das Nações Unidas de renovar a trégua vigente no Iémen por mais dois meses», disse o enviado especial da ONU para o Iémen, Hans Grundberg, num comunicado emitido esta quinta-feira.

«O prolongamento da trégua entra em vigor quando o actual período de cessar-fogo expirar, hoje, 2 de Junho, às 19h, hora do Iémen», afirma o texto.

O acordo inicial de cessar-fogo entrou em vigor a 2 de Abril deste ano, na sequência das negociações mediadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre a coligação liderada pelos sauditas e o movimento de resistência Huti Ansarullah.

Hans Grundberg referiu que a trégua se mantém nos mesmos termos do acordo original, sublinhando que, «nos últimos dois meses, a população experimentou benefícios tangíveis da trégua, as baixas civis diminuíram significativamente, a entrada de combustíveis no país aumentou de forma considerável e os voos comerciais foram retomados para e a partir de Saná».

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Combates no Iémen diminuíram de forma significativa com a trégua, diz enviado da ONU

Hans Grundberg disse esperar que o cessar-fogo proposto pela ONU no país árabe, em vigor há quase dois meses, se prolongue, tendo em conta a redução das hostilidades verificada.

Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a agressão da coligação liderada pelos sauditas começou em Março de 2015 
Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a trégua proposta pela ONU está em vigor desde 2 de Abril de 2022 Créditos / PressTV

Em declarações à imprensa, esta terça-feira, Grundberg destacou que, quando faltam duas semanas para o final da trégua, esta se tem mantido em termos militares, com um impacto positivo considerável na vida diária de muitos iemenitas.

«Houve uma redução drástica nos combates, sem ataques aéreos a partir do Iémen, através das suas fronteiras, e sem ataques aéreos confirmados no interior do Iémen», disse o enviado das Nações Unidas à imprensa, após uma sessão informativa à porta fechada no Conselho de Segurança.

«Por todo o Iémen, as linhas da frente acalmaram-se significativamente e há registos de um acesso humanitário crescente, incluindo nalguns locais da linha da frente a que tinha sido extremamente difícil chegar», disse, citado pela PressTV.

No passado dia 1 de Abril, Grundberg anunciou que «as partes do conflito responderam positivamente à proposta da ONU de uma trégua de dois meses», que entrou em vigor no dia seguinte.

O cessar-fogo foi implementado após sete anos de agressão contra o mais pobre dos países árabes por parte de uma coligação liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA e do Reino Unido, na sequência da queda do governo aliado de Riade.

A guerra provocou milhares de mortos e uma situação humanitária que a Organização das Nações Unidas classificou como a mais grave dos tempos modernos, sem que as potências agressoras tenham conseguido repor no poder Abd Rabbuh Mansur Hadi.

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Trégua proposta pela ONU no Iémen entrou em vigor, com registo de violações

A proposta de cessar-fogo anunciada pelo enviado especial da ONU para o Iémen foi aceite pelo movimento Huti e a coligação liderada pelos sauditas, mas estes, afirma a Al Masirah, violaram a trégua repetidamente.

Um homem e os seus filhos num zona bombardeada de Hudaydah
CréditosGiles Clarke / UNOCHA

O enviado especial das Nações Unidas, Hans Grundberg, anunciou na sexta-feira que «as partes do conflito responderam positivamente à proposta da ONU de uma trégua de dois meses», que entrou em vigor este sábado, às 19h locais.

No entanto, a cadeia de TV iemenita Al Masirah informa que, nas últimas horas, a trégua foi violada pelos sauditas tanto na província de Sa'ada, onde foram mortos três civis, como na de Hudaydah.

As Forças Armadas iemenitas afirmaram que estavam empenhadas no cessar-fogo desde que ambas as partes o respeitassem.

Nos termos da trégua, as partes comprometeram-se a cessar todas as operações militares ofensivas, dentro e fora do Iémen.

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Quem provoca as ondas de refugiados?

A manipulação de uma situação parcial num quadro muito mais amplo, pretende, entre outras coisas, minimizar ou mesmo silenciar os crimes contra os refugiados que fazem parte do quotidiano da União Europeia.

Migrantes e refugiados provenientes do Médio Oriente concentraram-se junto à passagem de Bruzgi-Kuznica, na fronteira polaca-bielorrussa, pedindo autorização para entrar na União Europeia, onde pretendem receber asilo. Grodno, Bielorrússia, 25 de Janeiro de 2021
CréditosLEONID SCHEGLOV / EPA/BELTA /HANDOUT

A atitude do governo bielorrusso de Aleksander Lukashenko para com os refugiados é condenável. Não menos condenável é o comportamento dos governos da Polónia, da Lituânia, da Estónia e da União Europeia em geral para com os refugiados. A diferença é que os órgãos de manipulação social apenas têm olhos para observar o que se passa na Bielorrússia desde o início da segunda metade deste ano, ignorando – com raras excepções – as consequências profundas da política de perseguição aos refugiados praticada há muitos anos pela União Europeia em todas as suas fronteiras. Uma política que milhares de seres humanos já pagaram com a vida.

«A União Europeia recusa-se a acolher as pessoas que tentam sobreviver fugindo dos conflitos que provocou; e entende que outras nações não podem assumir idênticos comportamentos, mesmo que nada tenham a ver com a origem dos fluxos de refugiados»

Há ainda uma outra diferença. Os refugiados que procuram entrar na União Europeia a partir da Bielorrússia, tal como os que tentam o mesmo através de outras regiões terrestres e marítimas dos 27, têm origem nas guerras provocadas pelos Estados Unidos, a NATO e potências da União Europeia; e também na política colonial, sobretudo em África, entranhada nas políticas europeia e norte-americana. As guerras sangrentas e destruidoras e o colonialismo têm efeitos bem mais graves do que qualquer «guerra híbrida» de que acusam a Rússia e a Bielorrússia, países que não podem ser responsabilizados pelas agressões militares ao Iraque, ao Afeganistão, à Síria, à Líbia, ao Iémen. A União Europeia recusa-se a acolher as pessoas que tentam sobreviver fugindo dos conflitos que provocou; e entende que outras nações não podem assumir idênticos comportamentos, mesmo que nada tenham a ver com a origem dos fluxos de refugiados. Bruxelas procura sempre encontrar bodes expiatórios para não assumir os seus desmandos em matérias como a democracia e os direitos humanos.

Os refugiados que chegam à Bielorrússia são oriundos sobretudo do Iraque e, em menor volume, do Afeganistão e da Síria. Trata-se efectivamente de refugiados e não de «imigrantes» e «imigrantes ilegais», termos que os governantes europeus e os correspondentes meios de comunicação usam preferencialmente, sempre com o objectivo de não associar esses movimentos desesperados de pessoas às guerras e outras façanhas provocadas por potências ocidentais. Sem os dramáticos conflitos impostos, que as fazem deixar tudo para trás apenas pela simples e humana necessidade de sobreviver, a esmagadora maioria dessas pessoas não pensariam sequer em emigrar dos seus países, sobretudo em casos como os da Síria e do Iraque, mesmo do próprio Afeganistão. Isto é, a grande massa dos refugiados actuais que batem às portas da União Europeia jamais seriam os «imigrantes» que agora se diz serem para iludir as opiniões públicas, a realidade e a própria História.

«Os métodos violentos de Lukachenko para lidar com o problema são inaceitáveis, tal como os adoptados pelos governos da Polónia, da Estónia e da Lituânia, que aliás têm da democracia uma ideia que se assemelha à do presidente bielorrusso»

A Bielorrússia foi apresentada aos candidatos a refugiados como um país de acesso à União Europeia, em tese mais favorável que os tradicionais pontos de passagem, por exemplo a Líbia, a Grécia e a Turquia, onde sofrem situações humilhantes com os objectivos primários de os fazer regressar ao seu país e nem sequer podem apresentar pedidos de asilo. Sabe-se que agências de viagens iraquianas têm incitado os candidatos a fugir da situação de guerra a procurar a cidade Minsk como porta de entrada na União Europeia – e não para ficarem a residir na Bielorrússia, uma solução que não estaria nos planos da maioria deles. Os métodos violentos de Lukachenko para lidar com o problema são inaceitáveis, tal como os adoptados pelos governos da Polónia, da Estónia e da Lituânia, que aliás têm da democracia uma ideia que se assemelha à do presidente bielorrusso. O executivo de extrema-direita da Polónia, xenófobo por definição e avesso ao Estado de direito, como até Bruxelas muito bem sabe, já é um velho conhecido pela rejeição de refugiados, mesmo das ínfimas quotas arduamente discutidas na União Europeia em vergonhoso jogo de empurra. A Estónia, por seu lado, tem a xenofobia inscrita nas próprias leis porque os cidadãos com nacionalidade estoniana mas de outros origens, designadamente a russa, são considerados oficialmente de segunda categoria, não lhes sendo permitido sequer votar.

Nada disto impede, contudo, que a União Europeia esteja incondicionalmente solidária com esses países no contencioso com Minsk, ávida de seguir os Estados Unidos na declaração de mais sanções e reforçadas ameaças da NATO. Penalizações essas apresentadas como respostas à dita «guerra híbrida» de Moscovo, não sendo de excluir que os inusitados incitamentos a refugiados para procurarem Minsk sejam uma nova provocação na panóplia com que Washington e Bruxelas mantêm o perigoso clima de alta tensão militar no Leste da Europa.

Os mortos e o desprezo pelas leis

Durante este ano morrem em média quatro pessoas por dia na sequência de tentativas para chegarem à Europa atravessando o Mediterrâneo Central a partir do Norte de África; e mais de 90 são interceptadas no mar por um aparelho de vigilância dirigido pela União Europeia e devolvidas aos campos de concentração na Líbia, mantidos pelas milícias terroristas islâmicas e financiados por Bruxelas. Nesses campos de terror são submetidas, como rotina, à tortura, extorsão e abusos sexuais – sabendo também que o reenvio para os seus países significará uma morte provável.

«a União Europeia patrulha o Mediterrâneo e financia as guardas costeiras líbias, associadas às milícias terroristas, para impedir que os pobres refugiados se façam ao mar correndo risco de morte; ao invés, devem permanecer em campos de concentração até serem devolvidos aos seus países, correndo risco de morte. Basta-lhes, portanto, escolher a maneira como querem morrer»

Nada disto desencoraja a União Europeia de proclamar o seu apego aos direitos humanos. Segundo Peter Stano, porta-voz para os assuntos externos da Comissão Europeia, convidado a comentar estas situações pela publicação New Humanitarian, «a nossa maior prioridade é salvar vidas no mar e continuar o nosso trabalho para impedir que se realizem viagens arriscadas». Sem dúvida uma declaração singular, de forte conteúdo humanitário: a União Europeia patrulha o Mediterrâneo e financia as guardas costeiras líbias, associadas às milícias terroristas, para impedir que os pobres refugiados se façam ao mar correndo risco de morte; ao invés, devem permanecer em campos de concentração até serem devolvidos aos seus países, correndo risco de morte. Basta-lhes, portanto, escolher a maneira como querem morrer. Mas ingressar no espaço da União, que arrasou os seus países, é que nem pensar.

Dunja Mijatovic, comissária de direitos humanos do Conselho da Europa, escreveu num relatório de Março deste ano que os países europeus «envolveram-se numa guerra para ver qual é mais eficaz a conter pessoas fora das fronteiras europeias». Citando as coordenações entre as marinhas de Estados da União e as guardas costeiras líbias, a «obstrução» de operações de salvamento desenvolvidas por organizações não-governamentais e o financiamento e implementação por Bruxelas «da gestão de fronteiras pela Tunísia e a Líbia», a comissária Mijatovic considera que estas práticas são exemplos «de uma política de imigração europeia que corta direitos humanos, viola a lei e custa a vida a milhares de seres humanos».

Um dos exemplos de violação da lei é a devolução dos refugiados aos seus países de origem, o chamado push back, cuja proibição está inscrita no direito internacional e no da própria União Europeia.

Na Grécia, a lei não é um estorvo pois o governo e o Frontex – polícia de fronteiras cujos comportamentos arbitrários e de marginalidade traduzem a existência de um «Estado» à parte no universo de instituições da UE – recorrem a um sem número de malfeitorias para expulsar os refugiados ou impedi-los de chegar a terra, deixando-os à sua sorte no mar alto, um comportamento relatado mesmo por alguns órgãos fundamentalistas do federalismo.

Já a Polónia procura restringir-se ao primado da lei, aliás de uma maneira criativa. Como o direito geral não permite a devolução de refugiados aos seus países, o governo de Varsóvia aprovou uma lei à medida da actual crise e que permite a expulsão para as suas terras das pessoas que procuram asilo na União Europeia.

Em matéria de criatividade, a Lituânia não fica atrás e, por isso, até 1 de Novembro tinha deferido apenas 6 dos 2600 pedidos de asilo. Segundo testemunhas entrevistadas pelo New Humanitarian, funcionários dos serviços de asilo revelaram que estão sob pressão dos superiores para conduzir interrogatórios agressivos de modo a que os candidatos sejam convencidos a regressar «voluntariamente» aos seus países. Nicolas, um refugiado camaronês, citou um funcionário polaco dizendo que «podemos oferecer-vos 300 euros se aceitarem regressar a casa». E rematou o refugiado: «de que me servem 300 euros se posso ser morto quando voltar a casa?»

O governo lituano procedeu também a adaptações legislativas correspondentes à actual crise. Alterou os procedimentos legais de modo a tornar mais fácil que os candidatos à concessão de asilo possam ser colocados sob detenção.

Se olharmos, porém, o histórico e os antecedentes em matéria de refugiados conclui-se que a União Europeia tem ainda uma forma de tentar aliviar as dores da Polónia e dos Estados xenófobos bálticos. Basta oferecer ao governo de Lukachenko os mesmos três mil milhões de euros anuais que paga dos nossos bolsos ao ditador turco Erdogan para manter os refugiados dentro das suas fronteiras. É duvidoso que o presidente bielorrusso aceite, mas sem tentar nunca fica a saber-se.

Os muros

Entretanto, 32 anos depois da queda do muro de Berlim, que continua a ser periodicamente celebrada no espaço da União com muitas pompas e falsificações da História, doze Estados membros pediram à Comissão Europeia – a tal instituição que nos governa em nome da democracia mas que ninguém elegeu – a concessão de fundos destinados à construção de muros para impedir a entrada e circulação de refugiados.

Tais muros devem fazer parte, muito provavelmente, das medidas previstas no âmbito do Fundo de Confiança para África, aprovado numa cimeira entre países africanos e da União realizada em Malta. Uma das prioridades desse fundo, segundo a UE, é aplicar um plano capaz de desenvolver capacidades «para controlar as fronteiras de terra, mar e ar e também as capacidades de vigilância marítima com o objectivo de prevenir a imigração irregular». Parece que ainda não morreu gente suficiente.

«a situação no Mediterrâneo Central “não é uma trágica anormalidade” mas antes uma catástrofe rotineira como “consequência concreta das decisões políticas e das práticas das autoridades líbias, dos Estados membros e instituições da União Europeia e outros actores”»

O Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos considera que a situação no Mediterrâneo Central «não é uma trágica anormalidade» mas antes uma catástrofe rotineira como «consequência concreta das decisões políticas e das práticas das autoridades líbias, dos Estados membros e instituições da União Europeia e outros actores».

Os procedimentos inconcebíveis de Lukachenko integram-se assim num cenário mais amplo e abrangente que vem muito de trás, com epicentro em Bruxelas. Não há bons nem inocentes nesta situação vergonhosa que mancha a Europa de Leste a Oeste. Um comentador e ex-ministro português, Severiano Teixeira, proclama, como um dogma, que «a culpa é de Lukachenko». A figura é irrelevante, um simples peão da NATO, mas cumpre a missão de papaguear os soundbites concebidos para uma operação de propaganda que, tirando proveito da manipulação de uma situação parcial num quadro muito mais amplo, pretende, entre outras coisas, minimizar ou mesmo silenciar os crimes contra os refugiados que fazem parte do quotidiano da União Europeia.

Por José Goulão, exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril

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Também aceitaram que 18 navios carregados com derivados de petróleo entrem no Porto de Hudaydah e que voos comerciais possam operar a partir de Saná com destino à Jordânia e ao Egipto.

As partes aceitaram ainda encontrar-se sob os auspícios do enviado especial das Nações Unidas para o Iémen com vista à abertura de estradas em Taizz e noutras províncias iemenitas, de modo a facilitar a circulação de civis.

Ao anunciar a trégua, na sexta-feira, Hans Grundberg explicou que o cessar-fogo podia ser prolongado para além dos dois meses previstos, com o consentimento das partes em conflito, indica a PressTV.

«O objectivo da trégua é proporcionar aos iemenitas uma pausa necessária na violência, um alívio do sofrimento humanitário e, o que é mais importante, a esperança de que é possível pôr fim a este conflito», disse Grundberg.

O responsável da ONU disse ainda que esperava intensificar o seu trabalho com as partes neste período de dois meses, com o propósito de alcançar um cessar-fogo permanente, de abordar medidas económicas e humanitárias urgentes, bem como de retomar o processo político.

Por seu lado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que esta trégua «deve ser o primeiro passo para acabar com a guerra devastadora no Iémen» e apelou às partes para que aproveitem esta oportunidade para «retomar um processo político abrangente e inclusivo».

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Iémen em risco de ser «esquecido», com o foco mediático na Ucrânia

Achim Steiner, director do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), alertou que o país árabe, devastado pela guerra, enfrenta uma «perspectiva extremamente preocupante».

Iemenitas inspeccionam destroços de uma casa bombardeada pela coligação liderada pelos sauditas, em Janeiro de 2022 
Créditos / PressTV

O responsável pelo PNUD lançou o alerta ao afirmar, este domingo, que, «tendo em conta a realidade geopolítica mais vasta, o risco é que o Iémen seja em parte esquecido, e isso será obviamente uma tragédia».

O conflito na Ucrânia está a ter «repercussões na economia global» e isso «irá reduzirá o alcance da solidariedade internacional para a cooperação internacional», disse Steiner no Fórum de Doha, no Catar.

«Neste momento, o mundo está centrado na guerra na Ucrânia, mas o conflito no Iémen, a situação desesperada no Afeganistão são realidades que ainda vão perdurar», disse também o director do PNUD, citado pela PressTV.

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Aumentam os bombardeamentos sauditas contra civis no Iémen

Os ataques sauditas contra o Iémen intensificam-se e o registo de vítimas civis é o maior dos últimos anos, apesar de Joe Biden ter prometido que ia acabar com esta guerra.

Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas desta madrugada 
Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas em Saná Créditos / Al Jazeera

O presidente norte-americano afirmou repetidamente que iria pôr fim à guerra no Iémen, que está na origem da maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, segundo as Nações Unidas.

No entanto, lembra o jornalista Ben Norton no portal multipolarista.com, os bombardeamentos sauditas contra o mais pobre dos países árabes, apoiados pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, atingiram o nível mais alto em vários anos – e com «a supervisão da administração de Biden».

Quem está a pagar o preço são os civis iemenitas, com um morto ou ferido a cada hora, segundo referiu a organização Save the Children no passado dia 11.

Janeiro de 2022 foi o mês mais mortífero no Iémen desde 2018. Entre 6 de Janeiro de 2 de Fevereiro, foram mortos mais de 200 adultos e 15 crianças. Outros 354 adultos e 30 crianças ficaram feridas, referiu a organização humanitária, que teme que o número real de vítimas seja bastante maior.

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Com grande preocupação humanitária, EUA decretam novas sanções contra o Iémen

Os EUA, de longe o país que mais lucrou com a chacina no Iémen e que é acusado de fazer uma guerra por procuração no terreno, impuseram novas sanções contra o país árabe.

Créditos / MintPress News

Na rede social Twitter, Mohammed Ali al-Houthi, membro do Conselho Político Supremo do Iémen, reagiu às sanções decretadas quinta-feira passada pelo Departamento norte-americano do Tesouro afirmando que «a América dá prioridade à opção da guerra no Iémen e ao mesmo tempo finge que apoia a paz». «A imposição de sanções com o pretexto de assegurar a paz representa um obstáculo para a última», disse.

Al-Houthi destacou que as medidas punitivas contra o sector privado iemenita, as impostas ao banco central do país, os bombardeamentos a fábricas e outras infra-estruturas produtivas, o bloqueio que conduz o povo à fome e o fim do pagamento dos salários aos funcionários públicos são crimes, que se enquadram no esquema sistemático para sufocar a economia iemenita, refere a PressTV.

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Autocarro escolar no Iémen foi atacado com bombas norte-americanas

Fragmentos de bombas MK-82, de fabrico norte-americano, são visíveis nas imagens que um jornalista divulgou do local onde um autocarro cheio de crianças foi atacado pelos sauditas, no Iémen.

Destroços de um edifício bombardeado pelos sauditas na capital do Iémen, Saná, em Outubro de 2016. Estima-se que 140 pessoas tenham morrido e perto de 600 tenham ficado feridas
Destroços de um edifício bombardeado pelos sauditas na capital do Iémen, Saná, em Outubro de 2016. Também aqui foram encontrados fragmentos da bomba MK-82, de fabrico norte-americanoCréditos / The Independent

Caças da coligação liderada pelos sauditas atingiram, no passado dia 9, um autocarro escolar na zona de Dahyan, na província iemenita de Sa'ada, provocando mais de 50 vítimas mortais – 40 das quais terão sido crianças, de acordo com as autoridades Hutis – e cerca de 80 feridos.

Segundo a informação divulgada no sábado por Nasser Arrabyee, um jornalista local, a coligação comandada pelos sauditas terá usado munições de fabrico norte-americano.

«Restos das bombas dos EUA que mataram as crianças iemenitas no mais recente massacre e crime de guerra saudita-norte-americano, de 9 de Agosto de 2018, em Sa'ada, Norte do Iémen», escreveu Nasser Arrabyee no Twitter [pic.twitter.com/z8bvadwncG – @narrabyee] a acompanhar as fotos dos fragmentos das bombas MK-82 que alegadamente foram retirados do local do bombardeamento contra o autocarro escolar.

Na peça em que chama a atenção para o tweet e a informação nele contida, esta segunda-feira, a RT sublinha que as imagens ainda carecem de verificação independente, mas lembra que não é a primeira vez que fragmentos de bombas Raytheon Mark 82 são encontrados em locais onde a coligação liderada pelos sauditas levou a cabo massacres contra a população civil no Iémen desde o início da campanha militar, em Março 2015.

A MK-82, bomba de 227 quilos e fabricada pela empresa norte-americana General Dynamics, foi também usada quando os caças sauditas atacaram, em Outubro de 2016, um funeral na capital do país, Saná. Então, 140 pessoas foram mortas e mais de 500 ficaram feridas.

Pentágono diz que é impossível seguir o rasto da bomba

O fluxo armementístico de Washington para Riade é enorme, mas a Arábia Saudita não é destino único da MK-82, como deixou claro, na semana passada, um porta-voz do Pentágono. De acordo com o major Josh Jacques, poderá ser impossível saber de onde veio a bomba que foi usada no ataque contra o autocarro escolar no dia 9 de Agosto.

Isto porque, segundo refere a RT, em 2016 os EUA aprovaram a venda dessa bomba à Arábia Saudita, aos Emirados Árabes Unidos, à França e ao Iraque, e prolongaram os contratos de venda já existentes com a Austrália e o Bahrain. Portanto, na lógica do Pentágono, pode nunca vir a saber-se se a munição usada em Sa'ada «foi uma das que nós lhes vendemos a eles» (os sauditas, entenda-se).

Negócio de muitos milhões

Recorde-se que a Arábia Saudita é um dos principais destinos do armamento fabricado nos países ocidentais e, de modo sintomático, foi o primeiro país que Donald Trump visitou depois de tomar posse, em Janeiro do ano passado.

Nessa visita, foi anunciado que Washington poderia vender a Riade equipamento militar no valor de 110 mil milhões de dólares num período de dez anos. Então, o Departamento de Estado afirmou que o acordo poderia chegar aos 350 mil milhões de dólares.

De acordo com um estudo divulgado em Março último, os EUA venderam, no ano passado, armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos no valor de 650 mil milhões de dólares.

Em Abril, a administração norte-americana deu luz verde ao negócio, no valor de 1,3 mil milhões de dólares, de venda de artilharia aos sauditas, apesar dos relatórios que evidenciam que esse armamento contribui para o massacre de civis e das críticas crescentes de organismo internacionais.

Um estudo do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), de Março deste ano, revela que os EUA foram, no período compreendido entre 2013 de 2017, o principal exportador de armas a nível mundial: as suas exportações representaram 34% de todos os negócios registados pelo organismo referido.

O mesmo estudo revela que, nos últimos cinco anos, os EUA aumentaram a venda de armamento em 25%, sendo o Médio Oriente o destino de quase metade desse armamento.

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Na quinta-feira passada, dia 10, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs novas sanções ao país árabe, desta vez centradas numa rede que é acusada de financiar o movimento de resistência popular Huti Ansarullah – que está no cerne do governo que administra o país a partir da capital, Saná, e lidera a resistência à agressão externa que lhe é imposta desde Março de 2015.

«Esta rede gera dezenas de milhões de dólares em receitas da venda de commodities, como o petróleo iraniano, uma parte significativa da qual é depois direccionada através de uma complexa rede de intermediários e casas de câmbio em vários países para os Hutis», afirmou o Departamento do Tesouro em comunicado.

Entre os alvos directos destas novas sanções contam-se dois iemenitas, dois sírios, um emiradense, um somali e um indiano, além de entidades com sede no Dubai, Istambul e Saná, informa a PressTV.

A memória curta do Tesouro

«O apoio financeiro desta rede permite os ataques deploráveis dos Hutis, que ameaçam infra-estruturas civis e críticas no Iémen e na Arábia Saudita. Estes ataques minam os esforços para acabar o conflito e, o que é mais trágico, deixam dezenas de milhões de civis inocentes a morrer à fome», refere ainda o comunicado.

O texto do Tesouro – tão preocupado com a fome dos iemenitas e com os ataques que ameaçam infra-estruturas civis – não faz menção ao papel dos EUA na guerra de agressão ao Iémen, ao apoio que foi prestado pelos norte-americanos desde o início à coligação liderada pelos sauditas, aos milhares de milhões de dólares que os EUA lucraram com a venda de armamento aos sauditas – algum do qual, como se veio a provar, foi utilizado para massacrar a população civil do Iémen.

Os milhares de mortos, a fome, a cólera, a maior crise humanitária dos tempos modernos, como a classifica a ONU, não existiriam no Iémen sem Washington – agente primeiro na guerra, tal como o Reino Unido, e outras potências ocidentais (França e Alemanha) e regionais (Israel, Emirados Árabes Unidos, Egipto), em maior ou menor escala.

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No próximo mês, passam sete anos desde o início da guerra de agressão contra o Iémen. Em Março de 2015, a Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar o vizinho do sul, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

Ao longo da campanha eleitoral, em 2020, Joe Biden prometeu que poria fim a este conflito – uma intenção que reafirmou no ano seguinte, dizendo, já enquanto presidente, que estava a acabar com o apoio dos EUA às operações «ofensivas» sauditas no Iémen, lembra Norton.

A agressão militar saudita, que provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, e destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes não poderia ter sido levada a cabo sem o apoio político, militar e logístico norte-americano e britânico.

Além disso, os EUA destacaram-se como um dos grandes fornecedores de armamento à monarquia saudita, tendo lucrado milhares de milhões de dólares com esta guerra – ao lado do Reino Unido e de uma lista mais longa, que inclui a Alemanha, a França e outros.

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Venda de armas aos sauditas é sinal «preocupante» do arrastar da guerra no Iémen

O Departamento de Estado dos EUA aprovou o primeiro grande negócio de venda de armas aos sauditas na administração de Biden, algo que pode revelar a intenção de Riade de prolongar a agressão ao Iémen.

Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a agressão da coligação liderada pelos sauditas começou em Março de 2015 
Créditos / PressTV

Num comunicado emitido quinta-feira passada, o Pentágono deu conta da aprovação, pelo Departamento de Estado norte-americano, da venda de 280 mísseis ar-ar à Arábia Saudita, no valor de 650 milhões de dólares, para que Riade pudesse fazer frente a ameaças actuais e futuras.

Para o académico norte-americano Richard Falk, especialista em direito internacional e relações internacionais, o primeiro grande negócio de vendas de armas da era Biden aos sauditas, «os chamados mísseis defensivos ar-ar», constitui «um sinal preocupante das intenções sauditas de prosseguimento das suas políticas cruéis de devastação do Iémen».

Numa entrevista à PressTV, Falk, que foi professor na Universidade de Princeton durante mais de três décadas, afirmou que «a posse de uma defesa anti-mísseis mais segura permite aos sauditas continuarem a sua intervenção armada no Iémen, e possivelmente noutros locais, com menor temor de ataques de retaliação».

Richard Falk destacou as «relações especiais» entre Washington e Riade, afirmando que os EUA procuram defender os interesses sauditas e desviar as críticas que são dirigidas a Riade nas Nações Unidas.

EUA usam a sua influência para proteger a Arábia Saudita

«Os Estados Unidos estão a usar a sua influência geopolítica para proteger a Arábia Saudita da crítica na ONU e noutros lugares, gozando novamente com os compromissos colectivos de segurança e com a proibição incondicional da Carta das Nações Unidas do uso de força não defensiva. Estas relações especiais deixam claro que as relações internacionais continuam a ser moldadas pela primazia da geopolítica e não pelas normas internacionais», disse o académico.

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EUA são o maior exportador de armas e a Arábia Saudita o maior importador

Um relatório recente revelou que os EUA foram responsáveis por mais de um terço da venda de armamento a nível mundial nos últimos cinco anos, enquanto os sauditas foram os que mais importaram.

Donald Trump, president dos EUA, num encontro na Casa Branca com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, em Washington, Março de 2018
Créditos / CGTN

As exportações de armas que tiveram como origem os EUA, entre 2016 e 2020, representaram 37% de todos os negócios registados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Metade das exportações norte-americanas de armamento teve como destino o Médio Oriente, e a Arábia Saudita foi de longe o principal parceiro de negócio no período referido, representando quase um quarto de todas as vendas dos EUA (24%).

O instituto sediado em Estocolmo afirma que, entre 2016 e 2020, as exportações de armas dos EUA aumentaram 15% em comparação com o período 2011-2015.

A Rússia foi o segundo maior exportador de armas a nível global, representando um quinto do total de exportações registadas (com menos 22% de vendas que no período 2011-2015).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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A França, com 8% das vendas, é o terceiro maior exportador. Seguem-se a Alemanha (5,5%) e a China (5,2%), para fechar a lista dos cinco países que mais armas venderam entre 2016 e 2020. Na parte inferior do «top dez» situam-se Reino Unido, Espanha, Israel, Coreia do Sul e Itália.

O SIPRI nota que, por comparação com 2011-2015, os últimos cinco anos registaram um pequeno decréscimo no volume de vendas de armamento (menos 0,5%), pondo fim a mais de uma década de aumentos sucessivos.

Foi a primeira vez desde o período 2001-2005 que o volume de trocas de armas entre países – um indicador da procura – não registou um aumento por comparação com o período anterior de cinco anos.

Arábia Saudita, o maior importador

Os países do Médio Oriente registaram o maior aumento de importações de armas a nível mundial entre 2016 e 2020, importando mais 25% que nos cinco anos anteriores. Arábia Saudita (61%), Egipto (136%) e Catar (361%) registam os maiores aumentos.

Quatro dos dez maiores importadores de armas são desta região, que representa 33% das importações a nível global: aos três países referidos juntam-se os Emirados Árabes Unidos. Só a Arábia Saudita representa 11% de todo o volume de armas importadas mundialmente nestes cinco anos.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Os EUA foram responsáveis por mais de metade das armas exportadas para a região (52%), seguindo-se a Rússia (13%) e a França (12%).

A região do mundo que mais armas importou foi a Ásia e Oceânia (42%). Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Paquistão foram os países que mais armas importaram na região.

O SIPRI afirma que é cedo para dizer se uma recessão associada à pandemia de Covid-19 pode fazer abrandar os negócios de armas. «O impacto económico da Covid-19 podia levar alguns países a diminuir as importações de armas nos próximos anos. No entanto, ao mesmo tempo, mesmo no auge da pandemia, em 2020, vários países assinaram grandes contratos de armamento», releva o SIPRI.

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Questionado sobre se este negócio «é consistente com a promessa do governo dos EUA de liderar a diplomacia com vista a pôr fim ao conflito no Iémen», Falk respondeu que não, rejeitando a declaração como uma alegação «falsa».

«Esta é uma afirmação claramente falsa», acusou, acrescentando que os mísseis ar-ar protegem o espaço político nacional saudita, dando ao reino a liberdade de fazer a guerra fora de seu território com expectativas substancialmente reduzidas de ver o seu país atacado. «Por outras palavras, o objectivo do armamento defensivo é muitas vezes isolar a guerra ofensiva da retaliação e, dado o historial saudita, esse parece ser o caso», frisou Richard Falk.

Não há «incentivo para a via diplomática»

«Tal militarismo parece fazer aumentar a capacidade de combate da Arábia Saudita e não apresenta nenhum incentivo para acabar com o conflito no Iémen pela via diplomática. Se a intenção fosse uma mudança no sentido da diplomacia, poderia ter sido sinalizada oferecendo às forças opositoras iemenitas capacidades militares equivalentes ou condicionando a venda dos mísseis a um esforço de boa-fé para resolver o conflito através de negociações. Não houve nenhum esforço tangível ou credível nessa direcção», acrescentou.

O académico norte-americano criticou a incapacidade da ONU para pôr fim ao conflito no Iémen, afirmando que «estamos a assistir a mais um caso em que a ONU e a segurança internacional são incapazes face aos alinhamentos geopolíticos que se dedicam a encontrar soluções militares para conflitos políticos».

«Nesta perspectiva, não há um ponto final à vista para o conflito e o sofrimento humano no Iémen, e é provável que não surja nenhum, a não ser que a Arábia Saudita se sinta ameaçada por outras fontes ou enfrente pressões internas significativas. A morte dos iemenitas, infelizmente, não faz parte dos cálculos políticos realizados pelos cínicos criadores dos objectivos da política externa de Riade», sublinhou.

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Quebrando a promessa de pôr fim à guerra, a administração de Biden não só não está a pressionar a Arábia Saudita nesse sentido, como continuou a vender tecnologia militar à monarquia do Golfo e, segundo refere o portal multipolarista.com, pondera inclusive voltar a classificar a resistência Huti Ansarullah como «terrorista», tal como o fez o seu antecessor, Donald Trump.

Entretanto, o Conselho Norueguês de Refugiados alertou que o número de civis mortos ou feridos no Iémen quase duplicou desde que o Conselho de Direitos Humanos da ONU votou a favor de acabar com o mandato dos especialistas que analisavam crimes de guerra no Iémen, em Outubre último.

«Nos quatro meses anteriores ao fim da monitorização dos direitos humanos, 823 civis foram feridos ou mortos na guerra. Nos quatro meses que se seguiram, foram 1535 civis», informou o conselho.

Neste período, houve 39 vezes mais vítimas civis provocadas pelos ataques aéreos sauditas.

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Em Março de 2015, uma coligação liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, e suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah, que, em conjunto com o Exército iemenita, tem resistido aos invasores.

A agressão militar, que agora cumpriu sete anos, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes e provocou centenas de milhares de mortos, feridos e deslocados, tendo estado na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

«A perspectiva para o povo iemenita é, neste momento, extremamente preocupante», alertou Steiner, acrescentando: «A realidade é que o desespero, a pobreza e a destruição atingiram um nível no Iémen em que a maioria da população, de uma forma ou de outra, já não é capaz de se sustentar a si mesma.»

Cortes nos fundos e na ajuda humanitária

As afirmações do responsável das Nações Unidas tiveram lugar no mesmo dia em que a aviação saudita bombardeou zonas residenciais na capital iemenita, Saná, e outras regiões do país, depois de, no sábado, o movimento Huti Ansarullah ter declarado um cessar-fogo de três dias.

A trégua unilateral seguiu-se a uma vaga de ataques com mísseis e drones, na sexta-feira, que atingiram alvos em vários pontos da Arábia Saudita, incluindo instalações petrolíferas na cidade de Jeddah.

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ONG alerta para solidariedade selectiva com desvio de fundos para a Ucrânia

A Oxfam International alertou esta sexta-feira para o desvio de ajudas já destinadas a certos países como forma de fazer frente à crise migratória com origem na Ucrânia.

De acordo com as Nações Unidas, pelo menos 12 milhões de pessoas enfrentam uma seca devastadora e passam fome na Somália, no Quénia e na Etiópia 
Créditos / @UNOCHA

As repercussões mundiais da actual «crise ucraniana» – que já se sentem no aumento dos preços de bens, alimentação e energia – poderiam minar os fundos de ajuda dos países doadores, destinados a pessoas que estão noutros «pontos quentes» humanitários, refere a organização não governamental (ONG) numa nota de imprensa.

Neste sentido, o organismo indica que a União Europeia (UE) reduziu para mais de metade os fundos humanitários para Timor-Leste. Outros doadores adiantaram que vão cortar em 70% a ajuda oficial para o desenvolvimento do Burkina Faso, e outros países da África Ocidental estão a receber notícias semelhantes.

Evelien Van Roemburg, directora do gabinete da Oxfam na UE, sublinhou que a população do Iémen e da Síria, os milhões que passam fome na África Oriental e Ocidental ou as pessoas que estão em acampamentos no Bangladesh «não devem ser penalizados» por causa dos cuidados que o povo da Ucrânia deve ter.

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Migrantes e refugiados passam por «horrores inimagináveis» ao atravessar a Líbia

Um relatório da ONU divulgado esta quinta-feira denuncia as «violações massivas de direitos humanos» dos migrantes e refugiados quando atravessam a Líbia em busca de uma vida melhor.

Um migrante num centro de detenção na Líbia, quando da visita de uma equipa da Unicef, em Fevereiro de 2017
CréditosRomenzi / Unicef

O relatório, publicado conjuntamente pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL, na sigla em inglês), revela com detalhe uma série de «terríveis violações e abusos cometidos tanto por funcionários estatais como por grupos armados e traficantes de pessoas».

No resumo que antecede o documento propriamente dito – com 61 páginas e acessível apenas em inglês –, afirma-se que a investigação abarca um período de 20 meses até Agosto de 2018 e foi levada a cabo por funcionários das Nações Unidas especializados em direitos humanos, que entrevistaram mais de 1300 migrantes e refugiados na Líbia, na Nigéria e em Itália.

Com base nas entrevistas e também nas visitas efectuadas a centros de detenção na Líbia, os funcionários registaram os «horrores inimagináveis» por que passam os migrantes e refugiados «desde que entram em território líbio, durante o tempo que ali permanecem e – quando conseguem sobreviver – nas tentativas de atravessar o Mar Mediterrâneo».

Entre os «horrores referidos», contam-se casos de execução extrajudicial, torturas, detenções arbitrárias, violações em grupo, escravidão e trabalho forçado, denunciam ambos os organismos das Nações Unidas, sublinhando que «o clima de anarquia» que se vive actualmente no país africano é «terreno fértil para as actividades ilícitas, como o tráfico de pessoas e o contrabando».

«Aqueles que conseguem chegar à costa e, no final, tentam empreender a perigosa travessia do Mediterrâneo são interceptados de forma crescente pela Guarda Costeira da Líbia (GCL), que os leva de volta para a Líbia, onde muitos são novamente submetidos ao esquema de abusos de que acabaram de escapar», alerta o relatório.

Os cerca de 29 mil migrantes que a GCL obrigou a regressar ao país africano desde o início de 2017 foram transferidos para centros de detenção do Departamento de Combate à Migração Ilegal e, segundo refere o texto, milhares deles «continuam detidos indefinida e arbitrariamente, sem o devido processo, acesso a apoio legal ou a serviços consulares».

Neste sentido, as Nações Unidas lamentaram que a União Europeia e os seus estados-membros tenham mantido «uma política que visa reduzir a possibilidade de os migrantes e refugiados alcançarem as costas europeias», «contribuindo para que milhares de pessoas, desesperadas, fiquem presas na Líbia».


