Esta revisitação dos factos essenciais pretende, por um lado, contribuir para impedir que os que querem reescrever a História fiquem sozinhos eliminando a nossa memória colectiva e, por outro, contribuir para o entendimento das causas da Segunda Guerra Mundial, de como ela se desenrolou, quem foram os principais protagonistas da contenção da agressão e do volte-face até à derrota dos nazi-fascistas, da Alemanha e de outros países europeus, e dos militaristas japoneses.
Por isso começamos por sustentar que os crimes nazis não foram apenas actos de tresloucados. Eles foram essencialmente uma expressão do extremo a que podem ir os interesses de classes dominantes, o fanatismo político que alimentaram, que tiveram várias expressões como o anticomunismo ou a falta de respeito dos direitos das minorias, fossem elas étnicas, religiosas ou nacionais.
Os nazis chegaram ao poder na década de 1930, numa situação de crise económica e social que o grande capital alemão usou contra o movimento sindical, os comunistas e os judeus.
No plano externo elegeu a URSS como o grande inimigo a abater e grande território a conquistar para expansão do mercado alemão.
A vitória democrática de 8 de Maio de 1945 custou perdas humanas e materiais terríveis, mas o nazi-fascismo e o militarismo foram derrotados.
Durante as quatro décadas seguintes ao final do conflito, a humanidade viveu um equilíbrio precário, baseado na corrida aos armamentos, mas foi nesses anos que, simultaneamente: progrediram as bases técnicas e cientificas do desenvolvimento; os direitos dos trabalhadores e uma maior efectividade no exercício dos direitos humanos; se contiveram disputas nacionais; se ensaiaram soluções de respeito pelos direitos das minorias; e foi praticamente eliminado o colonialismo, com a consequente proclamação de independência de muitos novos países.
Depois da derrota do campo socialista a «nova ordem» internacional, hoje, é bem mais perigosa. Ao desenvolvimento das posições da extrema direita, somam-se fundamentalismos diversos resultantes de longos processos colonialistas e de humilhação nacional, as grandes potencias intervêm militarmente como entendem, os trabalhadores perdem direitos fundamentais, o controlo mediático dos comportamentos atinge níveis preocupantes, a violência é banalizada, a insegurança cresce nas cidades, as políticas antissociais e a corrupção nas camadas dirigentes afastam muitos cidadãos da vida política, desenvolvem-se fenómenos de indiferença.
Por isso, nos 75 anos depois da Vitória, importa continuar a dar força ao sentido de dignidade do Homem, lutando contra a exploração, por melhores condições de vida, de educação e saúde, pela cultura, pelos sentimentos humanistas, pela participação dos cidadãos para que a democracia não regrida e, pelo contrário, se amplie e aprofunde.
As origens do conflito
Nos finais do século XIX o mundo estava divido. A política colonial então levada a cabo completou a tomada das terras não ocupadas no nosso planeta. No futuro só seriam possíveis transferências de um «dono» para outro.
A primeira guerra de repartição começou em 1914 e chegou ao fim com os tratados de paz de 1918 e 1919.
Opuseram-se a Tríplice Entente (Reino Unido, França, Sérvia e Império Russo) e os Impérios Centrais, (Alemanha e Áustria-Hungria). No final da guerra, a Tríplice Entente sai vitoriosa, e as potências centrais foram derrotadas e tiveram de pagar por todos os prejuízos da guerra, na chamada «Paz dos Vencedores». Na Conferência de Paz de Paris foi assinado o Tratado de Versalhes, que obrigou as nações derrotadas, principalmente a recém-formada República de Weimar, alemã, a arcar com pesadas indemnizações, o que contribuiu para provocar uma séria crise económica e política interna.
A área de rivalidade principal e mais aguda situava-se no Sudeste da Europa e no Próximo Oriente, incluindo o Mediterrâneo Oriental, criando problemas e ambições internacionais que envolveram todas as potências europeias.
