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|América Latina

Aumenta a distância entre ricos e pobres na América Latina

Enquanto o número de pessoas em situação de pobreza extrema aumenta, o património dos 104 multimilionários da região ascende a mais de 446 mil milhões de dólares.

De acordo com o Panorama Social da América Latina 2018, há 184 milhões de pessoas em situação de pobreza, 62 milhões das quais em pobreza extrema
Apesar da recuperação económica verificada em 2021, a Cepal registou um aumento de pessoas em situação de pobreza extrema na região Créditos / viajejet.com

De acordo com os dados recolhidos pela Comissão Económica para a América Latina e Caraíbas (Cepal), entre 2020 e 2021 passou a haver mais cinco milhões de pessoas em situação de pobreza extrema – 86 milhões.

No seu relatório anual Panorama Social da América Latina, apresentado recentemente, o organismo internacional refere que, em termos percentuais, a pobreza extrema na região passou de 13,1%, em 2020, para 13,8%, em 2021.

Em simultâneo, o património dos 104 multimilionários da América Latina ascendeu a 446,6 mil milhões de dólares, o que representa aproximadamente 11% do produto interno bruto (PIB) projectado pela Cepal para os sete países onde viviam os «super-ricos» em 2021. Chile, Brasil e México são os países onde estas «fortunas» detêm maior peso na percentagem do PIB.

Um dos factores para o aumento exponencial da desigualdade na América Latina relaciona-se, segundo a Cepal, com a ausência de cargas tributárias para os mais ricos de acordo com o seu nível de riqueza, sendo que «os impostos directos sobre a propriedade (bens imóveis, heranças, transações financeiras) foram tradicionalmente pouco importantes».

Apesar de a Cepal usar como ferramenta de medição do património dos mais ricos os dados apresentados pela Forbes, o organismo sublinha que esta aferição não deixa de ser importante, inclusive para uma abordagem que vá mais além da conjuntura da pandemia e que permita «uma aproximação aos factores estruturais que incidem na reprodução da desigualdade no tempo».

A uma grande distância, no lado oposto

No outro extremo, encontram-se as pessoas em situação de pobreza extrema, cujo número entre 2020 e 2021 aumentou bastante em virtude da crise associada à Covid-19, mesmo com alguma recuperação económica verificada, segundo refere a Cepal no relatório anual.

«Em 2020, 33% da população latino-americana encontrava-se em situação de pobreza e 13,1% vivia em condições de pobreza extrema […]. Isto significa que cerca de 204 milhões de pessoas não tiveram rendimentos suficientes para cobrir as suas necessidades básicas», refere o organismo.

Destas, 81 milhões careciam de recursos para adquirir um cesto básico de alimentos, uma situação a que a Cepal se refere como um «notório retrocesso para a região».

O ano passado, «num contexto de recuperação económica», a Cepal registou uma recuperação parcial do retrocesso observado em 2020, com a pobreza a afectar 201 milhões de pessoas (32,1% da população). Trata-se de apenas menos 1% que no ano anterior e de uma taxa ainda bastante acima dos níveis observados antes da pandemia (24%).

Destes, 86 milhões eram pessoas em situação de pobreza extrema (13,8%), mais cinco milhões que em 2020, o que, para o organismo, se deve à redução das transferências de rendimentos de emergência nalguns países – algo que não foi compensado pelo aumento esperado dos rendimentos do emprego.

O estudo destaca ainda como na América Latina e nas Caraíbas determinadas camadas, como as mulheres, a infância, os povos indígenas ou os habitantes de regiões rurais, foram mais afectados pela crise associada à pandemia.

Em simultâneo, mostra como os sinais de recuperação de económica em 2021 não se centram na mitigação da desigualdade, da precariedade ou de problemas ambientais. «Não foi suficiente para fazer frente aos profundos efeitos sociais e laborais da pandemia», defende a Cepal.

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