Ghassan Salamé, representante especial do secretário-geral da ONU e directora da UNSMIL, frisou que existe um «fracasso local e internacional na abordagem a esta calamidade humana escondida que continua a ter lugar na Líbia».

Por seu lado, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, destacou que «a situação é absolutamente horrorosa», e lembrou a necessidade de combater «a impunidade generalizada» para «acabar com o sofrimento de dezenas de milhares» de migrantes e refugiados, que «apenas procuram uma vida melhor».

Um país que «não é seguro», destruído pela NATO

As Nações Unidas consideram que a Líbia não é um «país seguro». Mais que isso, a Líbia é, desde a intervenção promovida em 2011 pelos EUA, a França, o Reino Unido e seus aliados contra o governo de Muammar Khadafi, um Estado falhado, destruído, onde diversos grupos armados passaram a lutar entre si pelo controlo de território e de recursos.

Em 2010, a Líbia era o país com maior Índice de Desenvolvimento Humano no continente africano, de acordo com dados das Nações Unidas. Com os seus imensos recursos aquíferos, petrolíferos e de gás a saque, a população das cidades líbias passou a sofrer de escassez de água, cortes de luz e falta de instalações médicas.

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Citada no portal da ONG, Van Roemburg denuncia que «todos os dias ouvimos falar de super-iates e mansões apreendidos», enquanto multimilionários de todas as nacionalidades crescem de forma «obscena» com a especulação, a evasão fiscal e o aumento vertiginoso dos lucros corporativos e dos preços das acções.

«Rejeitamos qualquer afirmação de acordo com a qual ajudar um refugiado da Ucrânia ou um agricultor faminto da Somália seja uma escolha», acrescentou.

Os países nórdicos prometeram 300 milhões de euros – quase por inteiro a Noruega – para ajudar a Ucrânia, mas isto equivale a 40% dos fundos de ajuda orçamentados pela Noruega e, se não houver um reforço, haverá grandes cortes noutros programas, indica a nota.

«Risco de catástrofe» no Iémen

Também esta semana, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, alertou para situação humanitária no Iémen, após sete anos de cerco e guerra de agressão liderada pelos sauditas – com apoio dos EUA –, e num contexto de falta de fundos para a ajuda humanitária.

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Iémen: má-nutrição infantil atinge nível mais elevado

«Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças», alertou a coordenadora humanitária da ONU para o Iémen, Lise Grande.

Pai com criança ao colo, apresentando sinais de má-nutrição aguda grave, numa província do Iémen, em Setembro de 2020
Créditos / PressTV

As Nações Unidas alertaram para «o nível mais elevado» de má-nutrição entre crianças pequenas em determinadas zonas do país árabe, que há cinco anos e meio é alvo de uma violenta campanha militar liderada pela Arábia Saudita.

A escalada da guerra, a crise económica, o grande impacto da pandemia de Covid-19 e a interrupção, por falta de fundos, em projectos de ajuda – ao nível do apoio alimentar e serviços de saneamento, água e higiene – «conduziram à beira do precipício uma população já exausta».

Num comunicado conjunto emitido esta semana, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Programa Alimentar Mundial e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirmaram que mais de meio milhão de crianças com menos de cinco anos no Sul do Iémen apresentam níveis de desnutrição aguda jamais registados no país, acrescentando que um estudo em curso no Norte deve apresentar resultados «igualmente preocupantes».

De acordo com o relatório das três agências das Nações Unidas, nas áreas estudadas (133 distritos no Sul do país árabe) registou-se um aumento de 15,5% de casos de má-nutrição aguda grave entre as crianças com menos de cinco anos, o que significa que pelo menos 98 mil menores nessa faixa etária correm um «risco elevado de morrer» se não receberem tratamento urgente.

«Os dados que estamos a divulgar confirmam que a má-mutrição aguda entre as crianças está a atingir os níveis mais altos que vimos desde que a guerra começou», disse Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU para o Iémen.

Acrescentou que, desde Julho, tem vindo a chamar a atenção para esta situação e que «o Iémen está à beira de uma crise de segurança alimentar catastrófica». «Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças pequenas», avisou a funcionária das Nações Unidas.

Guerra de agressão e pior crise humanitária do mundo

O Iémen enfrenta a pior crise humanitária do mundo. Particularmente afectada pela fome, a população iemenita tem sido também atingida por doenças como cólera, difteria, sarampo e dengue, na sequência da guerra de agressão lançada pela Arábia Saudita em Março de 2015, à frente de uma coligação de países aliados e que contou com forte apoio do Ocidente, nomeadamente dos EUA e do Reino Unido.


Apesar de não ter conseguido alcançar os objectivos declarados de suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, a coligação liderada pelos sauditas prossegue a guerra, continuando a fazer baixas entre a população civil, incluindo crianças.

Segundo as agências da ONU, quase 80% da população iemenita (24 milhões de pessoas) dependem de alguma forma de ajuda. Em meados de Outubro, as agências apenas tinham recebido 1,43 mil milhões de dólares dos 3,2 mil milhões que são necessários, em 2020, para financiar os projectos de ajuda humanitária no Iémen.

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Apesar de a ONU ter classificado a situação no Iémen como a maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, após quase sete anos seguidos de «morte, destruição, deslocações, fome… numa escala massiva», o secretário-geral revelou que o organismo e os seus parceiros foram obrigados a «redimensionar ou encerrar» dois terços dos programas vitais no país árabe devido a falta de fundos.

De acordo com o responsável pelos Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, são necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, este ano, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen.

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Achim Steiner mostrou-se preocupado com o facto de este conflito «receber menos atenção» e, acima de tudo, com a possibilidade de os doadores internacionais «irem cortar fundos». «Isto devia-nos preocupar a todos», frisou.

Aproximadamente 80% dos cerca de 30 milhões de iemenitas dependem de ajuda para sobreviver. Este mês, a ONU referiu que eram necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, em 2022, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen. No entanto, o organismo só conseguiu juntar 1,3 mil milhões.

Isto significa que «aquilo que vamos ver ao longo de 2022 é uma redução maior da ajuda humanitária […]. Tudo isto estará comprometido», disse Steiner.

«Esta guerra… não resolveu nada», sublinhou.

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O chefe da delegação negociadora iemenita, Mohammad Abdul Salam, congratulou-se com este anúncio, enquanto Mohammad Ali al-Houthi, membro do Conselho Político Supremo, disse que «o povo deve ter cuidado» e que a trégua só será «credível ao ser implementada».

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, país considerado um aliado do movimento de resistência Huti, também se congratulou com a trégua.

Saeed Khatibzadeh, porta-voz governamental, disse este sábado ter esperança de que o cessar-fogo alcançado seja o prelúdio do levantamento completo do bloqueio ao Iémen e do estabelecimento de uma trégua permanente.

Manifestou igualmente o apoio de Teerão a uma solução política e humanitária para o conflito no mais pobre dos países árabes.

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Fazendo uma avaliação positiva da implementação da trégua, Hans Grundberg reconheceu que os combates continuaram e provocaram baixas civis. «Continuamos a ver relatórios preocupantes de combates contínuos, implicando incidentes com baixas civis, apesar da redução global», disse.

O enviado da ONU sublinhou a necessidade de abrir estradas em Taiz e outras zonas do país, o que facilitaria enormemente as deslocações e melhoraria a vida diária das populações. «Tivemos respostas positivas de todas as partes para avançar com isso», frisou.

«A promessa da trégua aos civis era de mais segurança, melhor acesso a bens e serviços essenciais, e maior liberdade de movimento dentro, para e a partir do Iémen», destacou Grundberg, acrescentando que «os iemenitas não se podem dar ao luxo de voltar ao estado anterior ao cessar-fogo, de escalada militar perpétua e impasse político».

Primeiro voo comercial em quase seis anos

O enviado da ONU disse ainda que o primeiro voo comercial em quase seis anos partiu do Aeroporto Internacional de Saná, na segunda-feira, e que outro voo trouxe iemenitas de volta.

O avião da Yemenia, com 126 passageiros a bordo, incluindo alguns doentes que esperavam há anos por tratamentos no estrangeiro, levantou voo com destino a Amã, capital da Jordânia.

Hans Grundberg referiu-se a este passo como algo de «importante», que era «há muito esperado». «Isto trouxe alívio a tantos iemenitas que esperaram tanto tempo para viajar, muitos deles por razões médicas urgentes, ou em busca de oportunidades de negócio ou educativas, ou para se reunirem com os seus seres queridos após anos de separação», sublinhou Grundberg.

«Estamos a trabalhar com todos os envolvidos para garantir a regularização dos voos durante a trégua e para encontrar mecanismos duradouros que permitam mantê-lo aberto», disse.

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No entanto, o enviado da ONU destacou a necessidade de «abordar com urgência» o bloqueio terrestre, aéreo e naval imposto ao Iémen por Riade e seus aliados. «Para que a trégua atinja plenamente o seu potencial, será necessário tomar medidas adicionais, particularmente no que respeita à abertura de estradas e às operações de voos comerciais», disse, citado pela PressTV.

«Continuarei a dialogar com as partes para implementar e consolidar plenamente todos os elementos da trégua, e avançar para uma solução política sustentável para o conflito que satisfaça as legítimas aspirações das mulheres e dos homens iemenitas», afirmou Grundberg.

Nos últimos dois meses, ambas as partes se acusaram de violar repetidamente a trégua em curso, mas, tal como ressaltou o enviado da ONU em meados de Maio, «verificou-se uma redução drástica nos combates».

Mais de sete anos de guerra de agressão

Em Março último, cumpriram-se sete anos da guerra de agressão contra o Iémen. A Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar contra o vizinho do sul, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

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Protestos marcaram a grande feira do armamento em Londres

A Defence & Security Equipment International (DSEI) é uma feira onde os fabricantes de armas mostram os mais recentes produtos e tecnologias. Jovens comunistas e outras organizações realizaram protestos.

Protesto da Young Communist League em Londres 
Créditos / YCL-London

A feira bienal, que começou dia 14 e termina hoje, no Exhibition Centre London (ExCeL), em Londres, tem sido palco de protestos.

Para o dia de abertura, as organizações Campanha contra o Comércio de Armas (CAAT, na sigla em inglês) e Stop The Arms Fair convocaram uma mobilização contra aquilo que designaram como «conduta de uma das maiores feiras de armamento do mundo».

Para os organizadores do protesto, no ExCeL «fazem negócio aqueles que lucram com a guerra, a repressão e a injustiça». A Young Communist League (YCL-Britain) também organizou um protesto em Londres, refere o Peoples Dispatch.

A feira DSEI é um dos principais pontos de encontro e negócio dos fabricantes de armamento. Na edição de 2019, revelou a imprensa, participaram cerca de 1700 empresas.

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EUA são o maior exportador de armas e a Arábia Saudita o maior importador

Um relatório recente revelou que os EUA foram responsáveis por mais de um terço da venda de armamento a nível mundial nos últimos cinco anos, enquanto os sauditas foram os que mais importaram.

Donald Trump, president dos EUA, num encontro na Casa Branca com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, em Washington, Março de 2018
Créditos / CGTN

As exportações de armas que tiveram como origem os EUA, entre 2016 e 2020, representaram 37% de todos os negócios registados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Metade das exportações norte-americanas de armamento teve como destino o Médio Oriente, e a Arábia Saudita foi de longe o principal parceiro de negócio no período referido, representando quase um quarto de todas as vendas dos EUA (24%).

O instituto sediado em Estocolmo afirma que, entre 2016 e 2020, as exportações de armas dos EUA aumentaram 15% em comparação com o período 2011-2015.

A Rússia foi o segundo maior exportador de armas a nível global, representando um quinto do total de exportações registadas (com menos 22% de vendas que no período 2011-2015).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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A França, com 8% das vendas, é o terceiro maior exportador. Seguem-se a Alemanha (5,5%) e a China (5,2%), para fechar a lista dos cinco países que mais armas venderam entre 2016 e 2020. Na parte inferior do «top dez» situam-se Reino Unido, Espanha, Israel, Coreia do Sul e Itália.

O SIPRI nota que, por comparação com 2011-2015, os últimos cinco anos registaram um pequeno decréscimo no volume de vendas de armamento (menos 0,5%), pondo fim a mais de uma década de aumentos sucessivos.

Foi a primeira vez desde o período 2001-2005 que o volume de trocas de armas entre países – um indicador da procura – não registou um aumento por comparação com o período anterior de cinco anos.

Arábia Saudita, o maior importador

Os países do Médio Oriente registaram o maior aumento de importações de armas a nível mundial entre 2016 e 2020, importando mais 25% que nos cinco anos anteriores. Arábia Saudita (61%), Egipto (136%) e Catar (361%) registam os maiores aumentos.

Quatro dos dez maiores importadores de armas são desta região, que representa 33% das importações a nível global: aos três países referidos juntam-se os Emirados Árabes Unidos. Só a Arábia Saudita representa 11% de todo o volume de armas importadas mundialmente nestes cinco anos.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Os EUA foram responsáveis por mais de metade das armas exportadas para a região (52%), seguindo-se a Rússia (13%) e a França (12%).

A região do mundo que mais armas importou foi a Ásia e Oceânia (42%). Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Paquistão foram os países que mais armas importaram na região.

O SIPRI afirma que é cedo para dizer se uma recessão associada à pandemia de Covid-19 pode fazer abrandar os negócios de armas. «O impacto económico da Covid-19 podia levar alguns países a diminuir as importações de armas nos próximos anos. No entanto, ao mesmo tempo, mesmo no auge da pandemia, em 2020, vários países assinaram grandes contratos de armamento», releva o SIPRI.

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Este ano, há mais de 800 expositores, em que se incluem os dez maiores fabricantes de armamento do mundo, indica o Peoples Dispatch, acrescentando que delegados estatais e militares de mais de cem países foram oficialmente convidados pelo governo britânico.

A CAAT manifestou especial preocupação com a participação da Arábia Saudita, na medida em que é um dos maiores compradores de armamento.

Além disso, lidera uma coligação que há mais de seis anos leva a cabo uma guerra de agressão contra o Iémen, que provocou dezenas de milhares de mortos e uma das maiores crises humanitárias da história recente.

Samuel Perlo-Freeman, da CAAT, disse que a lista oficial de convidados pelo governo britânico para a DSEI «tem como objectivo expresso juntá-los com os maiores negociantes de armas na Grã-Bretanha e no mundo, mostrando que [o executivo] não é sério no que respeita ao controlo da exportação de armas, à paz mundial, aos direitos humanos ou ao bom governo».

«Os negócios de armas realizados na feira farão do mundo um sítio mais perigoso», frisou.

Por seu lado, o comité londrino da Young Communist League afirmou que «não ia tolerar imperialistas a vender armas a estados repressores debaixo do seu nariz».

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A agressão militar, que destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes e provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, esteve na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

Os EUA destacaram-se como um dos grandes fornecedores de armamento à monarquia saudita, tendo lucrado milhares de milhões de dólares com esta guerra – ao lado do Reino Unido e de uma lista mais longa, que inclui a Alemanha, a França, o Canadá e outros.

Em Novembro do ano passado, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento afirmou que, no final de 2021, o número de pessoas mortas na guerra, por motivos directos ou indirectos, devia atingir os 377 mil.

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«Se a coligação militar liderada pelos sauditas continuar a violar a trégua, o Iémen não aceitará um cessar-fogo falhado», alertou, citado pela PressTV.

Afirmou ainda que aquilo que foi alcançado como resultado da trégua não chega a 10% do que foi declarado no acordo.

As autoridades iemenitas em Saná têm-se queixado reiteradamente da violação do cessar-fogo por parte da coligação saudita, nomeadamente por via da apreensão de petroleiros com destino ao porto iemenita de Hudaydah.

ONU espera que a trégua possa conduzir a um acordo mais amplo

Na passada sexta-feira, o enviado especial das Nações Unidas para o Iémen, Hans Grundberg, afirmou que o actual cessar-fogo pode ser um precursor de um acordo de paz mais vasto.

No Fórum Internacional sobre o Iémen, que decorreu em Estocolmo (Suécia), Grundberg mostrou-se optimista, «apesar de todos os desafios». «Sabemos que é frágil, sim, que está longe de ser perfeito, mas está-se a aguentar», disse, referindo-se ao cessar-fogo em vigor.

Neste contexto, já foram retomados voos do Aeroporto Internacional de Saná com destino a Amã (Jordânia) e ao Cairo (Egipto), e alguns petroleiros puderam atracar em Hudaydah.

À margem do fórum, Grundberg disse à AFP que a trégua «trouxe um alívio humanitário à população sem precedentes na história do conflito», e, desse ponto de vista, também permite às Nações Unidas ter «espaço e margem de manobra para se empenhar num acordo político».

As partes têm mantido reuniões directas na capital da Jordânia, apoiadas pelas Nações Unidas, pela primeira vez num ano, o que permite pensar num acordo mais amplo, disse ainda Grundberg.

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Na nota ontem emitida, a UNOCHA informou ainda que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) poderá ter de suspender, em Julho, o apoio a 50 mil crianças com má-nutrição severa, bem como o apoio à saúde materno-infantil que, até Julho, deve abranger até 2,5 milhões de crianças e 100 mil mulheres.

No mesmo mês, a Unicef deverá igualmente suspender o trabalho que realiza ao nível da água potável e saneamento, e que abrange cerca de 3,6 milhões de iemenitas.

A guerra de agressão e o bloqueio impostos por Riade, aliados regionais e ocidentais ao mais pobre dos países árabes provocou aquilo que as Nações Unidas definiram como «a pior crise humanitária».

Apesar da trégua iniciada em Abril e prolongada em Junho, sob os auspícios da ONU, a coligação liderada pelos sauditas não pôs fim ao bloqueio nem ao confisco de petroleiros com destino ao porto de Hudaydah.

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Para Martin Schüepp, a única via para a recuperação do Iémen reside na solução política do conflito. «O CICV está a abordar necessidades urgentes e a procurar soluções que tragam alívio a longo prazo», disse.

Estas afirmações seguem-se aos anúncios de aumento de cortes nas rações alimentares, no Iémen, feitos em Junho pelo Programa Alimentar Mundial (PMA), por não receber fundos suficientes, devido às condições económicas a nível global e aos efeitos colaterais contínuos da guerra na Ucrânia.

O PMA afirmou, então, que foi obrigado a reduzir, no país árabe, as rações de alimentos para 25% das necessidades diárias para oito milhões de pessoas e a cortar para metade o apoio a cerca de cinco milhões de pessoas, devido a falta de financiamento.

No final de Março, Achim Steiner, director do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), já alertara que o país árabe, devastado pela guerra, enfrentava uma «perspectiva extremamente preocupante».

Citado pela PressTV, o responsável pelo PNUD lançou o alerta ao afirmar que, «tendo em conta a realidade geopolítica mais vasta, o risco é que o Iémen seja em parte esquecido, e isso será obviamente uma tragédia».

O conflito na Ucrânia está a ter «repercussões na economia global» e isso «irá reduzir o alcance da solidariedade internacional para a cooperação internacional», disse Steiner.

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Crianças de Taiz, refere a ONG, disseram que, desde que a trégua de seis meses auspiciada pelas Nações Unidas terminou, em Outubro, temem constantemente pelas suas vidas, quando estão a brincar na rua ou vão a caminho da escola.

Diana, de 14 anos, disse à Save the Children que, «antes da trégua, as nossas mentes estavam sempre em alerta máximo, imaginando que um projéctil podia cair a qualquer momento». «Nunca nos sentimos seguros. No entanto, durante a trégua, sentíamo-nos em segurança quando brincávamos na rua ou íamos para a escola ou estávamos a estudar. Sabíamos que nada podia acontecer porque havia a trégua», disse.

A Save the Children destaca os ganhos que o cessar-fogo trouxe para as crianças a nível nacional, mas lembra que, mesmo nesse contexto, o número de crianças mortas e feridas este ano é superior a uma por dia.

Em todo o caso, os números verificados (92 mortos e 241 feridos) em 2022 são inferiores aos que as Nações Unidas registaram em 2021 (201 crianças mortas e 480 feridas) e no período entre 1 de Janeiro de 2019 e 31 de Dezembro de 2020 (678 crianças mortas e 1934 feridas).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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Rama Hansraj, directora da Save the Children para o Iémen, destacou o intenso contacto que as equipas da organização mantêm com as crianças «a quem foi roubada a infância», sublinhando que «não existe justificação para matar e cometer abusos sobre as crianças».

Em Março de 2015, a Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências europeias e regionais, lançou uma agressão militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

A campanha militar, acompanhada por um cerco que privou o país dos bens essenciais, provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes, espalhou a fome e disseminou doenças infecciosas, estando na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

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A campanha militar, acompanhada por um cerco que privou o país dos bens essenciais, provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes, espalhou a fome e disseminou doenças infecciosas, estando na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

Neste sentido, Russell apelou à reactivação imediata da trégua que, sob os auspícios das Nações Unidas, entrou em vigor a 2 de Abril deste ano, por um período de dois meses, e que foi renovada duas vezes – em Junho e Agosto –, prolongando-se até 2 de Outubro último.

«A renovação urgente da trégua seria um primeiro passo positivo que permitiria um acesso humanitário crítico», disse Russell, acrescentando que, «em última instância, só uma paz sustentada permitirá às famílias reconstruir as suas vidas destroçadas e começar a planear o futuro».

Milhões de crianças à beira da morte

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Iémen: 19 milhões sofrem de insegurança alimentar, alerta Cruz Vermelha

Dois terços dos iemenitas estão em situação de insegurança alimentar, alertou um representante da Cruz Vermelha. A guerra e o cerco continuam mas o Iémen afastou-se do foco mediático.

Karima, uma criança iemenita de sete anos, vê a sua mãe a fazer pão 
Créditos / Programa Alimentar Mundial

Na sequência de uma visita recente ao mais pobre dos países árabes, Martin Schüepp, director de operações do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), afirmou no Twitter que «cerca de dois em cada três iemenitas estão em situação de insegurança alimentar. Isso representa cerca de 19 milhões de pessoas».

«Mais não têm acesso a cuidados básicos de saúde. Apesar de tudo isto, o Iémen está muitas vezes fora do foco mediático», disse.

Durante a sua visita ao Iémen, Martin Schüepp pôde ver em primeira mão «como médicos locais, juntamente com pessoal do CICV, tratavam pessoas com ferimentos de bala numa unidade de emergência local» e teve a possibilidade de «falar com agricultores cujos rendimentos foram severamente afectados por anos de conflito».

A Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou, em Março de 2015, uma agressão militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

A campanha militar, acompanhada por um cerco que privou o país dos bens essenciais, provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes, espalhou a fome e disseminou doenças infecciosas, estando na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

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Mais de 19 milhões de iemenitas passam fome e as ajudas diminuem

Depois de o Programa Alimentar Mundial ter anunciado cortes drásticos na ajuda ao Iémen, a ONU revela que a fome atinge o patamar mais elevado no país árabe desde o início da guerra de agressão, em 2015.

Créditos / @UNOCHA

Numa nota emitida esta terça-feira, o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA, na sigla em inglês) afirma que os cortes nos fundos estão a limitar a sua capacidade de ajudar as pessoas que necessitam de assistência, incluindo os 160 mil iemenitas que se encontram à beira da fome.

«Cinco milhões de pessoas receberão menos de metade das suas necessidades diárias e oito milhões de pessoas receberão menos de um terço daquilo de que necessitam diariamente», revelou a UNOCHA.

Explicou que, em Dezembro último, o Programa Alimentar Mundial (PMA) foi obrigado a reduzir as rações alimentos para oito milhões de pessoas no país árabe devido a falta de financiamento e que teve de efectuar mais cortes no mês passado.

No domingo, o PMA anunciou na sua conta de Twitter que foi obrigado a «tomar decisões extremamente difíceis» no que respeita à ajuda alimentar que presta à população iemenita, por não receber fundos suficientes, devido às condições económicas a nível global e aos efeitos colaterais contínuos da guerra na Ucrânia.

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Iemenitas denunciam continuidade do bloqueio imposto pelos sauditas

Um membro do Conselho Político Supremo do Iémen afirmou que se mantém o bloqueio naval e aéreo liderado pelos sauditas, classificando-o como um «crime» contra a população civil.

Navio atracado no porto iemenita de Hudaydah (imagem de arquivo) 
Créditos / PressTV

Em declarações efectuadas este domingo numa rede social, o dirigente político denunciou que a coligação liderada por Riade está a usar a fome como arma de guerra contra o povo iemenita, refere a PressTV.

«O prosseguimento do cerco e a recusa da coligação liderada pela Arábia Saudita em implementar as disposições da trégua, que é um documento oficial sob os auspícios das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança, equivale a um crime intencional contra todo o povo iemenita», disse al-Houthi.

Por seu lado, o vice-primeiro-ministro para a Defesa, Jalal al-Ruwishan, disse numa entrevista à cadeia de TV em língua árabe al-Masirah que há «sinais claros» de que a coligação mantém a «agressão total» contra o Iémen, violando os termos do cessar-fogo alcançado pela ONU no início de Abril e prolongado por mais dois meses no início de Junho.

Ruwishan disse que a trégua «não faz sentido e é inútil» se não permite a abertura dos portos e aeroportos iemenitas, bem como o pagamento dos salários aos funcionários públicos.

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Trégua no Iémen prolongada por mais dois meses

As partes em conflito aceitaram renovar o cessar-fogo vigente no país árabe por um período de dois meses, anunciou um representante das Nações Unidas esta quinta-feira, horas antes de a trégua expirar.

Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas desta madrugada 
Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas Créditos / Al Jazeera

«Gostava de anunciar que as partes em conflito aceitaram a proposta das Nações Unidas de renovar a trégua vigente no Iémen por mais dois meses», disse o enviado especial da ONU para o Iémen, Hans Grundberg, num comunicado emitido esta quinta-feira.

«O prolongamento da trégua entra em vigor quando o actual período de cessar-fogo expirar, hoje, 2 de Junho, às 19h, hora do Iémen», afirma o texto.

O acordo inicial de cessar-fogo entrou em vigor a 2 de Abril deste ano, na sequência das negociações mediadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre a coligação liderada pelos sauditas e o movimento de resistência Huti Ansarullah.

Hans Grundberg referiu que a trégua se mantém nos mesmos termos do acordo original, sublinhando que, «nos últimos dois meses, a população experimentou benefícios tangíveis da trégua, as baixas civis diminuíram significativamente, a entrada de combustíveis no país aumentou de forma considerável e os voos comerciais foram retomados para e a partir de Saná».

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Combates no Iémen diminuíram de forma significativa com a trégua, diz enviado da ONU

Hans Grundberg disse esperar que o cessar-fogo proposto pela ONU no país árabe, em vigor há quase dois meses, se prolongue, tendo em conta a redução das hostilidades verificada.

Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a agressão da coligação liderada pelos sauditas começou em Março de 2015 
Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a trégua proposta pela ONU está em vigor desde 2 de Abril de 2022 Créditos / PressTV

Em declarações à imprensa, esta terça-feira, Grundberg destacou que, quando faltam duas semanas para o final da trégua, esta se tem mantido em termos militares, com um impacto positivo considerável na vida diária de muitos iemenitas.

«Houve uma redução drástica nos combates, sem ataques aéreos a partir do Iémen, através das suas fronteiras, e sem ataques aéreos confirmados no interior do Iémen», disse o enviado das Nações Unidas à imprensa, após uma sessão informativa à porta fechada no Conselho de Segurança.

«Por todo o Iémen, as linhas da frente acalmaram-se significativamente e há registos de um acesso humanitário crescente, incluindo nalguns locais da linha da frente a que tinha sido extremamente difícil chegar», disse, citado pela PressTV.

No passado dia 1 de Abril, Grundberg anunciou que «as partes do conflito responderam positivamente à proposta da ONU de uma trégua de dois meses», que entrou em vigor no dia seguinte.

O cessar-fogo foi implementado após sete anos de agressão contra o mais pobre dos países árabes por parte de uma coligação liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA e do Reino Unido, na sequência da queda do governo aliado de Riade.

A guerra provocou milhares de mortos e uma situação humanitária que a Organização das Nações Unidas classificou como a mais grave dos tempos modernos, sem que as potências agressoras tenham conseguido repor no poder Abd Rabbuh Mansur Hadi.

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Trégua proposta pela ONU no Iémen entrou em vigor, com registo de violações

A proposta de cessar-fogo anunciada pelo enviado especial da ONU para o Iémen foi aceite pelo movimento Huti e a coligação liderada pelos sauditas, mas estes, afirma a Al Masirah, violaram a trégua repetidamente.

Um homem e os seus filhos num zona bombardeada de Hudaydah
CréditosGiles Clarke / UNOCHA

O enviado especial das Nações Unidas, Hans Grundberg, anunciou na sexta-feira que «as partes do conflito responderam positivamente à proposta da ONU de uma trégua de dois meses», que entrou em vigor este sábado, às 19h locais.

No entanto, a cadeia de TV iemenita Al Masirah informa que, nas últimas horas, a trégua foi violada pelos sauditas tanto na província de Sa'ada, onde foram mortos três civis, como na de Hudaydah.

As Forças Armadas iemenitas afirmaram que estavam empenhadas no cessar-fogo desde que ambas as partes o respeitassem.

Nos termos da trégua, as partes comprometeram-se a cessar todas as operações militares ofensivas, dentro e fora do Iémen.

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Quem provoca as ondas de refugiados?

A manipulação de uma situação parcial num quadro muito mais amplo, pretende, entre outras coisas, minimizar ou mesmo silenciar os crimes contra os refugiados que fazem parte do quotidiano da União Europeia.

Migrantes e refugiados provenientes do Médio Oriente concentraram-se junto à passagem de Bruzgi-Kuznica, na fronteira polaca-bielorrussa, pedindo autorização para entrar na União Europeia, onde pretendem receber asilo. Grodno, Bielorrússia, 25 de Janeiro de 2021
CréditosLEONID SCHEGLOV / EPA/BELTA /HANDOUT

A atitude do governo bielorrusso de Aleksander Lukashenko para com os refugiados é condenável. Não menos condenável é o comportamento dos governos da Polónia, da Lituânia, da Estónia e da União Europeia em geral para com os refugiados. A diferença é que os órgãos de manipulação social apenas têm olhos para observar o que se passa na Bielorrússia desde o início da segunda metade deste ano, ignorando – com raras excepções – as consequências profundas da política de perseguição aos refugiados praticada há muitos anos pela União Europeia em todas as suas fronteiras. Uma política que milhares de seres humanos já pagaram com a vida.

«A União Europeia recusa-se a acolher as pessoas que tentam sobreviver fugindo dos conflitos que provocou; e entende que outras nações não podem assumir idênticos comportamentos, mesmo que nada tenham a ver com a origem dos fluxos de refugiados»

Há ainda uma outra diferença. Os refugiados que procuram entrar na União Europeia a partir da Bielorrússia, tal como os que tentam o mesmo através de outras regiões terrestres e marítimas dos 27, têm origem nas guerras provocadas pelos Estados Unidos, a NATO e potências da União Europeia; e também na política colonial, sobretudo em África, entranhada nas políticas europeia e norte-americana. As guerras sangrentas e destruidoras e o colonialismo têm efeitos bem mais graves do que qualquer «guerra híbrida» de que acusam a Rússia e a Bielorrússia, países que não podem ser responsabilizados pelas agressões militares ao Iraque, ao Afeganistão, à Síria, à Líbia, ao Iémen. A União Europeia recusa-se a acolher as pessoas que tentam sobreviver fugindo dos conflitos que provocou; e entende que outras nações não podem assumir idênticos comportamentos, mesmo que nada tenham a ver com a origem dos fluxos de refugiados. Bruxelas procura sempre encontrar bodes expiatórios para não assumir os seus desmandos em matérias como a democracia e os direitos humanos.

Os refugiados que chegam à Bielorrússia são oriundos sobretudo do Iraque e, em menor volume, do Afeganistão e da Síria. Trata-se efectivamente de refugiados e não de «imigrantes» e «imigrantes ilegais», termos que os governantes europeus e os correspondentes meios de comunicação usam preferencialmente, sempre com o objectivo de não associar esses movimentos desesperados de pessoas às guerras e outras façanhas provocadas por potências ocidentais. Sem os dramáticos conflitos impostos, que as fazem deixar tudo para trás apenas pela simples e humana necessidade de sobreviver, a esmagadora maioria dessas pessoas não pensariam sequer em emigrar dos seus países, sobretudo em casos como os da Síria e do Iraque, mesmo do próprio Afeganistão. Isto é, a grande massa dos refugiados actuais que batem às portas da União Europeia jamais seriam os «imigrantes» que agora se diz serem para iludir as opiniões públicas, a realidade e a própria História.

«Os métodos violentos de Lukachenko para lidar com o problema são inaceitáveis, tal como os adoptados pelos governos da Polónia, da Estónia e da Lituânia, que aliás têm da democracia uma ideia que se assemelha à do presidente bielorrusso»

A Bielorrússia foi apresentada aos candidatos a refugiados como um país de acesso à União Europeia, em tese mais favorável que os tradicionais pontos de passagem, por exemplo a Líbia, a Grécia e a Turquia, onde sofrem situações humilhantes com os objectivos primários de os fazer regressar ao seu país e nem sequer podem apresentar pedidos de asilo. Sabe-se que agências de viagens iraquianas têm incitado os candidatos a fugir da situação de guerra a procurar a cidade Minsk como porta de entrada na União Europeia – e não para ficarem a residir na Bielorrússia, uma solução que não estaria nos planos da maioria deles. Os métodos violentos de Lukachenko para lidar com o problema são inaceitáveis, tal como os adoptados pelos governos da Polónia, da Estónia e da Lituânia, que aliás têm da democracia uma ideia que se assemelha à do presidente bielorrusso. O executivo de extrema-direita da Polónia, xenófobo por definição e avesso ao Estado de direito, como até Bruxelas muito bem sabe, já é um velho conhecido pela rejeição de refugiados, mesmo das ínfimas quotas arduamente discutidas na União Europeia em vergonhoso jogo de empurra. A Estónia, por seu lado, tem a xenofobia inscrita nas próprias leis porque os cidadãos com nacionalidade estoniana mas de outros origens, designadamente a russa, são considerados oficialmente de segunda categoria, não lhes sendo permitido sequer votar.

Nada disto impede, contudo, que a União Europeia esteja incondicionalmente solidária com esses países no contencioso com Minsk, ávida de seguir os Estados Unidos na declaração de mais sanções e reforçadas ameaças da NATO. Penalizações essas apresentadas como respostas à dita «guerra híbrida» de Moscovo, não sendo de excluir que os inusitados incitamentos a refugiados para procurarem Minsk sejam uma nova provocação na panóplia com que Washington e Bruxelas mantêm o perigoso clima de alta tensão militar no Leste da Europa.

Os mortos e o desprezo pelas leis

Durante este ano morrem em média quatro pessoas por dia na sequência de tentativas para chegarem à Europa atravessando o Mediterrâneo Central a partir do Norte de África; e mais de 90 são interceptadas no mar por um aparelho de vigilância dirigido pela União Europeia e devolvidas aos campos de concentração na Líbia, mantidos pelas milícias terroristas islâmicas e financiados por Bruxelas. Nesses campos de terror são submetidas, como rotina, à tortura, extorsão e abusos sexuais – sabendo também que o reenvio para os seus países significará uma morte provável.

«a União Europeia patrulha o Mediterrâneo e financia as guardas costeiras líbias, associadas às milícias terroristas, para impedir que os pobres refugiados se façam ao mar correndo risco de morte; ao invés, devem permanecer em campos de concentração até serem devolvidos aos seus países, correndo risco de morte. Basta-lhes, portanto, escolher a maneira como querem morrer»

Nada disto desencoraja a União Europeia de proclamar o seu apego aos direitos humanos. Segundo Peter Stano, porta-voz para os assuntos externos da Comissão Europeia, convidado a comentar estas situações pela publicação New Humanitarian, «a nossa maior prioridade é salvar vidas no mar e continuar o nosso trabalho para impedir que se realizem viagens arriscadas». Sem dúvida uma declaração singular, de forte conteúdo humanitário: a União Europeia patrulha o Mediterrâneo e financia as guardas costeiras líbias, associadas às milícias terroristas, para impedir que os pobres refugiados se façam ao mar correndo risco de morte; ao invés, devem permanecer em campos de concentração até serem devolvidos aos seus países, correndo risco de morte. Basta-lhes, portanto, escolher a maneira como querem morrer. Mas ingressar no espaço da União, que arrasou os seus países, é que nem pensar.

Dunja Mijatovic, comissária de direitos humanos do Conselho da Europa, escreveu num relatório de Março deste ano que os países europeus «envolveram-se numa guerra para ver qual é mais eficaz a conter pessoas fora das fronteiras europeias». Citando as coordenações entre as marinhas de Estados da União e as guardas costeiras líbias, a «obstrução» de operações de salvamento desenvolvidas por organizações não-governamentais e o financiamento e implementação por Bruxelas «da gestão de fronteiras pela Tunísia e a Líbia», a comissária Mijatovic considera que estas práticas são exemplos «de uma política de imigração europeia que corta direitos humanos, viola a lei e custa a vida a milhares de seres humanos».

Um dos exemplos de violação da lei é a devolução dos refugiados aos seus países de origem, o chamado push back, cuja proibição está inscrita no direito internacional e no da própria União Europeia.

Na Grécia, a lei não é um estorvo pois o governo e o Frontex – polícia de fronteiras cujos comportamentos arbitrários e de marginalidade traduzem a existência de um «Estado» à parte no universo de instituições da UE – recorrem a um sem número de malfeitorias para expulsar os refugiados ou impedi-los de chegar a terra, deixando-os à sua sorte no mar alto, um comportamento relatado mesmo por alguns órgãos fundamentalistas do federalismo.

Já a Polónia procura restringir-se ao primado da lei, aliás de uma maneira criativa. Como o direito geral não permite a devolução de refugiados aos seus países, o governo de Varsóvia aprovou uma lei à medida da actual crise e que permite a expulsão para as suas terras das pessoas que procuram asilo na União Europeia.

Em matéria de criatividade, a Lituânia não fica atrás e, por isso, até 1 de Novembro tinha deferido apenas 6 dos 2600 pedidos de asilo. Segundo testemunhas entrevistadas pelo New Humanitarian, funcionários dos serviços de asilo revelaram que estão sob pressão dos superiores para conduzir interrogatórios agressivos de modo a que os candidatos sejam convencidos a regressar «voluntariamente» aos seus países. Nicolas, um refugiado camaronês, citou um funcionário polaco dizendo que «podemos oferecer-vos 300 euros se aceitarem regressar a casa». E rematou o refugiado: «de que me servem 300 euros se posso ser morto quando voltar a casa?»

O governo lituano procedeu também a adaptações legislativas correspondentes à actual crise. Alterou os procedimentos legais de modo a tornar mais fácil que os candidatos à concessão de asilo possam ser colocados sob detenção.

Se olharmos, porém, o histórico e os antecedentes em matéria de refugiados conclui-se que a União Europeia tem ainda uma forma de tentar aliviar as dores da Polónia e dos Estados xenófobos bálticos. Basta oferecer ao governo de Lukachenko os mesmos três mil milhões de euros anuais que paga dos nossos bolsos ao ditador turco Erdogan para manter os refugiados dentro das suas fronteiras. É duvidoso que o presidente bielorrusso aceite, mas sem tentar nunca fica a saber-se.

Os muros

Entretanto, 32 anos depois da queda do muro de Berlim, que continua a ser periodicamente celebrada no espaço da União com muitas pompas e falsificações da História, doze Estados membros pediram à Comissão Europeia – a tal instituição que nos governa em nome da democracia mas que ninguém elegeu – a concessão de fundos destinados à construção de muros para impedir a entrada e circulação de refugiados.

Tais muros devem fazer parte, muito provavelmente, das medidas previstas no âmbito do Fundo de Confiança para África, aprovado numa cimeira entre países africanos e da União realizada em Malta. Uma das prioridades desse fundo, segundo a UE, é aplicar um plano capaz de desenvolver capacidades «para controlar as fronteiras de terra, mar e ar e também as capacidades de vigilância marítima com o objectivo de prevenir a imigração irregular». Parece que ainda não morreu gente suficiente.