Por outro lado, existiam as aspirações das nacionalidades oprimidas da região balcânica, que desejavam independência nacional e criação de novos Estados.
As duas maiores potências não europeias, os Estados Unidos e Japão, também foram arrastadas na voragem da guerra, que só chegou ao fim com o colapso da resistência austro-húngara e alemã.
A Rússia soviética decretou a paz, depois do envolvimento do Império Russo com a parte dos contendores que viriam a ser vitoriosos. Significativo foi o primeiro decreto soviético ter sido o Decreto da Paz. Os seus soldados, tendo passado longo sofrimento, regressariam às suas famílias, às suas terras.
O tratado de paz de Versalhes foi dominado pela Inglaterra e pela França. A sua criação residiu na vontade dos países vencedores da Primeira Guerra Mundial refazerem o mapa da Europa, obterem novos mercados e novas fontes de matérias primas, novas possessões e colónias e pretenderem, também, alargar as suas esferas de influência.
Importantes áreas produtoras de matérias primas, a leste e oeste da Alemanha, foram dadas a uma Polónia restabelecida, à França e à Bélgica. A Alemanha renunciou a todas as suas colónias, que seriam administradas por potências indicadas pela Sociedade das Nações.
As forças armadas alemãs ficaram reduzidas a um exército profissional de 100 mil homens.
A Alemanha comprometeu-se a reparar os danos entregando aos aliados, entre outras coisas, quase toda a sua frota comercial e perdendo a sua armada.
O Império Austro-Húngaro foi reduzido a um anel de novos Estados, estabelecidos no Sudeste e Leste da Europa, para isolar a União Soviética e agir como contrapeso de um possível ressurgimento alemão.
A Alemanha perdeu a Alsácia-Lorena, Poznam, a Prússia Ocidental e Memel. O Schleswig, a Prússia Polaca e a Alta Silésia veriam a sua sorte decidida por via plebiscitária.
O Sarre ficou sobre administração da Sociedade das Nações durante 15 anos e as suas minas de carvão tornaram-se propriedade francesa.
Os EUA e o Reino Unido garantiram assistência à França em caso de agressão.
Em 1919 e 1920 vários tratados complementares do Tratado de Versalhes foram assinados, concretizando a supremacia aliada sobre a Áustria, a Hungria, a Bulgária e a Turquia, através do desmembramento dos impérios turco e austro-húngaro.
Do ponto de vista da estrutura política mundial, os resultados da Primeira Grande Guerra de partilha podem ser resumidos da seguinte forma: 1) o poderio germânico foi temporariamente esmagado e o seu império colonial tomado pelas nações vitoriosas, principalmente Inglaterra e França; 2) a Áustria-Hungria foi eliminada do cenário político 3) Os Estados Unidos surgiram como a nação do mundo mais forte economicamente; 4) a Itália e o Japão, embora do lado dos vencedores, viram as suas ambições imperiais frustradas; 5) a Rússia deu inicio à sua tentativa de construir a primeira sociedade socialista do mundo.
A formação da Sociedade das Nações era uma das propostas do documento dos «14 pontos», apresentado pelo presidente dos EUA, Woodrow Wilson, em Janeiro de 1918. Previa nomeadamente o direito dos povos à autodeterminação, a renúncia à diplomacia secreta e à guerra para resolver os problemas entre Estados, a limitação dos armamentos, a liberdade dos mares e da economia mundial, limitações às reivindicações coloniais e a criação de novas fronteiras na Europa, que se revelaram dificilmente conciliáveis com o carácter de rapina dos acordos resultantes da Primeira Grande Guerra Mundial.
