«Cercaram tudo, rodearam-nos de uma forma exagerada», disse uma manifestante ao criticar a «militarização», quando se retirava da enorme mobilização desta terça-feira frente ao Congresso, em Buenos Aires.
Coordenadora de um centro de profissionais na área do neuro-desenvolvimento e irmã de uma pessoa com deficiência a quem foram retirados os apoios, Fernanda Abalde sente na própria pele a política de austeridade promovida pelo governo de Milei, que se reflecte nos ataques à deficiência.
Em declarações ao Tiempo Argentino, Abalde disse que as famílias são muito maltratadas por um sistema que «não é acessível» e é «agressivo».
«Este ano foi terrível. Até Junho, não estavam autorizados tratamentos apresentados em Novembro do ano passado, por exemplo», disse Abalde, frisando que, «se a deficiência foi sempre atingida, este ano foi bastante atípico», com muitos cortes nos tratamentos e demoras nas autorizações.
A coordenadora do Pulsar NeuroSocial disse ainda que se trata de um «sector em que existe muita procura» e lamentou que esteja a ser desmantelado.
Enorme mobilização e repressão policial
Em meia hora, juntou-se um mar de gente para denunciar o veto de Javier Milei à Lei de Emergência na Deficiência. Tratou-se de uma mobilização pacífica, em que havia pessoas com deficiência (algumas em cadeiras de rodas), familiares seus e representantes de organizações que defendem os seus direitos – a gritar palavras de ordem e a exibir cartazes. A resposta foi um grande dispositivo policial, que cercou os manifestantes.
Com a Lei de Emergência, procura-se reverter um panorama «desolador». De acordo com um relatório recente da Rede pelos Direitos das Pessoas com Deficiência (REDI), as pensões de invalidez estão congeladas nos 217 mil pesos (139,5 euros), um professor de integração numa escola regular recebe apenas 3000 pesos por hora (cerca de dois euros), com um atraso de 180 dias. Tudo isto num contexto de cortes efectuados e em que mais estão previstos, refere a fonte.
«Uma pessoa vai pedido ajuda à família, faz o que pode. Mas esperemos que este homem reconsidere», disse Olga, reformada que se manifestou frente ao Congresso, à frente das câmaras de TV, dirigindo-se a Milei.
«Tive de cortar alguns medicamentos. E há muitas coisas que têm de mudar em casa para que possa sobreviver e para que possa seguir em frente pela minha filha», acrescentou.
Grande manifestação em Córdoba
Com o lema «Se a crueldade avança, vimos para as praças», a jornada de mobilização desta terça-feira em defesa da Lei de Emergência na Deficiência foi convocada, a nível federal, pela Assembleia de Trabalhadores de Inclusão.
Em Córdoba, onde teve lugar uma das maiores manifestações, Virginia Els, presidente da Câmara de Prestadores de Serviços de Deficiência de Córdoba (Capredis), destacou o grande número de famílias que aderiram aos protestos, juntamente com trabalhadores do sector e dos transportes.
«O veto intensificou os protestos», disse, sublinhando que os manifestantes procuram erguer a voz para que os deputados ouçam as reivindicações do sector e para que a lei obtenha os dois terços dos votos necessários para se manter.
Els alertou ainda para a necessidade de acabar com os maus-tratos ao sector e uma política cruel que afecta todos os envolvidos, num contexto em que as instituições estão a ser encerradas.
Por seu lado, Franco Muscio, terapeuta ocupacional à frente de um centro de dia na província, chamou a atenção para um «serviço cada vez mais precário» e para uma «situação alarmante e angustiante», sem que «o Estado nos dê respostas».
Afirmando que «cada vez há mais cortes» e que «não sabe como vão continuar», sublinhou que as famílias das pessoas com deficiência «são as mais prejudicadas».
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