«a situação no Mediterrâneo Central “não é uma trágica anormalidade” mas antes uma catástrofe rotineira como “consequência concreta das decisões políticas e das práticas das autoridades líbias, dos Estados membros e instituições da União Europeia e outros actores”»

O Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos considera que a situação no Mediterrâneo Central «não é uma trágica anormalidade» mas antes uma catástrofe rotineira como «consequência concreta das decisões políticas e das práticas das autoridades líbias, dos Estados membros e instituições da União Europeia e outros actores».

Os procedimentos inconcebíveis de Lukachenko integram-se assim num cenário mais amplo e abrangente que vem muito de trás, com epicentro em Bruxelas. Não há bons nem inocentes nesta situação vergonhosa que mancha a Europa de Leste a Oeste. Um comentador e ex-ministro português, Severiano Teixeira, proclama, como um dogma, que «a culpa é de Lukachenko». A figura é irrelevante, um simples peão da NATO, mas cumpre a missão de papaguear os soundbites concebidos para uma operação de propaganda que, tirando proveito da manipulação de uma situação parcial num quadro muito mais amplo, pretende, entre outras coisas, minimizar ou mesmo silenciar os crimes contra os refugiados que fazem parte do quotidiano da União Europeia.

Por José Goulão, exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril

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Também aceitaram que 18 navios carregados com derivados de petróleo entrem no Porto de Hudaydah e que voos comerciais possam operar a partir de Saná com destino à Jordânia e ao Egipto.

As partes aceitaram ainda encontrar-se sob os auspícios do enviado especial das Nações Unidas para o Iémen com vista à abertura de estradas em Taizz e noutras províncias iemenitas, de modo a facilitar a circulação de civis.

Ao anunciar a trégua, na sexta-feira, Hans Grundberg explicou que o cessar-fogo podia ser prolongado para além dos dois meses previstos, com o consentimento das partes em conflito, indica a PressTV.

«O objectivo da trégua é proporcionar aos iemenitas uma pausa necessária na violência, um alívio do sofrimento humanitário e, o que é mais importante, a esperança de que é possível pôr fim a este conflito», disse Grundberg.

O responsável da ONU disse ainda que esperava intensificar o seu trabalho com as partes neste período de dois meses, com o propósito de alcançar um cessar-fogo permanente, de abordar medidas económicas e humanitárias urgentes, bem como de retomar o processo político.

Por seu lado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que esta trégua «deve ser o primeiro passo para acabar com a guerra devastadora no Iémen» e apelou às partes para que aproveitem esta oportunidade para «retomar um processo político abrangente e inclusivo».

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Iémen em risco de ser «esquecido», com o foco mediático na Ucrânia

Achim Steiner, director do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), alertou que o país árabe, devastado pela guerra, enfrenta uma «perspectiva extremamente preocupante».

Iemenitas inspeccionam destroços de uma casa bombardeada pela coligação liderada pelos sauditas, em Janeiro de 2022 
Créditos / PressTV

O responsável pelo PNUD lançou o alerta ao afirmar, este domingo, que, «tendo em conta a realidade geopolítica mais vasta, o risco é que o Iémen seja em parte esquecido, e isso será obviamente uma tragédia».

O conflito na Ucrânia está a ter «repercussões na economia global» e isso «irá reduzirá o alcance da solidariedade internacional para a cooperação internacional», disse Steiner no Fórum de Doha, no Catar.

«Neste momento, o mundo está centrado na guerra na Ucrânia, mas o conflito no Iémen, a situação desesperada no Afeganistão são realidades que ainda vão perdurar», disse também o director do PNUD, citado pela PressTV.

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Aumentam os bombardeamentos sauditas contra civis no Iémen

Os ataques sauditas contra o Iémen intensificam-se e o registo de vítimas civis é o maior dos últimos anos, apesar de Joe Biden ter prometido que ia acabar com esta guerra.

Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas desta madrugada 
Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas em Saná Créditos / Al Jazeera

O presidente norte-americano afirmou repetidamente que iria pôr fim à guerra no Iémen, que está na origem da maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, segundo as Nações Unidas.

No entanto, lembra o jornalista Ben Norton no portal multipolarista.com, os bombardeamentos sauditas contra o mais pobre dos países árabes, apoiados pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, atingiram o nível mais alto em vários anos – e com «a supervisão da administração de Biden».

Quem está a pagar o preço são os civis iemenitas, com um morto ou ferido a cada hora, segundo referiu a organização Save the Children no passado dia 11.

Janeiro de 2022 foi o mês mais mortífero no Iémen desde 2018. Entre 6 de Janeiro de 2 de Fevereiro, foram mortos mais de 200 adultos e 15 crianças. Outros 354 adultos e 30 crianças ficaram feridas, referiu a organização humanitária, que teme que o número real de vítimas seja bastante maior.

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Com grande preocupação humanitária, EUA decretam novas sanções contra o Iémen

Os EUA, de longe o país que mais lucrou com a chacina no Iémen e que é acusado de fazer uma guerra por procuração no terreno, impuseram novas sanções contra o país árabe.

Créditos / MintPress News

Na rede social Twitter, Mohammed Ali al-Houthi, membro do Conselho Político Supremo do Iémen, reagiu às sanções decretadas quinta-feira passada pelo Departamento norte-americano do Tesouro afirmando que «a América dá prioridade à opção da guerra no Iémen e ao mesmo tempo finge que apoia a paz». «A imposição de sanções com o pretexto de assegurar a paz representa um obstáculo para a última», disse.

Al-Houthi destacou que as medidas punitivas contra o sector privado iemenita, as impostas ao banco central do país, os bombardeamentos a fábricas e outras infra-estruturas produtivas, o bloqueio que conduz o povo à fome e o fim do pagamento dos salários aos funcionários públicos são crimes, que se enquadram no esquema sistemático para sufocar a economia iemenita, refere a PressTV.

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Autocarro escolar no Iémen foi atacado com bombas norte-americanas

Fragmentos de bombas MK-82, de fabrico norte-americano, são visíveis nas imagens que um jornalista divulgou do local onde um autocarro cheio de crianças foi atacado pelos sauditas, no Iémen.

Destroços de um edifício bombardeado pelos sauditas na capital do Iémen, Saná, em Outubro de 2016. Estima-se que 140 pessoas tenham morrido e perto de 600 tenham ficado feridas
Destroços de um edifício bombardeado pelos sauditas na capital do Iémen, Saná, em Outubro de 2016. Também aqui foram encontrados fragmentos da bomba MK-82, de fabrico norte-americanoCréditos / The Independent

Caças da coligação liderada pelos sauditas atingiram, no passado dia 9, um autocarro escolar na zona de Dahyan, na província iemenita de Sa'ada, provocando mais de 50 vítimas mortais – 40 das quais terão sido crianças, de acordo com as autoridades Hutis – e cerca de 80 feridos.

Segundo a informação divulgada no sábado por Nasser Arrabyee, um jornalista local, a coligação comandada pelos sauditas terá usado munições de fabrico norte-americano.

«Restos das bombas dos EUA que mataram as crianças iemenitas no mais recente massacre e crime de guerra saudita-norte-americano, de 9 de Agosto de 2018, em Sa'ada, Norte do Iémen», escreveu Nasser Arrabyee no Twitter [pic.twitter.com/z8bvadwncG – @narrabyee] a acompanhar as fotos dos fragmentos das bombas MK-82 que alegadamente foram retirados do local do bombardeamento contra o autocarro escolar.

Na peça em que chama a atenção para o tweet e a informação nele contida, esta segunda-feira, a RT sublinha que as imagens ainda carecem de verificação independente, mas lembra que não é a primeira vez que fragmentos de bombas Raytheon Mark 82 são encontrados em locais onde a coligação liderada pelos sauditas levou a cabo massacres contra a população civil no Iémen desde o início da campanha militar, em Março 2015.

A MK-82, bomba de 227 quilos e fabricada pela empresa norte-americana General Dynamics, foi também usada quando os caças sauditas atacaram, em Outubro de 2016, um funeral na capital do país, Saná. Então, 140 pessoas foram mortas e mais de 500 ficaram feridas.

Pentágono diz que é impossível seguir o rasto da bomba

O fluxo armementístico de Washington para Riade é enorme, mas a Arábia Saudita não é destino único da MK-82, como deixou claro, na semana passada, um porta-voz do Pentágono. De acordo com o major Josh Jacques, poderá ser impossível saber de onde veio a bomba que foi usada no ataque contra o autocarro escolar no dia 9 de Agosto.

Isto porque, segundo refere a RT, em 2016 os EUA aprovaram a venda dessa bomba à Arábia Saudita, aos Emirados Árabes Unidos, à França e ao Iraque, e prolongaram os contratos de venda já existentes com a Austrália e o Bahrain. Portanto, na lógica do Pentágono, pode nunca vir a saber-se se a munição usada em Sa'ada «foi uma das que nós lhes vendemos a eles» (os sauditas, entenda-se).

Negócio de muitos milhões

Recorde-se que a Arábia Saudita é um dos principais destinos do armamento fabricado nos países ocidentais e, de modo sintomático, foi o primeiro país que Donald Trump visitou depois de tomar posse, em Janeiro do ano passado.

Nessa visita, foi anunciado que Washington poderia vender a Riade equipamento militar no valor de 110 mil milhões de dólares num período de dez anos. Então, o Departamento de Estado afirmou que o acordo poderia chegar aos 350 mil milhões de dólares.

De acordo com um estudo divulgado em Março último, os EUA venderam, no ano passado, armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos no valor de 650 mil milhões de dólares.

Em Abril, a administração norte-americana deu luz verde ao negócio, no valor de 1,3 mil milhões de dólares, de venda de artilharia aos sauditas, apesar dos relatórios que evidenciam que esse armamento contribui para o massacre de civis e das críticas crescentes de organismo internacionais.

Um estudo do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), de Março deste ano, revela que os EUA foram, no período compreendido entre 2013 de 2017, o principal exportador de armas a nível mundial: as suas exportações representaram 34% de todos os negócios registados pelo organismo referido.

O mesmo estudo revela que, nos últimos cinco anos, os EUA aumentaram a venda de armamento em 25%, sendo o Médio Oriente o destino de quase metade desse armamento.

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Na quinta-feira passada, dia 10, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs novas sanções ao país árabe, desta vez centradas numa rede que é acusada de financiar o movimento de resistência popular Huti Ansarullah – que está no cerne do governo que administra o país a partir da capital, Saná, e lidera a resistência à agressão externa que lhe é imposta desde Março de 2015.

«Esta rede gera dezenas de milhões de dólares em receitas da venda de commodities, como o petróleo iraniano, uma parte significativa da qual é depois direccionada através de uma complexa rede de intermediários e casas de câmbio em vários países para os Hutis», afirmou o Departamento do Tesouro em comunicado.

Entre os alvos directos destas novas sanções contam-se dois iemenitas, dois sírios, um emiradense, um somali e um indiano, além de entidades com sede no Dubai, Istambul e Saná, informa a PressTV.

A memória curta do Tesouro

«O apoio financeiro desta rede permite os ataques deploráveis dos Hutis, que ameaçam infra-estruturas civis e críticas no Iémen e na Arábia Saudita. Estes ataques minam os esforços para acabar o conflito e, o que é mais trágico, deixam dezenas de milhões de civis inocentes a morrer à fome», refere ainda o comunicado.

O texto do Tesouro – tão preocupado com a fome dos iemenitas e com os ataques que ameaçam infra-estruturas civis – não faz menção ao papel dos EUA na guerra de agressão ao Iémen, ao apoio que foi prestado pelos norte-americanos desde o início à coligação liderada pelos sauditas, aos milhares de milhões de dólares que os EUA lucraram com a venda de armamento aos sauditas – algum do qual, como se veio a provar, foi utilizado para massacrar a população civil do Iémen.

Os milhares de mortos, a fome, a cólera, a maior crise humanitária dos tempos modernos, como a classifica a ONU, não existiriam no Iémen sem Washington – agente primeiro na guerra, tal como o Reino Unido, e outras potências ocidentais (França e Alemanha) e regionais (Israel, Emirados Árabes Unidos, Egipto), em maior ou menor escala.

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No próximo mês, passam sete anos desde o início da guerra de agressão contra o Iémen. Em Março de 2015, a Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar o vizinho do sul, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

Ao longo da campanha eleitoral, em 2020, Joe Biden prometeu que poria fim a este conflito – uma intenção que reafirmou no ano seguinte, dizendo, já enquanto presidente, que estava a acabar com o apoio dos EUA às operações «ofensivas» sauditas no Iémen, lembra Norton.

A agressão militar saudita, que provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, e destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes não poderia ter sido levada a cabo sem o apoio político, militar e logístico norte-americano e britânico.

Além disso, os EUA destacaram-se como um dos grandes fornecedores de armamento à monarquia saudita, tendo lucrado milhares de milhões de dólares com esta guerra – ao lado do Reino Unido e de uma lista mais longa, que inclui a Alemanha, a França e outros.

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Venda de armas aos sauditas é sinal «preocupante» do arrastar da guerra no Iémen

O Departamento de Estado dos EUA aprovou o primeiro grande negócio de venda de armas aos sauditas na administração de Biden, algo que pode revelar a intenção de Riade de prolongar a agressão ao Iémen.

Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a agressão da coligação liderada pelos sauditas começou em Março de 2015 
Créditos / PressTV

Num comunicado emitido quinta-feira passada, o Pentágono deu conta da aprovação, pelo Departamento de Estado norte-americano, da venda de 280 mísseis ar-ar à Arábia Saudita, no valor de 650 milhões de dólares, para que Riade pudesse fazer frente a ameaças actuais e futuras.

Para o académico norte-americano Richard Falk, especialista em direito internacional e relações internacionais, o primeiro grande negócio de vendas de armas da era Biden aos sauditas, «os chamados mísseis defensivos ar-ar», constitui «um sinal preocupante das intenções sauditas de prosseguimento das suas políticas cruéis de devastação do Iémen».

Numa entrevista à PressTV, Falk, que foi professor na Universidade de Princeton durante mais de três décadas, afirmou que «a posse de uma defesa anti-mísseis mais segura permite aos sauditas continuarem a sua intervenção armada no Iémen, e possivelmente noutros locais, com menor temor de ataques de retaliação».

Richard Falk destacou as «relações especiais» entre Washington e Riade, afirmando que os EUA procuram defender os interesses sauditas e desviar as críticas que são dirigidas a Riade nas Nações Unidas.

EUA usam a sua influência para proteger a Arábia Saudita

«Os Estados Unidos estão a usar a sua influência geopolítica para proteger a Arábia Saudita da crítica na ONU e noutros lugares, gozando novamente com os compromissos colectivos de segurança e com a proibição incondicional da Carta das Nações Unidas do uso de força não defensiva. Estas relações especiais deixam claro que as relações internacionais continuam a ser moldadas pela primazia da geopolítica e não pelas normas internacionais», disse o académico.

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EUA são o maior exportador de armas e a Arábia Saudita o maior importador

Um relatório recente revelou que os EUA foram responsáveis por mais de um terço da venda de armamento a nível mundial nos últimos cinco anos, enquanto os sauditas foram os que mais importaram.

Donald Trump, president dos EUA, num encontro na Casa Branca com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, em Washington, Março de 2018
Créditos / CGTN

As exportações de armas que tiveram como origem os EUA, entre 2016 e 2020, representaram 37% de todos os negócios registados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Metade das exportações norte-americanas de armamento teve como destino o Médio Oriente, e a Arábia Saudita foi de longe o principal parceiro de negócio no período referido, representando quase um quarto de todas as vendas dos EUA (24%).

O instituto sediado em Estocolmo afirma que, entre 2016 e 2020, as exportações de armas dos EUA aumentaram 15% em comparação com o período 2011-2015.

A Rússia foi o segundo maior exportador de armas a nível global, representando um quinto do total de exportações registadas (com menos 22% de vendas que no período 2011-2015).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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A França, com 8% das vendas, é o terceiro maior exportador. Seguem-se a Alemanha (5,5%) e a China (5,2%), para fechar a lista dos cinco países que mais armas venderam entre 2016 e 2020. Na parte inferior do «top dez» situam-se Reino Unido, Espanha, Israel, Coreia do Sul e Itália.

O SIPRI nota que, por comparação com 2011-2015, os últimos cinco anos registaram um pequeno decréscimo no volume de vendas de armamento (menos 0,5%), pondo fim a mais de uma década de aumentos sucessivos.

Foi a primeira vez desde o período 2001-2005 que o volume de trocas de armas entre países – um indicador da procura – não registou um aumento por comparação com o período anterior de cinco anos.

Arábia Saudita, o maior importador

Os países do Médio Oriente registaram o maior aumento de importações de armas a nível mundial entre 2016 e 2020, importando mais 25% que nos cinco anos anteriores. Arábia Saudita (61%), Egipto (136%) e Catar (361%) registam os maiores aumentos.

Quatro dos dez maiores importadores de armas são desta região, que representa 33% das importações a nível global: aos três países referidos juntam-se os Emirados Árabes Unidos. Só a Arábia Saudita representa 11% de todo o volume de armas importadas mundialmente nestes cinco anos.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Os EUA foram responsáveis por mais de metade das armas exportadas para a região (52%), seguindo-se a Rússia (13%) e a França (12%).

A região do mundo que mais armas importou foi a Ásia e Oceânia (42%). Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Paquistão foram os países que mais armas importaram na região.

O SIPRI afirma que é cedo para dizer se uma recessão associada à pandemia de Covid-19 pode fazer abrandar os negócios de armas. «O impacto económico da Covid-19 podia levar alguns países a diminuir as importações de armas nos próximos anos. No entanto, ao mesmo tempo, mesmo no auge da pandemia, em 2020, vários países assinaram grandes contratos de armamento», releva o SIPRI.

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Questionado sobre se este negócio «é consistente com a promessa do governo dos EUA de liderar a diplomacia com vista a pôr fim ao conflito no Iémen», Falk respondeu que não, rejeitando a declaração como uma alegação «falsa».

«Esta é uma afirmação claramente falsa», acusou, acrescentando que os mísseis ar-ar protegem o espaço político nacional saudita, dando ao reino a liberdade de fazer a guerra fora de seu território com expectativas substancialmente reduzidas de ver o seu país atacado. «Por outras palavras, o objectivo do armamento defensivo é muitas vezes isolar a guerra ofensiva da retaliação e, dado o historial saudita, esse parece ser o caso», frisou Richard Falk.

Não há «incentivo para a via diplomática»

«Tal militarismo parece fazer aumentar a capacidade de combate da Arábia Saudita e não apresenta nenhum incentivo para acabar com o conflito no Iémen pela via diplomática. Se a intenção fosse uma mudança no sentido da diplomacia, poderia ter sido sinalizada oferecendo às forças opositoras iemenitas capacidades militares equivalentes ou condicionando a venda dos mísseis a um esforço de boa-fé para resolver o conflito através de negociações. Não houve nenhum esforço tangível ou credível nessa direcção», acrescentou.

O académico norte-americano criticou a incapacidade da ONU para pôr fim ao conflito no Iémen, afirmando que «estamos a assistir a mais um caso em que a ONU e a segurança internacional são incapazes face aos alinhamentos geopolíticos que se dedicam a encontrar soluções militares para conflitos políticos».

«Nesta perspectiva, não há um ponto final à vista para o conflito e o sofrimento humano no Iémen, e é provável que não surja nenhum, a não ser que a Arábia Saudita se sinta ameaçada por outras fontes ou enfrente pressões internas significativas. A morte dos iemenitas, infelizmente, não faz parte dos cálculos políticos realizados pelos cínicos criadores dos objectivos da política externa de Riade», sublinhou.

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Quebrando a promessa de pôr fim à guerra, a administração de Biden não só não está a pressionar a Arábia Saudita nesse sentido, como continuou a vender tecnologia militar à monarquia do Golfo e, segundo refere o portal multipolarista.com, pondera inclusive voltar a classificar a resistência Huti Ansarullah como «terrorista», tal como o fez o seu antecessor, Donald Trump.

Entretanto, o Conselho Norueguês de Refugiados alertou que o número de civis mortos ou feridos no Iémen quase duplicou desde que o Conselho de Direitos Humanos da ONU votou a favor de acabar com o mandato dos especialistas que analisavam crimes de guerra no Iémen, em Outubre último.

«Nos quatro meses anteriores ao fim da monitorização dos direitos humanos, 823 civis foram feridos ou mortos na guerra. Nos quatro meses que se seguiram, foram 1535 civis», informou o conselho.

Neste período, houve 39 vezes mais vítimas civis provocadas pelos ataques aéreos sauditas.

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Em Março de 2015, uma coligação liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, e suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah, que, em conjunto com o Exército iemenita, tem resistido aos invasores.

A agressão militar, que agora cumpriu sete anos, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes e provocou centenas de milhares de mortos, feridos e deslocados, tendo estado na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

«A perspectiva para o povo iemenita é, neste momento, extremamente preocupante», alertou Steiner, acrescentando: «A realidade é que o desespero, a pobreza e a destruição atingiram um nível no Iémen em que a maioria da população, de uma forma ou de outra, já não é capaz de se sustentar a si mesma.»

Cortes nos fundos e na ajuda humanitária

As afirmações do responsável das Nações Unidas tiveram lugar no mesmo dia em que a aviação saudita bombardeou zonas residenciais na capital iemenita, Saná, e outras regiões do país, depois de, no sábado, o movimento Huti Ansarullah ter declarado um cessar-fogo de três dias.

A trégua unilateral seguiu-se a uma vaga de ataques com mísseis e drones, na sexta-feira, que atingiram alvos em vários pontos da Arábia Saudita, incluindo instalações petrolíferas na cidade de Jeddah.

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ONG alerta para solidariedade selectiva com desvio de fundos para a Ucrânia

A Oxfam International alertou esta sexta-feira para o desvio de ajudas já destinadas a certos países como forma de fazer frente à crise migratória com origem na Ucrânia.

De acordo com as Nações Unidas, pelo menos 12 milhões de pessoas enfrentam uma seca devastadora e passam fome na Somália, no Quénia e na Etiópia 
Créditos / @UNOCHA

As repercussões mundiais da actual «crise ucraniana» – que já se sentem no aumento dos preços de bens, alimentação e energia – poderiam minar os fundos de ajuda dos países doadores, destinados a pessoas que estão noutros «pontos quentes» humanitários, refere a organização não governamental (ONG) numa nota de imprensa.

Neste sentido, o organismo indica que a União Europeia (UE) reduziu para mais de metade os fundos humanitários para Timor-Leste. Outros doadores adiantaram que vão cortar em 70% a ajuda oficial para o desenvolvimento do Burkina Faso, e outros países da África Ocidental estão a receber notícias semelhantes.

Evelien Van Roemburg, directora do gabinete da Oxfam na UE, sublinhou que a população do Iémen e da Síria, os milhões que passam fome na África Oriental e Ocidental ou as pessoas que estão em acampamentos no Bangladesh «não devem ser penalizados» por causa dos cuidados que o povo da Ucrânia deve ter.

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Migrantes e refugiados passam por «horrores inimagináveis» ao atravessar a Líbia

Um relatório da ONU divulgado esta quinta-feira denuncia as «violações massivas de direitos humanos» dos migrantes e refugiados quando atravessam a Líbia em busca de uma vida melhor.

Um migrante num centro de detenção na Líbia, quando da visita de uma equipa da Unicef, em Fevereiro de 2017
CréditosRomenzi / Unicef

O relatório, publicado conjuntamente pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL, na sigla em inglês), revela com detalhe uma série de «terríveis violações e abusos cometidos tanto por funcionários estatais como por grupos armados e traficantes de pessoas».

No resumo que antecede o documento propriamente dito – com 61 páginas e acessível apenas em inglês –, afirma-se que a investigação abarca um período de 20 meses até Agosto de 2018 e foi levada a cabo por funcionários das Nações Unidas especializados em direitos humanos, que entrevistaram mais de 1300 migrantes e refugiados na Líbia, na Nigéria e em Itália.

Com base nas entrevistas e também nas visitas efectuadas a centros de detenção na Líbia, os funcionários registaram os «horrores inimagináveis» por que passam os migrantes e refugiados «desde que entram em território líbio, durante o tempo que ali permanecem e – quando conseguem sobreviver – nas tentativas de atravessar o Mar Mediterrâneo».

Entre os «horrores referidos», contam-se casos de execução extrajudicial, torturas, detenções arbitrárias, violações em grupo, escravidão e trabalho forçado, denunciam ambos os organismos das Nações Unidas, sublinhando que «o clima de anarquia» que se vive actualmente no país africano é «terreno fértil para as actividades ilícitas, como o tráfico de pessoas e o contrabando».

«Aqueles que conseguem chegar à costa e, no final, tentam empreender a perigosa travessia do Mediterrâneo são interceptados de forma crescente pela Guarda Costeira da Líbia (GCL), que os leva de volta para a Líbia, onde muitos são novamente submetidos ao esquema de abusos de que acabaram de escapar», alerta o relatório.

Os cerca de 29 mil migrantes que a GCL obrigou a regressar ao país africano desde o início de 2017 foram transferidos para centros de detenção do Departamento de Combate à Migração Ilegal e, segundo refere o texto, milhares deles «continuam detidos indefinida e arbitrariamente, sem o devido processo, acesso a apoio legal ou a serviços consulares».

Neste sentido, as Nações Unidas lamentaram que a União Europeia e os seus estados-membros tenham mantido «uma política que visa reduzir a possibilidade de os migrantes e refugiados alcançarem as costas europeias», «contribuindo para que milhares de pessoas, desesperadas, fiquem presas na Líbia».


Ghassan Salamé, representante especial do secretário-geral da ONU e directora da UNSMIL, frisou que existe um «fracasso local e internacional na abordagem a esta calamidade humana escondida que continua a ter lugar na Líbia».

Por seu lado, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, destacou que «a situação é absolutamente horrorosa», e lembrou a necessidade de combater «a impunidade generalizada» para «acabar com o sofrimento de dezenas de milhares» de migrantes e refugiados, que «apenas procuram uma vida melhor».

Um país que «não é seguro», destruído pela NATO

As Nações Unidas consideram que a Líbia não é um «país seguro». Mais que isso, a Líbia é, desde a intervenção promovida em 2011 pelos EUA, a França, o Reino Unido e seus aliados contra o governo de Muammar Khadafi, um Estado falhado, destruído, onde diversos grupos armados passaram a lutar entre si pelo controlo de território e de recursos.

Em 2010, a Líbia era o país com maior Índice de Desenvolvimento Humano no continente africano, de acordo com dados das Nações Unidas. Com os seus imensos recursos aquíferos, petrolíferos e de gás a saque, a população das cidades líbias passou a sofrer de escassez de água, cortes de luz e falta de instalações médicas.

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Citada no portal da ONG, Van Roemburg denuncia que «todos os dias ouvimos falar de super-iates e mansões apreendidos», enquanto multimilionários de todas as nacionalidades crescem de forma «obscena» com a especulação, a evasão fiscal e o aumento vertiginoso dos lucros corporativos e dos preços das acções.

«Rejeitamos qualquer afirmação de acordo com a qual ajudar um refugiado da Ucrânia ou um agricultor faminto da Somália seja uma escolha», acrescentou.

Os países nórdicos prometeram 300 milhões de euros – quase por inteiro a Noruega – para ajudar a Ucrânia, mas isto equivale a 40% dos fundos de ajuda orçamentados pela Noruega e, se não houver um reforço, haverá grandes cortes noutros programas, indica a nota.

«Risco de catástrofe» no Iémen

Também esta semana, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, alertou para situação humanitária no Iémen, após sete anos de cerco e guerra de agressão liderada pelos sauditas – com apoio dos EUA –, e num contexto de falta de fundos para a ajuda humanitária.

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Iémen: má-nutrição infantil atinge nível mais elevado

«Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças», alertou a coordenadora humanitária da ONU para o Iémen, Lise Grande.

Pai com criança ao colo, apresentando sinais de má-nutrição aguda grave, numa província do Iémen, em Setembro de 2020
Créditos / PressTV

As Nações Unidas alertaram para «o nível mais elevado» de má-nutrição entre crianças pequenas em determinadas zonas do país árabe, que há cinco anos e meio é alvo de uma violenta campanha militar liderada pela Arábia Saudita.

A escalada da guerra, a crise económica, o grande impacto da pandemia de Covid-19 e a interrupção, por falta de fundos, em projectos de ajuda – ao nível do apoio alimentar e serviços de saneamento, água e higiene – «conduziram à beira do precipício uma população já exausta».

Num comunicado conjunto emitido esta semana, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Programa Alimentar Mundial e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirmaram que mais de meio milhão de crianças com menos de cinco anos no Sul do Iémen apresentam níveis de desnutrição aguda jamais registados no país, acrescentando que um estudo em curso no Norte deve apresentar resultados «igualmente preocupantes».

De acordo com o relatório das três agências das Nações Unidas, nas áreas estudadas (133 distritos no Sul do país árabe) registou-se um aumento de 15,5% de casos de má-nutrição aguda grave entre as crianças com menos de cinco anos, o que significa que pelo menos 98 mil menores nessa faixa etária correm um «risco elevado de morrer» se não receberem tratamento urgente.

«Os dados que estamos a divulgar confirmam que a má-mutrição aguda entre as crianças está a atingir os níveis mais altos que vimos desde que a guerra começou», disse Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU para o Iémen.

Acrescentou que, desde Julho, tem vindo a chamar a atenção para esta situação e que «o Iémen está à beira de uma crise de segurança alimentar catastrófica». «Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças pequenas», avisou a funcionária das Nações Unidas.

Guerra de agressão e pior crise humanitária do mundo

O Iémen enfrenta a pior crise humanitária do mundo. Particularmente afectada pela fome, a população iemenita tem sido também atingida por doenças como cólera, difteria, sarampo e dengue, na sequência da guerra de agressão lançada pela Arábia Saudita em Março de 2015, à frente de uma coligação de países aliados e que contou com forte apoio do Ocidente, nomeadamente dos EUA e do Reino Unido.


Apesar de não ter conseguido alcançar os objectivos declarados de suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, a coligação liderada pelos sauditas prossegue a guerra, continuando a fazer baixas entre a população civil, incluindo crianças.

Segundo as agências da ONU, quase 80% da população iemenita (24 milhões de pessoas) dependem de alguma forma de ajuda. Em meados de Outubro, as agências apenas tinham recebido 1,43 mil milhões de dólares dos 3,2 mil milhões que são necessários, em 2020, para financiar os projectos de ajuda humanitária no Iémen.

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Apesar de a ONU ter classificado a situação no Iémen como a maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, após quase sete anos seguidos de «morte, destruição, deslocações, fome… numa escala massiva», o secretário-geral revelou que o organismo e os seus parceiros foram obrigados a «redimensionar ou encerrar» dois terços dos programas vitais no país árabe devido a falta de fundos.

De acordo com o responsável pelos Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, são necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, este ano, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen.

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Achim Steiner mostrou-se preocupado com o facto de este conflito «receber menos atenção» e, acima de tudo, com a possibilidade de os doadores internacionais «irem cortar fundos». «Isto devia-nos preocupar a todos», frisou.

Aproximadamente 80% dos cerca de 30 milhões de iemenitas dependem de ajuda para sobreviver. Este mês, a ONU referiu que eram necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, em 2022, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen. No entanto, o organismo só conseguiu juntar 1,3 mil milhões.

Isto significa que «aquilo que vamos ver ao longo de 2022 é uma redução maior da ajuda humanitária […]. Tudo isto estará comprometido», disse Steiner.

«Esta guerra… não resolveu nada», sublinhou.

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O chefe da delegação negociadora iemenita, Mohammad Abdul Salam, congratulou-se com este anúncio, enquanto Mohammad Ali al-Houthi, membro do Conselho Político Supremo, disse que «o povo deve ter cuidado» e que a trégua só será «credível ao ser implementada».

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, país considerado um aliado do movimento de resistência Huti, também se congratulou com a trégua.

Saeed Khatibzadeh, porta-voz governamental, disse este sábado ter esperança de que o cessar-fogo alcançado seja o prelúdio do levantamento completo do bloqueio ao Iémen e do estabelecimento de uma trégua permanente.

Manifestou igualmente o apoio de Teerão a uma solução política e humanitária para o conflito no mais pobre dos países árabes.

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Fazendo uma avaliação positiva da implementação da trégua, Hans Grundberg reconheceu que os combates continuaram e provocaram baixas civis. «Continuamos a ver relatórios preocupantes de combates contínuos, implicando incidentes com baixas civis, apesar da redução global», disse.

O enviado da ONU sublinhou a necessidade de abrir estradas em Taiz e outras zonas do país, o que facilitaria enormemente as deslocações e melhoraria a vida diária das populações. «Tivemos respostas positivas de todas as partes para avançar com isso», frisou.

«A promessa da trégua aos civis era de mais segurança, melhor acesso a bens e serviços essenciais, e maior liberdade de movimento dentro, para e a partir do Iémen», destacou Grundberg, acrescentando que «os iemenitas não se podem dar ao luxo de voltar ao estado anterior ao cessar-fogo, de escalada militar perpétua e impasse político».

Primeiro voo comercial em quase seis anos

O enviado da ONU disse ainda que o primeiro voo comercial em quase seis anos partiu do Aeroporto Internacional de Saná, na segunda-feira, e que outro voo trouxe iemenitas de volta.

O avião da Yemenia, com 126 passageiros a bordo, incluindo alguns doentes que esperavam há anos por tratamentos no estrangeiro, levantou voo com destino a Amã, capital da Jordânia.

Hans Grundberg referiu-se a este passo como algo de «importante», que era «há muito esperado». «Isto trouxe alívio a tantos iemenitas que esperaram tanto tempo para viajar, muitos deles por razões médicas urgentes, ou em busca de oportunidades de negócio ou educativas, ou para se reunirem com os seus seres queridos após anos de separação», sublinhou Grundberg.

«Estamos a trabalhar com todos os envolvidos para garantir a regularização dos voos durante a trégua e para encontrar mecanismos duradouros que permitam mantê-lo aberto», disse.

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No entanto, o enviado da ONU destacou a necessidade de «abordar com urgência» o bloqueio terrestre, aéreo e naval imposto ao Iémen por Riade e seus aliados. «Para que a trégua atinja plenamente o seu potencial, será necessário tomar medidas adicionais, particularmente no que respeita à abertura de estradas e às operações de voos comerciais», disse, citado pela PressTV.

«Continuarei a dialogar com as partes para implementar e consolidar plenamente todos os elementos da trégua, e avançar para uma solução política sustentável para o conflito que satisfaça as legítimas aspirações das mulheres e dos homens iemenitas», afirmou Grundberg.

Nos últimos dois meses, ambas as partes se acusaram de violar repetidamente a trégua em curso, mas, tal como ressaltou o enviado da ONU em meados de Maio, «verificou-se uma redução drástica nos combates».

Mais de sete anos de guerra de agressão

Em Março último, cumpriram-se sete anos da guerra de agressão contra o Iémen. A Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar contra o vizinho do sul, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

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Protestos marcaram a grande feira do armamento em Londres

A Defence & Security Equipment International (DSEI) é uma feira onde os fabricantes de armas mostram os mais recentes produtos e tecnologias. Jovens comunistas e outras organizações realizaram protestos.

Protesto da Young Communist League em Londres 
Créditos / YCL-London

A feira bienal, que começou dia 14 e termina hoje, no Exhibition Centre London (ExCeL), em Londres, tem sido palco de protestos.

Para o dia de abertura, as organizações Campanha contra o Comércio de Armas (CAAT, na sigla em inglês) e Stop The Arms Fair convocaram uma mobilização contra aquilo que designaram como «conduta de uma das maiores feiras de armamento do mundo».

Para os organizadores do protesto, no ExCeL «fazem negócio aqueles que lucram com a guerra, a repressão e a injustiça». A Young Communist League (YCL-Britain) também organizou um protesto em Londres, refere o Peoples Dispatch.

A feira DSEI é um dos principais pontos de encontro e negócio dos fabricantes de armamento. Na edição de 2019, revelou a imprensa, participaram cerca de 1700 empresas.

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EUA são o maior exportador de armas e a Arábia Saudita o maior importador

Um relatório recente revelou que os EUA foram responsáveis por mais de um terço da venda de armamento a nível mundial nos últimos cinco anos, enquanto os sauditas foram os que mais importaram.

Donald Trump, president dos EUA, num encontro na Casa Branca com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, em Washington, Março de 2018
Créditos / CGTN

As exportações de armas que tiveram como origem os EUA, entre 2016 e 2020, representaram 37% de todos os negócios registados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Metade das exportações norte-americanas de armamento teve como destino o Médio Oriente, e a Arábia Saudita foi de longe o principal parceiro de negócio no período referido, representando quase um quarto de todas as vendas dos EUA (24%).

O instituto sediado em Estocolmo afirma que, entre 2016 e 2020, as exportações de armas dos EUA aumentaram 15% em comparação com o período 2011-2015.

A Rússia foi o segundo maior exportador de armas a nível global, representando um quinto do total de exportações registadas (com menos 22% de vendas que no período 2011-2015).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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A França, com 8% das vendas, é o terceiro maior exportador. Seguem-se a Alemanha (5,5%) e a China (5,2%), para fechar a lista dos cinco países que mais armas venderam entre 2016 e 2020. Na parte inferior do «top dez» situam-se Reino Unido, Espanha, Israel, Coreia do Sul e Itália.

O SIPRI nota que, por comparação com 2011-2015, os últimos cinco anos registaram um pequeno decréscimo no volume de vendas de armamento (menos 0,5%), pondo fim a mais de uma década de aumentos sucessivos.

Foi a primeira vez desde o período 2001-2005 que o volume de trocas de armas entre países – um indicador da procura – não registou um aumento por comparação com o período anterior de cinco anos.

Arábia Saudita, o maior importador

Os países do Médio Oriente registaram o maior aumento de importações de armas a nível mundial entre 2016 e 2020, importando mais 25% que nos cinco anos anteriores. Arábia Saudita (61%), Egipto (136%) e Catar (361%) registam os maiores aumentos.

Quatro dos dez maiores importadores de armas são desta região, que representa 33% das importações a nível global: aos três países referidos juntam-se os Emirados Árabes Unidos. Só a Arábia Saudita representa 11% de todo o volume de armas importadas mundialmente nestes cinco anos.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Os EUA foram responsáveis por mais de metade das armas exportadas para a região (52%), seguindo-se a Rússia (13%) e a França (12%).

A região do mundo que mais armas importou foi a Ásia e Oceânia (42%). Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Paquistão foram os países que mais armas importaram na região.

O SIPRI afirma que é cedo para dizer se uma recessão associada à pandemia de Covid-19 pode fazer abrandar os negócios de armas. «O impacto económico da Covid-19 podia levar alguns países a diminuir as importações de armas nos próximos anos. No entanto, ao mesmo tempo, mesmo no auge da pandemia, em 2020, vários países assinaram grandes contratos de armamento», releva o SIPRI.

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Este ano, há mais de 800 expositores, em que se incluem os dez maiores fabricantes de armamento do mundo, indica o Peoples Dispatch, acrescentando que delegados estatais e militares de mais de cem países foram oficialmente convidados pelo governo britânico.

A CAAT manifestou especial preocupação com a participação da Arábia Saudita, na medida em que é um dos maiores compradores de armamento.

Além disso, lidera uma coligação que há mais de seis anos leva a cabo uma guerra de agressão contra o Iémen, que provocou dezenas de milhares de mortos e uma das maiores crises humanitárias da história recente.

Samuel Perlo-Freeman, da CAAT, disse que a lista oficial de convidados pelo governo britânico para a DSEI «tem como objectivo expresso juntá-los com os maiores negociantes de armas na Grã-Bretanha e no mundo, mostrando que [o executivo] não é sério no que respeita ao controlo da exportação de armas, à paz mundial, aos direitos humanos ou ao bom governo».

«Os negócios de armas realizados na feira farão do mundo um sítio mais perigoso», frisou.

Por seu lado, o comité londrino da Young Communist League afirmou que «não ia tolerar imperialistas a vender armas a estados repressores debaixo do seu nariz».

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A agressão militar, que destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes e provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, esteve na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

Os EUA destacaram-se como um dos grandes fornecedores de armamento à monarquia saudita, tendo lucrado milhares de milhões de dólares com esta guerra – ao lado do Reino Unido e de uma lista mais longa, que inclui a Alemanha, a França, o Canadá e outros.