No período em que a Sociedade das Nações efectivamente funcionou (de 1920 a 1938), apesar de coleccionar alguns êxitos – nomeadamente o Pacto Briand-Kellog de Agosto de 1928 no qual 15 nações, entre elas a Alemanha, renunciaram à guerra como forma de solução para os conflitos internacionais –, acabou por falhar rotundamente a sua acção pela paz e pelo desarmamento, assistindo impotente às agressões japonesa na Manchúria (1931) e italiana na Abissínia (1935), à intervenção fascista em Espanha e às acções nazis preparatórias da Segunda Guerra Mundial. A Sociedade das Nações seria dissolvida em 1947, depois da sua acção ter sido confiada à Organização das Nações Unidas (ONU) no ano anterior.
Em 1921 e 1922, os Acordos de Washington completaram a partilha do mundo estabelecendo a divisão da zona do Pacífico, através de convenções como:
1. a convenção naval: fixação da importância naval das cinco potências, EUA, Reino Unido, Japão, França e Itália;
2. a convenção das quatro potências: EUA, Reino Unido, França e Japão, que estabeleceram a repartição do Pacífico;
3. a convenção das nove potências: garantida independência da China.
4. O tratado de Chang-Tong, pelo qual o Japão devolveu à China os territórios por si ocupados e retirou as suas tropas da Sibéria.
A disposição básica da segunda guerra de repartição já era perceptível nos resultados da primeira. As nações que tinham ficado de fora da primeira partilha (casos da Alemanha, da Itália e do Japão) começaram a preparar-se para uma segunda.
A campanha começou realmente com a invasão da Manchúria pelo Japão, em 1931, e continuou com a absorção da Etiópia pela Itália (1935), com a guerra civil espanhola (1936), a continuação da invasão da China pelo Japão (1937) e, finalmente, a série de agressões alemãs directas no continente europeu, iniciada com a ocupação da Áustria em 1938.
A ascensão dos nazis
Ninguém diria a 1 de Abril de 1920, data em que foi formado o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães1, que este minúsculo partido viria a governar a Alemanha e que o seu líder, Adolfo Hitler, viria a tornar-se o ditador mais sangrento da história contemporânea.
O Partido Nazi, como ficou conhecido, foi no início apenas mais um partido cujos objectivos consistiam na recusa do Tratado de Versalhes e na vingança pela humilhação sofrida pela Alemanha após a derrota na primeira Guerra Mundial. O seu discurso ideológico era uma miscelânea de nacionalismo exacerbado e de anti-comunismo visceral. Outra característica que o Partido Nazi evidenciou foi a militarização de grande parte da sua organização, que se agrupava nas chamadas secções de Assalto (SA), grupos de arruaceiros que, além de garantirem a segurança dos comícios nazis, intervinham violentamente contra os comícios de outros partidos, nomeadamente do partido comunista.
O símbolo adoptado pelo novo partido foi a cruz suástica, que viria a transformar-se no sinal da opressão e terror nazis.
A ascensão de Hitler foi lenta, mas consolidou-se ao longo dos anos, à custa de grandes apoios financeiros à sua causa.
Em Novembro de 1923, Hitler, cujo partido crescera entretanto, ensaiou um golpe na Baviera que ficou conhecido como o «Putsch da Cervejaria». Embora tendo falhado o golpe que o levou à prisão, foi libertado ao fim de nove meses, acto que confirmou as simpatias e conivências que já existiam, a alto nível no estado, com o futuro ditador.
Na prisão, Hitler escreveu parte daquele que viria a ser o livro-base do pensamento nazi: Mein Kampf (A Minha Luta).
Nesse livro Hitler explanou as teses que viriam a transformar-se na filosofia de acção do Estado nazi. Todas essas teses seriam postas em prática com impressionante rigor durante o período em que os nazis dominaram grande parte da Europa.
Ao aproximar-se o final da década de 20, o dinheiro começou a afluir ao Partido nazi, proveniente de alguns industriais bávaros e renanos que apreciavam a forma contundente como Hitler se opunha aos sindicatos e aos marxistas. Contudo, apesar desses apoios, os nazis sofreram um revés eleitoral em 1928.
