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Com a pandemia, aumentou o número de crianças analfabetas no Brasil

As medidas contra a Covid-19, em que se inclui o encerramento de escolas, levaram a um aumento de 66% no número de crianças com 6 e 7 anos que não sabem ler nem escrever, entre 2019 e 2021.

Créditos / poder360.com.br

O «número de crianças de 6 e 7 anos de idade que, segundo os seus responsáveis, não sabiam ler e escrever […] passou de 1,4 milhão em 2019 para 2,4 milhões em 2021», revela uma nota da organização não governamental Todos pela Educação, publicada esta terça-feira.

O texto, intitulado «Impactos da pandemia na alfabetização de crianças», tem por base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ao comparar os números correspondentes ao terceiro trimestre de cada ano, o organismo «confirma os efeitos negativos da pandemia de Covid-19 sobre a Educação Pública brasileira».

A pesquisa revelou que os negros e os pobres foram os mais afectados pelo encerramento de escolas e a substituição das aulas presenciais pelo ensino à distância, com recurso à Internet, ao qual não tiveram acesso por falta de recursos.

A percentagem de crianças negras, nas idades referidas, que não sabiam ler e escrever passou de 28,8%, em 2019, para 47,4%, em 2021, enquanto entre os menores brancos subiu de 20,3% para 35,1%, em igual período.

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Mais de 600 milhões de crianças afectadas pelo encerramento de escolas

Além de provocar perdas de aprendizagem, o fecho de escolas durante a pandemia também teve impactos na saúde mental das crianças e dificultou o seu acesso à alimentação, refere a Unicef.

Créditos / edsource.org

Numa nota publicada dia 24, a propósito do Dia Internacional da Educação, a agência da ONU revelou que mais de 616 milhões de estudantes continuam a ser afectados pelos encerramentos totais ou parciais das escolas.

Partilhando os dados que tem disponíveis sobre o impacto da pandemia de Covid-19 sobre a aprendizagem das crianças, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, na sigla em inglês) destaca que as perdas na escolaridade atingem um nível «quase inultrapassável», quando passam quase dois anos desde que começaram as «perturbações na educação à escala mundial» associadas à Covid-19.

70%

Nos países de baixo e médio rendimento, 70% das crianças com dez anos não sabem ler ou são incapazes de entender textos básicos.

Com as «perturbações», milhões de crianças perderam competências e aprendizagens académicas que teriam adquirido se tivessem ido às aulas, refere a organização, sublinhando que os mais jovens e os mais marginalizados foram os mais afectados.

Nos países de rendimentos baixos e médios, 70% das crianças com dez anos de idade não sabem ler ou são incapazes de entender textos básicos, sendo que, antes da pandemia, essa percentagem se situava nos 53%.

Referindo-se a determinados países, a Unicef estima que, na Etiópia, as crianças do ensino primário tenham aprendido 30 a 40% da matemática que teriam aprendido em anos escolares normais,

No que respeita aos EUA, o organismo aponta perdas na aprendizagem em estados como Texas, Califórnia, Colorado, Tennessee, Carolina do Norte, Ohio, Virgínia e Maryland.

Em vários estados brasileiros, refere a Unicef, cerca de três em cada quatro crianças na segunda classe tiveram dificuldades de aprendizagem – antes da pandemia o registo era de uma em cada duas. Além disso, um em cada dez estudantes na faixa etária dos 10-15 anos disse não querer regressar à escola quando estas reabrirem.

«Se as interrupções da aprendizagem devem terminar, a reabertura das escolas não basta. Os estudantes necessitam de apoio intensivo para recuperar a aprendizagem perdida»

Na África do Sul, os estudantes estão atrasados 75% relativamente ao programa normal de um ano lectivo. Estima-se que entre 400 mil e 500 mil tenham abandonado a escola entre Março de 2020 e Julho de 2021, indica a Unicef.

«Se as interrupções da aprendizagem devem terminar, a reabertura das escolas não basta. Os estudantes necessitam de apoio intensivo para recuperar a aprendizagem perdida», afirma a organização, destacando que as escolas devem ser também espaços para ajudar a reconstruir a saúde mental e física das crianças, o seu desenvolvimento social e a nutrição.

A este propósito, a Unicef lembra que as sequelas do encerramento das escolas aumentam e vão para lá da aprendizagem, com os impactos a fazerem-se sentir na saúde metal, na dificuldade de acesso à alimentação e no risco acrescido de abusos.

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Nos domicílios mais pobres, a percentagem de crianças com 6 e 7 anos de idade sem saber ler e escrever subiu de 33,6%, há dois anos, para 51 pontos percentuais em 2021. A diferença para as crianças dos domicílios mais ricos, que já era substancial, aprofundou-se com a pandemia, uma vez que, dos 11,4% registados em 2009, se passou para 16,6%.

Para Olavo Nogueira Filho, director executivo da Todos pela Educação, estes dados mostram que «o ensino remoto teve uma eficácia muito baixa do ponto de vista pedagógico e que prejudicou a todos, mas também que nem todos tiveram acesso às aulas virtuais e os mais pobres foram excluídos».

Por seu lado, o líder de políticas educacionais do organismo, Gabriel Correa, afirmou que «a alfabetização na idade correcta é etapa fundamental na trajectória escolar de uma criança», destacando que «os danos podem ser permanentes, uma vez que a alfabetização é condição prévia para os demais aprendizados escolares».

«Precisamos urgentemente de políticas consistentes para a retomada das aulas, para que essas crianças tenham condições de serem alfabetizadas e sigam estudando. É inadmissível retrocedermos em níveis de alfabetização e escolaridade», sublinhou.

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