Em Novembro do ano passado, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento afirmou que, no final de 2021, o número de pessoas mortas na guerra, por motivos directos ou indirectos, devia atingir os 377 mil.

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«Se a coligação militar liderada pelos sauditas continuar a violar a trégua, o Iémen não aceitará um cessar-fogo falhado», alertou, citado pela PressTV.

Afirmou ainda que aquilo que foi alcançado como resultado da trégua não chega a 10% do que foi declarado no acordo.

As autoridades iemenitas em Saná têm-se queixado reiteradamente da violação do cessar-fogo por parte da coligação saudita, nomeadamente por via da apreensão de petroleiros com destino ao porto iemenita de Hudaydah.

ONU espera que a trégua possa conduzir a um acordo mais amplo

Na passada sexta-feira, o enviado especial das Nações Unidas para o Iémen, Hans Grundberg, afirmou que o actual cessar-fogo pode ser um precursor de um acordo de paz mais vasto.

No Fórum Internacional sobre o Iémen, que decorreu em Estocolmo (Suécia), Grundberg mostrou-se optimista, «apesar de todos os desafios». «Sabemos que é frágil, sim, que está longe de ser perfeito, mas está-se a aguentar», disse, referindo-se ao cessar-fogo em vigor.

Neste contexto, já foram retomados voos do Aeroporto Internacional de Saná com destino a Amã (Jordânia) e ao Cairo (Egipto), e alguns petroleiros puderam atracar em Hudaydah.

À margem do fórum, Grundberg disse à AFP que a trégua «trouxe um alívio humanitário à população sem precedentes na história do conflito», e, desse ponto de vista, também permite às Nações Unidas ter «espaço e margem de manobra para se empenhar num acordo político».

As partes têm mantido reuniões directas na capital da Jordânia, apoiadas pelas Nações Unidas, pela primeira vez num ano, o que permite pensar num acordo mais amplo, disse ainda Grundberg.

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Na nota ontem emitida, a UNOCHA informou ainda que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) poderá ter de suspender, em Julho, o apoio a 50 mil crianças com má-nutrição severa, bem como o apoio à saúde materno-infantil que, até Julho, deve abranger até 2,5 milhões de crianças e 100 mil mulheres.

No mesmo mês, a Unicef deverá igualmente suspender o trabalho que realiza ao nível da água potável e saneamento, e que abrange cerca de 3,6 milhões de iemenitas.

A guerra de agressão e o bloqueio impostos por Riade, aliados regionais e ocidentais ao mais pobre dos países árabes provocou aquilo que as Nações Unidas definiram como «a pior crise humanitária».

Apesar da trégua iniciada em Abril e prolongada em Junho, sob os auspícios da ONU, a coligação liderada pelos sauditas não pôs fim ao bloqueio nem ao confisco de petroleiros com destino ao porto de Hudaydah.

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Para Martin Schüepp, a única via para a recuperação do Iémen reside na solução política do conflito. «O CICV está a abordar necessidades urgentes e a procurar soluções que tragam alívio a longo prazo», disse.

Estas afirmações seguem-se aos anúncios de aumento de cortes nas rações alimentares, no Iémen, feitos em Junho pelo Programa Alimentar Mundial (PMA), por não receber fundos suficientes, devido às condições económicas a nível global e aos efeitos colaterais contínuos da guerra na Ucrânia.

O PMA afirmou, então, que foi obrigado a reduzir, no país árabe, as rações de alimentos para 25% das necessidades diárias para oito milhões de pessoas e a cortar para metade o apoio a cerca de cinco milhões de pessoas, devido a falta de financiamento.

No final de Março, Achim Steiner, director do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), já alertara que o país árabe, devastado pela guerra, enfrentava uma «perspectiva extremamente preocupante».

Citado pela PressTV, o responsável pelo PNUD lançou o alerta ao afirmar que, «tendo em conta a realidade geopolítica mais vasta, o risco é que o Iémen seja em parte esquecido, e isso será obviamente uma tragédia».

O conflito na Ucrânia está a ter «repercussões na economia global» e isso «irá reduzir o alcance da solidariedade internacional para a cooperação internacional», disse Steiner.

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De acordo com a Unicef, 2,2 milhões de crianças iemenitas sofrem de má-nutrição severa, um quarto das quais têm menos de cinco anos, e correm um risco extremo de contrair cólera, sarampo, difteria e outras doenças que a vacinação pode evitar.

Centenas de milhares de iemenitas perderam a vida desde o início da guerra, de forma directa ou indirecta, em bombardeamentos e explosões de minas terrestres, devido à falta de acesso a água potável, serviços de saneamento e infra-estruturas de saúde.

O bloqueio terrestre, marítimo e aéreo imposto pelos sauditas, que impediu a chegada de alimentos, medicamentos e combustível ao país, é fundamental para se entender a actual situação humanitária no Iémen, em que, revela a Unicef, «mais de 23,4 milhões de pessoas (três quartos da população) necessitam de ajuda e protecção».

Desses, mais de 11 milhões são crianças, sendo que, actualmente, dois milhões de rapazes e raparigas não vão à escola, acrescenta o organismo.

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Na capital, refere o portal The Cradle, Mohammed Ali al-Houthi, líder do Conselho Político Supremo do Iémen, discursou perante a multidão, enaltecendo a resistência do país contra aqueles «que pensavam que a sua batalha no Iémen ia ser um piquenique».

Al-Houthi denunciou os «massacres e crimes» cometidos no país árabe pela coligação agressora, que, acusou, «tem os Estados Unidos à cabeça».

O Iémen está empenhado numa «paz verdadeira, não numa paz mediática», disse o dirigente político em alusão às conversações em curso com vista a pôr fim à guerra, acrescentando que o governo em Saná «não estabeleceu condições impossíveis ou que contradizem o direito internacional».

«Vamos continuar a guiar-nos pela defesa dos legítimos direitos do nosso povo e da nossa pátria», sublinhou al-Houthi, destacando que o único caminho para a paz está no levantamento do cerco e da ocupação, e na expulsão dos agressores do país.

Oito anos de guerra, crise humanitária e necessidade de ajuda

Foi a 26 de Março de 2015 que a Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências europeias e regionais, lançou uma agressão militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade que tinha sido deposto em 2014.

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ONU consegue reunir para já um quarto da ajuda pedida para o Iémen

As Nações Unidas afirmam ter juntado cerca de 1,2 mil milhões de dólares dos 4,3 que procuravam na conferência de doadores, na segunda-feira, em Genebra, para ajudar milhões de pessoas no Iémen.

Grupo de pessoas recebe ajuda na província de Hudaydah 
Créditos / PressTV

O valor reunido fica muito aquém dos 4,3 mil milhões de dólares solicitados aos doadores e que a ONU disse serem necessários para ajudar as pessoas no país árabe devastado pela guerra.

No anúncio realizado esta segunda-feira, o organismo multilateral disse esperar que o valor possa chegar aos dois mil milhões até ao fim desta semana, refere a PressTV.

Esta foi a sétima conferência de doadores em sete anos, mas a ONU espera que a próxima se possa centrar na reconstrução do país arrasado, em vez de ter como objectivo evitar a fome.

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Iémen: 19 milhões sofrem de insegurança alimentar, alerta Cruz Vermelha

Dois terços dos iemenitas estão em situação de insegurança alimentar, alertou um representante da Cruz Vermelha. A guerra e o cerco continuam mas o Iémen afastou-se do foco mediático.

Karima, uma criança iemenita de sete anos, vê a sua mãe a fazer pão 
Créditos / Programa Alimentar Mundial

Na sequência de uma visita recente ao mais pobre dos países árabes, Martin Schüepp, director de operações do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), afirmou no Twitter que «cerca de dois em cada três iemenitas estão em situação de insegurança alimentar. Isso representa cerca de 19 milhões de pessoas».

«Mais não têm acesso a cuidados básicos de saúde. Apesar de tudo isto, o Iémen está muitas vezes fora do foco mediático», disse.

Durante a sua visita ao Iémen, Martin Schüepp pôde ver em primeira mão «como médicos locais, juntamente com pessoal do CICV, tratavam pessoas com ferimentos de bala numa unidade de emergência local» e teve a possibilidade de «falar com agricultores cujos rendimentos foram severamente afectados por anos de conflito».

A Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou, em Março de 2015, uma agressão militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

A campanha militar, acompanhada por um cerco que privou o país dos bens essenciais, provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes, espalhou a fome e disseminou doenças infecciosas, estando na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

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Mais de 19 milhões de iemenitas passam fome e as ajudas diminuem

Depois de o Programa Alimentar Mundial ter anunciado cortes drásticos na ajuda ao Iémen, a ONU revela que a fome atinge o patamar mais elevado no país árabe desde o início da guerra de agressão, em 2015.

Créditos / @UNOCHA

Numa nota emitida esta terça-feira, o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA, na sigla em inglês) afirma que os cortes nos fundos estão a limitar a sua capacidade de ajudar as pessoas que necessitam de assistência, incluindo os 160 mil iemenitas que se encontram à beira da fome.

«Cinco milhões de pessoas receberão menos de metade das suas necessidades diárias e oito milhões de pessoas receberão menos de um terço daquilo de que necessitam diariamente», revelou a UNOCHA.

Explicou que, em Dezembro último, o Programa Alimentar Mundial (PMA) foi obrigado a reduzir as rações alimentos para oito milhões de pessoas no país árabe devido a falta de financiamento e que teve de efectuar mais cortes no mês passado.

No domingo, o PMA anunciou na sua conta de Twitter que foi obrigado a «tomar decisões extremamente difíceis» no que respeita à ajuda alimentar que presta à população iemenita, por não receber fundos suficientes, devido às condições económicas a nível global e aos efeitos colaterais contínuos da guerra na Ucrânia.

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Iemenitas denunciam continuidade do bloqueio imposto pelos sauditas

Um membro do Conselho Político Supremo do Iémen afirmou que se mantém o bloqueio naval e aéreo liderado pelos sauditas, classificando-o como um «crime» contra a população civil.

Navio atracado no porto iemenita de Hudaydah (imagem de arquivo) 
Créditos / PressTV

Em declarações efectuadas este domingo numa rede social, o dirigente político denunciou que a coligação liderada por Riade está a usar a fome como arma de guerra contra o povo iemenita, refere a PressTV.

«O prosseguimento do cerco e a recusa da coligação liderada pela Arábia Saudita em implementar as disposições da trégua, que é um documento oficial sob os auspícios das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança, equivale a um crime intencional contra todo o povo iemenita», disse al-Houthi.

Por seu lado, o vice-primeiro-ministro para a Defesa, Jalal al-Ruwishan, disse numa entrevista à cadeia de TV em língua árabe al-Masirah que há «sinais claros» de que a coligação mantém a «agressão total» contra o Iémen, violando os termos do cessar-fogo alcançado pela ONU no início de Abril e prolongado por mais dois meses no início de Junho.

Ruwishan disse que a trégua «não faz sentido e é inútil» se não permite a abertura dos portos e aeroportos iemenitas, bem como o pagamento dos salários aos funcionários públicos.

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Trégua no Iémen prolongada por mais dois meses

As partes em conflito aceitaram renovar o cessar-fogo vigente no país árabe por um período de dois meses, anunciou um representante das Nações Unidas esta quinta-feira, horas antes de a trégua expirar.

Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas desta madrugada 
Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas Créditos / Al Jazeera

«Gostava de anunciar que as partes em conflito aceitaram a proposta das Nações Unidas de renovar a trégua vigente no Iémen por mais dois meses», disse o enviado especial da ONU para o Iémen, Hans Grundberg, num comunicado emitido esta quinta-feira.

«O prolongamento da trégua entra em vigor quando o actual período de cessar-fogo expirar, hoje, 2 de Junho, às 19h, hora do Iémen», afirma o texto.

O acordo inicial de cessar-fogo entrou em vigor a 2 de Abril deste ano, na sequência das negociações mediadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre a coligação liderada pelos sauditas e o movimento de resistência Huti Ansarullah.

Hans Grundberg referiu que a trégua se mantém nos mesmos termos do acordo original, sublinhando que, «nos últimos dois meses, a população experimentou benefícios tangíveis da trégua, as baixas civis diminuíram significativamente, a entrada de combustíveis no país aumentou de forma considerável e os voos comerciais foram retomados para e a partir de Saná».

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Combates no Iémen diminuíram de forma significativa com a trégua, diz enviado da ONU

Hans Grundberg disse esperar que o cessar-fogo proposto pela ONU no país árabe, em vigor há quase dois meses, se prolongue, tendo em conta a redução das hostilidades verificada.

Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a agressão da coligação liderada pelos sauditas começou em Março de 2015 
Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a trégua proposta pela ONU está em vigor desde 2 de Abril de 2022 Créditos / PressTV

Em declarações à imprensa, esta terça-feira, Grundberg destacou que, quando faltam duas semanas para o final da trégua, esta se tem mantido em termos militares, com um impacto positivo considerável na vida diária de muitos iemenitas.

«Houve uma redução drástica nos combates, sem ataques aéreos a partir do Iémen, através das suas fronteiras, e sem ataques aéreos confirmados no interior do Iémen», disse o enviado das Nações Unidas à imprensa, após uma sessão informativa à porta fechada no Conselho de Segurança.

«Por todo o Iémen, as linhas da frente acalmaram-se significativamente e há registos de um acesso humanitário crescente, incluindo nalguns locais da linha da frente a que tinha sido extremamente difícil chegar», disse, citado pela PressTV.

No passado dia 1 de Abril, Grundberg anunciou que «as partes do conflito responderam positivamente à proposta da ONU de uma trégua de dois meses», que entrou em vigor no dia seguinte.

O cessar-fogo foi implementado após sete anos de agressão contra o mais pobre dos países árabes por parte de uma coligação liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA e do Reino Unido, na sequência da queda do governo aliado de Riade.

A guerra provocou milhares de mortos e uma situação humanitária que a Organização das Nações Unidas classificou como a mais grave dos tempos modernos, sem que as potências agressoras tenham conseguido repor no poder Abd Rabbuh Mansur Hadi.

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Trégua proposta pela ONU no Iémen entrou em vigor, com registo de violações

A proposta de cessar-fogo anunciada pelo enviado especial da ONU para o Iémen foi aceite pelo movimento Huti e a coligação liderada pelos sauditas, mas estes, afirma a Al Masirah, violaram a trégua repetidamente.

Um homem e os seus filhos num zona bombardeada de Hudaydah
CréditosGiles Clarke / UNOCHA

O enviado especial das Nações Unidas, Hans Grundberg, anunciou na sexta-feira que «as partes do conflito responderam positivamente à proposta da ONU de uma trégua de dois meses», que entrou em vigor este sábado, às 19h locais.

No entanto, a cadeia de TV iemenita Al Masirah informa que, nas últimas horas, a trégua foi violada pelos sauditas tanto na província de Sa'ada, onde foram mortos três civis, como na de Hudaydah.

As Forças Armadas iemenitas afirmaram que estavam empenhadas no cessar-fogo desde que ambas as partes o respeitassem.

Nos termos da trégua, as partes comprometeram-se a cessar todas as operações militares ofensivas, dentro e fora do Iémen.

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Quem provoca as ondas de refugiados?

A manipulação de uma situação parcial num quadro muito mais amplo, pretende, entre outras coisas, minimizar ou mesmo silenciar os crimes contra os refugiados que fazem parte do quotidiano da União Europeia.

Migrantes e refugiados provenientes do Médio Oriente concentraram-se junto à passagem de Bruzgi-Kuznica, na fronteira polaca-bielorrussa, pedindo autorização para entrar na União Europeia, onde pretendem receber asilo. Grodno, Bielorrússia, 25 de Janeiro de 2021
CréditosLEONID SCHEGLOV / EPA/BELTA /HANDOUT

A atitude do governo bielorrusso de Aleksander Lukashenko para com os refugiados é condenável. Não menos condenável é o comportamento dos governos da Polónia, da Lituânia, da Estónia e da União Europeia em geral para com os refugiados. A diferença é que os órgãos de manipulação social apenas têm olhos para observar o que se passa na Bielorrússia desde o início da segunda metade deste ano, ignorando – com raras excepções – as consequências profundas da política de perseguição aos refugiados praticada há muitos anos pela União Europeia em todas as suas fronteiras. Uma política que milhares de seres humanos já pagaram com a vida.

«A União Europeia recusa-se a acolher as pessoas que tentam sobreviver fugindo dos conflitos que provocou; e entende que outras nações não podem assumir idênticos comportamentos, mesmo que nada tenham a ver com a origem dos fluxos de refugiados»

Há ainda uma outra diferença. Os refugiados que procuram entrar na União Europeia a partir da Bielorrússia, tal como os que tentam o mesmo através de outras regiões terrestres e marítimas dos 27, têm origem nas guerras provocadas pelos Estados Unidos, a NATO e potências da União Europeia; e também na política colonial, sobretudo em África, entranhada nas políticas europeia e norte-americana. As guerras sangrentas e destruidoras e o colonialismo têm efeitos bem mais graves do que qualquer «guerra híbrida» de que acusam a Rússia e a Bielorrússia, países que não podem ser responsabilizados pelas agressões militares ao Iraque, ao Afeganistão, à Síria, à Líbia, ao Iémen. A União Europeia recusa-se a acolher as pessoas que tentam sobreviver fugindo dos conflitos que provocou; e entende que outras nações não podem assumir idênticos comportamentos, mesmo que nada tenham a ver com a origem dos fluxos de refugiados. Bruxelas procura sempre encontrar bodes expiatórios para não assumir os seus desmandos em matérias como a democracia e os direitos humanos.

Os refugiados que chegam à Bielorrússia são oriundos sobretudo do Iraque e, em menor volume, do Afeganistão e da Síria. Trata-se efectivamente de refugiados e não de «imigrantes» e «imigrantes ilegais», termos que os governantes europeus e os correspondentes meios de comunicação usam preferencialmente, sempre com o objectivo de não associar esses movimentos desesperados de pessoas às guerras e outras façanhas provocadas por potências ocidentais. Sem os dramáticos conflitos impostos, que as fazem deixar tudo para trás apenas pela simples e humana necessidade de sobreviver, a esmagadora maioria dessas pessoas não pensariam sequer em emigrar dos seus países, sobretudo em casos como os da Síria e do Iraque, mesmo do próprio Afeganistão. Isto é, a grande massa dos refugiados actuais que batem às portas da União Europeia jamais seriam os «imigrantes» que agora se diz serem para iludir as opiniões públicas, a realidade e a própria História.

«Os métodos violentos de Lukachenko para lidar com o problema são inaceitáveis, tal como os adoptados pelos governos da Polónia, da Estónia e da Lituânia, que aliás têm da democracia uma ideia que se assemelha à do presidente bielorrusso»

A Bielorrússia foi apresentada aos candidatos a refugiados como um país de acesso à União Europeia, em tese mais favorável que os tradicionais pontos de passagem, por exemplo a Líbia, a Grécia e a Turquia, onde sofrem situações humilhantes com os objectivos primários de os fazer regressar ao seu país e nem sequer podem apresentar pedidos de asilo. Sabe-se que agências de viagens iraquianas têm incitado os candidatos a fugir da situação de guerra a procurar a cidade Minsk como porta de entrada na União Europeia – e não para ficarem a residir na Bielorrússia, uma solução que não estaria nos planos da maioria deles. Os métodos violentos de Lukachenko para lidar com o problema são inaceitáveis, tal como os adoptados pelos governos da Polónia, da Estónia e da Lituânia, que aliás têm da democracia uma ideia que se assemelha à do presidente bielorrusso. O executivo de extrema-direita da Polónia, xenófobo por definição e avesso ao Estado de direito, como até Bruxelas muito bem sabe, já é um velho conhecido pela rejeição de refugiados, mesmo das ínfimas quotas arduamente discutidas na União Europeia em vergonhoso jogo de empurra. A Estónia, por seu lado, tem a xenofobia inscrita nas próprias leis porque os cidadãos com nacionalidade estoniana mas de outros origens, designadamente a russa, são considerados oficialmente de segunda categoria, não lhes sendo permitido sequer votar.

Nada disto impede, contudo, que a União Europeia esteja incondicionalmente solidária com esses países no contencioso com Minsk, ávida de seguir os Estados Unidos na declaração de mais sanções e reforçadas ameaças da NATO. Penalizações essas apresentadas como respostas à dita «guerra híbrida» de Moscovo, não sendo de excluir que os inusitados incitamentos a refugiados para procurarem Minsk sejam uma nova provocação na panóplia com que Washington e Bruxelas mantêm o perigoso clima de alta tensão militar no Leste da Europa.

Os mortos e o desprezo pelas leis

Durante este ano morrem em média quatro pessoas por dia na sequência de tentativas para chegarem à Europa atravessando o Mediterrâneo Central a partir do Norte de África; e mais de 90 são interceptadas no mar por um aparelho de vigilância dirigido pela União Europeia e devolvidas aos campos de concentração na Líbia, mantidos pelas milícias terroristas islâmicas e financiados por Bruxelas. Nesses campos de terror são submetidas, como rotina, à tortura, extorsão e abusos sexuais – sabendo também que o reenvio para os seus países significará uma morte provável.

«a União Europeia patrulha o Mediterrâneo e financia as guardas costeiras líbias, associadas às milícias terroristas, para impedir que os pobres refugiados se façam ao mar correndo risco de morte; ao invés, devem permanecer em campos de concentração até serem devolvidos aos seus países, correndo risco de morte. Basta-lhes, portanto, escolher a maneira como querem morrer»

Nada disto desencoraja a União Europeia de proclamar o seu apego aos direitos humanos. Segundo Peter Stano, porta-voz para os assuntos externos da Comissão Europeia, convidado a comentar estas situações pela publicação New Humanitarian, «a nossa maior prioridade é salvar vidas no mar e continuar o nosso trabalho para impedir que se realizem viagens arriscadas». Sem dúvida uma declaração singular, de forte conteúdo humanitário: a União Europeia patrulha o Mediterrâneo e financia as guardas costeiras líbias, associadas às milícias terroristas, para impedir que os pobres refugiados se façam ao mar correndo risco de morte; ao invés, devem permanecer em campos de concentração até serem devolvidos aos seus países, correndo risco de morte. Basta-lhes, portanto, escolher a maneira como querem morrer. Mas ingressar no espaço da União, que arrasou os seus países, é que nem pensar.

Dunja Mijatovic, comissária de direitos humanos do Conselho da Europa, escreveu num relatório de Março deste ano que os países europeus «envolveram-se numa guerra para ver qual é mais eficaz a conter pessoas fora das fronteiras europeias». Citando as coordenações entre as marinhas de Estados da União e as guardas costeiras líbias, a «obstrução» de operações de salvamento desenvolvidas por organizações não-governamentais e o financiamento e implementação por Bruxelas «da gestão de fronteiras pela Tunísia e a Líbia», a comissária Mijatovic considera que estas práticas são exemplos «de uma política de imigração europeia que corta direitos humanos, viola a lei e custa a vida a milhares de seres humanos».

Um dos exemplos de violação da lei é a devolução dos refugiados aos seus países de origem, o chamado push back, cuja proibição está inscrita no direito internacional e no da própria União Europeia.

Na Grécia, a lei não é um estorvo pois o governo e o Frontex – polícia de fronteiras cujos comportamentos arbitrários e de marginalidade traduzem a existência de um «Estado» à parte no universo de instituições da UE – recorrem a um sem número de malfeitorias para expulsar os refugiados ou impedi-los de chegar a terra, deixando-os à sua sorte no mar alto, um comportamento relatado mesmo por alguns órgãos fundamentalistas do federalismo.

Já a Polónia procura restringir-se ao primado da lei, aliás de uma maneira criativa. Como o direito geral não permite a devolução de refugiados aos seus países, o governo de Varsóvia aprovou uma lei à medida da actual crise e que permite a expulsão para as suas terras das pessoas que procuram asilo na União Europeia.

Em matéria de criatividade, a Lituânia não fica atrás e, por isso, até 1 de Novembro tinha deferido apenas 6 dos 2600 pedidos de asilo. Segundo testemunhas entrevistadas pelo New Humanitarian, funcionários dos serviços de asilo revelaram que estão sob pressão dos superiores para conduzir interrogatórios agressivos de modo a que os candidatos sejam convencidos a regressar «voluntariamente» aos seus países. Nicolas, um refugiado camaronês, citou um funcionário polaco dizendo que «podemos oferecer-vos 300 euros se aceitarem regressar a casa». E rematou o refugiado: «de que me servem 300 euros se posso ser morto quando voltar a casa?»

O governo lituano procedeu também a adaptações legislativas correspondentes à actual crise. Alterou os procedimentos legais de modo a tornar mais fácil que os candidatos à concessão de asilo possam ser colocados sob detenção.

Se olharmos, porém, o histórico e os antecedentes em matéria de refugiados conclui-se que a União Europeia tem ainda uma forma de tentar aliviar as dores da Polónia e dos Estados xenófobos bálticos. Basta oferecer ao governo de Lukachenko os mesmos três mil milhões de euros anuais que paga dos nossos bolsos ao ditador turco Erdogan para manter os refugiados dentro das suas fronteiras. É duvidoso que o presidente bielorrusso aceite, mas sem tentar nunca fica a saber-se.

Os muros

Entretanto, 32 anos depois da queda do muro de Berlim, que continua a ser periodicamente celebrada no espaço da União com muitas pompas e falsificações da História, doze Estados membros pediram à Comissão Europeia – a tal instituição que nos governa em nome da democracia mas que ninguém elegeu – a concessão de fundos destinados à construção de muros para impedir a entrada e circulação de refugiados.

Tais muros devem fazer parte, muito provavelmente, das medidas previstas no âmbito do Fundo de Confiança para África, aprovado numa cimeira entre países africanos e da União realizada em Malta. Uma das prioridades desse fundo, segundo a UE, é aplicar um plano capaz de desenvolver capacidades «para controlar as fronteiras de terra, mar e ar e também as capacidades de vigilância marítima com o objectivo de prevenir a imigração irregular». Parece que ainda não morreu gente suficiente.

«a situação no Mediterrâneo Central “não é uma trágica anormalidade” mas antes uma catástrofe rotineira como “consequência concreta das decisões políticas e das práticas das autoridades líbias, dos Estados membros e instituições da União Europeia e outros actores”»

O Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos considera que a situação no Mediterrâneo Central «não é uma trágica anormalidade» mas antes uma catástrofe rotineira como «consequência concreta das decisões políticas e das práticas das autoridades líbias, dos Estados membros e instituições da União Europeia e outros actores».

Os procedimentos inconcebíveis de Lukachenko integram-se assim num cenário mais amplo e abrangente que vem muito de trás, com epicentro em Bruxelas. Não há bons nem inocentes nesta situação vergonhosa que mancha a Europa de Leste a Oeste. Um comentador e ex-ministro português, Severiano Teixeira, proclama, como um dogma, que «a culpa é de Lukachenko». A figura é irrelevante, um simples peão da NATO, mas cumpre a missão de papaguear os soundbites concebidos para uma operação de propaganda que, tirando proveito da manipulação de uma situação parcial num quadro muito mais amplo, pretende, entre outras coisas, minimizar ou mesmo silenciar os crimes contra os refugiados que fazem parte do quotidiano da União Europeia.

Por José Goulão, exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril

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Também aceitaram que 18 navios carregados com derivados de petróleo entrem no Porto de Hudaydah e que voos comerciais possam operar a partir de Saná com destino à Jordânia e ao Egipto.

As partes aceitaram ainda encontrar-se sob os auspícios do enviado especial das Nações Unidas para o Iémen com vista à abertura de estradas em Taizz e noutras províncias iemenitas, de modo a facilitar a circulação de civis.

Ao anunciar a trégua, na sexta-feira, Hans Grundberg explicou que o cessar-fogo podia ser prolongado para além dos dois meses previstos, com o consentimento das partes em conflito, indica a PressTV.

«O objectivo da trégua é proporcionar aos iemenitas uma pausa necessária na violência, um alívio do sofrimento humanitário e, o que é mais importante, a esperança de que é possível pôr fim a este conflito», disse Grundberg.

O responsável da ONU disse ainda que esperava intensificar o seu trabalho com as partes neste período de dois meses, com o propósito de alcançar um cessar-fogo permanente, de abordar medidas económicas e humanitárias urgentes, bem como de retomar o processo político.

Por seu lado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que esta trégua «deve ser o primeiro passo para acabar com a guerra devastadora no Iémen» e apelou às partes para que aproveitem esta oportunidade para «retomar um processo político abrangente e inclusivo».

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Iémen em risco de ser «esquecido», com o foco mediático na Ucrânia

Achim Steiner, director do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), alertou que o país árabe, devastado pela guerra, enfrenta uma «perspectiva extremamente preocupante».

Iemenitas inspeccionam destroços de uma casa bombardeada pela coligação liderada pelos sauditas, em Janeiro de 2022 
Créditos / PressTV

O responsável pelo PNUD lançou o alerta ao afirmar, este domingo, que, «tendo em conta a realidade geopolítica mais vasta, o risco é que o Iémen seja em parte esquecido, e isso será obviamente uma tragédia».

O conflito na Ucrânia está a ter «repercussões na economia global» e isso «irá reduzirá o alcance da solidariedade internacional para a cooperação internacional», disse Steiner no Fórum de Doha, no Catar.

«Neste momento, o mundo está centrado na guerra na Ucrânia, mas o conflito no Iémen, a situação desesperada no Afeganistão são realidades que ainda vão perdurar», disse também o director do PNUD, citado pela PressTV.

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Aumentam os bombardeamentos sauditas contra civis no Iémen

Os ataques sauditas contra o Iémen intensificam-se e o registo de vítimas civis é o maior dos últimos anos, apesar de Joe Biden ter prometido que ia acabar com esta guerra.

Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas desta madrugada 
Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas em Saná Créditos / Al Jazeera

O presidente norte-americano afirmou repetidamente que iria pôr fim à guerra no Iémen, que está na origem da maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, segundo as Nações Unidas.

No entanto, lembra o jornalista Ben Norton no portal multipolarista.com, os bombardeamentos sauditas contra o mais pobre dos países árabes, apoiados pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, atingiram o nível mais alto em vários anos – e com «a supervisão da administração de Biden».

Quem está a pagar o preço são os civis iemenitas, com um morto ou ferido a cada hora, segundo referiu a organização Save the Children no passado dia 11.

Janeiro de 2022 foi o mês mais mortífero no Iémen desde 2018. Entre 6 de Janeiro de 2 de Fevereiro, foram mortos mais de 200 adultos e 15 crianças. Outros 354 adultos e 30 crianças ficaram feridas, referiu a organização humanitária, que teme que o número real de vítimas seja bastante maior.

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Com grande preocupação humanitária, EUA decretam novas sanções contra o Iémen

Os EUA, de longe o país que mais lucrou com a chacina no Iémen e que é acusado de fazer uma guerra por procuração no terreno, impuseram novas sanções contra o país árabe.

Créditos / MintPress News

Na rede social Twitter, Mohammed Ali al-Houthi, membro do Conselho Político Supremo do Iémen, reagiu às sanções decretadas quinta-feira passada pelo Departamento norte-americano do Tesouro afirmando que «a América dá prioridade à opção da guerra no Iémen e ao mesmo tempo finge que apoia a paz». «A imposição de sanções com o pretexto de assegurar a paz representa um obstáculo para a última», disse.

Al-Houthi destacou que as medidas punitivas contra o sector privado iemenita, as impostas ao banco central do país, os bombardeamentos a fábricas e outras infra-estruturas produtivas, o bloqueio que conduz o povo à fome e o fim do pagamento dos salários aos funcionários públicos são crimes, que se enquadram no esquema sistemático para sufocar a economia iemenita, refere a PressTV.

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Autocarro escolar no Iémen foi atacado com bombas norte-americanas

Fragmentos de bombas MK-82, de fabrico norte-americano, são visíveis nas imagens que um jornalista divulgou do local onde um autocarro cheio de crianças foi atacado pelos sauditas, no Iémen.

Destroços de um edifício bombardeado pelos sauditas na capital do Iémen, Saná, em Outubro de 2016. Estima-se que 140 pessoas tenham morrido e perto de 600 tenham ficado feridas
Destroços de um edifício bombardeado pelos sauditas na capital do Iémen, Saná, em Outubro de 2016. Também aqui foram encontrados fragmentos da bomba MK-82, de fabrico norte-americanoCréditos / The Independent

Caças da coligação liderada pelos sauditas atingiram, no passado dia 9, um autocarro escolar na zona de Dahyan, na província iemenita de Sa'ada, provocando mais de 50 vítimas mortais – 40 das quais terão sido crianças, de acordo com as autoridades Hutis – e cerca de 80 feridos.

Segundo a informação divulgada no sábado por Nasser Arrabyee, um jornalista local, a coligação comandada pelos sauditas terá usado munições de fabrico norte-americano.

«Restos das bombas dos EUA que mataram as crianças iemenitas no mais recente massacre e crime de guerra saudita-norte-americano, de 9 de Agosto de 2018, em Sa'ada, Norte do Iémen», escreveu Nasser Arrabyee no Twitter [pic.twitter.com/z8bvadwncG – @narrabyee] a acompanhar as fotos dos fragmentos das bombas MK-82 que alegadamente foram retirados do local do bombardeamento contra o autocarro escolar.

Na peça em que chama a atenção para o tweet e a informação nele contida, esta segunda-feira, a RT sublinha que as imagens ainda carecem de verificação independente, mas lembra que não é a primeira vez que fragmentos de bombas Raytheon Mark 82 são encontrados em locais onde a coligação liderada pelos sauditas levou a cabo massacres contra a população civil no Iémen desde o início da campanha militar, em Março 2015.

A MK-82, bomba de 227 quilos e fabricada pela empresa norte-americana General Dynamics, foi também usada quando os caças sauditas atacaram, em Outubro de 2016, um funeral na capital do país, Saná. Então, 140 pessoas foram mortas e mais de 500 ficaram feridas.

Pentágono diz que é impossível seguir o rasto da bomba

O fluxo armementístico de Washington para Riade é enorme, mas a Arábia Saudita não é destino único da MK-82, como deixou claro, na semana passada, um porta-voz do Pentágono. De acordo com o major Josh Jacques, poderá ser impossível saber de onde veio a bomba que foi usada no ataque contra o autocarro escolar no dia 9 de Agosto.

Isto porque, segundo refere a RT, em 2016 os EUA aprovaram a venda dessa bomba à Arábia Saudita, aos Emirados Árabes Unidos, à França e ao Iraque, e prolongaram os contratos de venda já existentes com a Austrália e o Bahrain. Portanto, na lógica do Pentágono, pode nunca vir a saber-se se a munição usada em Sa'ada «foi uma das que nós lhes vendemos a eles» (os sauditas, entenda-se).

Negócio de muitos milhões

Recorde-se que a Arábia Saudita é um dos principais destinos do armamento fabricado nos países ocidentais e, de modo sintomático, foi o primeiro país que Donald Trump visitou depois de tomar posse, em Janeiro do ano passado.

Nessa visita, foi anunciado que Washington poderia vender a Riade equipamento militar no valor de 110 mil milhões de dólares num período de dez anos. Então, o Departamento de Estado afirmou que o acordo poderia chegar aos 350 mil milhões de dólares.

De acordo com um estudo divulgado em Março último, os EUA venderam, no ano passado, armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos no valor de 650 mil milhões de dólares.

Em Abril, a administração norte-americana deu luz verde ao negócio, no valor de 1,3 mil milhões de dólares, de venda de artilharia aos sauditas, apesar dos relatórios que evidenciam que esse armamento contribui para o massacre de civis e das críticas crescentes de organismo internacionais.

Um estudo do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), de Março deste ano, revela que os EUA foram, no período compreendido entre 2013 de 2017, o principal exportador de armas a nível mundial: as suas exportações representaram 34% de todos os negócios registados pelo organismo referido.

O mesmo estudo revela que, nos últimos cinco anos, os EUA aumentaram a venda de armamento em 25%, sendo o Médio Oriente o destino de quase metade desse armamento.

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Na quinta-feira passada, dia 10, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs novas sanções ao país árabe, desta vez centradas numa rede que é acusada de financiar o movimento de resistência popular Huti Ansarullah – que está no cerne do governo que administra o país a partir da capital, Saná, e lidera a resistência à agressão externa que lhe é imposta desde Março de 2015.

«Esta rede gera dezenas de milhões de dólares em receitas da venda de commodities, como o petróleo iraniano, uma parte significativa da qual é depois direccionada através de uma complexa rede de intermediários e casas de câmbio em vários países para os Hutis», afirmou o Departamento do Tesouro em comunicado.

Entre os alvos directos destas novas sanções contam-se dois iemenitas, dois sírios, um emiradense, um somali e um indiano, além de entidades com sede no Dubai, Istambul e Saná, informa a PressTV.

A memória curta do Tesouro

«O apoio financeiro desta rede permite os ataques deploráveis dos Hutis, que ameaçam infra-estruturas civis e críticas no Iémen e na Arábia Saudita. Estes ataques minam os esforços para acabar o conflito e, o que é mais trágico, deixam dezenas de milhões de civis inocentes a morrer à fome», refere ainda o comunicado.

O texto do Tesouro – tão preocupado com a fome dos iemenitas e com os ataques que ameaçam infra-estruturas civis – não faz menção ao papel dos EUA na guerra de agressão ao Iémen, ao apoio que foi prestado pelos norte-americanos desde o início à coligação liderada pelos sauditas, aos milhares de milhões de dólares que os EUA lucraram com a venda de armamento aos sauditas – algum do qual, como se veio a provar, foi utilizado para massacrar a população civil do Iémen.

Os milhares de mortos, a fome, a cólera, a maior crise humanitária dos tempos modernos, como a classifica a ONU, não existiriam no Iémen sem Washington – agente primeiro na guerra, tal como o Reino Unido, e outras potências ocidentais (França e Alemanha) e regionais (Israel, Emirados Árabes Unidos, Egipto), em maior ou menor escala.

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No próximo mês, passam sete anos desde o início da guerra de agressão contra o Iémen. Em Março de 2015, a Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar o vizinho do sul, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

Ao longo da campanha eleitoral, em 2020, Joe Biden prometeu que poria fim a este conflito – uma intenção que reafirmou no ano seguinte, dizendo, já enquanto presidente, que estava a acabar com o apoio dos EUA às operações «ofensivas» sauditas no Iémen, lembra Norton.

A agressão militar saudita, que provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, e destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes não poderia ter sido levada a cabo sem o apoio político, militar e logístico norte-americano e britânico.

Além disso, os EUA destacaram-se como um dos grandes fornecedores de armamento à monarquia saudita, tendo lucrado milhares de milhões de dólares com esta guerra – ao lado do Reino Unido e de uma lista mais longa, que inclui a Alemanha, a França e outros.

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Venda de armas aos sauditas é sinal «preocupante» do arrastar da guerra no Iémen

O Departamento de Estado dos EUA aprovou o primeiro grande negócio de venda de armas aos sauditas na administração de Biden, algo que pode revelar a intenção de Riade de prolongar a agressão ao Iémen.

Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a agressão da coligação liderada pelos sauditas começou em Março de 2015 
Créditos / PressTV

Num comunicado emitido quinta-feira passada, o Pentágono deu conta da aprovação, pelo Departamento de Estado norte-americano, da venda de 280 mísseis ar-ar à Arábia Saudita, no valor de 650 milhões de dólares, para que Riade pudesse fazer frente a ameaças actuais e futuras.

Para o académico norte-americano Richard Falk, especialista em direito internacional e relações internacionais, o primeiro grande negócio de vendas de armas da era Biden aos sauditas, «os chamados mísseis defensivos ar-ar», constitui «um sinal preocupante das intenções sauditas de prosseguimento das suas políticas cruéis de devastação do Iémen».

Numa entrevista à PressTV, Falk, que foi professor na Universidade de Princeton durante mais de três décadas, afirmou que «a posse de uma defesa anti-mísseis mais segura permite aos sauditas continuarem a sua intervenção armada no Iémen, e possivelmente noutros locais, com menor temor de ataques de retaliação».