Com a grande depressão económica, a produção alemã caiu 50% entre 1929 e 1932. As falências das empresas sucederam-se aos milhares e os desempregados atingiram os seis milhões nos finais de 1930. A miséria e a fome grassavam na Alemanha.
Nas eleições de 1930 Hitler conseguiu um resultado completamente inesperado, que transformou os nazis em segunda força política na Alemanha.
Os apoios à causa nazi aumentaram.
Nas eleições presidenciais de 1932, à segunda volta, o marechal Hindenburgo, símbolo vivo da moribunda república de Weimar, venceu Hitler que duplicara a sua votação em dois anos.
A 31 de Julho de 1932, os cidadãos da Alemanha foram chamados às urnas para a eleição dos membros do parlamento alemão, o Reichstag. Tratavam-se de eleições antecipadas, convocadas pelo presidente Hindenburgo para resolver a crise política então existente, que resultava de um impasse no parlamento que impedia a formação de uma maioria e, por consequência, de um governo estável. O governo em funções caiu, precisamente, por não ter apoio parlamentar. A composição do Reichtag reflectia o crescimento das duas grandes forças antagónicas nos extremos do espectro político, o partido nazi e o partido comunista. O principal resultado destas eleições foi a vitória expressiva do Partido Nazi, que duplicou a sua base de apoio, passando de 18 para 37% dos votos e de 107 para 230 deputados, em relação às eleições anteriores de 1930. Era agora o maior partido na Alemanha, mas não dispunha de maioria absoluta.
Neste período, além dos apoios de capitalistas alemães, Hitler passou a beneficiar do apoio de várias multinacionais. Quando Hitler subiu ao poder, «os industriais não falavam uma língua só», diz Jonathan Wiesen. Mas a maioria estava feliz de apoiar nazistas em vez de comunistas, e de dar suporte a um movimento político que prometia limitar, senão esmagar, o crescente poder dos trabalhadores organizados.
A pequena e média burguesia tinham-se passado em massa para os nazis.
Goering, o mais próximo colaborador de Hitler, foi eleito presidente do Reichstag. Hitler exigia a chefia do governo e criava um ambiente de terror e de pró-guerra civil com as suas Secções de Assalto.
Hindenburgo negava todo o poder a Hitler e aconselhava-o a formar um governo de coligação, que ele recusou. Perante o impasse foram convocadas novas eleições em Novembro, que redundaram num recuo dos nazis. Os comunistas continuaram a subir e os sociais-democratas a baixar, mas estes recusaram qualquer entendimento com os comunistas para deterem os nazis.
Em 30 de Janeiro de 1933, Hindenburgo acabou por nomear Hitler como Chanceler, iniciando-se assim o período mais negro da história da Alemanha.
Os nazis incendiaram o Reichstag para disso acusarem os comunistas e justificarem a feroz repressão que se seguiu.
A nível mundial davam-se os primeiros indícios da repartição do mundo.
O Japão foi a primeira potência a lançar-se no caminho de revisão do sistema de Versalhes – Washington. Em 1936 Japão e Alemanha firmaram o Pacto Anti-Komintern, a que a Itália fascista aderiu um ano mais tarde. Em 1937 os japoneses lançaram-se abertamente na tentativa de dominar completamente a China.
A conquista da Etiópia pela Itália, em 3 de Outubro de 1935, foi consequência directa da política de conivência com o agressor por parte do Reino Unido, da França e dos EUA.
Assim, em 7 de Janeiro de 1935, era assinado em Roma, entre o primeiro ministro francês Pierre Laval e Mussolini, o acordo franco-italiano de partilha de esferas de influência em África, que deixava aos fascistas italiano mãos livres para a invasão da Etiópia.
Em 31 de Agosto, a Câmara dos Representantes e o Senado norte-americanos aprovaram a célebre «política de neutralidade» que, proibindo o fornecimento de armas a países beligerantes, de facto privou a Etiópia de se defender, enquanto a Itália continuava a fornecer-se no mercado norte-americano.
