Numa conversa exclusiva com a Associação de Correspondentes Estrangeiros na Argentina (Acera), a secretária executiva da Cepal abordou, com dados e números, os desafios que o continente enfrenta e deu a conhecer as propostas concretas defendidas pelo organismo a que preside, com vista à reconstrução da região na fase pós-pandemia.
Bárcena sublinhou que, com o impacto da Covid-19 na América Latina, o produto interno bruto (PIB) per capita no final deste ano pode regressar aos níveis de 2010 e que «isso é preocupante». Será necessário, entre outras coisas, mais políticas fiscais e monetárias para mitigar o impacto e apoiar a reactivação da economia, disse, citada pela Prensa Latina.
«Isto não é uma crise curta, isto será de longa duração, e as despesas que hoje os governos fazem vão prolongar-se», referiu a secretária executiva da Cepal, depois de afirmar que 90% dos países registam quebras, que o comércio diminuiu para níveis sem precedentes e que se espera uma recessão de 9,1% na América Latina.
Afirmando que persistem os riscos financeiros, sobretudo, nas economias emergentes, Bárcena destacou que a crise se agudiza na região – que atravessa a pior contracção dos últimos 100 anos – e que tal implicará um aumento no desemprego, na pobreza e na desigualdade.
«Isto torna cada vez mais evidente como esta pandemia nos encontrou em termos de fracturas estruturais, com uma grande fragmentação na região, pelo que o olhar tem de ser de mais protecção social», frisou.
A dirigente da Cepal afirmou ainda que o «choque externo é muito forte» e que isso potencia os impactos da crise na região, designadamente com a queda dos preços das matérias-primas, a redução das remessas externas e a diminuição dos serviços ligados ao turismo, que é um dos sectores mais atingidos pela pandemia, informa a agência cubana.
Aumento do desemprego e da pobreza
No âmbito da crise associada à Covid-19, a Cepal estima que encerrem nos próximos seis meses mais de 2,7 milhões de empresas – 2,6 milhões das quais são microempresas, explicou.
Um dos indicadores mais negativos tem a ver com o desemprego. A este respeito, referiu que no final do ano a taxa de desemprego se deve situar nos 13,5% (mais 5,4% que em 2019) e que o número de desempregados deve registar um aumento de 18 milhões, atingindo 44,1 milhões de pessoas.
O organismo também prevê um aumento substancial da pobreza: mais 45,4 milhões de pessoas, passando das 185,5 milhões registadas em 2019 para 230,9 milhões em 2020. Isto representa 37,3% da população.
Bárcena explicou que a Cepal defende cinco propostas, uma das quais passa pela criação de um Rendimento Básico de Emergência por um período de seis meses, destinado a todos os que se encontram em situação de pobreza e que deve ser um complemento a um apoio contra a fome.
A Cepal exige pactos sociais, fiscais e políticos, «porque não podemos permitir que as pessoas saiam desta pandemia com mais fome, mais desiguais, mais pobres e zangadas», disse.
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