Richard Falk destacou as «relações especiais» entre Washington e Riade, afirmando que os EUA procuram defender os interesses sauditas e desviar as críticas que são dirigidas a Riade nas Nações Unidas.

EUA usam a sua influência para proteger a Arábia Saudita

«Os Estados Unidos estão a usar a sua influência geopolítica para proteger a Arábia Saudita da crítica na ONU e noutros lugares, gozando novamente com os compromissos colectivos de segurança e com a proibição incondicional da Carta das Nações Unidas do uso de força não defensiva. Estas relações especiais deixam claro que as relações internacionais continuam a ser moldadas pela primazia da geopolítica e não pelas normas internacionais», disse o académico.

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EUA são o maior exportador de armas e a Arábia Saudita o maior importador

Um relatório recente revelou que os EUA foram responsáveis por mais de um terço da venda de armamento a nível mundial nos últimos cinco anos, enquanto os sauditas foram os que mais importaram.

Donald Trump, president dos EUA, num encontro na Casa Branca com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, em Washington, Março de 2018
Créditos / CGTN

As exportações de armas que tiveram como origem os EUA, entre 2016 e 2020, representaram 37% de todos os negócios registados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Metade das exportações norte-americanas de armamento teve como destino o Médio Oriente, e a Arábia Saudita foi de longe o principal parceiro de negócio no período referido, representando quase um quarto de todas as vendas dos EUA (24%).

O instituto sediado em Estocolmo afirma que, entre 2016 e 2020, as exportações de armas dos EUA aumentaram 15% em comparação com o período 2011-2015.

A Rússia foi o segundo maior exportador de armas a nível global, representando um quinto do total de exportações registadas (com menos 22% de vendas que no período 2011-2015).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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A França, com 8% das vendas, é o terceiro maior exportador. Seguem-se a Alemanha (5,5%) e a China (5,2%), para fechar a lista dos cinco países que mais armas venderam entre 2016 e 2020. Na parte inferior do «top dez» situam-se Reino Unido, Espanha, Israel, Coreia do Sul e Itália.

O SIPRI nota que, por comparação com 2011-2015, os últimos cinco anos registaram um pequeno decréscimo no volume de vendas de armamento (menos 0,5%), pondo fim a mais de uma década de aumentos sucessivos.

Foi a primeira vez desde o período 2001-2005 que o volume de trocas de armas entre países – um indicador da procura – não registou um aumento por comparação com o período anterior de cinco anos.

Arábia Saudita, o maior importador

Os países do Médio Oriente registaram o maior aumento de importações de armas a nível mundial entre 2016 e 2020, importando mais 25% que nos cinco anos anteriores. Arábia Saudita (61%), Egipto (136%) e Catar (361%) registam os maiores aumentos.

Quatro dos dez maiores importadores de armas são desta região, que representa 33% das importações a nível global: aos três países referidos juntam-se os Emirados Árabes Unidos. Só a Arábia Saudita representa 11% de todo o volume de armas importadas mundialmente nestes cinco anos.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Os EUA foram responsáveis por mais de metade das armas exportadas para a região (52%), seguindo-se a Rússia (13%) e a França (12%).

A região do mundo que mais armas importou foi a Ásia e Oceânia (42%). Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Paquistão foram os países que mais armas importaram na região.

O SIPRI afirma que é cedo para dizer se uma recessão associada à pandemia de Covid-19 pode fazer abrandar os negócios de armas. «O impacto económico da Covid-19 podia levar alguns países a diminuir as importações de armas nos próximos anos. No entanto, ao mesmo tempo, mesmo no auge da pandemia, em 2020, vários países assinaram grandes contratos de armamento», releva o SIPRI.

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Questionado sobre se este negócio «é consistente com a promessa do governo dos EUA de liderar a diplomacia com vista a pôr fim ao conflito no Iémen», Falk respondeu que não, rejeitando a declaração como uma alegação «falsa».

«Esta é uma afirmação claramente falsa», acusou, acrescentando que os mísseis ar-ar protegem o espaço político nacional saudita, dando ao reino a liberdade de fazer a guerra fora de seu território com expectativas substancialmente reduzidas de ver o seu país atacado. «Por outras palavras, o objectivo do armamento defensivo é muitas vezes isolar a guerra ofensiva da retaliação e, dado o historial saudita, esse parece ser o caso», frisou Richard Falk.

Não há «incentivo para a via diplomática»

«Tal militarismo parece fazer aumentar a capacidade de combate da Arábia Saudita e não apresenta nenhum incentivo para acabar com o conflito no Iémen pela via diplomática. Se a intenção fosse uma mudança no sentido da diplomacia, poderia ter sido sinalizada oferecendo às forças opositoras iemenitas capacidades militares equivalentes ou condicionando a venda dos mísseis a um esforço de boa-fé para resolver o conflito através de negociações. Não houve nenhum esforço tangível ou credível nessa direcção», acrescentou.

O académico norte-americano criticou a incapacidade da ONU para pôr fim ao conflito no Iémen, afirmando que «estamos a assistir a mais um caso em que a ONU e a segurança internacional são incapazes face aos alinhamentos geopolíticos que se dedicam a encontrar soluções militares para conflitos políticos».

«Nesta perspectiva, não há um ponto final à vista para o conflito e o sofrimento humano no Iémen, e é provável que não surja nenhum, a não ser que a Arábia Saudita se sinta ameaçada por outras fontes ou enfrente pressões internas significativas. A morte dos iemenitas, infelizmente, não faz parte dos cálculos políticos realizados pelos cínicos criadores dos objectivos da política externa de Riade», sublinhou.

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Quebrando a promessa de pôr fim à guerra, a administração de Biden não só não está a pressionar a Arábia Saudita nesse sentido, como continuou a vender tecnologia militar à monarquia do Golfo e, segundo refere o portal multipolarista.com, pondera inclusive voltar a classificar a resistência Huti Ansarullah como «terrorista», tal como o fez o seu antecessor, Donald Trump.

Entretanto, o Conselho Norueguês de Refugiados alertou que o número de civis mortos ou feridos no Iémen quase duplicou desde que o Conselho de Direitos Humanos da ONU votou a favor de acabar com o mandato dos especialistas que analisavam crimes de guerra no Iémen, em Outubre último.

«Nos quatro meses anteriores ao fim da monitorização dos direitos humanos, 823 civis foram feridos ou mortos na guerra. Nos quatro meses que se seguiram, foram 1535 civis», informou o conselho.

Neste período, houve 39 vezes mais vítimas civis provocadas pelos ataques aéreos sauditas.

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Em Março de 2015, uma coligação liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, e suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah, que, em conjunto com o Exército iemenita, tem resistido aos invasores.

A agressão militar, que agora cumpriu sete anos, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes e provocou centenas de milhares de mortos, feridos e deslocados, tendo estado na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

«A perspectiva para o povo iemenita é, neste momento, extremamente preocupante», alertou Steiner, acrescentando: «A realidade é que o desespero, a pobreza e a destruição atingiram um nível no Iémen em que a maioria da população, de uma forma ou de outra, já não é capaz de se sustentar a si mesma.»

Cortes nos fundos e na ajuda humanitária

As afirmações do responsável das Nações Unidas tiveram lugar no mesmo dia em que a aviação saudita bombardeou zonas residenciais na capital iemenita, Saná, e outras regiões do país, depois de, no sábado, o movimento Huti Ansarullah ter declarado um cessar-fogo de três dias.

A trégua unilateral seguiu-se a uma vaga de ataques com mísseis e drones, na sexta-feira, que atingiram alvos em vários pontos da Arábia Saudita, incluindo instalações petrolíferas na cidade de Jeddah.

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ONG alerta para solidariedade selectiva com desvio de fundos para a Ucrânia

A Oxfam International alertou esta sexta-feira para o desvio de ajudas já destinadas a certos países como forma de fazer frente à crise migratória com origem na Ucrânia.

De acordo com as Nações Unidas, pelo menos 12 milhões de pessoas enfrentam uma seca devastadora e passam fome na Somália, no Quénia e na Etiópia 
Créditos / @UNOCHA

As repercussões mundiais da actual «crise ucraniana» – que já se sentem no aumento dos preços de bens, alimentação e energia – poderiam minar os fundos de ajuda dos países doadores, destinados a pessoas que estão noutros «pontos quentes» humanitários, refere a organização não governamental (ONG) numa nota de imprensa.

Neste sentido, o organismo indica que a União Europeia (UE) reduziu para mais de metade os fundos humanitários para Timor-Leste. Outros doadores adiantaram que vão cortar em 70% a ajuda oficial para o desenvolvimento do Burkina Faso, e outros países da África Ocidental estão a receber notícias semelhantes.

Evelien Van Roemburg, directora do gabinete da Oxfam na UE, sublinhou que a população do Iémen e da Síria, os milhões que passam fome na África Oriental e Ocidental ou as pessoas que estão em acampamentos no Bangladesh «não devem ser penalizados» por causa dos cuidados que o povo da Ucrânia deve ter.

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Migrantes e refugiados passam por «horrores inimagináveis» ao atravessar a Líbia

Um relatório da ONU divulgado esta quinta-feira denuncia as «violações massivas de direitos humanos» dos migrantes e refugiados quando atravessam a Líbia em busca de uma vida melhor.

Um migrante num centro de detenção na Líbia, quando da visita de uma equipa da Unicef, em Fevereiro de 2017
CréditosRomenzi / Unicef

O relatório, publicado conjuntamente pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL, na sigla em inglês), revela com detalhe uma série de «terríveis violações e abusos cometidos tanto por funcionários estatais como por grupos armados e traficantes de pessoas».

No resumo que antecede o documento propriamente dito – com 61 páginas e acessível apenas em inglês –, afirma-se que a investigação abarca um período de 20 meses até Agosto de 2018 e foi levada a cabo por funcionários das Nações Unidas especializados em direitos humanos, que entrevistaram mais de 1300 migrantes e refugiados na Líbia, na Nigéria e em Itália.

Com base nas entrevistas e também nas visitas efectuadas a centros de detenção na Líbia, os funcionários registaram os «horrores inimagináveis» por que passam os migrantes e refugiados «desde que entram em território líbio, durante o tempo que ali permanecem e – quando conseguem sobreviver – nas tentativas de atravessar o Mar Mediterrâneo».

Entre os «horrores referidos», contam-se casos de execução extrajudicial, torturas, detenções arbitrárias, violações em grupo, escravidão e trabalho forçado, denunciam ambos os organismos das Nações Unidas, sublinhando que «o clima de anarquia» que se vive actualmente no país africano é «terreno fértil para as actividades ilícitas, como o tráfico de pessoas e o contrabando».

«Aqueles que conseguem chegar à costa e, no final, tentam empreender a perigosa travessia do Mediterrâneo são interceptados de forma crescente pela Guarda Costeira da Líbia (GCL), que os leva de volta para a Líbia, onde muitos são novamente submetidos ao esquema de abusos de que acabaram de escapar», alerta o relatório.

Os cerca de 29 mil migrantes que a GCL obrigou a regressar ao país africano desde o início de 2017 foram transferidos para centros de detenção do Departamento de Combate à Migração Ilegal e, segundo refere o texto, milhares deles «continuam detidos indefinida e arbitrariamente, sem o devido processo, acesso a apoio legal ou a serviços consulares».

Neste sentido, as Nações Unidas lamentaram que a União Europeia e os seus estados-membros tenham mantido «uma política que visa reduzir a possibilidade de os migrantes e refugiados alcançarem as costas europeias», «contribuindo para que milhares de pessoas, desesperadas, fiquem presas na Líbia».


Ghassan Salamé, representante especial do secretário-geral da ONU e directora da UNSMIL, frisou que existe um «fracasso local e internacional na abordagem a esta calamidade humana escondida que continua a ter lugar na Líbia».

Por seu lado, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, destacou que «a situação é absolutamente horrorosa», e lembrou a necessidade de combater «a impunidade generalizada» para «acabar com o sofrimento de dezenas de milhares» de migrantes e refugiados, que «apenas procuram uma vida melhor».

Um país que «não é seguro», destruído pela NATO

As Nações Unidas consideram que a Líbia não é um «país seguro». Mais que isso, a Líbia é, desde a intervenção promovida em 2011 pelos EUA, a França, o Reino Unido e seus aliados contra o governo de Muammar Khadafi, um Estado falhado, destruído, onde diversos grupos armados passaram a lutar entre si pelo controlo de território e de recursos.

Em 2010, a Líbia era o país com maior Índice de Desenvolvimento Humano no continente africano, de acordo com dados das Nações Unidas. Com os seus imensos recursos aquíferos, petrolíferos e de gás a saque, a população das cidades líbias passou a sofrer de escassez de água, cortes de luz e falta de instalações médicas.

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Citada no portal da ONG, Van Roemburg denuncia que «todos os dias ouvimos falar de super-iates e mansões apreendidos», enquanto multimilionários de todas as nacionalidades crescem de forma «obscena» com a especulação, a evasão fiscal e o aumento vertiginoso dos lucros corporativos e dos preços das acções.

«Rejeitamos qualquer afirmação de acordo com a qual ajudar um refugiado da Ucrânia ou um agricultor faminto da Somália seja uma escolha», acrescentou.

Os países nórdicos prometeram 300 milhões de euros – quase por inteiro a Noruega – para ajudar a Ucrânia, mas isto equivale a 40% dos fundos de ajuda orçamentados pela Noruega e, se não houver um reforço, haverá grandes cortes noutros programas, indica a nota.

«Risco de catástrofe» no Iémen

Também esta semana, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, alertou para situação humanitária no Iémen, após sete anos de cerco e guerra de agressão liderada pelos sauditas – com apoio dos EUA –, e num contexto de falta de fundos para a ajuda humanitária.

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Iémen: má-nutrição infantil atinge nível mais elevado

«Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças», alertou a coordenadora humanitária da ONU para o Iémen, Lise Grande.

Pai com criança ao colo, apresentando sinais de má-nutrição aguda grave, numa província do Iémen, em Setembro de 2020
Créditos / PressTV

As Nações Unidas alertaram para «o nível mais elevado» de má-nutrição entre crianças pequenas em determinadas zonas do país árabe, que há cinco anos e meio é alvo de uma violenta campanha militar liderada pela Arábia Saudita.

A escalada da guerra, a crise económica, o grande impacto da pandemia de Covid-19 e a interrupção, por falta de fundos, em projectos de ajuda – ao nível do apoio alimentar e serviços de saneamento, água e higiene – «conduziram à beira do precipício uma população já exausta».

Num comunicado conjunto emitido esta semana, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Programa Alimentar Mundial e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirmaram que mais de meio milhão de crianças com menos de cinco anos no Sul do Iémen apresentam níveis de desnutrição aguda jamais registados no país, acrescentando que um estudo em curso no Norte deve apresentar resultados «igualmente preocupantes».

De acordo com o relatório das três agências das Nações Unidas, nas áreas estudadas (133 distritos no Sul do país árabe) registou-se um aumento de 15,5% de casos de má-nutrição aguda grave entre as crianças com menos de cinco anos, o que significa que pelo menos 98 mil menores nessa faixa etária correm um «risco elevado de morrer» se não receberem tratamento urgente.

«Os dados que estamos a divulgar confirmam que a má-mutrição aguda entre as crianças está a atingir os níveis mais altos que vimos desde que a guerra começou», disse Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU para o Iémen.

Acrescentou que, desde Julho, tem vindo a chamar a atenção para esta situação e que «o Iémen está à beira de uma crise de segurança alimentar catastrófica». «Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças pequenas», avisou a funcionária das Nações Unidas.

Guerra de agressão e pior crise humanitária do mundo

O Iémen enfrenta a pior crise humanitária do mundo. Particularmente afectada pela fome, a população iemenita tem sido também atingida por doenças como cólera, difteria, sarampo e dengue, na sequência da guerra de agressão lançada pela Arábia Saudita em Março de 2015, à frente de uma coligação de países aliados e que contou com forte apoio do Ocidente, nomeadamente dos EUA e do Reino Unido.


Apesar de não ter conseguido alcançar os objectivos declarados de suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, a coligação liderada pelos sauditas prossegue a guerra, continuando a fazer baixas entre a população civil, incluindo crianças.

Segundo as agências da ONU, quase 80% da população iemenita (24 milhões de pessoas) dependem de alguma forma de ajuda. Em meados de Outubro, as agências apenas tinham recebido 1,43 mil milhões de dólares dos 3,2 mil milhões que são necessários, em 2020, para financiar os projectos de ajuda humanitária no Iémen.

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Apesar de a ONU ter classificado a situação no Iémen como a maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, após quase sete anos seguidos de «morte, destruição, deslocações, fome… numa escala massiva», o secretário-geral revelou que o organismo e os seus parceiros foram obrigados a «redimensionar ou encerrar» dois terços dos programas vitais no país árabe devido a falta de fundos.

De acordo com o responsável pelos Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, são necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, este ano, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen.

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Achim Steiner mostrou-se preocupado com o facto de este conflito «receber menos atenção» e, acima de tudo, com a possibilidade de os doadores internacionais «irem cortar fundos». «Isto devia-nos preocupar a todos», frisou.

Aproximadamente 80% dos cerca de 30 milhões de iemenitas dependem de ajuda para sobreviver. Este mês, a ONU referiu que eram necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, em 2022, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen. No entanto, o organismo só conseguiu juntar 1,3 mil milhões.

Isto significa que «aquilo que vamos ver ao longo de 2022 é uma redução maior da ajuda humanitária […]. Tudo isto estará comprometido», disse Steiner.

«Esta guerra… não resolveu nada», sublinhou.

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O chefe da delegação negociadora iemenita, Mohammad Abdul Salam, congratulou-se com este anúncio, enquanto Mohammad Ali al-Houthi, membro do Conselho Político Supremo, disse que «o povo deve ter cuidado» e que a trégua só será «credível ao ser implementada».

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, país considerado um aliado do movimento de resistência Huti, também se congratulou com a trégua.

Saeed Khatibzadeh, porta-voz governamental, disse este sábado ter esperança de que o cessar-fogo alcançado seja o prelúdio do levantamento completo do bloqueio ao Iémen e do estabelecimento de uma trégua permanente.

Manifestou igualmente o apoio de Teerão a uma solução política e humanitária para o conflito no mais pobre dos países árabes.

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Fazendo uma avaliação positiva da implementação da trégua, Hans Grundberg reconheceu que os combates continuaram e provocaram baixas civis. «Continuamos a ver relatórios preocupantes de combates contínuos, implicando incidentes com baixas civis, apesar da redução global», disse.

O enviado da ONU sublinhou a necessidade de abrir estradas em Taiz e outras zonas do país, o que facilitaria enormemente as deslocações e melhoraria a vida diária das populações. «Tivemos respostas positivas de todas as partes para avançar com isso», frisou.

«A promessa da trégua aos civis era de mais segurança, melhor acesso a bens e serviços essenciais, e maior liberdade de movimento dentro, para e a partir do Iémen», destacou Grundberg, acrescentando que «os iemenitas não se podem dar ao luxo de voltar ao estado anterior ao cessar-fogo, de escalada militar perpétua e impasse político».

Primeiro voo comercial em quase seis anos

O enviado da ONU disse ainda que o primeiro voo comercial em quase seis anos partiu do Aeroporto Internacional de Saná, na segunda-feira, e que outro voo trouxe iemenitas de volta.

O avião da Yemenia, com 126 passageiros a bordo, incluindo alguns doentes que esperavam há anos por tratamentos no estrangeiro, levantou voo com destino a Amã, capital da Jordânia.

Hans Grundberg referiu-se a este passo como algo de «importante», que era «há muito esperado». «Isto trouxe alívio a tantos iemenitas que esperaram tanto tempo para viajar, muitos deles por razões médicas urgentes, ou em busca de oportunidades de negócio ou educativas, ou para se reunirem com os seus seres queridos após anos de separação», sublinhou Grundberg.

«Estamos a trabalhar com todos os envolvidos para garantir a regularização dos voos durante a trégua e para encontrar mecanismos duradouros que permitam mantê-lo aberto», disse.

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No entanto, o enviado da ONU destacou a necessidade de «abordar com urgência» o bloqueio terrestre, aéreo e naval imposto ao Iémen por Riade e seus aliados. «Para que a trégua atinja plenamente o seu potencial, será necessário tomar medidas adicionais, particularmente no que respeita à abertura de estradas e às operações de voos comerciais», disse, citado pela PressTV.

«Continuarei a dialogar com as partes para implementar e consolidar plenamente todos os elementos da trégua, e avançar para uma solução política sustentável para o conflito que satisfaça as legítimas aspirações das mulheres e dos homens iemenitas», afirmou Grundberg.

Nos últimos dois meses, ambas as partes se acusaram de violar repetidamente a trégua em curso, mas, tal como ressaltou o enviado da ONU em meados de Maio, «verificou-se uma redução drástica nos combates».

Mais de sete anos de guerra de agressão

Em Março último, cumpriram-se sete anos da guerra de agressão contra o Iémen. A Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar contra o vizinho do sul, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

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Protestos marcaram a grande feira do armamento em Londres

A Defence & Security Equipment International (DSEI) é uma feira onde os fabricantes de armas mostram os mais recentes produtos e tecnologias. Jovens comunistas e outras organizações realizaram protestos.

Protesto da Young Communist League em Londres 
Créditos / YCL-London

A feira bienal, que começou dia 14 e termina hoje, no Exhibition Centre London (ExCeL), em Londres, tem sido palco de protestos.

Para o dia de abertura, as organizações Campanha contra o Comércio de Armas (CAAT, na sigla em inglês) e Stop The Arms Fair convocaram uma mobilização contra aquilo que designaram como «conduta de uma das maiores feiras de armamento do mundo».

Para os organizadores do protesto, no ExCeL «fazem negócio aqueles que lucram com a guerra, a repressão e a injustiça». A Young Communist League (YCL-Britain) também organizou um protesto em Londres, refere o Peoples Dispatch.

A feira DSEI é um dos principais pontos de encontro e negócio dos fabricantes de armamento. Na edição de 2019, revelou a imprensa, participaram cerca de 1700 empresas.

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EUA são o maior exportador de armas e a Arábia Saudita o maior importador

Um relatório recente revelou que os EUA foram responsáveis por mais de um terço da venda de armamento a nível mundial nos últimos cinco anos, enquanto os sauditas foram os que mais importaram.

Donald Trump, president dos EUA, num encontro na Casa Branca com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, em Washington, Março de 2018
Créditos / CGTN

As exportações de armas que tiveram como origem os EUA, entre 2016 e 2020, representaram 37% de todos os negócios registados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Metade das exportações norte-americanas de armamento teve como destino o Médio Oriente, e a Arábia Saudita foi de longe o principal parceiro de negócio no período referido, representando quase um quarto de todas as vendas dos EUA (24%).

O instituto sediado em Estocolmo afirma que, entre 2016 e 2020, as exportações de armas dos EUA aumentaram 15% em comparação com o período 2011-2015.

A Rússia foi o segundo maior exportador de armas a nível global, representando um quinto do total de exportações registadas (com menos 22% de vendas que no período 2011-2015).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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A França, com 8% das vendas, é o terceiro maior exportador. Seguem-se a Alemanha (5,5%) e a China (5,2%), para fechar a lista dos cinco países que mais armas venderam entre 2016 e 2020. Na parte inferior do «top dez» situam-se Reino Unido, Espanha, Israel, Coreia do Sul e Itália.

O SIPRI nota que, por comparação com 2011-2015, os últimos cinco anos registaram um pequeno decréscimo no volume de vendas de armamento (menos 0,5%), pondo fim a mais de uma década de aumentos sucessivos.

Foi a primeira vez desde o período 2001-2005 que o volume de trocas de armas entre países – um indicador da procura – não registou um aumento por comparação com o período anterior de cinco anos.

Arábia Saudita, o maior importador

Os países do Médio Oriente registaram o maior aumento de importações de armas a nível mundial entre 2016 e 2020, importando mais 25% que nos cinco anos anteriores. Arábia Saudita (61%), Egipto (136%) e Catar (361%) registam os maiores aumentos.

Quatro dos dez maiores importadores de armas são desta região, que representa 33% das importações a nível global: aos três países referidos juntam-se os Emirados Árabes Unidos. Só a Arábia Saudita representa 11% de todo o volume de armas importadas mundialmente nestes cinco anos.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Os EUA foram responsáveis por mais de metade das armas exportadas para a região (52%), seguindo-se a Rússia (13%) e a França (12%).

A região do mundo que mais armas importou foi a Ásia e Oceânia (42%). Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Paquistão foram os países que mais armas importaram na região.

O SIPRI afirma que é cedo para dizer se uma recessão associada à pandemia de Covid-19 pode fazer abrandar os negócios de armas. «O impacto económico da Covid-19 podia levar alguns países a diminuir as importações de armas nos próximos anos. No entanto, ao mesmo tempo, mesmo no auge da pandemia, em 2020, vários países assinaram grandes contratos de armamento», releva o SIPRI.

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Este ano, há mais de 800 expositores, em que se incluem os dez maiores fabricantes de armamento do mundo, indica o Peoples Dispatch, acrescentando que delegados estatais e militares de mais de cem países foram oficialmente convidados pelo governo britânico.

A CAAT manifestou especial preocupação com a participação da Arábia Saudita, na medida em que é um dos maiores compradores de armamento.

Além disso, lidera uma coligação que há mais de seis anos leva a cabo uma guerra de agressão contra o Iémen, que provocou dezenas de milhares de mortos e uma das maiores crises humanitárias da história recente.

Samuel Perlo-Freeman, da CAAT, disse que a lista oficial de convidados pelo governo britânico para a DSEI «tem como objectivo expresso juntá-los com os maiores negociantes de armas na Grã-Bretanha e no mundo, mostrando que [o executivo] não é sério no que respeita ao controlo da exportação de armas, à paz mundial, aos direitos humanos ou ao bom governo».

«Os negócios de armas realizados na feira farão do mundo um sítio mais perigoso», frisou.

Por seu lado, o comité londrino da Young Communist League afirmou que «não ia tolerar imperialistas a vender armas a estados repressores debaixo do seu nariz».

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A agressão militar, que destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes e provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, esteve na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

Os EUA destacaram-se como um dos grandes fornecedores de armamento à monarquia saudita, tendo lucrado milhares de milhões de dólares com esta guerra – ao lado do Reino Unido e de uma lista mais longa, que inclui a Alemanha, a França, o Canadá e outros.

Em Novembro do ano passado, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento afirmou que, no final de 2021, o número de pessoas mortas na guerra, por motivos directos ou indirectos, devia atingir os 377 mil.

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«Se a coligação militar liderada pelos sauditas continuar a violar a trégua, o Iémen não aceitará um cessar-fogo falhado», alertou, citado pela PressTV.

Afirmou ainda que aquilo que foi alcançado como resultado da trégua não chega a 10% do que foi declarado no acordo.

As autoridades iemenitas em Saná têm-se queixado reiteradamente da violação do cessar-fogo por parte da coligação saudita, nomeadamente por via da apreensão de petroleiros com destino ao porto iemenita de Hudaydah.

ONU espera que a trégua possa conduzir a um acordo mais amplo

Na passada sexta-feira, o enviado especial das Nações Unidas para o Iémen, Hans Grundberg, afirmou que o actual cessar-fogo pode ser um precursor de um acordo de paz mais vasto.

No Fórum Internacional sobre o Iémen, que decorreu em Estocolmo (Suécia), Grundberg mostrou-se optimista, «apesar de todos os desafios». «Sabemos que é frágil, sim, que está longe de ser perfeito, mas está-se a aguentar», disse, referindo-se ao cessar-fogo em vigor.

Neste contexto, já foram retomados voos do Aeroporto Internacional de Saná com destino a Amã (Jordânia) e ao Cairo (Egipto), e alguns petroleiros puderam atracar em Hudaydah.

À margem do fórum, Grundberg disse à AFP que a trégua «trouxe um alívio humanitário à população sem precedentes na história do conflito», e, desse ponto de vista, também permite às Nações Unidas ter «espaço e margem de manobra para se empenhar num acordo político».

As partes têm mantido reuniões directas na capital da Jordânia, apoiadas pelas Nações Unidas, pela primeira vez num ano, o que permite pensar num acordo mais amplo, disse ainda Grundberg.

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Na nota ontem emitida, a UNOCHA informou ainda que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) poderá ter de suspender, em Julho, o apoio a 50 mil crianças com má-nutrição severa, bem como o apoio à saúde materno-infantil que, até Julho, deve abranger até 2,5 milhões de crianças e 100 mil mulheres.

No mesmo mês, a Unicef deverá igualmente suspender o trabalho que realiza ao nível da água potável e saneamento, e que abrange cerca de 3,6 milhões de iemenitas.

A guerra de agressão e o bloqueio impostos por Riade, aliados regionais e ocidentais ao mais pobre dos países árabes provocou aquilo que as Nações Unidas definiram como «a pior crise humanitária».

Apesar da trégua iniciada em Abril e prolongada em Junho, sob os auspícios da ONU, a coligação liderada pelos sauditas não pôs fim ao bloqueio nem ao confisco de petroleiros com destino ao porto de Hudaydah.

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Para Martin Schüepp, a única via para a recuperação do Iémen reside na solução política do conflito. «O CICV está a abordar necessidades urgentes e a procurar soluções que tragam alívio a longo prazo», disse.

Estas afirmações seguem-se aos anúncios de aumento de cortes nas rações alimentares, no Iémen, feitos em Junho pelo Programa Alimentar Mundial (PMA), por não receber fundos suficientes, devido às condições económicas a nível global e aos efeitos colaterais contínuos da guerra na Ucrânia.

O PMA afirmou, então, que foi obrigado a reduzir, no país árabe, as rações de alimentos para 25% das necessidades diárias para oito milhões de pessoas e a cortar para metade o apoio a cerca de cinco milhões de pessoas, devido a falta de financiamento.

No final de Março, Achim Steiner, director do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), já alertara que o país árabe, devastado pela guerra, enfrentava uma «perspectiva extremamente preocupante».

Citado pela PressTV, o responsável pelo PNUD lançou o alerta ao afirmar que, «tendo em conta a realidade geopolítica mais vasta, o risco é que o Iémen seja em parte esquecido, e isso será obviamente uma tragédia».

O conflito na Ucrânia está a ter «repercussões na economia global» e isso «irá reduzir o alcance da solidariedade internacional para a cooperação internacional», disse Steiner.

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«Tivemos 31 compromissos anunciados hoje, que perfazem cerca de 1,2 mil milhões de dólares», disse Martin Griffiths, subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários e coordenador da Ajuda de Emergência, no encerramento da conferência, acrescentando que «seria óptimo se chegássemos aos 2 mil milhões no fim-de-semana».

De acordo com as Nações Unidas, há 21,7 milhões de iemenitas – dois terços da população do país – a necessitar de ajuda humanitária este ano.

No final de 2022, a Unicef referiu que 17,8 milhões de iemenitas não têm acesso a água potável, saneamento e serviços de higiene.

Erin Hutchinson, responsável do Conselho Norueguês para os Refugiados, mostrou-se desapontada com o valor alcançado esta segunda-feira, tendo afirmado, no Twitter, que «o mundo abandonou o Iémen nesta encruzilhada crucial».

Disse ainda que «isto é lamentavelmente inadequado e dá o sinal de que alguns seres humanos são menos valiosos do que outros».

«Mesmo que se alcance um acordo duradouro, as necessidades humanitárias continuarão a ser altas nos próximos anos»

Em Março de 2015, uma coligação liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, e suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah.

A agressão militar, que agora cumpre oito anos, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes, em guerra desde 2014, e provocou centenas de milhares de mortos, feridos e deslocados, tendo estado na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

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Iémen em risco de ser «esquecido», com o foco mediático na Ucrânia

Achim Steiner, director do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), alertou que o país árabe, devastado pela guerra, enfrenta uma «perspectiva extremamente preocupante».

Iemenitas inspeccionam destroços de uma casa bombardeada pela coligação liderada pelos sauditas, em Janeiro de 2022 
Créditos / PressTV

O responsável pelo PNUD lançou o alerta ao afirmar, este domingo, que, «tendo em conta a realidade geopolítica mais vasta, o risco é que o Iémen seja em parte esquecido, e isso será obviamente uma tragédia».

O conflito na Ucrânia está a ter «repercussões na economia global» e isso «irá reduzirá o alcance da solidariedade internacional para a cooperação internacional», disse Steiner no Fórum de Doha, no Catar.

«Neste momento, o mundo está centrado na guerra na Ucrânia, mas o conflito no Iémen, a situação desesperada no Afeganistão são realidades que ainda vão perdurar», disse também o director do PNUD, citado pela PressTV.

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Aumentam os bombardeamentos sauditas contra civis no Iémen

Os ataques sauditas contra o Iémen intensificam-se e o registo de vítimas civis é o maior dos últimos anos, apesar de Joe Biden ter prometido que ia acabar com esta guerra.

Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas desta madrugada 
Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas em Saná Créditos / Al Jazeera

O presidente norte-americano afirmou repetidamente que iria pôr fim à guerra no Iémen, que está na origem da maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, segundo as Nações Unidas.

No entanto, lembra o jornalista Ben Norton no portal multipolarista.com, os bombardeamentos sauditas contra o mais pobre dos países árabes, apoiados pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, atingiram o nível mais alto em vários anos – e com «a supervisão da administração de Biden».

Quem está a pagar o preço são os civis iemenitas, com um morto ou ferido a cada hora, segundo referiu a organização Save the Children no passado dia 11.

Janeiro de 2022 foi o mês mais mortífero no Iémen desde 2018. Entre 6 de Janeiro de 2 de Fevereiro, foram mortos mais de 200 adultos e 15 crianças. Outros 354 adultos e 30 crianças ficaram feridas, referiu a organização humanitária, que teme que o número real de vítimas seja bastante maior.

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Com grande preocupação humanitária, EUA decretam novas sanções contra o Iémen

Os EUA, de longe o país que mais lucrou com a chacina no Iémen e que é acusado de fazer uma guerra por procuração no terreno, impuseram novas sanções contra o país árabe.

Créditos / MintPress News

Na rede social Twitter, Mohammed Ali al-Houthi, membro do Conselho Político Supremo do Iémen, reagiu às sanções decretadas quinta-feira passada pelo Departamento norte-americano do Tesouro afirmando que «a América dá prioridade à opção da guerra no Iémen e ao mesmo tempo finge que apoia a paz». «A imposição de sanções com o pretexto de assegurar a paz representa um obstáculo para a última», disse.

Al-Houthi destacou que as medidas punitivas contra o sector privado iemenita, as impostas ao banco central do país, os bombardeamentos a fábricas e outras infra-estruturas produtivas, o bloqueio que conduz o povo à fome e o fim do pagamento dos salários aos funcionários públicos são crimes, que se enquadram no esquema sistemático para sufocar a economia iemenita, refere a PressTV.

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Autocarro escolar no Iémen foi atacado com bombas norte-americanas

Fragmentos de bombas MK-82, de fabrico norte-americano, são visíveis nas imagens que um jornalista divulgou do local onde um autocarro cheio de crianças foi atacado pelos sauditas, no Iémen.

Destroços de um edifício bombardeado pelos sauditas na capital do Iémen, Saná, em Outubro de 2016. Estima-se que 140 pessoas tenham morrido e perto de 600 tenham ficado feridas
Destroços de um edifício bombardeado pelos sauditas na capital do Iémen, Saná, em Outubro de 2016. Também aqui foram encontrados fragmentos da bomba MK-82, de fabrico norte-americanoCréditos / The Independent

Caças da coligação liderada pelos sauditas atingiram, no passado dia 9, um autocarro escolar na zona de Dahyan, na província iemenita de Sa'ada, provocando mais de 50 vítimas mortais – 40 das quais terão sido crianças, de acordo com as autoridades Hutis – e cerca de 80 feridos.

Segundo a informação divulgada no sábado por Nasser Arrabyee, um jornalista local, a coligação comandada pelos sauditas terá usado munições de fabrico norte-americano.

«Restos das bombas dos EUA que mataram as crianças iemenitas no mais recente massacre e crime de guerra saudita-norte-americano, de 9 de Agosto de 2018, em Sa'ada, Norte do Iémen», escreveu Nasser Arrabyee no Twitter [pic.twitter.com/z8bvadwncG – @narrabyee] a acompanhar as fotos dos fragmentos das bombas MK-82 que alegadamente foram retirados do local do bombardeamento contra o autocarro escolar.

Na peça em que chama a atenção para o tweet e a informação nele contida, esta segunda-feira, a RT sublinha que as imagens ainda carecem de verificação independente, mas lembra que não é a primeira vez que fragmentos de bombas Raytheon Mark 82 são encontrados em locais onde a coligação liderada pelos sauditas levou a cabo massacres contra a população civil no Iémen desde o início da campanha militar, em Março 2015.

A MK-82, bomba de 227 quilos e fabricada pela empresa norte-americana General Dynamics, foi também usada quando os caças sauditas atacaram, em Outubro de 2016, um funeral na capital do país, Saná. Então, 140 pessoas foram mortas e mais de 500 ficaram feridas.

Pentágono diz que é impossível seguir o rasto da bomba

O fluxo armementístico de Washington para Riade é enorme, mas a Arábia Saudita não é destino único da MK-82, como deixou claro, na semana passada, um porta-voz do Pentágono. De acordo com o major Josh Jacques, poderá ser impossível saber de onde veio a bomba que foi usada no ataque contra o autocarro escolar no dia 9 de Agosto.

Isto porque, segundo refere a RT, em 2016 os EUA aprovaram a venda dessa bomba à Arábia Saudita, aos Emirados Árabes Unidos, à França e ao Iraque, e prolongaram os contratos de venda já existentes com a Austrália e o Bahrain. Portanto, na lógica do Pentágono, pode nunca vir a saber-se se a munição usada em Sa'ada «foi uma das que nós lhes vendemos a eles» (os sauditas, entenda-se).

Negócio de muitos milhões

Recorde-se que a Arábia Saudita é um dos principais destinos do armamento fabricado nos países ocidentais e, de modo sintomático, foi o primeiro país que Donald Trump visitou depois de tomar posse, em Janeiro do ano passado.

Nessa visita, foi anunciado que Washington poderia vender a Riade equipamento militar no valor de 110 mil milhões de dólares num período de dez anos. Então, o Departamento de Estado afirmou que o acordo poderia chegar aos 350 mil milhões de dólares.

De acordo com um estudo divulgado em Março último, os EUA venderam, no ano passado, armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos no valor de 650 mil milhões de dólares.

Em Abril, a administração norte-americana deu luz verde ao negócio, no valor de 1,3 mil milhões de dólares, de venda de artilharia aos sauditas, apesar dos relatórios que evidenciam que esse armamento contribui para o massacre de civis e das críticas crescentes de organismo internacionais.

Um estudo do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), de Março deste ano, revela que os EUA foram, no período compreendido entre 2013 de 2017, o principal exportador de armas a nível mundial: as suas exportações representaram 34% de todos os negócios registados pelo organismo referido.

O mesmo estudo revela que, nos últimos cinco anos, os EUA aumentaram a venda de armamento em 25%, sendo o Médio Oriente o destino de quase metade desse armamento.

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Na quinta-feira passada, dia 10, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs novas sanções ao país árabe, desta vez centradas numa rede que é acusada de financiar o movimento de resistência popular Huti Ansarullah – que está no cerne do governo que administra o país a partir da capital, Saná, e lidera a resistência à agressão externa que lhe é imposta desde Março de 2015.

«Esta rede gera dezenas de milhões de dólares em receitas da venda de commodities, como o petróleo iraniano, uma parte significativa da qual é depois direccionada através de uma complexa rede de intermediários e casas de câmbio em vários países para os Hutis», afirmou o Departamento do Tesouro em comunicado.

Entre os alvos directos destas novas sanções contam-se dois iemenitas, dois sírios, um emiradense, um somali e um indiano, além de entidades com sede no Dubai, Istambul e Saná, informa a PressTV.

A memória curta do Tesouro

«O apoio financeiro desta rede permite os ataques deploráveis dos Hutis, que ameaçam infra-estruturas civis e críticas no Iémen e na Arábia Saudita. Estes ataques minam os esforços para acabar o conflito e, o que é mais trágico, deixam dezenas de milhões de civis inocentes a morrer à fome», refere ainda o comunicado.

