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Deputados brasileiros reuniram-se com líderes dos países do Sahel em São Paulo

A reunião entre deputados brasileiros e líderes progressistas do Sahel, na segunda-feira, precedeu o encontro «Vozes da África», no dia seguinte, no âmbito da agenda internacionalista promovida pelo MST.

A reunião de líderes do Sahel com deputados brasileiros precedeu o encontro «Vozes da África», também em São Paulo CréditosPedro Stropasolas / Brasil de Fato

No encontro na capital paulista, dinamizado pelo Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Assembleia Internacional dos Povos, participaram deputados federais do PCdoB e do PT, bem como dirigentes de movimentos populares e académicos brasileiros.

Entre os convidados internacionais – revela o Brasil de Fato – estavam Amina Hamani, líder do Movimento Revolucionário das Mulheres Pan-africanas (Níger); Ibrahima Kebe, coordenador da Escola Modibo Keïta (Mali); Inoussa Ganbaaga, membro do Comité Memorial Thomas Sankara (Burkina Faso), e Kounharè Dabire, secretário-geral da Coordenação Nacional das Associações de Vigilância Cidadã (Burkina Faso).

Na iniciativa, foram abordados os processos de transformação social, económica, política e cultural que Burkina Faso, Mali e Níger atravessam e de que resultou a criação a Aliança dos Estados do Sahel (AES).

Também ali foram denunciados e criticados os imperialismos francês e norte-americano, para evidenciar que fazem parte de um mesmo projecto de dominação e exploração dos recursos naturais e dos povos.

Rosa Amorim, deputada do PT por Pernambuco, afirmou: «Nós temos desafios políticos diferentes, mas temos problemas comuns no Brasil e nos países periféricos. A luta pela soberania nacional, a luta contra o sequestro das nossas riquezas. Isso também enfrentamos no nosso Brasil.»

Em seu entender, o Sahel é actualmente «uma preocupação internacional» e é necessário construir uma solidariedade global para as lutas da região. Nesse sentido, Amorim destacou a iniciativa do MST de receber líderes desses países em acampamentos e assentamentos do movimento. «Construir e estreitar os nossos laços, entre os países de África e o Brasil, é resgatar nossa própria história. Tivemos um apagamento histórico dessa relação», disse.

«O terrorismo é financiado pelos países ocidentais»

No encontro esteve também presente Luc Damiba, conselheiro especial do primeiro-ministro do Burkina Faso. O dirigente do Memorial Thomas Sankara frisou a importância do encontro com os deputados brasileiros, tendo em conta que a realidade do Sahel a nível internacional é dominada por meios de comunicação que difundem a «voz ocidental imperialista».

Damiba valorizou o trabalho conjunto da Aliança dos Estados do Sahel, criada há dois anos, a 16 de Setembro de 2023. «Um objectivo superior é sair dessa crise de segurança. Temos uma federação com uma única bandeira, um único hino, estamos a trabalhar por uma moeda comum», destacou.

«O terrorismo é financiado pelos países ocidentais. Nós não temos fábricas de armamentos, mas essas armas continuam a chegar. O imperialismo enfraqueceu o Estado, intermediou a exploração de minerais pelas multinacionais estrangeiras. Em todos os países africanos em que há guerra, as empresas de exploração de minérios não fecham. A crise foi criada para que não haja um poder forte que diga não a essa exploração», disse ainda Damiba, sublinhando a presença de grupos jihadistas no Sahel.

Parceria entre deputados

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB) propôs uma diplomacia e um intercâmbio entre deputados brasileiros e parlamentares dos países do Sahel.

«O Brasil tem a maior população da diáspora no mundo. Eu nasci em Salvador, uma das cidades mais negras do mundo, e não conseguimos, nem com o esforço do presidente Lula, que buscou se aproximar da África, projetar uma relação diplomática e política do patamar que a África merece», destacou, citado pelo Brasil de Fato.

Por seu lado, João Daniel, deputado federal do PT por Sergipe, denunciou que «nunca houve prioridade com a África» e pôs-se à disposição para contribuir com o movimento de ruptura em curso no Sahel. «Isso é o mínimo de obrigação de um parlamentar de esquerda. Utilizar o parlamento para contribuir nesse processo de articulação internacional e de apoio», explicou.

Propostas conjuntas

João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST, resumiu no final da reunião um conjunto de questões ali tratadas, como a criação de voos directos do Brasil para África e a de uma comissão parlamentar em solidariedade com o Sahel, que inclui a possibilidade de uma viagem de deputados aos três países da AES.

O dirigente do MST também ressaltou que o movimento planeia enviar técnicos e militantes para auxiliar na produção de alimentos agroecológicos, contribuindo para a garantia da soberania alimentar numa região de maioria camponesa.

Stedile destacou ainda outra área em que o Brasil pode contribuir para as lutas pela soberania no Sahel: «Temos uma área de pesquisa e produção farmacêutica do Estado, a Fiocruz, que produz vacinas, remédios, que são popularizados.»

Evento para celebrar o segundo aniversário da AES

A reunião dos deputados precedeu o evento desta terça-feira no Armazém do Campo e na Livraria Expressão Popular, também em São Paulo, para assinalar o segundo aniversário da criação da Aliança dos Estados do Sahel.

Organizada pela Assembleia Internacional dos Povos, Instituto Tricontinental, ALBA Movimentos, MST, Livraria Expressão Popular e Armazém do Campo, a iniciativa intitulou-se «Vozes da África: Revoluções Pan-Africanas Hoje e o Legado de Thomas Sankara».

No âmbito do evento, que contou com líderes populares e intelectuais dos países da AES, foram debatidos os desafios actuais das revoluções pan-africanas e a luta contra o neocolonialismo no continente.

Também teve lugar, com casa cheia, a estreia do documentário Sahel: Pátria ou Morte, que «aborda a resistência popular e os novos caminhos de desenvolvimento trilhados por Burkina Faso, Níger e Mali». O filme ficará disponível no canal de YouTube do Brasil de Fato a partir de hoje.

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