Numa tarde em que milhares de argentinos se juntaram nas imediações do Congresso, em Buenos Aires, atentos ao que se passava na Câmara dos Deputados e reafirmando a contestação às políticas de austeridade de Javier Milei, as votações de rejeição dos vetos presidenciais foram expressivas.
Estavam em causa os vetos de Milei a duas leis aprovadas no Congresso: a do Financiamento Universitário, no âmbito da qual o Estado deve incrementar as verbas destinadas às universidades públicas e aumentar os salários dos trabalhadores docentes e não docentes, e a da Emergência Pediátrica, que estipula as verbas necessárias para o funcionamento cabal do Hospital Dr. Garrahan e o aumento salarial aos trabalhadores da saúde.
Esta quarta-feira, os dois vetos foram revertidos por ampla margem: 174 a favor, 67 contra e duas abstenções, no primeiro caso; 181 favoráveis, 60 contra e uma abstenção, no segundo.
Mal foi conhecido chumbo aos vetos do presidente, que ainda têm de ser debatidos e votados no Senado, houve grande festa nas imediações da sede legislativa, entre a grande multidão – estudantes, pensionistas, trabalhadores de vários sectores – que se juntou para contestar as políticas levadas a cabo pelo executivo argentino.
Senso comum, humanismo, saúde pública e educação
Durante o intenso debate, a maioria que derrotou os vetos na câmara baixa pediu «senso comum», num tempo em que o país austral é governado «por gente com pensamento medieval, que diz coisas como "os homossexuais são pedófilos"».
Um dos deputados, refere o Tiempo Argentino, afirmou que «é insólito que hoje na Câmara dos Deputados estejamos a defender a saúde pública, a educação, a ciência e a tecnologia», tendo pedido aos demais a que voltassem «ao melhor da sociedade».
Outras intervenções apelaram «a reconstruir a esperança», e também se acusou o governo argentino de corrupto e hipócrita, e de «ofender todos os argentinos» quando pede sacrifícios gigantescos à população.
Neste contexto, um dos deputados destacou a importância das leis aprovadas e que Milei vetou: «Temos de defender a saúde e a universidade pública, e os trabalhadores que perderam 30% dos seus rendimentos.»
Para a imprensa argentina, trata-se de uma importante derrota para Javier Milei e o seu governo, deixando-os mais fragilizados à frente do país, a menos de seis semanas para as eleições legislativas, a 26 de Outubro, e depois da derrota esmagadora que o La Libertad Avanza sofreu na província de Buenos Aires.
A isso há que juntar o escândalo das coimas na Agência Nacional de Deficiência e a rejeição recente do veto à Lei da Emergência na Deficiência.
Frustração «libertária»
No final do debate, os defensores do veto presidencial não se pouparam a termos para defender as «contas públicas» e acusar os opositores de quererem «mais pobreza para todos os argentinos».
Também chamaram «hipócritas» aos que lançam debates a pensar nos calendários eleitorais e acusaram os responsáveis da Universidade de Buenos Aires de «golpistas».
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