O texto do Tesouro – tão preocupado com a fome dos iemenitas e com os ataques que ameaçam infra-estruturas civis – não faz menção ao papel dos EUA na guerra de agressão ao Iémen, ao apoio que foi prestado pelos norte-americanos desde o início à coligação liderada pelos sauditas, aos milhares de milhões de dólares que os EUA lucraram com a venda de armamento aos sauditas – algum do qual, como se veio a provar, foi utilizado para massacrar a população civil do Iémen.

Os milhares de mortos, a fome, a cólera, a maior crise humanitária dos tempos modernos, como a classifica a ONU, não existiriam no Iémen sem Washington – agente primeiro na guerra, tal como o Reino Unido, e outras potências ocidentais (França e Alemanha) e regionais (Israel, Emirados Árabes Unidos, Egipto), em maior ou menor escala.

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No próximo mês, passam sete anos desde o início da guerra de agressão contra o Iémen. Em Março de 2015, a Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar o vizinho do sul, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

Ao longo da campanha eleitoral, em 2020, Joe Biden prometeu que poria fim a este conflito – uma intenção que reafirmou no ano seguinte, dizendo, já enquanto presidente, que estava a acabar com o apoio dos EUA às operações «ofensivas» sauditas no Iémen, lembra Norton.

A agressão militar saudita, que provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, e destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes não poderia ter sido levada a cabo sem o apoio político, militar e logístico norte-americano e britânico.

Além disso, os EUA destacaram-se como um dos grandes fornecedores de armamento à monarquia saudita, tendo lucrado milhares de milhões de dólares com esta guerra – ao lado do Reino Unido e de uma lista mais longa, que inclui a Alemanha, a França e outros.

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Venda de armas aos sauditas é sinal «preocupante» do arrastar da guerra no Iémen

O Departamento de Estado dos EUA aprovou o primeiro grande negócio de venda de armas aos sauditas na administração de Biden, algo que pode revelar a intenção de Riade de prolongar a agressão ao Iémen.

Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a agressão da coligação liderada pelos sauditas começou em Março de 2015 
Créditos / PressTV

Num comunicado emitido quinta-feira passada, o Pentágono deu conta da aprovação, pelo Departamento de Estado norte-americano, da venda de 280 mísseis ar-ar à Arábia Saudita, no valor de 650 milhões de dólares, para que Riade pudesse fazer frente a ameaças actuais e futuras.

Para o académico norte-americano Richard Falk, especialista em direito internacional e relações internacionais, o primeiro grande negócio de vendas de armas da era Biden aos sauditas, «os chamados mísseis defensivos ar-ar», constitui «um sinal preocupante das intenções sauditas de prosseguimento das suas políticas cruéis de devastação do Iémen».

Numa entrevista à PressTV, Falk, que foi professor na Universidade de Princeton durante mais de três décadas, afirmou que «a posse de uma defesa anti-mísseis mais segura permite aos sauditas continuarem a sua intervenção armada no Iémen, e possivelmente noutros locais, com menor temor de ataques de retaliação».

Richard Falk destacou as «relações especiais» entre Washington e Riade, afirmando que os EUA procuram defender os interesses sauditas e desviar as críticas que são dirigidas a Riade nas Nações Unidas.

EUA usam a sua influência para proteger a Arábia Saudita

«Os Estados Unidos estão a usar a sua influência geopolítica para proteger a Arábia Saudita da crítica na ONU e noutros lugares, gozando novamente com os compromissos colectivos de segurança e com a proibição incondicional da Carta das Nações Unidas do uso de força não defensiva. Estas relações especiais deixam claro que as relações internacionais continuam a ser moldadas pela primazia da geopolítica e não pelas normas internacionais», disse o académico.

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EUA são o maior exportador de armas e a Arábia Saudita o maior importador

Um relatório recente revelou que os EUA foram responsáveis por mais de um terço da venda de armamento a nível mundial nos últimos cinco anos, enquanto os sauditas foram os que mais importaram.

Donald Trump, president dos EUA, num encontro na Casa Branca com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, em Washington, Março de 2018
Créditos / CGTN

As exportações de armas que tiveram como origem os EUA, entre 2016 e 2020, representaram 37% de todos os negócios registados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Metade das exportações norte-americanas de armamento teve como destino o Médio Oriente, e a Arábia Saudita foi de longe o principal parceiro de negócio no período referido, representando quase um quarto de todas as vendas dos EUA (24%).

O instituto sediado em Estocolmo afirma que, entre 2016 e 2020, as exportações de armas dos EUA aumentaram 15% em comparação com o período 2011-2015.

A Rússia foi o segundo maior exportador de armas a nível global, representando um quinto do total de exportações registadas (com menos 22% de vendas que no período 2011-2015).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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A França, com 8% das vendas, é o terceiro maior exportador. Seguem-se a Alemanha (5,5%) e a China (5,2%), para fechar a lista dos cinco países que mais armas venderam entre 2016 e 2020. Na parte inferior do «top dez» situam-se Reino Unido, Espanha, Israel, Coreia do Sul e Itália.

O SIPRI nota que, por comparação com 2011-2015, os últimos cinco anos registaram um pequeno decréscimo no volume de vendas de armamento (menos 0,5%), pondo fim a mais de uma década de aumentos sucessivos.

Foi a primeira vez desde o período 2001-2005 que o volume de trocas de armas entre países – um indicador da procura – não registou um aumento por comparação com o período anterior de cinco anos.

Arábia Saudita, o maior importador

Os países do Médio Oriente registaram o maior aumento de importações de armas a nível mundial entre 2016 e 2020, importando mais 25% que nos cinco anos anteriores. Arábia Saudita (61%), Egipto (136%) e Catar (361%) registam os maiores aumentos.

Quatro dos dez maiores importadores de armas são desta região, que representa 33% das importações a nível global: aos três países referidos juntam-se os Emirados Árabes Unidos. Só a Arábia Saudita representa 11% de todo o volume de armas importadas mundialmente nestes cinco anos.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Os EUA foram responsáveis por mais de metade das armas exportadas para a região (52%), seguindo-se a Rússia (13%) e a França (12%).

A região do mundo que mais armas importou foi a Ásia e Oceânia (42%). Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Paquistão foram os países que mais armas importaram na região.

O SIPRI afirma que é cedo para dizer se uma recessão associada à pandemia de Covid-19 pode fazer abrandar os negócios de armas. «O impacto económico da Covid-19 podia levar alguns países a diminuir as importações de armas nos próximos anos. No entanto, ao mesmo tempo, mesmo no auge da pandemia, em 2020, vários países assinaram grandes contratos de armamento», releva o SIPRI.

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Questionado sobre se este negócio «é consistente com a promessa do governo dos EUA de liderar a diplomacia com vista a pôr fim ao conflito no Iémen», Falk respondeu que não, rejeitando a declaração como uma alegação «falsa».

«Esta é uma afirmação claramente falsa», acusou, acrescentando que os mísseis ar-ar protegem o espaço político nacional saudita, dando ao reino a liberdade de fazer a guerra fora de seu território com expectativas substancialmente reduzidas de ver o seu país atacado. «Por outras palavras, o objectivo do armamento defensivo é muitas vezes isolar a guerra ofensiva da retaliação e, dado o historial saudita, esse parece ser o caso», frisou Richard Falk.

Não há «incentivo para a via diplomática»

«Tal militarismo parece fazer aumentar a capacidade de combate da Arábia Saudita e não apresenta nenhum incentivo para acabar com o conflito no Iémen pela via diplomática. Se a intenção fosse uma mudança no sentido da diplomacia, poderia ter sido sinalizada oferecendo às forças opositoras iemenitas capacidades militares equivalentes ou condicionando a venda dos mísseis a um esforço de boa-fé para resolver o conflito através de negociações. Não houve nenhum esforço tangível ou credível nessa direcção», acrescentou.

O académico norte-americano criticou a incapacidade da ONU para pôr fim ao conflito no Iémen, afirmando que «estamos a assistir a mais um caso em que a ONU e a segurança internacional são incapazes face aos alinhamentos geopolíticos que se dedicam a encontrar soluções militares para conflitos políticos».

«Nesta perspectiva, não há um ponto final à vista para o conflito e o sofrimento humano no Iémen, e é provável que não surja nenhum, a não ser que a Arábia Saudita se sinta ameaçada por outras fontes ou enfrente pressões internas significativas. A morte dos iemenitas, infelizmente, não faz parte dos cálculos políticos realizados pelos cínicos criadores dos objectivos da política externa de Riade», sublinhou.

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Quebrando a promessa de pôr fim à guerra, a administração de Biden não só não está a pressionar a Arábia Saudita nesse sentido, como continuou a vender tecnologia militar à monarquia do Golfo e, segundo refere o portal multipolarista.com, pondera inclusive voltar a classificar a resistência Huti Ansarullah como «terrorista», tal como o fez o seu antecessor, Donald Trump.

Entretanto, o Conselho Norueguês de Refugiados alertou que o número de civis mortos ou feridos no Iémen quase duplicou desde que o Conselho de Direitos Humanos da ONU votou a favor de acabar com o mandato dos especialistas que analisavam crimes de guerra no Iémen, em Outubre último.

«Nos quatro meses anteriores ao fim da monitorização dos direitos humanos, 823 civis foram feridos ou mortos na guerra. Nos quatro meses que se seguiram, foram 1535 civis», informou o conselho.

Neste período, houve 39 vezes mais vítimas civis provocadas pelos ataques aéreos sauditas.

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Em Março de 2015, uma coligação liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, e suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah, que, em conjunto com o Exército iemenita, tem resistido aos invasores.

A agressão militar, que agora cumpriu sete anos, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes e provocou centenas de milhares de mortos, feridos e deslocados, tendo estado na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

«A perspectiva para o povo iemenita é, neste momento, extremamente preocupante», alertou Steiner, acrescentando: «A realidade é que o desespero, a pobreza e a destruição atingiram um nível no Iémen em que a maioria da população, de uma forma ou de outra, já não é capaz de se sustentar a si mesma.»

Cortes nos fundos e na ajuda humanitária

As afirmações do responsável das Nações Unidas tiveram lugar no mesmo dia em que a aviação saudita bombardeou zonas residenciais na capital iemenita, Saná, e outras regiões do país, depois de, no sábado, o movimento Huti Ansarullah ter declarado um cessar-fogo de três dias.

A trégua unilateral seguiu-se a uma vaga de ataques com mísseis e drones, na sexta-feira, que atingiram alvos em vários pontos da Arábia Saudita, incluindo instalações petrolíferas na cidade de Jeddah.

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ONG alerta para solidariedade selectiva com desvio de fundos para a Ucrânia

A Oxfam International alertou esta sexta-feira para o desvio de ajudas já destinadas a certos países como forma de fazer frente à crise migratória com origem na Ucrânia.

De acordo com as Nações Unidas, pelo menos 12 milhões de pessoas enfrentam uma seca devastadora e passam fome na Somália, no Quénia e na Etiópia 
Créditos / @UNOCHA

As repercussões mundiais da actual «crise ucraniana» – que já se sentem no aumento dos preços de bens, alimentação e energia – poderiam minar os fundos de ajuda dos países doadores, destinados a pessoas que estão noutros «pontos quentes» humanitários, refere a organização não governamental (ONG) numa nota de imprensa.

Neste sentido, o organismo indica que a União Europeia (UE) reduziu para mais de metade os fundos humanitários para Timor-Leste. Outros doadores adiantaram que vão cortar em 70% a ajuda oficial para o desenvolvimento do Burkina Faso, e outros países da África Ocidental estão a receber notícias semelhantes.

Evelien Van Roemburg, directora do gabinete da Oxfam na UE, sublinhou que a população do Iémen e da Síria, os milhões que passam fome na África Oriental e Ocidental ou as pessoas que estão em acampamentos no Bangladesh «não devem ser penalizados» por causa dos cuidados que o povo da Ucrânia deve ter.

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Migrantes e refugiados passam por «horrores inimagináveis» ao atravessar a Líbia

Um relatório da ONU divulgado esta quinta-feira denuncia as «violações massivas de direitos humanos» dos migrantes e refugiados quando atravessam a Líbia em busca de uma vida melhor.

Um migrante num centro de detenção na Líbia, quando da visita de uma equipa da Unicef, em Fevereiro de 2017
CréditosRomenzi / Unicef

O relatório, publicado conjuntamente pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL, na sigla em inglês), revela com detalhe uma série de «terríveis violações e abusos cometidos tanto por funcionários estatais como por grupos armados e traficantes de pessoas».

No resumo que antecede o documento propriamente dito – com 61 páginas e acessível apenas em inglês –, afirma-se que a investigação abarca um período de 20 meses até Agosto de 2018 e foi levada a cabo por funcionários das Nações Unidas especializados em direitos humanos, que entrevistaram mais de 1300 migrantes e refugiados na Líbia, na Nigéria e em Itália.

Com base nas entrevistas e também nas visitas efectuadas a centros de detenção na Líbia, os funcionários registaram os «horrores inimagináveis» por que passam os migrantes e refugiados «desde que entram em território líbio, durante o tempo que ali permanecem e – quando conseguem sobreviver – nas tentativas de atravessar o Mar Mediterrâneo».

Entre os «horrores referidos», contam-se casos de execução extrajudicial, torturas, detenções arbitrárias, violações em grupo, escravidão e trabalho forçado, denunciam ambos os organismos das Nações Unidas, sublinhando que «o clima de anarquia» que se vive actualmente no país africano é «terreno fértil para as actividades ilícitas, como o tráfico de pessoas e o contrabando».

«Aqueles que conseguem chegar à costa e, no final, tentam empreender a perigosa travessia do Mediterrâneo são interceptados de forma crescente pela Guarda Costeira da Líbia (GCL), que os leva de volta para a Líbia, onde muitos são novamente submetidos ao esquema de abusos de que acabaram de escapar», alerta o relatório.

Os cerca de 29 mil migrantes que a GCL obrigou a regressar ao país africano desde o início de 2017 foram transferidos para centros de detenção do Departamento de Combate à Migração Ilegal e, segundo refere o texto, milhares deles «continuam detidos indefinida e arbitrariamente, sem o devido processo, acesso a apoio legal ou a serviços consulares».

Neste sentido, as Nações Unidas lamentaram que a União Europeia e os seus estados-membros tenham mantido «uma política que visa reduzir a possibilidade de os migrantes e refugiados alcançarem as costas europeias», «contribuindo para que milhares de pessoas, desesperadas, fiquem presas na Líbia».


Ghassan Salamé, representante especial do secretário-geral da ONU e directora da UNSMIL, frisou que existe um «fracasso local e internacional na abordagem a esta calamidade humana escondida que continua a ter lugar na Líbia».

Por seu lado, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, destacou que «a situação é absolutamente horrorosa», e lembrou a necessidade de combater «a impunidade generalizada» para «acabar com o sofrimento de dezenas de milhares» de migrantes e refugiados, que «apenas procuram uma vida melhor».

Um país que «não é seguro», destruído pela NATO

As Nações Unidas consideram que a Líbia não é um «país seguro». Mais que isso, a Líbia é, desde a intervenção promovida em 2011 pelos EUA, a França, o Reino Unido e seus aliados contra o governo de Muammar Khadafi, um Estado falhado, destruído, onde diversos grupos armados passaram a lutar entre si pelo controlo de território e de recursos.

Em 2010, a Líbia era o país com maior Índice de Desenvolvimento Humano no continente africano, de acordo com dados das Nações Unidas. Com os seus imensos recursos aquíferos, petrolíferos e de gás a saque, a população das cidades líbias passou a sofrer de escassez de água, cortes de luz e falta de instalações médicas.

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Citada no portal da ONG, Van Roemburg denuncia que «todos os dias ouvimos falar de super-iates e mansões apreendidos», enquanto multimilionários de todas as nacionalidades crescem de forma «obscena» com a especulação, a evasão fiscal e o aumento vertiginoso dos lucros corporativos e dos preços das acções.

«Rejeitamos qualquer afirmação de acordo com a qual ajudar um refugiado da Ucrânia ou um agricultor faminto da Somália seja uma escolha», acrescentou.

Os países nórdicos prometeram 300 milhões de euros – quase por inteiro a Noruega – para ajudar a Ucrânia, mas isto equivale a 40% dos fundos de ajuda orçamentados pela Noruega e, se não houver um reforço, haverá grandes cortes noutros programas, indica a nota.

«Risco de catástrofe» no Iémen

Também esta semana, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, alertou para situação humanitária no Iémen, após sete anos de cerco e guerra de agressão liderada pelos sauditas – com apoio dos EUA –, e num contexto de falta de fundos para a ajuda humanitária.

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Iémen: má-nutrição infantil atinge nível mais elevado

«Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças», alertou a coordenadora humanitária da ONU para o Iémen, Lise Grande.

Pai com criança ao colo, apresentando sinais de má-nutrição aguda grave, numa província do Iémen, em Setembro de 2020
Créditos / PressTV

As Nações Unidas alertaram para «o nível mais elevado» de má-nutrição entre crianças pequenas em determinadas zonas do país árabe, que há cinco anos e meio é alvo de uma violenta campanha militar liderada pela Arábia Saudita.

A escalada da guerra, a crise económica, o grande impacto da pandemia de Covid-19 e a interrupção, por falta de fundos, em projectos de ajuda – ao nível do apoio alimentar e serviços de saneamento, água e higiene – «conduziram à beira do precipício uma população já exausta».

Num comunicado conjunto emitido esta semana, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Programa Alimentar Mundial e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirmaram que mais de meio milhão de crianças com menos de cinco anos no Sul do Iémen apresentam níveis de desnutrição aguda jamais registados no país, acrescentando que um estudo em curso no Norte deve apresentar resultados «igualmente preocupantes».

De acordo com o relatório das três agências das Nações Unidas, nas áreas estudadas (133 distritos no Sul do país árabe) registou-se um aumento de 15,5% de casos de má-nutrição aguda grave entre as crianças com menos de cinco anos, o que significa que pelo menos 98 mil menores nessa faixa etária correm um «risco elevado de morrer» se não receberem tratamento urgente.

«Os dados que estamos a divulgar confirmam que a má-mutrição aguda entre as crianças está a atingir os níveis mais altos que vimos desde que a guerra começou», disse Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU para o Iémen.

Acrescentou que, desde Julho, tem vindo a chamar a atenção para esta situação e que «o Iémen está à beira de uma crise de segurança alimentar catastrófica». «Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças pequenas», avisou a funcionária das Nações Unidas.

Guerra de agressão e pior crise humanitária do mundo

O Iémen enfrenta a pior crise humanitária do mundo. Particularmente afectada pela fome, a população iemenita tem sido também atingida por doenças como cólera, difteria, sarampo e dengue, na sequência da guerra de agressão lançada pela Arábia Saudita em Março de 2015, à frente de uma coligação de países aliados e que contou com forte apoio do Ocidente, nomeadamente dos EUA e do Reino Unido.


Apesar de não ter conseguido alcançar os objectivos declarados de suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, a coligação liderada pelos sauditas prossegue a guerra, continuando a fazer baixas entre a população civil, incluindo crianças.

Segundo as agências da ONU, quase 80% da população iemenita (24 milhões de pessoas) dependem de alguma forma de ajuda. Em meados de Outubro, as agências apenas tinham recebido 1,43 mil milhões de dólares dos 3,2 mil milhões que são necessários, em 2020, para financiar os projectos de ajuda humanitária no Iémen.

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Apesar de a ONU ter classificado a situação no Iémen como a maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, após quase sete anos seguidos de «morte, destruição, deslocações, fome… numa escala massiva», o secretário-geral revelou que o organismo e os seus parceiros foram obrigados a «redimensionar ou encerrar» dois terços dos programas vitais no país árabe devido a falta de fundos.

De acordo com o responsável pelos Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, são necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, este ano, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen.

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Achim Steiner mostrou-se preocupado com o facto de este conflito «receber menos atenção» e, acima de tudo, com a possibilidade de os doadores internacionais «irem cortar fundos». «Isto devia-nos preocupar a todos», frisou.

Aproximadamente 80% dos cerca de 30 milhões de iemenitas dependem de ajuda para sobreviver. Este mês, a ONU referiu que eram necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, em 2022, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen. No entanto, o organismo só conseguiu juntar 1,3 mil milhões.

Isto significa que «aquilo que vamos ver ao longo de 2022 é uma redução maior da ajuda humanitária […]. Tudo isto estará comprometido», disse Steiner.

«Esta guerra… não resolveu nada», sublinhou.

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O ano passado, foi alcançada uma trégua sob os auspícios da ONU, que começou a 2 de Abril e terminou seis meses depois, a 2 de Outubro. Os ataques da coligação liderada pelos sauditas mantêm-se, apesar de serem menos intensos do que no período anterior ao cessar-fogo.

Na conferência de 2022, a ONU conseguiu juntar 2,2 mil milhões de dólares, permitindo às agências no terreno ajudar cerca de 11 milhões de pessoas todos os meses.

Martin Griffiths disse esperar que esta seja a última conferência do género, porque o a guerra já dura «há demasiado tempo, castigando milhões de pessoas inocentes», indica a PressTV.

Robert Mardini, director-geral do Comité Internacional da Cruz Vermelha, sublinhou que cada ano que passa torna a recuperação do pós-guerra mais difícil para o Iémen.

«Mesmo que se alcance um acordo duradouro, as necessidades humanitárias continuarão a ser altas nos próximos anos», disse.

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Nos oito anos de conflito, quase 400 mil pessoas perderam a vida, de acordo com a ONU, que se refere igualmente à pior crise humanitária do mundo num país cujas infra-estruturas foram arrasadas pelos bombardeamentos da coligação saudita.

O oitavo aniversário da guerra ocorre num contexto de confrontos acesos, na fronteira norte e determinadas províncias – como Marib e Shabwah –, entre o Exército iemenita (apoiado pelo movimento Huti Ansarullah) e militantes apoiados pelos sauditas.

O ano passado, foi alcançada uma trégua entre as partes, sob os auspícios da ONU, que começou a 2 de Abril e terminou seis meses depois, a 2 de Outubro, permitindo levar ajuda a milhões de pessoas.

Recentemente, a Unicef alertou que milhões de crianças enfrentam um risco acrescido de malnutrição no país, «onde uma criança morre a cada dez minutos de doenças evitáveis».

O arrastamento da guerra e a falta de fundos são preocupantes, segundo a agência das Nações Unidas, que alerta para a existência de 11 milhões de crianças a necessitar de ajuda.

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«Os líderes políticos no Iémen sabem desde o início que… Riade é incapaz de cumprir os termos do acordo e… acabar com as repercussões da guerra devido aos interesses regionais divergentes», disseram as fontes que o periódico cita, acrescentando que, «por mais que concordem em minar a independência e soberania do Iémen», os membros da coligação «estão em conflito uns com os outros».

Neste sentido, explica que os interesses sauditas divergem hoje bastante dos dos Emirados Árabes Unidos, das potências ocidentais e de Israel.

De acordo com Al-Akhbar, a Arábia Saudita – que liderou a brutal guerra de agressão contra o vizinho do Sul desde Março de 2015 – está interessada em acabar a guerra e em sair do «pântano iemenita».

Já os Emirados Árabes Unidos pretendem manter a ocupação dos portos e campos petrolíferos do Iémen, bem como a ocupação das vias fluviais e, em particular, das ilhas, nomeadamente o arquipélago de Socotra, onde os emiradenses têm vindo a trabalhar com Israel para as transformar em centros conjuntos militares e de inteligência.

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ONU consegue reunir para já um quarto da ajuda pedida para o Iémen

As Nações Unidas afirmam ter juntado cerca de 1,2 mil milhões de dólares dos 4,3 que procuravam na conferência de doadores, na segunda-feira, em Genebra, para ajudar milhões de pessoas no Iémen.

Grupo de pessoas recebe ajuda na província de Hudaydah 
Créditos / PressTV

O valor reunido fica muito aquém dos 4,3 mil milhões de dólares solicitados aos doadores e que a ONU disse serem necessários para ajudar as pessoas no país árabe devastado pela guerra.

No anúncio realizado esta segunda-feira, o organismo multilateral disse esperar que o valor possa chegar aos dois mil milhões até ao fim desta semana, refere a PressTV.

Esta foi a sétima conferência de doadores em sete anos, mas a ONU espera que a próxima se possa centrar na reconstrução do país arrasado, em vez de ter como objectivo evitar a fome.

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Iémen: 19 milhões sofrem de insegurança alimentar, alerta Cruz Vermelha

Dois terços dos iemenitas estão em situação de insegurança alimentar, alertou um representante da Cruz Vermelha. A guerra e o cerco continuam mas o Iémen afastou-se do foco mediático.

Karima, uma criança iemenita de sete anos, vê a sua mãe a fazer pão 
Créditos / Programa Alimentar Mundial

Na sequência de uma visita recente ao mais pobre dos países árabes, Martin Schüepp, director de operações do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), afirmou no Twitter que «cerca de dois em cada três iemenitas estão em situação de insegurança alimentar. Isso representa cerca de 19 milhões de pessoas».

«Mais não têm acesso a cuidados básicos de saúde. Apesar de tudo isto, o Iémen está muitas vezes fora do foco mediático», disse.

Durante a sua visita ao Iémen, Martin Schüepp pôde ver em primeira mão «como médicos locais, juntamente com pessoal do CICV, tratavam pessoas com ferimentos de bala numa unidade de emergência local» e teve a possibilidade de «falar com agricultores cujos rendimentos foram severamente afectados por anos de conflito».

A Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou, em Março de 2015, uma agressão militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

A campanha militar, acompanhada por um cerco que privou o país dos bens essenciais, provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes, espalhou a fome e disseminou doenças infecciosas, estando na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

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Mais de 19 milhões de iemenitas passam fome e as ajudas diminuem

Depois de o Programa Alimentar Mundial ter anunciado cortes drásticos na ajuda ao Iémen, a ONU revela que a fome atinge o patamar mais elevado no país árabe desde o início da guerra de agressão, em 2015.

Créditos / @UNOCHA

Numa nota emitida esta terça-feira, o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA, na sigla em inglês) afirma que os cortes nos fundos estão a limitar a sua capacidade de ajudar as pessoas que necessitam de assistência, incluindo os 160 mil iemenitas que se encontram à beira da fome.

«Cinco milhões de pessoas receberão menos de metade das suas necessidades diárias e oito milhões de pessoas receberão menos de um terço daquilo de que necessitam diariamente», revelou a UNOCHA.

Explicou que, em Dezembro último, o Programa Alimentar Mundial (PMA) foi obrigado a reduzir as rações alimentos para oito milhões de pessoas no país árabe devido a falta de financiamento e que teve de efectuar mais cortes no mês passado.

No domingo, o PMA anunciou na sua conta de Twitter que foi obrigado a «tomar decisões extremamente difíceis» no que respeita à ajuda alimentar que presta à população iemenita, por não receber fundos suficientes, devido às condições económicas a nível global e aos efeitos colaterais contínuos da guerra na Ucrânia.

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Iemenitas denunciam continuidade do bloqueio imposto pelos sauditas

Um membro do Conselho Político Supremo do Iémen afirmou que se mantém o bloqueio naval e aéreo liderado pelos sauditas, classificando-o como um «crime» contra a população civil.

Navio atracado no porto iemenita de Hudaydah (imagem de arquivo) 
Créditos / PressTV

Em declarações efectuadas este domingo numa rede social, o dirigente político denunciou que a coligação liderada por Riade está a usar a fome como arma de guerra contra o povo iemenita, refere a PressTV.

«O prosseguimento do cerco e a recusa da coligação liderada pela Arábia Saudita em implementar as disposições da trégua, que é um documento oficial sob os auspícios das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança, equivale a um crime intencional contra todo o povo iemenita», disse al-Houthi.

Por seu lado, o vice-primeiro-ministro para a Defesa, Jalal al-Ruwishan, disse numa entrevista à cadeia de TV em língua árabe al-Masirah que há «sinais claros» de que a coligação mantém a «agressão total» contra o Iémen, violando os termos do cessar-fogo alcançado pela ONU no início de Abril e prolongado por mais dois meses no início de Junho.

Ruwishan disse que a trégua «não faz sentido e é inútil» se não permite a abertura dos portos e aeroportos iemenitas, bem como o pagamento dos salários aos funcionários públicos.

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Trégua no Iémen prolongada por mais dois meses

As partes em conflito aceitaram renovar o cessar-fogo vigente no país árabe por um período de dois meses, anunciou um representante das Nações Unidas esta quinta-feira, horas antes de a trégua expirar.

Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas desta madrugada 
Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas Créditos / Al Jazeera

«Gostava de anunciar que as partes em conflito aceitaram a proposta das Nações Unidas de renovar a trégua vigente no Iémen por mais dois meses», disse o enviado especial da ONU para o Iémen, Hans Grundberg, num comunicado emitido esta quinta-feira.

«O prolongamento da trégua entra em vigor quando o actual período de cessar-fogo expirar, hoje, 2 de Junho, às 19h, hora do Iémen», afirma o texto.

O acordo inicial de cessar-fogo entrou em vigor a 2 de Abril deste ano, na sequência das negociações mediadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre a coligação liderada pelos sauditas e o movimento de resistência Huti Ansarullah.

Hans Grundberg referiu que a trégua se mantém nos mesmos termos do acordo original, sublinhando que, «nos últimos dois meses, a população experimentou benefícios tangíveis da trégua, as baixas civis diminuíram significativamente, a entrada de combustíveis no país aumentou de forma considerável e os voos comerciais foram retomados para e a partir de Saná».

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Combates no Iémen diminuíram de forma significativa com a trégua, diz enviado da ONU

Hans Grundberg disse esperar que o cessar-fogo proposto pela ONU no país árabe, em vigor há quase dois meses, se prolongue, tendo em conta a redução das hostilidades verificada.

Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a agressão da coligação liderada pelos sauditas começou em Março de 2015 
Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a trégua proposta pela ONU está em vigor desde 2 de Abril de 2022 Créditos / PressTV

Em declarações à imprensa, esta terça-feira, Grundberg destacou que, quando faltam duas semanas para o final da trégua, esta se tem mantido em termos militares, com um impacto positivo considerável na vida diária de muitos iemenitas.

«Houve uma redução drástica nos combates, sem ataques aéreos a partir do Iémen, através das suas fronteiras, e sem ataques aéreos confirmados no interior do Iémen», disse o enviado das Nações Unidas à imprensa, após uma sessão informativa à porta fechada no Conselho de Segurança.

«Por todo o Iémen, as linhas da frente acalmaram-se significativamente e há registos de um acesso humanitário crescente, incluindo nalguns locais da linha da frente a que tinha sido extremamente difícil chegar», disse, citado pela PressTV.

No passado dia 1 de Abril, Grundberg anunciou que «as partes do conflito responderam positivamente à proposta da ONU de uma trégua de dois meses», que entrou em vigor no dia seguinte.

O cessar-fogo foi implementado após sete anos de agressão contra o mais pobre dos países árabes por parte de uma coligação liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA e do Reino Unido, na sequência da queda do governo aliado de Riade.

A guerra provocou milhares de mortos e uma situação humanitária que a Organização das Nações Unidas classificou como a mais grave dos tempos modernos, sem que as potências agressoras tenham conseguido repor no poder Abd Rabbuh Mansur Hadi.

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Trégua proposta pela ONU no Iémen entrou em vigor, com registo de violações

A proposta de cessar-fogo anunciada pelo enviado especial da ONU para o Iémen foi aceite pelo movimento Huti e a coligação liderada pelos sauditas, mas estes, afirma a Al Masirah, violaram a trégua repetidamente.

Um homem e os seus filhos num zona bombardeada de Hudaydah
CréditosGiles Clarke / UNOCHA

O enviado especial das Nações Unidas, Hans Grundberg, anunciou na sexta-feira que «as partes do conflito responderam positivamente à proposta da ONU de uma trégua de dois meses», que entrou em vigor este sábado, às 19h locais.

No entanto, a cadeia de TV iemenita Al Masirah informa que, nas últimas horas, a trégua foi violada pelos sauditas tanto na província de Sa'ada, onde foram mortos três civis, como na de Hudaydah.

As Forças Armadas iemenitas afirmaram que estavam empenhadas no cessar-fogo desde que ambas as partes o respeitassem.

Nos termos da trégua, as partes comprometeram-se a cessar todas as operações militares ofensivas, dentro e fora do Iémen.

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Quem provoca as ondas de refugiados?

A manipulação de uma situação parcial num quadro muito mais amplo, pretende, entre outras coisas, minimizar ou mesmo silenciar os crimes contra os refugiados que fazem parte do quotidiano da União Europeia.

Migrantes e refugiados provenientes do Médio Oriente concentraram-se junto à passagem de Bruzgi-Kuznica, na fronteira polaca-bielorrussa, pedindo autorização para entrar na União Europeia, onde pretendem receber asilo. Grodno, Bielorrússia, 25 de Janeiro de 2021
CréditosLEONID SCHEGLOV / EPA/BELTA /HANDOUT

A atitude do governo bielorrusso de Aleksander Lukashenko para com os refugiados é condenável. Não menos condenável é o comportamento dos governos da Polónia, da Lituânia, da Estónia e da União Europeia em geral para com os refugiados. A diferença é que os órgãos de manipulação social apenas têm olhos para observar o que se passa na Bielorrússia desde o início da segunda metade deste ano, ignorando – com raras excepções – as consequências profundas da política de perseguição aos refugiados praticada há muitos anos pela União Europeia em todas as suas fronteiras. Uma política que milhares de seres humanos já pagaram com a vida.

«A União Europeia recusa-se a acolher as pessoas que tentam sobreviver fugindo dos conflitos que provocou; e entende que outras nações não podem assumir idênticos comportamentos, mesmo que nada tenham a ver com a origem dos fluxos de refugiados»

Há ainda uma outra diferença. Os refugiados que procuram entrar na União Europeia a partir da Bielorrússia, tal como os que tentam o mesmo através de outras regiões terrestres e marítimas dos 27, têm origem nas guerras provocadas pelos Estados Unidos, a NATO e potências da União Europeia; e também na política colonial, sobretudo em África, entranhada nas políticas europeia e norte-americana. As guerras sangrentas e destruidoras e o colonialismo têm efeitos bem mais graves do que qualquer «guerra híbrida» de que acusam a Rússia e a Bielorrússia, países que não podem ser responsabilizados pelas agressões militares ao Iraque, ao Afeganistão, à Síria, à Líbia, ao Iémen. A União Europeia recusa-se a acolher as pessoas que tentam sobreviver fugindo dos conflitos que provocou; e entende que outras nações não podem assumir idênticos comportamentos, mesmo que nada tenham a ver com a origem dos fluxos de refugiados. Bruxelas procura sempre encontrar bodes expiatórios para não assumir os seus desmandos em matérias como a democracia e os direitos humanos.

Os refugiados que chegam à Bielorrússia são oriundos sobretudo do Iraque e, em menor volume, do Afeganistão e da Síria. Trata-se efectivamente de refugiados e não de «imigrantes» e «imigrantes ilegais», termos que os governantes europeus e os correspondentes meios de comunicação usam preferencialmente, sempre com o objectivo de não associar esses movimentos desesperados de pessoas às guerras e outras façanhas provocadas por potências ocidentais. Sem os dramáticos conflitos impostos, que as fazem deixar tudo para trás apenas pela simples e humana necessidade de sobreviver, a esmagadora maioria dessas pessoas não pensariam sequer em emigrar dos seus países, sobretudo em casos como os da Síria e do Iraque, mesmo do próprio Afeganistão. Isto é, a grande massa dos refugiados actuais que batem às portas da União Europeia jamais seriam os «imigrantes» que agora se diz serem para iludir as opiniões públicas, a realidade e a própria História.

«Os métodos violentos de Lukachenko para lidar com o problema são inaceitáveis, tal como os adoptados pelos governos da Polónia, da Estónia e da Lituânia, que aliás têm da democracia uma ideia que se assemelha à do presidente bielorrusso»

A Bielorrússia foi apresentada aos candidatos a refugiados como um país de acesso à União Europeia, em tese mais favorável que os tradicionais pontos de passagem, por exemplo a Líbia, a Grécia e a Turquia, onde sofrem situações humilhantes com os objectivos primários de os fazer regressar ao seu país e nem sequer podem apresentar pedidos de asilo. Sabe-se que agências de viagens iraquianas têm incitado os candidatos a fugir da situação de guerra a procurar a cidade Minsk como porta de entrada na União Europeia – e não para ficarem a residir na Bielorrússia, uma solução que não estaria nos planos da maioria deles. Os métodos violentos de Lukachenko para lidar com o problema são inaceitáveis, tal como os adoptados pelos governos da Polónia, da Estónia e da Lituânia, que aliás têm da democracia uma ideia que se assemelha à do presidente bielorrusso. O executivo de extrema-direita da Polónia, xenófobo por definição e avesso ao Estado de direito, como até Bruxelas muito bem sabe, já é um velho conhecido pela rejeição de refugiados, mesmo das ínfimas quotas arduamente discutidas na União Europeia em vergonhoso jogo de empurra. A Estónia, por seu lado, tem a xenofobia inscrita nas próprias leis porque os cidadãos com nacionalidade estoniana mas de outros origens, designadamente a russa, são considerados oficialmente de segunda categoria, não lhes sendo permitido sequer votar.

Nada disto impede, contudo, que a União Europeia esteja incondicionalmente solidária com esses países no contencioso com Minsk, ávida de seguir os Estados Unidos na declaração de mais sanções e reforçadas ameaças da NATO. Penalizações essas apresentadas como respostas à dita «guerra híbrida» de Moscovo, não sendo de excluir que os inusitados incitamentos a refugiados para procurarem Minsk sejam uma nova provocação na panóplia com que Washington e Bruxelas mantêm o perigoso clima de alta tensão militar no Leste da Europa.

Os mortos e o desprezo pelas leis

Durante este ano morrem em média quatro pessoas por dia na sequência de tentativas para chegarem à Europa atravessando o Mediterrâneo Central a partir do Norte de África; e mais de 90 são interceptadas no mar por um aparelho de vigilância dirigido pela União Europeia e devolvidas aos campos de concentração na Líbia, mantidos pelas milícias terroristas islâmicas e financiados por Bruxelas. Nesses campos de terror são submetidas, como rotina, à tortura, extorsão e abusos sexuais – sabendo também que o reenvio para os seus países significará uma morte provável.

«a União Europeia patrulha o Mediterrâneo e financia as guardas costeiras líbias, associadas às milícias terroristas, para impedir que os pobres refugiados se façam ao mar correndo risco de morte; ao invés, devem permanecer em campos de concentração até serem devolvidos aos seus países, correndo risco de morte. Basta-lhes, portanto, escolher a maneira como querem morrer»

Nada disto desencoraja a União Europeia de proclamar o seu apego aos direitos humanos. Segundo Peter Stano, porta-voz para os assuntos externos da Comissão Europeia, convidado a comentar estas situações pela publicação New Humanitarian, «a nossa maior prioridade é salvar vidas no mar e continuar o nosso trabalho para impedir que se realizem viagens arriscadas». Sem dúvida uma declaração singular, de forte conteúdo humanitário: a União Europeia patrulha o Mediterrâneo e financia as guardas costeiras líbias, associadas às milícias terroristas, para impedir que os pobres refugiados se façam ao mar correndo risco de morte; ao invés, devem permanecer em campos de concentração até serem devolvidos aos seus países, correndo risco de morte. Basta-lhes, portanto, escolher a maneira como querem morrer. Mas ingressar no espaço da União, que arrasou os seus países, é que nem pensar.

Dunja Mijatovic, comissária de direitos humanos do Conselho da Europa, escreveu num relatório de Março deste ano que os países europeus «envolveram-se numa guerra para ver qual é mais eficaz a conter pessoas fora das fronteiras europeias». Citando as coordenações entre as marinhas de Estados da União e as guardas costeiras líbias, a «obstrução» de operações de salvamento desenvolvidas por organizações não-governamentais e o financiamento e implementação por Bruxelas «da gestão de fronteiras pela Tunísia e a Líbia», a comissária Mijatovic considera que estas práticas são exemplos «de uma política de imigração europeia que corta direitos humanos, viola a lei e custa a vida a milhares de seres humanos».

Um dos exemplos de violação da lei é a devolução dos refugiados aos seus países de origem, o chamado push back, cuja proibição está inscrita no direito internacional e no da própria União Europeia.

