Manifestantes naturais do Níger, Senegal, Burkina Faso, Mali, Togo e apoiantes condenaram, ontem, «a intervenção militar ilegal para restituir o deposto presidente Mohamed Bazoum», na sequência do golpe de Estado que teve lugar no Níger a 26 de Julho último.
A França negou as acusações feitas pelos representantes da junta militar no Níger de que as suas forças tenham libertado terroristas (tropas francesas encontram-se no país africano alegadamente no âmbito de uma missão contra grupos islamitas e, apesar de instadas a sair do país, não o fizeram).
O golpe foi condenado pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que, ontem, tomou a decisão de accionar uma força regional de reserva militar como primeiro passo para uma possível intervenção armada no Níger, alegando a necessidade de restaurar a ordem constitucional no país africano.
Num contexto de grandes tensões e onde tem sido denunciada tanto a ingerência francesa como a norte-americana, os governos do Burkina Faso e do Mali defenderam que qualquer acção armada no território nigerino seria entendida como uma declaração de guerra contra os seus países.
Também os executivos da Guiné, do Chade e da Argélia se posicionaram contra uma eventual operação militar contra Niamey, a capital do Níger, onde grandes multidões saíram à rua em apoio ao golpe.
«Libertar o Sahel da exploração francesa»
O protesto desta quinta-feira frente à Embaixada de França em Londres foi organizado pela Associação da Diáspora de Nacionais da República do Níger no Reino Unido (Darn-UK), em conjunto com outros grupos pan-africanistas, que afirmaram que «o movimento no Sahel procura libertar a região da exploração francesa».
Abdoul Kader Amadou Mossi, presidente da Darn-UK, disse que o povo do Níger organizou um protesto para mostrar o seu apoio total à junta militar na sexta-feira passada e que «a comunidade internacional tem de respeitar a vontade do povo nigerino, que decidirá o seu caminho», refere o Morning Star.
«Apoiamos o povo nigerino no seu desejo de soberania e independência», sublinhou Mossi, acrescentando: «A nossa mensagem é muito simples e clara: estamos a pedir a todas as bases militares estrangeiras que saiam do país o mais rapidamente possível. Também queremos tratar dos nossos próprios assuntos sem ingerências externas.»
«Queremos ser independentes e livres de França, que ainda está envolvida nas questões do Níger, explorando ilegalmente os nossos recursos naturais, confiscados pelas autoridades corruptas», afirmou ainda o presidente da Darn-UK.
«A nova geração africana entende claramente que o colonialismo francês não acabou»
Por seu lado, Hodenou Yaovi Jeff Segnikin, ex-secretário-geral da Togo Union UK, disse: «A nova geração africana entende claramente que o colonialismo francês não acabou nos anos 60, mas se intensificou através de um sistema sombrio, conhecido como France-Afrique.»
Já Myriam Kane, da Black Liberation Alliance, disse que «se opõem frontalmente a qualquer intervenção militar da França no Níger, apoiada pelos EUA ou os seus agentes na CEDEAO».
«Estamos solidários com os golpes anti-imperialistas no Níger, Burkina Faso, Mali e Guiné, e exigimos a libertação de Sonko [político da oposição] e dos prisioneiros políticos no Senegal», disse Kane.
Em seu entender, «estes movimentos gozam do apoio de grandes camadas da população porque não podem tolerar a exploração francesa de recursos como ouro, urânio e petróleo, enquanto as pessoas sofrem».
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