Na Grécia, a lei não é um estorvo pois o governo e o Frontex – polícia de fronteiras cujos comportamentos arbitrários e de marginalidade traduzem a existência de um «Estado» à parte no universo de instituições da UE – recorrem a um sem número de malfeitorias para expulsar os refugiados ou impedi-los de chegar a terra, deixando-os à sua sorte no mar alto, um comportamento relatado mesmo por alguns órgãos fundamentalistas do federalismo.

Já a Polónia procura restringir-se ao primado da lei, aliás de uma maneira criativa. Como o direito geral não permite a devolução de refugiados aos seus países, o governo de Varsóvia aprovou uma lei à medida da actual crise e que permite a expulsão para as suas terras das pessoas que procuram asilo na União Europeia.

Em matéria de criatividade, a Lituânia não fica atrás e, por isso, até 1 de Novembro tinha deferido apenas 6 dos 2600 pedidos de asilo. Segundo testemunhas entrevistadas pelo New Humanitarian, funcionários dos serviços de asilo revelaram que estão sob pressão dos superiores para conduzir interrogatórios agressivos de modo a que os candidatos sejam convencidos a regressar «voluntariamente» aos seus países. Nicolas, um refugiado camaronês, citou um funcionário polaco dizendo que «podemos oferecer-vos 300 euros se aceitarem regressar a casa». E rematou o refugiado: «de que me servem 300 euros se posso ser morto quando voltar a casa?»

O governo lituano procedeu também a adaptações legislativas correspondentes à actual crise. Alterou os procedimentos legais de modo a tornar mais fácil que os candidatos à concessão de asilo possam ser colocados sob detenção.

Se olharmos, porém, o histórico e os antecedentes em matéria de refugiados conclui-se que a União Europeia tem ainda uma forma de tentar aliviar as dores da Polónia e dos Estados xenófobos bálticos. Basta oferecer ao governo de Lukachenko os mesmos três mil milhões de euros anuais que paga dos nossos bolsos ao ditador turco Erdogan para manter os refugiados dentro das suas fronteiras. É duvidoso que o presidente bielorrusso aceite, mas sem tentar nunca fica a saber-se.

Os muros

Entretanto, 32 anos depois da queda do muro de Berlim, que continua a ser periodicamente celebrada no espaço da União com muitas pompas e falsificações da História, doze Estados membros pediram à Comissão Europeia – a tal instituição que nos governa em nome da democracia mas que ninguém elegeu – a concessão de fundos destinados à construção de muros para impedir a entrada e circulação de refugiados.

Tais muros devem fazer parte, muito provavelmente, das medidas previstas no âmbito do Fundo de Confiança para África, aprovado numa cimeira entre países africanos e da União realizada em Malta. Uma das prioridades desse fundo, segundo a UE, é aplicar um plano capaz de desenvolver capacidades «para controlar as fronteiras de terra, mar e ar e também as capacidades de vigilância marítima com o objectivo de prevenir a imigração irregular». Parece que ainda não morreu gente suficiente.

«a situação no Mediterrâneo Central “não é uma trágica anormalidade” mas antes uma catástrofe rotineira como “consequência concreta das decisões políticas e das práticas das autoridades líbias, dos Estados membros e instituições da União Europeia e outros actores”»

O Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos considera que a situação no Mediterrâneo Central «não é uma trágica anormalidade» mas antes uma catástrofe rotineira como «consequência concreta das decisões políticas e das práticas das autoridades líbias, dos Estados membros e instituições da União Europeia e outros actores».

Os procedimentos inconcebíveis de Lukachenko integram-se assim num cenário mais amplo e abrangente que vem muito de trás, com epicentro em Bruxelas. Não há bons nem inocentes nesta situação vergonhosa que mancha a Europa de Leste a Oeste. Um comentador e ex-ministro português, Severiano Teixeira, proclama, como um dogma, que «a culpa é de Lukachenko». A figura é irrelevante, um simples peão da NATO, mas cumpre a missão de papaguear os soundbites concebidos para uma operação de propaganda que, tirando proveito da manipulação de uma situação parcial num quadro muito mais amplo, pretende, entre outras coisas, minimizar ou mesmo silenciar os crimes contra os refugiados que fazem parte do quotidiano da União Europeia.

Por José Goulão, exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril

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Também aceitaram que 18 navios carregados com derivados de petróleo entrem no Porto de Hudaydah e que voos comerciais possam operar a partir de Saná com destino à Jordânia e ao Egipto.

As partes aceitaram ainda encontrar-se sob os auspícios do enviado especial das Nações Unidas para o Iémen com vista à abertura de estradas em Taizz e noutras províncias iemenitas, de modo a facilitar a circulação de civis.

Ao anunciar a trégua, na sexta-feira, Hans Grundberg explicou que o cessar-fogo podia ser prolongado para além dos dois meses previstos, com o consentimento das partes em conflito, indica a PressTV.

«O objectivo da trégua é proporcionar aos iemenitas uma pausa necessária na violência, um alívio do sofrimento humanitário e, o que é mais importante, a esperança de que é possível pôr fim a este conflito», disse Grundberg.

O responsável da ONU disse ainda que esperava intensificar o seu trabalho com as partes neste período de dois meses, com o propósito de alcançar um cessar-fogo permanente, de abordar medidas económicas e humanitárias urgentes, bem como de retomar o processo político.

Por seu lado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que esta trégua «deve ser o primeiro passo para acabar com a guerra devastadora no Iémen» e apelou às partes para que aproveitem esta oportunidade para «retomar um processo político abrangente e inclusivo».

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Iémen em risco de ser «esquecido», com o foco mediático na Ucrânia

Achim Steiner, director do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), alertou que o país árabe, devastado pela guerra, enfrenta uma «perspectiva extremamente preocupante».

Iemenitas inspeccionam destroços de uma casa bombardeada pela coligação liderada pelos sauditas, em Janeiro de 2022 
Créditos / PressTV

O responsável pelo PNUD lançou o alerta ao afirmar, este domingo, que, «tendo em conta a realidade geopolítica mais vasta, o risco é que o Iémen seja em parte esquecido, e isso será obviamente uma tragédia».

O conflito na Ucrânia está a ter «repercussões na economia global» e isso «irá reduzirá o alcance da solidariedade internacional para a cooperação internacional», disse Steiner no Fórum de Doha, no Catar.

«Neste momento, o mundo está centrado na guerra na Ucrânia, mas o conflito no Iémen, a situação desesperada no Afeganistão são realidades que ainda vão perdurar», disse também o director do PNUD, citado pela PressTV.

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Aumentam os bombardeamentos sauditas contra civis no Iémen

Os ataques sauditas contra o Iémen intensificam-se e o registo de vítimas civis é o maior dos últimos anos, apesar de Joe Biden ter prometido que ia acabar com esta guerra.

Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas desta madrugada 
Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas em Saná Créditos / Al Jazeera

O presidente norte-americano afirmou repetidamente que iria pôr fim à guerra no Iémen, que está na origem da maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, segundo as Nações Unidas.

No entanto, lembra o jornalista Ben Norton no portal multipolarista.com, os bombardeamentos sauditas contra o mais pobre dos países árabes, apoiados pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, atingiram o nível mais alto em vários anos – e com «a supervisão da administração de Biden».

Quem está a pagar o preço são os civis iemenitas, com um morto ou ferido a cada hora, segundo referiu a organização Save the Children no passado dia 11.

Janeiro de 2022 foi o mês mais mortífero no Iémen desde 2018. Entre 6 de Janeiro de 2 de Fevereiro, foram mortos mais de 200 adultos e 15 crianças. Outros 354 adultos e 30 crianças ficaram feridas, referiu a organização humanitária, que teme que o número real de vítimas seja bastante maior.

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Com grande preocupação humanitária, EUA decretam novas sanções contra o Iémen

Os EUA, de longe o país que mais lucrou com a chacina no Iémen e que é acusado de fazer uma guerra por procuração no terreno, impuseram novas sanções contra o país árabe.

Créditos / MintPress News

Na rede social Twitter, Mohammed Ali al-Houthi, membro do Conselho Político Supremo do Iémen, reagiu às sanções decretadas quinta-feira passada pelo Departamento norte-americano do Tesouro afirmando que «a América dá prioridade à opção da guerra no Iémen e ao mesmo tempo finge que apoia a paz». «A imposição de sanções com o pretexto de assegurar a paz representa um obstáculo para a última», disse.

Al-Houthi destacou que as medidas punitivas contra o sector privado iemenita, as impostas ao banco central do país, os bombardeamentos a fábricas e outras infra-estruturas produtivas, o bloqueio que conduz o povo à fome e o fim do pagamento dos salários aos funcionários públicos são crimes, que se enquadram no esquema sistemático para sufocar a economia iemenita, refere a PressTV.

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Autocarro escolar no Iémen foi atacado com bombas norte-americanas

Fragmentos de bombas MK-82, de fabrico norte-americano, são visíveis nas imagens que um jornalista divulgou do local onde um autocarro cheio de crianças foi atacado pelos sauditas, no Iémen.

Destroços de um edifício bombardeado pelos sauditas na capital do Iémen, Saná, em Outubro de 2016. Estima-se que 140 pessoas tenham morrido e perto de 600 tenham ficado feridas
Destroços de um edifício bombardeado pelos sauditas na capital do Iémen, Saná, em Outubro de 2016. Também aqui foram encontrados fragmentos da bomba MK-82, de fabrico norte-americanoCréditos / The Independent

Caças da coligação liderada pelos sauditas atingiram, no passado dia 9, um autocarro escolar na zona de Dahyan, na província iemenita de Sa'ada, provocando mais de 50 vítimas mortais – 40 das quais terão sido crianças, de acordo com as autoridades Hutis – e cerca de 80 feridos.

Segundo a informação divulgada no sábado por Nasser Arrabyee, um jornalista local, a coligação comandada pelos sauditas terá usado munições de fabrico norte-americano.

«Restos das bombas dos EUA que mataram as crianças iemenitas no mais recente massacre e crime de guerra saudita-norte-americano, de 9 de Agosto de 2018, em Sa'ada, Norte do Iémen», escreveu Nasser Arrabyee no Twitter [pic.twitter.com/z8bvadwncG – @narrabyee] a acompanhar as fotos dos fragmentos das bombas MK-82 que alegadamente foram retirados do local do bombardeamento contra o autocarro escolar.

Na peça em que chama a atenção para o tweet e a informação nele contida, esta segunda-feira, a RT sublinha que as imagens ainda carecem de verificação independente, mas lembra que não é a primeira vez que fragmentos de bombas Raytheon Mark 82 são encontrados em locais onde a coligação liderada pelos sauditas levou a cabo massacres contra a população civil no Iémen desde o início da campanha militar, em Março 2015.

A MK-82, bomba de 227 quilos e fabricada pela empresa norte-americana General Dynamics, foi também usada quando os caças sauditas atacaram, em Outubro de 2016, um funeral na capital do país, Saná. Então, 140 pessoas foram mortas e mais de 500 ficaram feridas.

Pentágono diz que é impossível seguir o rasto da bomba

O fluxo armementístico de Washington para Riade é enorme, mas a Arábia Saudita não é destino único da MK-82, como deixou claro, na semana passada, um porta-voz do Pentágono. De acordo com o major Josh Jacques, poderá ser impossível saber de onde veio a bomba que foi usada no ataque contra o autocarro escolar no dia 9 de Agosto.

Isto porque, segundo refere a RT, em 2016 os EUA aprovaram a venda dessa bomba à Arábia Saudita, aos Emirados Árabes Unidos, à França e ao Iraque, e prolongaram os contratos de venda já existentes com a Austrália e o Bahrain. Portanto, na lógica do Pentágono, pode nunca vir a saber-se se a munição usada em Sa'ada «foi uma das que nós lhes vendemos a eles» (os sauditas, entenda-se).

Negócio de muitos milhões

Recorde-se que a Arábia Saudita é um dos principais destinos do armamento fabricado nos países ocidentais e, de modo sintomático, foi o primeiro país que Donald Trump visitou depois de tomar posse, em Janeiro do ano passado.

Nessa visita, foi anunciado que Washington poderia vender a Riade equipamento militar no valor de 110 mil milhões de dólares num período de dez anos. Então, o Departamento de Estado afirmou que o acordo poderia chegar aos 350 mil milhões de dólares.

De acordo com um estudo divulgado em Março último, os EUA venderam, no ano passado, armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos no valor de 650 mil milhões de dólares.

Em Abril, a administração norte-americana deu luz verde ao negócio, no valor de 1,3 mil milhões de dólares, de venda de artilharia aos sauditas, apesar dos relatórios que evidenciam que esse armamento contribui para o massacre de civis e das críticas crescentes de organismo internacionais.

Um estudo do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), de Março deste ano, revela que os EUA foram, no período compreendido entre 2013 de 2017, o principal exportador de armas a nível mundial: as suas exportações representaram 34% de todos os negócios registados pelo organismo referido.

O mesmo estudo revela que, nos últimos cinco anos, os EUA aumentaram a venda de armamento em 25%, sendo o Médio Oriente o destino de quase metade desse armamento.

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Na quinta-feira passada, dia 10, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs novas sanções ao país árabe, desta vez centradas numa rede que é acusada de financiar o movimento de resistência popular Huti Ansarullah – que está no cerne do governo que administra o país a partir da capital, Saná, e lidera a resistência à agressão externa que lhe é imposta desde Março de 2015.

«Esta rede gera dezenas de milhões de dólares em receitas da venda de commodities, como o petróleo iraniano, uma parte significativa da qual é depois direccionada através de uma complexa rede de intermediários e casas de câmbio em vários países para os Hutis», afirmou o Departamento do Tesouro em comunicado.

Entre os alvos directos destas novas sanções contam-se dois iemenitas, dois sírios, um emiradense, um somali e um indiano, além de entidades com sede no Dubai, Istambul e Saná, informa a PressTV.

A memória curta do Tesouro

«O apoio financeiro desta rede permite os ataques deploráveis dos Hutis, que ameaçam infra-estruturas civis e críticas no Iémen e na Arábia Saudita. Estes ataques minam os esforços para acabar o conflito e, o que é mais trágico, deixam dezenas de milhões de civis inocentes a morrer à fome», refere ainda o comunicado.

O texto do Tesouro – tão preocupado com a fome dos iemenitas e com os ataques que ameaçam infra-estruturas civis – não faz menção ao papel dos EUA na guerra de agressão ao Iémen, ao apoio que foi prestado pelos norte-americanos desde o início à coligação liderada pelos sauditas, aos milhares de milhões de dólares que os EUA lucraram com a venda de armamento aos sauditas – algum do qual, como se veio a provar, foi utilizado para massacrar a população civil do Iémen.

Os milhares de mortos, a fome, a cólera, a maior crise humanitária dos tempos modernos, como a classifica a ONU, não existiriam no Iémen sem Washington – agente primeiro na guerra, tal como o Reino Unido, e outras potências ocidentais (França e Alemanha) e regionais (Israel, Emirados Árabes Unidos, Egipto), em maior ou menor escala.

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No próximo mês, passam sete anos desde o início da guerra de agressão contra o Iémen. Em Março de 2015, a Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar o vizinho do sul, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

Ao longo da campanha eleitoral, em 2020, Joe Biden prometeu que poria fim a este conflito – uma intenção que reafirmou no ano seguinte, dizendo, já enquanto presidente, que estava a acabar com o apoio dos EUA às operações «ofensivas» sauditas no Iémen, lembra Norton.

A agressão militar saudita, que provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, e destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes não poderia ter sido levada a cabo sem o apoio político, militar e logístico norte-americano e britânico.

Além disso, os EUA destacaram-se como um dos grandes fornecedores de armamento à monarquia saudita, tendo lucrado milhares de milhões de dólares com esta guerra – ao lado do Reino Unido e de uma lista mais longa, que inclui a Alemanha, a França e outros.

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Venda de armas aos sauditas é sinal «preocupante» do arrastar da guerra no Iémen

O Departamento de Estado dos EUA aprovou o primeiro grande negócio de venda de armas aos sauditas na administração de Biden, algo que pode revelar a intenção de Riade de prolongar a agressão ao Iémen.

Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a agressão da coligação liderada pelos sauditas começou em Março de 2015 
Créditos / PressTV

Num comunicado emitido quinta-feira passada, o Pentágono deu conta da aprovação, pelo Departamento de Estado norte-americano, da venda de 280 mísseis ar-ar à Arábia Saudita, no valor de 650 milhões de dólares, para que Riade pudesse fazer frente a ameaças actuais e futuras.

Para o académico norte-americano Richard Falk, especialista em direito internacional e relações internacionais, o primeiro grande negócio de vendas de armas da era Biden aos sauditas, «os chamados mísseis defensivos ar-ar», constitui «um sinal preocupante das intenções sauditas de prosseguimento das suas políticas cruéis de devastação do Iémen».

Numa entrevista à PressTV, Falk, que foi professor na Universidade de Princeton durante mais de três décadas, afirmou que «a posse de uma defesa anti-mísseis mais segura permite aos sauditas continuarem a sua intervenção armada no Iémen, e possivelmente noutros locais, com menor temor de ataques de retaliação».

Richard Falk destacou as «relações especiais» entre Washington e Riade, afirmando que os EUA procuram defender os interesses sauditas e desviar as críticas que são dirigidas a Riade nas Nações Unidas.

EUA usam a sua influência para proteger a Arábia Saudita

«Os Estados Unidos estão a usar a sua influência geopolítica para proteger a Arábia Saudita da crítica na ONU e noutros lugares, gozando novamente com os compromissos colectivos de segurança e com a proibição incondicional da Carta das Nações Unidas do uso de força não defensiva. Estas relações especiais deixam claro que as relações internacionais continuam a ser moldadas pela primazia da geopolítica e não pelas normas internacionais», disse o académico.

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EUA são o maior exportador de armas e a Arábia Saudita o maior importador

Um relatório recente revelou que os EUA foram responsáveis por mais de um terço da venda de armamento a nível mundial nos últimos cinco anos, enquanto os sauditas foram os que mais importaram.

Donald Trump, president dos EUA, num encontro na Casa Branca com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, em Washington, Março de 2018
Créditos / CGTN

As exportações de armas que tiveram como origem os EUA, entre 2016 e 2020, representaram 37% de todos os negócios registados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Metade das exportações norte-americanas de armamento teve como destino o Médio Oriente, e a Arábia Saudita foi de longe o principal parceiro de negócio no período referido, representando quase um quarto de todas as vendas dos EUA (24%).

O instituto sediado em Estocolmo afirma que, entre 2016 e 2020, as exportações de armas dos EUA aumentaram 15% em comparação com o período 2011-2015.

A Rússia foi o segundo maior exportador de armas a nível global, representando um quinto do total de exportações registadas (com menos 22% de vendas que no período 2011-2015).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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A França, com 8% das vendas, é o terceiro maior exportador. Seguem-se a Alemanha (5,5%) e a China (5,2%), para fechar a lista dos cinco países que mais armas venderam entre 2016 e 2020. Na parte inferior do «top dez» situam-se Reino Unido, Espanha, Israel, Coreia do Sul e Itália.

O SIPRI nota que, por comparação com 2011-2015, os últimos cinco anos registaram um pequeno decréscimo no volume de vendas de armamento (menos 0,5%), pondo fim a mais de uma década de aumentos sucessivos.

Foi a primeira vez desde o período 2001-2005 que o volume de trocas de armas entre países – um indicador da procura – não registou um aumento por comparação com o período anterior de cinco anos.

Arábia Saudita, o maior importador

Os países do Médio Oriente registaram o maior aumento de importações de armas a nível mundial entre 2016 e 2020, importando mais 25% que nos cinco anos anteriores. Arábia Saudita (61%), Egipto (136%) e Catar (361%) registam os maiores aumentos.

Quatro dos dez maiores importadores de armas são desta região, que representa 33% das importações a nível global: aos três países referidos juntam-se os Emirados Árabes Unidos. Só a Arábia Saudita representa 11% de todo o volume de armas importadas mundialmente nestes cinco anos.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Os EUA foram responsáveis por mais de metade das armas exportadas para a região (52%), seguindo-se a Rússia (13%) e a França (12%).

A região do mundo que mais armas importou foi a Ásia e Oceânia (42%). Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Paquistão foram os países que mais armas importaram na região.

O SIPRI afirma que é cedo para dizer se uma recessão associada à pandemia de Covid-19 pode fazer abrandar os negócios de armas. «O impacto económico da Covid-19 podia levar alguns países a diminuir as importações de armas nos próximos anos. No entanto, ao mesmo tempo, mesmo no auge da pandemia, em 2020, vários países assinaram grandes contratos de armamento», releva o SIPRI.

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Questionado sobre se este negócio «é consistente com a promessa do governo dos EUA de liderar a diplomacia com vista a pôr fim ao conflito no Iémen», Falk respondeu que não, rejeitando a declaração como uma alegação «falsa».

«Esta é uma afirmação claramente falsa», acusou, acrescentando que os mísseis ar-ar protegem o espaço político nacional saudita, dando ao reino a liberdade de fazer a guerra fora de seu território com expectativas substancialmente reduzidas de ver o seu país atacado. «Por outras palavras, o objectivo do armamento defensivo é muitas vezes isolar a guerra ofensiva da retaliação e, dado o historial saudita, esse parece ser o caso», frisou Richard Falk.

Não há «incentivo para a via diplomática»

«Tal militarismo parece fazer aumentar a capacidade de combate da Arábia Saudita e não apresenta nenhum incentivo para acabar com o conflito no Iémen pela via diplomática. Se a intenção fosse uma mudança no sentido da diplomacia, poderia ter sido sinalizada oferecendo às forças opositoras iemenitas capacidades militares equivalentes ou condicionando a venda dos mísseis a um esforço de boa-fé para resolver o conflito através de negociações. Não houve nenhum esforço tangível ou credível nessa direcção», acrescentou.

O académico norte-americano criticou a incapacidade da ONU para pôr fim ao conflito no Iémen, afirmando que «estamos a assistir a mais um caso em que a ONU e a segurança internacional são incapazes face aos alinhamentos geopolíticos que se dedicam a encontrar soluções militares para conflitos políticos».

«Nesta perspectiva, não há um ponto final à vista para o conflito e o sofrimento humano no Iémen, e é provável que não surja nenhum, a não ser que a Arábia Saudita se sinta ameaçada por outras fontes ou enfrente pressões internas significativas. A morte dos iemenitas, infelizmente, não faz parte dos cálculos políticos realizados pelos cínicos criadores dos objectivos da política externa de Riade», sublinhou.

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Quebrando a promessa de pôr fim à guerra, a administração de Biden não só não está a pressionar a Arábia Saudita nesse sentido, como continuou a vender tecnologia militar à monarquia do Golfo e, segundo refere o portal multipolarista.com, pondera inclusive voltar a classificar a resistência Huti Ansarullah como «terrorista», tal como o fez o seu antecessor, Donald Trump.

Entretanto, o Conselho Norueguês de Refugiados alertou que o número de civis mortos ou feridos no Iémen quase duplicou desde que o Conselho de Direitos Humanos da ONU votou a favor de acabar com o mandato dos especialistas que analisavam crimes de guerra no Iémen, em Outubre último.

«Nos quatro meses anteriores ao fim da monitorização dos direitos humanos, 823 civis foram feridos ou mortos na guerra. Nos quatro meses que se seguiram, foram 1535 civis», informou o conselho.

Neste período, houve 39 vezes mais vítimas civis provocadas pelos ataques aéreos sauditas.

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Em Março de 2015, uma coligação liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, e suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah, que, em conjunto com o Exército iemenita, tem resistido aos invasores.

A agressão militar, que agora cumpriu sete anos, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes e provocou centenas de milhares de mortos, feridos e deslocados, tendo estado na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

«A perspectiva para o povo iemenita é, neste momento, extremamente preocupante», alertou Steiner, acrescentando: «A realidade é que o desespero, a pobreza e a destruição atingiram um nível no Iémen em que a maioria da população, de uma forma ou de outra, já não é capaz de se sustentar a si mesma.»

Cortes nos fundos e na ajuda humanitária

As afirmações do responsável das Nações Unidas tiveram lugar no mesmo dia em que a aviação saudita bombardeou zonas residenciais na capital iemenita, Saná, e outras regiões do país, depois de, no sábado, o movimento Huti Ansarullah ter declarado um cessar-fogo de três dias.

A trégua unilateral seguiu-se a uma vaga de ataques com mísseis e drones, na sexta-feira, que atingiram alvos em vários pontos da Arábia Saudita, incluindo instalações petrolíferas na cidade de Jeddah.

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ONG alerta para solidariedade selectiva com desvio de fundos para a Ucrânia

A Oxfam International alertou esta sexta-feira para o desvio de ajudas já destinadas a certos países como forma de fazer frente à crise migratória com origem na Ucrânia.

De acordo com as Nações Unidas, pelo menos 12 milhões de pessoas enfrentam uma seca devastadora e passam fome na Somália, no Quénia e na Etiópia 
Créditos / @UNOCHA

As repercussões mundiais da actual «crise ucraniana» – que já se sentem no aumento dos preços de bens, alimentação e energia – poderiam minar os fundos de ajuda dos países doadores, destinados a pessoas que estão noutros «pontos quentes» humanitários, refere a organização não governamental (ONG) numa nota de imprensa.

Neste sentido, o organismo indica que a União Europeia (UE) reduziu para mais de metade os fundos humanitários para Timor-Leste. Outros doadores adiantaram que vão cortar em 70% a ajuda oficial para o desenvolvimento do Burkina Faso, e outros países da África Ocidental estão a receber notícias semelhantes.

Evelien Van Roemburg, directora do gabinete da Oxfam na UE, sublinhou que a população do Iémen e da Síria, os milhões que passam fome na África Oriental e Ocidental ou as pessoas que estão em acampamentos no Bangladesh «não devem ser penalizados» por causa dos cuidados que o povo da Ucrânia deve ter.

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Migrantes e refugiados passam por «horrores inimagináveis» ao atravessar a Líbia

Um relatório da ONU divulgado esta quinta-feira denuncia as «violações massivas de direitos humanos» dos migrantes e refugiados quando atravessam a Líbia em busca de uma vida melhor.

Um migrante num centro de detenção na Líbia, quando da visita de uma equipa da Unicef, em Fevereiro de 2017
CréditosRomenzi / Unicef

O relatório, publicado conjuntamente pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL, na sigla em inglês), revela com detalhe uma série de «terríveis violações e abusos cometidos tanto por funcionários estatais como por grupos armados e traficantes de pessoas».

No resumo que antecede o documento propriamente dito – com 61 páginas e acessível apenas em inglês –, afirma-se que a investigação abarca um período de 20 meses até Agosto de 2018 e foi levada a cabo por funcionários das Nações Unidas especializados em direitos humanos, que entrevistaram mais de 1300 migrantes e refugiados na Líbia, na Nigéria e em Itália.

Com base nas entrevistas e também nas visitas efectuadas a centros de detenção na Líbia, os funcionários registaram os «horrores inimagináveis» por que passam os migrantes e refugiados «desde que entram em território líbio, durante o tempo que ali permanecem e – quando conseguem sobreviver – nas tentativas de atravessar o Mar Mediterrâneo».

Entre os «horrores referidos», contam-se casos de execução extrajudicial, torturas, detenções arbitrárias, violações em grupo, escravidão e trabalho forçado, denunciam ambos os organismos das Nações Unidas, sublinhando que «o clima de anarquia» que se vive actualmente no país africano é «terreno fértil para as actividades ilícitas, como o tráfico de pessoas e o contrabando».

«Aqueles que conseguem chegar à costa e, no final, tentam empreender a perigosa travessia do Mediterrâneo são interceptados de forma crescente pela Guarda Costeira da Líbia (GCL), que os leva de volta para a Líbia, onde muitos são novamente submetidos ao esquema de abusos de que acabaram de escapar», alerta o relatório.

Os cerca de 29 mil migrantes que a GCL obrigou a regressar ao país africano desde o início de 2017 foram transferidos para centros de detenção do Departamento de Combate à Migração Ilegal e, segundo refere o texto, milhares deles «continuam detidos indefinida e arbitrariamente, sem o devido processo, acesso a apoio legal ou a serviços consulares».

Neste sentido, as Nações Unidas lamentaram que a União Europeia e os seus estados-membros tenham mantido «uma política que visa reduzir a possibilidade de os migrantes e refugiados alcançarem as costas europeias», «contribuindo para que milhares de pessoas, desesperadas, fiquem presas na Líbia».


Ghassan Salamé, representante especial do secretário-geral da ONU e directora da UNSMIL, frisou que existe um «fracasso local e internacional na abordagem a esta calamidade humana escondida que continua a ter lugar na Líbia».

Por seu lado, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, destacou que «a situação é absolutamente horrorosa», e lembrou a necessidade de combater «a impunidade generalizada» para «acabar com o sofrimento de dezenas de milhares» de migrantes e refugiados, que «apenas procuram uma vida melhor».

Um país que «não é seguro», destruído pela NATO

As Nações Unidas consideram que a Líbia não é um «país seguro». Mais que isso, a Líbia é, desde a intervenção promovida em 2011 pelos EUA, a França, o Reino Unido e seus aliados contra o governo de Muammar Khadafi, um Estado falhado, destruído, onde diversos grupos armados passaram a lutar entre si pelo controlo de território e de recursos.

Em 2010, a Líbia era o país com maior Índice de Desenvolvimento Humano no continente africano, de acordo com dados das Nações Unidas. Com os seus imensos recursos aquíferos, petrolíferos e de gás a saque, a população das cidades líbias passou a sofrer de escassez de água, cortes de luz e falta de instalações médicas.

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Citada no portal da ONG, Van Roemburg denuncia que «todos os dias ouvimos falar de super-iates e mansões apreendidos», enquanto multimilionários de todas as nacionalidades crescem de forma «obscena» com a especulação, a evasão fiscal e o aumento vertiginoso dos lucros corporativos e dos preços das acções.

«Rejeitamos qualquer afirmação de acordo com a qual ajudar um refugiado da Ucrânia ou um agricultor faminto da Somália seja uma escolha», acrescentou.

Os países nórdicos prometeram 300 milhões de euros – quase por inteiro a Noruega – para ajudar a Ucrânia, mas isto equivale a 40% dos fundos de ajuda orçamentados pela Noruega e, se não houver um reforço, haverá grandes cortes noutros programas, indica a nota.

«Risco de catástrofe» no Iémen

Também esta semana, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, alertou para situação humanitária no Iémen, após sete anos de cerco e guerra de agressão liderada pelos sauditas – com apoio dos EUA –, e num contexto de falta de fundos para a ajuda humanitária.

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Iémen: má-nutrição infantil atinge nível mais elevado

«Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças», alertou a coordenadora humanitária da ONU para o Iémen, Lise Grande.

Pai com criança ao colo, apresentando sinais de má-nutrição aguda grave, numa província do Iémen, em Setembro de 2020
Créditos / PressTV

As Nações Unidas alertaram para «o nível mais elevado» de má-nutrição entre crianças pequenas em determinadas zonas do país árabe, que há cinco anos e meio é alvo de uma violenta campanha militar liderada pela Arábia Saudita.

A escalada da guerra, a crise económica, o grande impacto da pandemia de Covid-19 e a interrupção, por falta de fundos, em projectos de ajuda – ao nível do apoio alimentar e serviços de saneamento, água e higiene – «conduziram à beira do precipício uma população já exausta».

Num comunicado conjunto emitido esta semana, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Programa Alimentar Mundial e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirmaram que mais de meio milhão de crianças com menos de cinco anos no Sul do Iémen apresentam níveis de desnutrição aguda jamais registados no país, acrescentando que um estudo em curso no Norte deve apresentar resultados «igualmente preocupantes».

De acordo com o relatório das três agências das Nações Unidas, nas áreas estudadas (133 distritos no Sul do país árabe) registou-se um aumento de 15,5% de casos de má-nutrição aguda grave entre as crianças com menos de cinco anos, o que significa que pelo menos 98 mil menores nessa faixa etária correm um «risco elevado de morrer» se não receberem tratamento urgente.

«Os dados que estamos a divulgar confirmam que a má-mutrição aguda entre as crianças está a atingir os níveis mais altos que vimos desde que a guerra começou», disse Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU para o Iémen.

Acrescentou que, desde Julho, tem vindo a chamar a atenção para esta situação e que «o Iémen está à beira de uma crise de segurança alimentar catastrófica». «Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças pequenas», avisou a funcionária das Nações Unidas.

Guerra de agressão e pior crise humanitária do mundo

O Iémen enfrenta a pior crise humanitária do mundo. Particularmente afectada pela fome, a população iemenita tem sido também atingida por doenças como cólera, difteria, sarampo e dengue, na sequência da guerra de agressão lançada pela Arábia Saudita em Março de 2015, à frente de uma coligação de países aliados e que contou com forte apoio do Ocidente, nomeadamente dos EUA e do Reino Unido.


Apesar de não ter conseguido alcançar os objectivos declarados de suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, a coligação liderada pelos sauditas prossegue a guerra, continuando a fazer baixas entre a população civil, incluindo crianças.

Segundo as agências da ONU, quase 80% da população iemenita (24 milhões de pessoas) dependem de alguma forma de ajuda. Em meados de Outubro, as agências apenas tinham recebido 1,43 mil milhões de dólares dos 3,2 mil milhões que são necessários, em 2020, para financiar os projectos de ajuda humanitária no Iémen.

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Apesar de a ONU ter classificado a situação no Iémen como a maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, após quase sete anos seguidos de «morte, destruição, deslocações, fome… numa escala massiva», o secretário-geral revelou que o organismo e os seus parceiros foram obrigados a «redimensionar ou encerrar» dois terços dos programas vitais no país árabe devido a falta de fundos.

De acordo com o responsável pelos Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, são necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, este ano, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen.

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Achim Steiner mostrou-se preocupado com o facto de este conflito «receber menos atenção» e, acima de tudo, com a possibilidade de os doadores internacionais «irem cortar fundos». «Isto devia-nos preocupar a todos», frisou.

Aproximadamente 80% dos cerca de 30 milhões de iemenitas dependem de ajuda para sobreviver. Este mês, a ONU referiu que eram necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, em 2022, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen. No entanto, o organismo só conseguiu juntar 1,3 mil milhões.

Isto significa que «aquilo que vamos ver ao longo de 2022 é uma redução maior da ajuda humanitária […]. Tudo isto estará comprometido», disse Steiner.

«Esta guerra… não resolveu nada», sublinhou.

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O chefe da delegação negociadora iemenita, Mohammad Abdul Salam, congratulou-se com este anúncio, enquanto Mohammad Ali al-Houthi, membro do Conselho Político Supremo, disse que «o povo deve ter cuidado» e que a trégua só será «credível ao ser implementada».

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, país considerado um aliado do movimento de resistência Huti, também se congratulou com a trégua.

Saeed Khatibzadeh, porta-voz governamental, disse este sábado ter esperança de que o cessar-fogo alcançado seja o prelúdio do levantamento completo do bloqueio ao Iémen e do estabelecimento de uma trégua permanente.

Manifestou igualmente o apoio de Teerão a uma solução política e humanitária para o conflito no mais pobre dos países árabes.

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Fazendo uma avaliação positiva da implementação da trégua, Hans Grundberg reconheceu que os combates continuaram e provocaram baixas civis. «Continuamos a ver relatórios preocupantes de combates contínuos, implicando incidentes com baixas civis, apesar da redução global», disse.

O enviado da ONU sublinhou a necessidade de abrir estradas em Taiz e outras zonas do país, o que facilitaria enormemente as deslocações e melhoraria a vida diária das populações. «Tivemos respostas positivas de todas as partes para avançar com isso», frisou.

«A promessa da trégua aos civis era de mais segurança, melhor acesso a bens e serviços essenciais, e maior liberdade de movimento dentro, para e a partir do Iémen», destacou Grundberg, acrescentando que «os iemenitas não se podem dar ao luxo de voltar ao estado anterior ao cessar-fogo, de escalada militar perpétua e impasse político».

Primeiro voo comercial em quase seis anos

O enviado da ONU disse ainda que o primeiro voo comercial em quase seis anos partiu do Aeroporto Internacional de Saná, na segunda-feira, e que outro voo trouxe iemenitas de volta.

O avião da Yemenia, com 126 passageiros a bordo, incluindo alguns doentes que esperavam há anos por tratamentos no estrangeiro, levantou voo com destino a Amã, capital da Jordânia.

Hans Grundberg referiu-se a este passo como algo de «importante», que era «há muito esperado». «Isto trouxe alívio a tantos iemenitas que esperaram tanto tempo para viajar, muitos deles por razões médicas urgentes, ou em busca de oportunidades de negócio ou educativas, ou para se reunirem com os seus seres queridos após anos de separação», sublinhou Grundberg.

«Estamos a trabalhar com todos os envolvidos para garantir a regularização dos voos durante a trégua e para encontrar mecanismos duradouros que permitam mantê-lo aberto», disse.

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No entanto, o enviado da ONU destacou a necessidade de «abordar com urgência» o bloqueio terrestre, aéreo e naval imposto ao Iémen por Riade e seus aliados. «Para que a trégua atinja plenamente o seu potencial, será necessário tomar medidas adicionais, particularmente no que respeita à abertura de estradas e às operações de voos comerciais», disse, citado pela PressTV.

«Continuarei a dialogar com as partes para implementar e consolidar plenamente todos os elementos da trégua, e avançar para uma solução política sustentável para o conflito que satisfaça as legítimas aspirações das mulheres e dos homens iemenitas», afirmou Grundberg.

Nos últimos dois meses, ambas as partes se acusaram de violar repetidamente a trégua em curso, mas, tal como ressaltou o enviado da ONU em meados de Maio, «verificou-se uma redução drástica nos combates».

Mais de sete anos de guerra de agressão

Em Março último, cumpriram-se sete anos da guerra de agressão contra o Iémen. A Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar contra o vizinho do sul, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

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Protestos marcaram a grande feira do armamento em Londres

A Defence & Security Equipment International (DSEI) é uma feira onde os fabricantes de armas mostram os mais recentes produtos e tecnologias. Jovens comunistas e outras organizações realizaram protestos.

Protesto da Young Communist League em Londres 
Créditos / YCL-London

A feira bienal, que começou dia 14 e termina hoje, no Exhibition Centre London (ExCeL), em Londres, tem sido palco de protestos.

Para o dia de abertura, as organizações Campanha contra o Comércio de Armas (CAAT, na sigla em inglês) e Stop The Arms Fair convocaram uma mobilização contra aquilo que designaram como «conduta de uma das maiores feiras de armamento do mundo».

Para os organizadores do protesto, no ExCeL «fazem negócio aqueles que lucram com a guerra, a repressão e a injustiça». A Young Communist League (YCL-Britain) também organizou um protesto em Londres, refere o Peoples Dispatch.

A feira DSEI é um dos principais pontos de encontro e negócio dos fabricantes de armamento. Na edição de 2019, revelou a imprensa, participaram cerca de 1700 empresas.

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EUA são o maior exportador de armas e a Arábia Saudita o maior importador

Um relatório recente revelou que os EUA foram responsáveis por mais de um terço da venda de armamento a nível mundial nos últimos cinco anos, enquanto os sauditas foram os que mais importaram.

Donald Trump, president dos EUA, num encontro na Casa Branca com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, em Washington, Março de 2018
Créditos / CGTN

As exportações de armas que tiveram como origem os EUA, entre 2016 e 2020, representaram 37% de todos os negócios registados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Metade das exportações norte-americanas de armamento teve como destino o Médio Oriente, e a Arábia Saudita foi de longe o principal parceiro de negócio no período referido, representando quase um quarto de todas as vendas dos EUA (24%).

O instituto sediado em Estocolmo afirma que, entre 2016 e 2020, as exportações de armas dos EUA aumentaram 15% em comparação com o período 2011-2015.

A Rússia foi o segundo maior exportador de armas a nível global, representando um quinto do total de exportações registadas (com menos 22% de vendas que no período 2011-2015).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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A França, com 8% das vendas, é o terceiro maior exportador. Seguem-se a Alemanha (5,5%) e a China (5,2%), para fechar a lista dos cinco países que mais armas venderam entre 2016 e 2020. Na parte inferior do «top dez» situam-se Reino Unido, Espanha, Israel, Coreia do Sul e Itália.

O SIPRI nota que, por comparação com 2011-2015, os últimos cinco anos registaram um pequeno decréscimo no volume de vendas de armamento (menos 0,5%), pondo fim a mais de uma década de aumentos sucessivos.

Foi a primeira vez desde o período 2001-2005 que o volume de trocas de armas entre países – um indicador da procura – não registou um aumento por comparação com o período anterior de cinco anos.

Arábia Saudita, o maior importador

Os países do Médio Oriente registaram o maior aumento de importações de armas a nível mundial entre 2016 e 2020, importando mais 25% que nos cinco anos anteriores. Arábia Saudita (61%), Egipto (136%) e Catar (361%) registam os maiores aumentos.

Quatro dos dez maiores importadores de armas são desta região, que representa 33% das importações a nível global: aos três países referidos juntam-se os Emirados Árabes Unidos. Só a Arábia Saudita representa 11% de todo o volume de armas importadas mundialmente nestes cinco anos.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Os EUA foram responsáveis por mais de metade das armas exportadas para a região (52%), seguindo-se a Rússia (13%) e a França (12%).

A região do mundo que mais armas importou foi a Ásia e Oceânia (42%). Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Paquistão foram os países que mais armas importaram na região.

O SIPRI afirma que é cedo para dizer se uma recessão associada à pandemia de Covid-19 pode fazer abrandar os negócios de armas. «O impacto económico da Covid-19 podia levar alguns países a diminuir as importações de armas nos próximos anos. No entanto, ao mesmo tempo, mesmo no auge da pandemia, em 2020, vários países assinaram grandes contratos de armamento», releva o SIPRI.

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Este ano, há mais de 800 expositores, em que se incluem os dez maiores fabricantes de armamento do mundo, indica o Peoples Dispatch, acrescentando que delegados estatais e militares de mais de cem países foram oficialmente convidados pelo governo britânico.

A CAAT manifestou especial preocupação com a participação da Arábia Saudita, na medida em que é um dos maiores compradores de armamento.

Além disso, lidera uma coligação que há mais de seis anos leva a cabo uma guerra de agressão contra o Iémen, que provocou dezenas de milhares de mortos e uma das maiores crises humanitárias da história recente.

Samuel Perlo-Freeman, da CAAT, disse que a lista oficial de convidados pelo governo britânico para a DSEI «tem como objectivo expresso juntá-los com os maiores negociantes de armas na Grã-Bretanha e no mundo, mostrando que [o executivo] não é sério no que respeita ao controlo da exportação de armas, à paz mundial, aos direitos humanos ou ao bom governo».

«Os negócios de armas realizados na feira farão do mundo um sítio mais perigoso», frisou.

Por seu lado, o comité londrino da Young Communist League afirmou que «não ia tolerar imperialistas a vender armas a estados repressores debaixo do seu nariz».

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A agressão militar, que destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes e provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, esteve na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

Os EUA destacaram-se como um dos grandes fornecedores de armamento à monarquia saudita, tendo lucrado milhares de milhões de dólares com esta guerra – ao lado do Reino Unido e de uma lista mais longa, que inclui a Alemanha, a França, o Canadá e outros.

Em Novembro do ano passado, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento afirmou que, no final de 2021, o número de pessoas mortas na guerra, por motivos directos ou indirectos, devia atingir os 377 mil.

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«Se a coligação militar liderada pelos sauditas continuar a violar a trégua, o Iémen não aceitará um cessar-fogo falhado», alertou, citado pela PressTV.

Afirmou ainda que aquilo que foi alcançado como resultado da trégua não chega a 10% do que foi declarado no acordo.

As autoridades iemenitas em Saná têm-se queixado reiteradamente da violação do cessar-fogo por parte da coligação saudita, nomeadamente por via da apreensão de petroleiros com destino ao porto iemenita de Hudaydah.

ONU espera que a trégua possa conduzir a um acordo mais amplo

Na passada sexta-feira, o enviado especial das Nações Unidas para o Iémen, Hans Grundberg, afirmou que o actual cessar-fogo pode ser um precursor de um acordo de paz mais vasto.

No Fórum Internacional sobre o Iémen, que decorreu em Estocolmo (Suécia), Grundberg mostrou-se optimista, «apesar de todos os desafios». «Sabemos que é frágil, sim, que está longe de ser perfeito, mas está-se a aguentar», disse, referindo-se ao cessar-fogo em vigor.

Neste contexto, já foram retomados voos do Aeroporto Internacional de Saná com destino a Amã (Jordânia) e ao Cairo (Egipto), e alguns petroleiros puderam atracar em Hudaydah.

À margem do fórum, Grundberg disse à AFP que a trégua «trouxe um alívio humanitário à população sem precedentes na história do conflito», e, desse ponto de vista, também permite às Nações Unidas ter «espaço e margem de manobra para se empenhar num acordo político».

As partes têm mantido reuniões directas na capital da Jordânia, apoiadas pelas Nações Unidas, pela primeira vez num ano, o que permite pensar num acordo mais amplo, disse ainda Grundberg.

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Na nota ontem emitida, a UNOCHA informou ainda que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) poderá ter de suspender, em Julho, o apoio a 50 mil crianças com má-nutrição severa, bem como o apoio à saúde materno-infantil que, até Julho, deve abranger até 2,5 milhões de crianças e 100 mil mulheres.

No mesmo mês, a Unicef deverá igualmente suspender o trabalho que realiza ao nível da água potável e saneamento, e que abrange cerca de 3,6 milhões de iemenitas.

A guerra de agressão e o bloqueio impostos por Riade, aliados regionais e ocidentais ao mais pobre dos países árabes provocou aquilo que as Nações Unidas definiram como «a pior crise humanitária».

Apesar da trégua iniciada em Abril e prolongada em Junho, sob os auspícios da ONU, a coligação liderada pelos sauditas não pôs fim ao bloqueio nem ao confisco de petroleiros com destino ao porto de Hudaydah.

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Para Martin Schüepp, a única via para a recuperação do Iémen reside na solução política do conflito. «O CICV está a abordar necessidades urgentes e a procurar soluções que tragam alívio a longo prazo», disse.

Estas afirmações seguem-se aos anúncios de aumento de cortes nas rações alimentares, no Iémen, feitos em Junho pelo Programa Alimentar Mundial (PMA), por não receber fundos suficientes, devido às condições económicas a nível global e aos efeitos colaterais contínuos da guerra na Ucrânia.

O PMA afirmou, então, que foi obrigado a reduzir, no país árabe, as rações de alimentos para 25% das necessidades diárias para oito milhões de pessoas e a cortar para metade o apoio a cerca de cinco milhões de pessoas, devido a falta de financiamento.

No final de Março, Achim Steiner, director do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), já alertara que o país árabe, devastado pela guerra, enfrentava uma «perspectiva extremamente preocupante».

Citado pela PressTV, o responsável pelo PNUD lançou o alerta ao afirmar que, «tendo em conta a realidade geopolítica mais vasta, o risco é que o Iémen seja em parte esquecido, e isso será obviamente uma tragédia».

O conflito na Ucrânia está a ter «repercussões na economia global» e isso «irá reduzir o alcance da solidariedade internacional para a cooperação internacional», disse Steiner.

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«Tivemos 31 compromissos anunciados hoje, que perfazem cerca de 1,2 mil milhões de dólares», disse Martin Griffiths, subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários e coordenador da Ajuda de Emergência, no encerramento da conferência, acrescentando que «seria óptimo se chegássemos aos 2 mil milhões no fim-de-semana».

De acordo com as Nações Unidas, há 21,7 milhões de iemenitas – dois terços da população do país – a necessitar de ajuda humanitária este ano.

No final de 2022, a Unicef referiu que 17,8 milhões de iemenitas não têm acesso a água potável, saneamento e serviços de higiene.

Erin Hutchinson, responsável do Conselho Norueguês para os Refugiados, mostrou-se desapontada com o valor alcançado esta segunda-feira, tendo afirmado, no Twitter, que «o mundo abandonou o Iémen nesta encruzilhada crucial».

Disse ainda que «isto é lamentavelmente inadequado e dá o sinal de que alguns seres humanos são menos valiosos do que outros».

«Mesmo que se alcance um acordo duradouro, as necessidades humanitárias continuarão a ser altas nos próximos anos»

Em Março de 2015, uma coligação liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, e suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah.

A agressão militar, que agora cumpre oito anos, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes, em guerra desde 2014, e provocou centenas de milhares de mortos, feridos e deslocados, tendo estado na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

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Iémen em risco de ser «esquecido», com o foco mediático na Ucrânia

Achim Steiner, director do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), alertou que o país árabe, devastado pela guerra, enfrenta uma «perspectiva extremamente preocupante».

Iemenitas inspeccionam destroços de uma casa bombardeada pela coligação liderada pelos sauditas, em Janeiro de 2022 
Créditos / PressTV

O responsável pelo PNUD lançou o alerta ao afirmar, este domingo, que, «tendo em conta a realidade geopolítica mais vasta, o risco é que o Iémen seja em parte esquecido, e isso será obviamente uma tragédia».

O conflito na Ucrânia está a ter «repercussões na economia global» e isso «irá reduzirá o alcance da solidariedade internacional para a cooperação internacional», disse Steiner no Fórum de Doha, no Catar.

«Neste momento, o mundo está centrado na guerra na Ucrânia, mas o conflito no Iémen, a situação desesperada no Afeganistão são realidades que ainda vão perdurar», disse também o director do PNUD, citado pela PressTV.

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Aumentam os bombardeamentos sauditas contra civis no Iémen

Os ataques sauditas contra o Iémen intensificam-se e o registo de vítimas civis é o maior dos últimos anos, apesar de Joe Biden ter prometido que ia acabar com esta guerra.

Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas desta madrugada 
Casa destruída pelos bombardeamentos sauditas em Saná Créditos / Al Jazeera

O presidente norte-americano afirmou repetidamente que iria pôr fim à guerra no Iémen, que está na origem da maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, segundo as Nações Unidas.

No entanto, lembra o jornalista Ben Norton no portal multipolarista.com, os bombardeamentos sauditas contra o mais pobre dos países árabes, apoiados pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, atingiram o nível mais alto em vários anos – e com «a supervisão da administração de Biden».

Quem está a pagar o preço são os civis iemenitas, com um morto ou ferido a cada hora, segundo referiu a organização Save the Children no passado dia 11.

Janeiro de 2022 foi o mês mais mortífero no Iémen desde 2018. Entre 6 de Janeiro de 2 de Fevereiro, foram mortos mais de 200 adultos e 15 crianças. Outros 354 adultos e 30 crianças ficaram feridas, referiu a organização humanitária, que teme que o número real de vítimas seja bastante maior.

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Com grande preocupação humanitária, EUA decretam novas sanções contra o Iémen

Os EUA, de longe o país que mais lucrou com a chacina no Iémen e que é acusado de fazer uma guerra por procuração no terreno, impuseram novas sanções contra o país árabe.

Créditos / MintPress News

Na rede social Twitter, Mohammed Ali al-Houthi, membro do Conselho Político Supremo do Iémen, reagiu às sanções decretadas quinta-feira passada pelo Departamento norte-americano do Tesouro afirmando que «a América dá prioridade à opção da guerra no Iémen e ao mesmo tempo finge que apoia a paz». «A imposição de sanções com o pretexto de assegurar a paz representa um obstáculo para a última», disse.

Al-Houthi destacou que as medidas punitivas contra o sector privado iemenita, as impostas ao banco central do país, os bombardeamentos a fábricas e outras infra-estruturas produtivas, o bloqueio que conduz o povo à fome e o fim do pagamento dos salários aos funcionários públicos são crimes, que se enquadram no esquema sistemático para sufocar a economia iemenita, refere a PressTV.

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Autocarro escolar no Iémen foi atacado com bombas norte-americanas

Fragmentos de bombas MK-82, de fabrico norte-americano, são visíveis nas imagens que um jornalista divulgou do local onde um autocarro cheio de crianças foi atacado pelos sauditas, no Iémen.

Destroços de um edifício bombardeado pelos sauditas na capital do Iémen, Saná, em Outubro de 2016. Estima-se que 140 pessoas tenham morrido e perto de 600 tenham ficado feridas
Destroços de um edifício bombardeado pelos sauditas na capital do Iémen, Saná, em Outubro de 2016. Também aqui foram encontrados fragmentos da bomba MK-82, de fabrico norte-americanoCréditos / The Independent

Caças da coligação liderada pelos sauditas atingiram, no passado dia 9, um autocarro escolar na zona de Dahyan, na província iemenita de Sa'ada, provocando mais de 50 vítimas mortais – 40 das quais terão sido crianças, de acordo com as autoridades Hutis – e cerca de 80 feridos.

Segundo a informação divulgada no sábado por Nasser Arrabyee, um jornalista local, a coligação comandada pelos sauditas terá usado munições de fabrico norte-americano.

«Restos das bombas dos EUA que mataram as crianças iemenitas no mais recente massacre e crime de guerra saudita-norte-americano, de 9 de Agosto de 2018, em Sa'ada, Norte do Iémen», escreveu Nasser Arrabyee no Twitter [pic.twitter.com/z8bvadwncG – @narrabyee] a acompanhar as fotos dos fragmentos das bombas MK-82 que alegadamente foram retirados do local do bombardeamento contra o autocarro escolar.

Na peça em que chama a atenção para o tweet e a informação nele contida, esta segunda-feira, a RT sublinha que as imagens ainda carecem de verificação independente, mas lembra que não é a primeira vez que fragmentos de bombas Raytheon Mark 82 são encontrados em locais onde a coligação liderada pelos sauditas levou a cabo massacres contra a população civil no Iémen desde o início da campanha militar, em Março 2015.

A MK-82, bomba de 227 quilos e fabricada pela empresa norte-americana General Dynamics, foi também usada quando os caças sauditas atacaram, em Outubro de 2016, um funeral na capital do país, Saná. Então, 140 pessoas foram mortas e mais de 500 ficaram feridas.

Pentágono diz que é impossível seguir o rasto da bomba

O fluxo armementístico de Washington para Riade é enorme, mas a Arábia Saudita não é destino único da MK-82, como deixou claro, na semana passada, um porta-voz do Pentágono. De acordo com o major Josh Jacques, poderá ser impossível saber de onde veio a bomba que foi usada no ataque contra o autocarro escolar no dia 9 de Agosto.

Isto porque, segundo refere a RT, em 2016 os EUA aprovaram a venda dessa bomba à Arábia Saudita, aos Emirados Árabes Unidos, à França e ao Iraque, e prolongaram os contratos de venda já existentes com a Austrália e o Bahrain. Portanto, na lógica do Pentágono, pode nunca vir a saber-se se a munição usada em Sa'ada «foi uma das que nós lhes vendemos a eles» (os sauditas, entenda-se).

Negócio de muitos milhões

Recorde-se que a Arábia Saudita é um dos principais destinos do armamento fabricado nos países ocidentais e, de modo sintomático, foi o primeiro país que Donald Trump visitou depois de tomar posse, em Janeiro do ano passado.

Nessa visita, foi anunciado que Washington poderia vender a Riade equipamento militar no valor de 110 mil milhões de dólares num período de dez anos. Então, o Departamento de Estado afirmou que o acordo poderia chegar aos 350 mil milhões de dólares.

De acordo com um estudo divulgado em Março último, os EUA venderam, no ano passado, armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos no valor de 650 mil milhões de dólares.

Em Abril, a administração norte-americana deu luz verde ao negócio, no valor de 1,3 mil milhões de dólares, de venda de artilharia aos sauditas, apesar dos relatórios que evidenciam que esse armamento contribui para o massacre de civis e das críticas crescentes de organismo internacionais.

Um estudo do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), de Março deste ano, revela que os EUA foram, no período compreendido entre 2013 de 2017, o principal exportador de armas a nível mundial: as suas exportações representaram 34% de todos os negócios registados pelo organismo referido.

O mesmo estudo revela que, nos últimos cinco anos, os EUA aumentaram a venda de armamento em 25%, sendo o Médio Oriente o destino de quase metade desse armamento.

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Na quinta-feira passada, dia 10, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs novas sanções ao país árabe, desta vez centradas numa rede que é acusada de financiar o movimento de resistência popular Huti Ansarullah – que está no cerne do governo que administra o país a partir da capital, Saná, e lidera a resistência à agressão externa que lhe é imposta desde Março de 2015.

«Esta rede gera dezenas de milhões de dólares em receitas da venda de commodities, como o petróleo iraniano, uma parte significativa da qual é depois direccionada através de uma complexa rede de intermediários e casas de câmbio em vários países para os Hutis», afirmou o Departamento do Tesouro em comunicado.

Entre os alvos directos destas novas sanções contam-se dois iemenitas, dois sírios, um emiradense, um somali e um indiano, além de entidades com sede no Dubai, Istambul e Saná, informa a PressTV.

A memória curta do Tesouro

«O apoio financeiro desta rede permite os ataques deploráveis dos Hutis, que ameaçam infra-estruturas civis e críticas no Iémen e na Arábia Saudita. Estes ataques minam os esforços para acabar o conflito e, o que é mais trágico, deixam dezenas de milhões de civis inocentes a morrer à fome», refere ainda o comunicado.

O texto do Tesouro – tão preocupado com a fome dos iemenitas e com os ataques que ameaçam infra-estruturas civis – não faz menção ao papel dos EUA na guerra de agressão ao Iémen, ao apoio que foi prestado pelos norte-americanos desde o início à coligação liderada pelos sauditas, aos milhares de milhões de dólares que os EUA lucraram com a venda de armamento aos sauditas – algum do qual, como se veio a provar, foi utilizado para massacrar a população civil do Iémen.

Os milhares de mortos, a fome, a cólera, a maior crise humanitária dos tempos modernos, como a classifica a ONU, não existiriam no Iémen sem Washington – agente primeiro na guerra, tal como o Reino Unido, e outras potências ocidentais (França e Alemanha) e regionais (Israel, Emirados Árabes Unidos, Egipto), em maior ou menor escala.

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No próximo mês, passam sete anos desde o início da guerra de agressão contra o Iémen. Em Março de 2015, a Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar o vizinho do sul, tendo como objectivo declarado suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, sem sucesso.

Ao longo da campanha eleitoral, em 2020, Joe Biden prometeu que poria fim a este conflito – uma intenção que reafirmou no ano seguinte, dizendo, já enquanto presidente, que estava a acabar com o apoio dos EUA às operações «ofensivas» sauditas no Iémen, lembra Norton.

A agressão militar saudita, que provocou milhares de mortos, feridos e deslocados, e destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes não poderia ter sido levada a cabo sem o apoio político, militar e logístico norte-americano e britânico.

Além disso, os EUA destacaram-se como um dos grandes fornecedores de armamento à monarquia saudita, tendo lucrado milhares de milhões de dólares com esta guerra – ao lado do Reino Unido e de uma lista mais longa, que inclui a Alemanha, a França e outros.

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Venda de armas aos sauditas é sinal «preocupante» do arrastar da guerra no Iémen

O Departamento de Estado dos EUA aprovou o primeiro grande negócio de venda de armas aos sauditas na administração de Biden, algo que pode revelar a intenção de Riade de prolongar a agressão ao Iémen.

Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a agressão da coligação liderada pelos sauditas começou em Março de 2015 
Créditos / PressTV

Num comunicado emitido quinta-feira passada, o Pentágono deu conta da aprovação, pelo Departamento de Estado norte-americano, da venda de 280 mísseis ar-ar à Arábia Saudita, no valor de 650 milhões de dólares, para que Riade pudesse fazer frente a ameaças actuais e futuras.

Para o académico norte-americano Richard Falk, especialista em direito internacional e relações internacionais, o primeiro grande negócio de vendas de armas da era Biden aos sauditas, «os chamados mísseis defensivos ar-ar», constitui «um sinal preocupante das intenções sauditas de prosseguimento das suas políticas cruéis de devastação do Iémen».

Numa entrevista à PressTV, Falk, que foi professor na Universidade de Princeton durante mais de três décadas, afirmou que «a posse de uma defesa anti-mísseis mais segura permite aos sauditas continuarem a sua intervenção armada no Iémen, e possivelmente noutros locais, com menor temor de ataques de retaliação».

Richard Falk destacou as «relações especiais» entre Washington e Riade, afirmando que os EUA procuram defender os interesses sauditas e desviar as críticas que são dirigidas a Riade nas Nações Unidas.

EUA usam a sua influência para proteger a Arábia Saudita

«Os Estados Unidos estão a usar a sua influência geopolítica para proteger a Arábia Saudita da crítica na ONU e noutros lugares, gozando novamente com os compromissos colectivos de segurança e com a proibição incondicional da Carta das Nações Unidas do uso de força não defensiva. Estas relações especiais deixam claro que as relações internacionais continuam a ser moldadas pela primazia da geopolítica e não pelas normas internacionais», disse o académico.

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EUA são o maior exportador de armas e a Arábia Saudita o maior importador

Um relatório recente revelou que os EUA foram responsáveis por mais de um terço da venda de armamento a nível mundial nos últimos cinco anos, enquanto os sauditas foram os que mais importaram.

Donald Trump, president dos EUA, num encontro na Casa Branca com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, em Washington, Março de 2018
Créditos / CGTN

As exportações de armas que tiveram como origem os EUA, entre 2016 e 2020, representaram 37% de todos os negócios registados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Metade das exportações norte-americanas de armamento teve como destino o Médio Oriente, e a Arábia Saudita foi de longe o principal parceiro de negócio no período referido, representando quase um quarto de todas as vendas dos EUA (24%).

O instituto sediado em Estocolmo afirma que, entre 2016 e 2020, as exportações de armas dos EUA aumentaram 15% em comparação com o período 2011-2015.

A Rússia foi o segundo maior exportador de armas a nível global, representando um quinto do total de exportações registadas (com menos 22% de vendas que no período 2011-2015).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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A França, com 8% das vendas, é o terceiro maior exportador. Seguem-se a Alemanha (5,5%) e a China (5,2%), para fechar a lista dos cinco países que mais armas venderam entre 2016 e 2020. Na parte inferior do «top dez» situam-se Reino Unido, Espanha, Israel, Coreia do Sul e Itália.

O SIPRI nota que, por comparação com 2011-2015, os últimos cinco anos registaram um pequeno decréscimo no volume de vendas de armamento (menos 0,5%), pondo fim a mais de uma década de aumentos sucessivos.

Foi a primeira vez desde o período 2001-2005 que o volume de trocas de armas entre países – um indicador da procura – não registou um aumento por comparação com o período anterior de cinco anos.

Arábia Saudita, o maior importador

Os países do Médio Oriente registaram o maior aumento de importações de armas a nível mundial entre 2016 e 2020, importando mais 25% que nos cinco anos anteriores. Arábia Saudita (61%), Egipto (136%) e Catar (361%) registam os maiores aumentos.

Quatro dos dez maiores importadores de armas são desta região, que representa 33% das importações a nível global: aos três países referidos juntam-se os Emirados Árabes Unidos. Só a Arábia Saudita representa 11% de todo o volume de armas importadas mundialmente nestes cinco anos.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Os EUA foram responsáveis por mais de metade das armas exportadas para a região (52%), seguindo-se a Rússia (13%) e a França (12%).

A região do mundo que mais armas importou foi a Ásia e Oceânia (42%). Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Paquistão foram os países que mais armas importaram na região.

O SIPRI afirma que é cedo para dizer se uma recessão associada à pandemia de Covid-19 pode fazer abrandar os negócios de armas. «O impacto económico da Covid-19 podia levar alguns países a diminuir as importações de armas nos próximos anos. No entanto, ao mesmo tempo, mesmo no auge da pandemia, em 2020, vários países assinaram grandes contratos de armamento», releva o SIPRI.

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Questionado sobre se este negócio «é consistente com a promessa do governo dos EUA de liderar a diplomacia com vista a pôr fim ao conflito no Iémen», Falk respondeu que não, rejeitando a declaração como uma alegação «falsa».

«Esta é uma afirmação claramente falsa», acusou, acrescentando que os mísseis ar-ar protegem o espaço político nacional saudita, dando ao reino a liberdade de fazer a guerra fora de seu território com expectativas substancialmente reduzidas de ver o seu país atacado. «Por outras palavras, o objectivo do armamento defensivo é muitas vezes isolar a guerra ofensiva da retaliação e, dado o historial saudita, esse parece ser o caso», frisou Richard Falk.

Não há «incentivo para a via diplomática»

«Tal militarismo parece fazer aumentar a capacidade de combate da Arábia Saudita e não apresenta nenhum incentivo para acabar com o conflito no Iémen pela via diplomática. Se a intenção fosse uma mudança no sentido da diplomacia, poderia ter sido sinalizada oferecendo às forças opositoras iemenitas capacidades militares equivalentes ou condicionando a venda dos mísseis a um esforço de boa-fé para resolver o conflito através de negociações. Não houve nenhum esforço tangível ou credível nessa direcção», acrescentou.

O académico norte-americano criticou a incapacidade da ONU para pôr fim ao conflito no Iémen, afirmando que «estamos a assistir a mais um caso em que a ONU e a segurança internacional são incapazes face aos alinhamentos geopolíticos que se dedicam a encontrar soluções militares para conflitos políticos».

«Nesta perspectiva, não há um ponto final à vista para o conflito e o sofrimento humano no Iémen, e é provável que não surja nenhum, a não ser que a Arábia Saudita se sinta ameaçada por outras fontes ou enfrente pressões internas significativas. A morte dos iemenitas, infelizmente, não faz parte dos cálculos políticos realizados pelos cínicos criadores dos objectivos da política externa de Riade», sublinhou.

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Quebrando a promessa de pôr fim à guerra, a administração de Biden não só não está a pressionar a Arábia Saudita nesse sentido, como continuou a vender tecnologia militar à monarquia do Golfo e, segundo refere o portal multipolarista.com, pondera inclusive voltar a classificar a resistência Huti Ansarullah como «terrorista», tal como o fez o seu antecessor, Donald Trump.

Entretanto, o Conselho Norueguês de Refugiados alertou que o número de civis mortos ou feridos no Iémen quase duplicou desde que o Conselho de Direitos Humanos da ONU votou a favor de acabar com o mandato dos especialistas que analisavam crimes de guerra no Iémen, em Outubre último.

«Nos quatro meses anteriores ao fim da monitorização dos direitos humanos, 823 civis foram feridos ou mortos na guerra. Nos quatro meses que se seguiram, foram 1535 civis», informou o conselho.

Neste período, houve 39 vezes mais vítimas civis provocadas pelos ataques aéreos sauditas.

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Em Março de 2015, uma coligação liderada pela Arábia Saudita, com o apoio dos EUA, do Reino Unido e de outras potências ocidentais e regionais, lançou uma campanha militar contra o Iémen, tendo como objectivo declarado recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, e suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah, que, em conjunto com o Exército iemenita, tem resistido aos invasores.

A agressão militar, que agora cumpriu sete anos, destruiu as infra-estruturas do mais pobre dos países árabes e provocou centenas de milhares de mortos, feridos e deslocados, tendo estado na origem daquilo que as Nações Unidas classificaram como a mais grave crise humanitária dos tempos modernos.

«A perspectiva para o povo iemenita é, neste momento, extremamente preocupante», alertou Steiner, acrescentando: «A realidade é que o desespero, a pobreza e a destruição atingiram um nível no Iémen em que a maioria da população, de uma forma ou de outra, já não é capaz de se sustentar a si mesma.»

Cortes nos fundos e na ajuda humanitária

As afirmações do responsável das Nações Unidas tiveram lugar no mesmo dia em que a aviação saudita bombardeou zonas residenciais na capital iemenita, Saná, e outras regiões do país, depois de, no sábado, o movimento Huti Ansarullah ter declarado um cessar-fogo de três dias.

A trégua unilateral seguiu-se a uma vaga de ataques com mísseis e drones, na sexta-feira, que atingiram alvos em vários pontos da Arábia Saudita, incluindo instalações petrolíferas na cidade de Jeddah.

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ONG alerta para solidariedade selectiva com desvio de fundos para a Ucrânia

A Oxfam International alertou esta sexta-feira para o desvio de ajudas já destinadas a certos países como forma de fazer frente à crise migratória com origem na Ucrânia.

De acordo com as Nações Unidas, pelo menos 12 milhões de pessoas enfrentam uma seca devastadora e passam fome na Somália, no Quénia e na Etiópia 
Créditos / @UNOCHA

As repercussões mundiais da actual «crise ucraniana» – que já se sentem no aumento dos preços de bens, alimentação e energia – poderiam minar os fundos de ajuda dos países doadores, destinados a pessoas que estão noutros «pontos quentes» humanitários, refere a organização não governamental (ONG) numa nota de imprensa.

Neste sentido, o organismo indica que a União Europeia (UE) reduziu para mais de metade os fundos humanitários para Timor-Leste. Outros doadores adiantaram que vão cortar em 70% a ajuda oficial para o desenvolvimento do Burkina Faso, e outros países da África Ocidental estão a receber notícias semelhantes.

Evelien Van Roemburg, directora do gabinete da Oxfam na UE, sublinhou que a população do Iémen e da Síria, os milhões que passam fome na África Oriental e Ocidental ou as pessoas que estão em acampamentos no Bangladesh «não devem ser penalizados» por causa dos cuidados que o povo da Ucrânia deve ter.

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Migrantes e refugiados passam por «horrores inimagináveis» ao atravessar a Líbia

Um relatório da ONU divulgado esta quinta-feira denuncia as «violações massivas de direitos humanos» dos migrantes e refugiados quando atravessam a Líbia em busca de uma vida melhor.

Um migrante num centro de detenção na Líbia, quando da visita de uma equipa da Unicef, em Fevereiro de 2017
CréditosRomenzi / Unicef

O relatório, publicado conjuntamente pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL, na sigla em inglês), revela com detalhe uma série de «terríveis violações e abusos cometidos tanto por funcionários estatais como por grupos armados e traficantes de pessoas».

No resumo que antecede o documento propriamente dito – com 61 páginas e acessível apenas em inglês –, afirma-se que a investigação abarca um período de 20 meses até Agosto de 2018 e foi levada a cabo por funcionários das Nações Unidas especializados em direitos humanos, que entrevistaram mais de 1300 migrantes e refugiados na Líbia, na Nigéria e em Itália.

Com base nas entrevistas e também nas visitas efectuadas a centros de detenção na Líbia, os funcionários registaram os «horrores inimagináveis» por que passam os migrantes e refugiados «desde que entram em território líbio, durante o tempo que ali permanecem e – quando conseguem sobreviver – nas tentativas de atravessar o Mar Mediterrâneo».

Entre os «horrores referidos», contam-se casos de execução extrajudicial, torturas, detenções arbitrárias, violações em grupo, escravidão e trabalho forçado, denunciam ambos os organismos das Nações Unidas, sublinhando que «o clima de anarquia» que se vive actualmente no país africano é «terreno fértil para as actividades ilícitas, como o tráfico de pessoas e o contrabando».

«Aqueles que conseguem chegar à costa e, no final, tentam empreender a perigosa travessia do Mediterrâneo são interceptados de forma crescente pela Guarda Costeira da Líbia (GCL), que os leva de volta para a Líbia, onde muitos são novamente submetidos ao esquema de abusos de que acabaram de escapar», alerta o relatório.

Os cerca de 29 mil migrantes que a GCL obrigou a regressar ao país africano desde o início de 2017 foram transferidos para centros de detenção do Departamento de Combate à Migração Ilegal e, segundo refere o texto, milhares deles «continuam detidos indefinida e arbitrariamente, sem o devido processo, acesso a apoio legal ou a serviços consulares».

Neste sentido, as Nações Unidas lamentaram que a União Europeia e os seus estados-membros tenham mantido «uma política que visa reduzir a possibilidade de os migrantes e refugiados alcançarem as costas europeias», «contribuindo para que milhares de pessoas, desesperadas, fiquem presas na Líbia».


Ghassan Salamé, representante especial do secretário-geral da ONU e directora da UNSMIL, frisou que existe um «fracasso local e internacional na abordagem a esta calamidade humana escondida que continua a ter lugar na Líbia».

Por seu lado, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, destacou que «a situação é absolutamente horrorosa», e lembrou a necessidade de combater «a impunidade generalizada» para «acabar com o sofrimento de dezenas de milhares» de migrantes e refugiados, que «apenas procuram uma vida melhor».

Um país que «não é seguro», destruído pela NATO

As Nações Unidas consideram que a Líbia não é um «país seguro». Mais que isso, a Líbia é, desde a intervenção promovida em 2011 pelos EUA, a França, o Reino Unido e seus aliados contra o governo de Muammar Khadafi, um Estado falhado, destruído, onde diversos grupos armados passaram a lutar entre si pelo controlo de território e de recursos.

Em 2010, a Líbia era o país com maior Índice de Desenvolvimento Humano no continente africano, de acordo com dados das Nações Unidas. Com os seus imensos recursos aquíferos, petrolíferos e de gás a saque, a população das cidades líbias passou a sofrer de escassez de água, cortes de luz e falta de instalações médicas.

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Citada no portal da ONG, Van Roemburg denuncia que «todos os dias ouvimos falar de super-iates e mansões apreendidos», enquanto multimilionários de todas as nacionalidades crescem de forma «obscena» com a especulação, a evasão fiscal e o aumento vertiginoso dos lucros corporativos e dos preços das acções.

«Rejeitamos qualquer afirmação de acordo com a qual ajudar um refugiado da Ucrânia ou um agricultor faminto da Somália seja uma escolha», acrescentou.

Os países nórdicos prometeram 300 milhões de euros – quase por inteiro a Noruega – para ajudar a Ucrânia, mas isto equivale a 40% dos fundos de ajuda orçamentados pela Noruega e, se não houver um reforço, haverá grandes cortes noutros programas, indica a nota.

«Risco de catástrofe» no Iémen

Também esta semana, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, alertou para situação humanitária no Iémen, após sete anos de cerco e guerra de agressão liderada pelos sauditas – com apoio dos EUA –, e num contexto de falta de fundos para a ajuda humanitária.

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Iémen: má-nutrição infantil atinge nível mais elevado

«Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças», alertou a coordenadora humanitária da ONU para o Iémen, Lise Grande.

Pai com criança ao colo, apresentando sinais de má-nutrição aguda grave, numa província do Iémen, em Setembro de 2020
Créditos / PressTV

As Nações Unidas alertaram para «o nível mais elevado» de má-nutrição entre crianças pequenas em determinadas zonas do país árabe, que há cinco anos e meio é alvo de uma violenta campanha militar liderada pela Arábia Saudita.

A escalada da guerra, a crise económica, o grande impacto da pandemia de Covid-19 e a interrupção, por falta de fundos, em projectos de ajuda – ao nível do apoio alimentar e serviços de saneamento, água e higiene – «conduziram à beira do precipício uma população já exausta».

Num comunicado conjunto emitido esta semana, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Programa Alimentar Mundial e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirmaram que mais de meio milhão de crianças com menos de cinco anos no Sul do Iémen apresentam níveis de desnutrição aguda jamais registados no país, acrescentando que um estudo em curso no Norte deve apresentar resultados «igualmente preocupantes».

De acordo com o relatório das três agências das Nações Unidas, nas áreas estudadas (133 distritos no Sul do país árabe) registou-se um aumento de 15,5% de casos de má-nutrição aguda grave entre as crianças com menos de cinco anos, o que significa que pelo menos 98 mil menores nessa faixa etária correm um «risco elevado de morrer» se não receberem tratamento urgente.

«Os dados que estamos a divulgar confirmam que a má-mutrição aguda entre as crianças está a atingir os níveis mais altos que vimos desde que a guerra começou», disse Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU para o Iémen.

Acrescentou que, desde Julho, tem vindo a chamar a atenção para esta situação e que «o Iémen está à beira de uma crise de segurança alimentar catastrófica». «Se a guerra não acabar agora, caminhamos para uma situação irreversível e corremos o risco de perder toda uma geração de crianças pequenas», avisou a funcionária das Nações Unidas.

Guerra de agressão e pior crise humanitária do mundo

O Iémen enfrenta a pior crise humanitária do mundo. Particularmente afectada pela fome, a população iemenita tem sido também atingida por doenças como cólera, difteria, sarampo e dengue, na sequência da guerra de agressão lançada pela Arábia Saudita em Março de 2015, à frente de uma coligação de países aliados e que contou com forte apoio do Ocidente, nomeadamente dos EUA e do Reino Unido.


Apesar de não ter conseguido alcançar os objectivos declarados de suprimir a resistência do movimento Huti Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade, a coligação liderada pelos sauditas prossegue a guerra, continuando a fazer baixas entre a população civil, incluindo crianças.

Segundo as agências da ONU, quase 80% da população iemenita (24 milhões de pessoas) dependem de alguma forma de ajuda. Em meados de Outubro, as agências apenas tinham recebido 1,43 mil milhões de dólares dos 3,2 mil milhões que são necessários, em 2020, para financiar os projectos de ajuda humanitária no Iémen.

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Apesar de a ONU ter classificado a situação no Iémen como a maior crise humanitária do planeta nos tempos modernos, após quase sete anos seguidos de «morte, destruição, deslocações, fome… numa escala massiva», o secretário-geral revelou que o organismo e os seus parceiros foram obrigados a «redimensionar ou encerrar» dois terços dos programas vitais no país árabe devido a falta de fundos.

De acordo com o responsável pelos Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, são necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, este ano, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen.

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Achim Steiner mostrou-se preocupado com o facto de este conflito «receber menos atenção» e, acima de tudo, com a possibilidade de os doadores internacionais «irem cortar fundos». «Isto devia-nos preocupar a todos», frisou.

Aproximadamente 80% dos cerca de 30 milhões de iemenitas dependem de ajuda para sobreviver. Este mês, a ONU referiu que eram necessários quase 4,3 mil milhões de dólares, em 2022, para ajudar mais de 17 milhões de pessoas no Iémen. No entanto, o organismo só conseguiu juntar 1,3 mil milhões.

Isto significa que «aquilo que vamos ver ao longo de 2022 é uma redução maior da ajuda humanitária […]. Tudo isto estará comprometido», disse Steiner.

«Esta guerra… não resolveu nada», sublinhou.

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O ano passado, foi alcançada uma trégua sob os auspícios da ONU, que começou a 2 de Abril e terminou seis meses depois, a 2 de Outubro. Os ataques da coligação liderada pelos sauditas mantêm-se, apesar de serem menos intensos do que no período anterior ao cessar-fogo.

Na conferência de 2022, a ONU conseguiu juntar 2,2 mil milhões de dólares, permitindo às agências no terreno ajudar cerca de 11 milhões de pessoas todos os meses.

Martin Griffiths disse esperar que esta seja a última conferência do género, porque o a guerra já dura «há demasiado tempo, castigando milhões de pessoas inocentes», indica a PressTV.

Robert Mardini, director-geral do Comité Internacional da Cruz Vermelha, sublinhou que cada ano que passa torna a recuperação do pós-guerra mais difícil para o Iémen.

«Mesmo que se alcance um acordo duradouro, as necessidades humanitárias continuarão a ser altas nos próximos anos», disse.

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Isto está em linha com os interesses norte-americano e israelita em aumentar a sua influência no Mar Vermelho, sendo que Israel, segundo o periódico, está particularmente interessado no Estreito de Bab al-Mandab, que considera uma «artéria vital» para o comércio com o Oriente e um elemento central para fazer alastrar a sua influência no Corno de África.

Além disso, refere a publicação, os serviços de segurança israelitas manifestam preocupação com a capacidade do movimento Ansarullah para atingir Israel com mísseis.

Em várias ocasiões, o Conselho Supremo Político do Iémen acusou os EUA e o Reino Unido de fomentarem a guerra de agressão contra o país.

Esta semana, os dirigentes Hutis, que acusaram Washington de «ter obstruído a paz em diferentes períodos», afirmaram que os norte-americanos «estão a minar os esforços da mediação de Omã para pôr fim à agressão».

Segundo refere a cadeia iemenita al-Masirah, nos últimos tempos, as visitas de enviados norte-americanos a zonas ocupadas do Iémen e a Riade intensificaram-se, com o intuito de «abortar» a aproximação entre Riade e Saná.

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