Embora a URSS tivesse apelado para medidas especiais que impedissem a agressão, tal foi recusado pela França, Reino Unido e outros Membros da Sociedade das Nações.
A «política de apaziguamento» da França e do Reino Unido, em relação à Alemanha nazi, consistiu numa série de cedências e falta de resposta militar às escaladas de sucessivas agressões e provocações expansionistas do nazismo alemão, nos anos imediatamente anteriores ao desencadear da Segunda Guerra Mundial (1936-1939).
O apoio aos nazis de grandes empresas e multinacionais
Algumas das mais importantes empresas, alemãs e multinacionais, que apoiaram os nazis:
IG Farben - A empresa gigante envolveu-se fortemente com os nazis e inventou o Zyklon-B, o gás usado nos campos da morte. A IG Farben constituiu-se num grupo que incluía a BASF, a Bayer e a Hoescht.
BASF - Aproveitamento dos prisioneiros dos campos de concentração como mão-de-obra escrava nas suas fábricas de tintas.
Bayer - A multinacional farmacêutica beneficiou voluntariamente do nazismo e dos campos de concentração para testar os seus medicamentos. No início dos anos 30, doou 400 mil marcos a Adolf Hitler e ao Partido Nazi.
IBM - Com o apoio da IBM e das suas filiais, os nazis exploraram a tecnologia de cartões perfurados para gerir a sua máquina de guerra e para identificar, localizar e destruir todos os que se lhe opunham, incluindo na «gestão» automatizada para acelerar as seis fases dos 12 anos de Holocausto, e a rapidez e eficácia da blitzkrieg.
Krupp - No Tribunal de Nuremberg, 12 pessoas foram condenadas, inclusive Alfred Krupp. Em 1999, a empresa fundiu-se com a outra grande siderúrgica alemã, formando a ThyssenKrupp. Nos anos 2010, a Siemens começou a pagar indenizações às famílias de seus operários escravizados.
General Electric - Em colaboração com a Krupp, alemã, a americana General Electric, de forma intencionada e artificial, subiu o preço do carbeto de tungstênio, um material de vital importância para os metais das máquinas necessárias para a guerra. Ainda que só lhe tenha sido aplicada, depois da guerra, uma multa de 36 mil dólares no total, a General Electric ganhou cerca de 1,5 milhões de dólares com essa fraude só em 1936, dificultando o esforço para ganhar a guerra e aumentando o custo para derrotar os nazis.
Coca-Cola - Do gosto dos alemães nas décadas anteriores ao conflito, a Coca-Cola da Alemanha, durante a guerra, não conseguia importar os ingredientes necessários para a produzir. E então decidiram fabricar um novo refrigerante com o que tinham à mão. Assim nasceu a Fanta.
Nestlé – Fornecimento de chocolates para os militares alemães, com milhares de escravos nas suas linhas de produção
Dr. Oetkmer - Participou no fundo de compensação por trabalho forçado, uma organização de empresas alemãs que assumiu a responsabilidade por trabalhos forçados durante a Segunda Guerra Mundial, e roubou muitas peças de arte valiosas.
Ford - Henry Ford era bem conhecido pela sua luta antissemita e anticomunista. A fábrica alemã da Ford produziu um terço dos camiões militares utilizados pelo exército alemão durante a guerra, realizando muito do trabalho com prisioneiros. O que resulta ainda mais surpreendente é que a Ford forçou o trabalho de mão-de-obra em 1940, quando o braço americano da companhia ainda tinha pleno controlo das instalações na Alemanha.
BMW – Usou 30 mil trabalhadores, prisioneiros de guerra, trabalhadores escravos e presos dos campos de concentração, na produção dos motores para a Luftwaffe. A BMW, centrada unicamente nos aviões e motocicletas durante a guerra, trabalhava apenas como fornecedora da maquinaria de guerra dos nazis.
Volkswagen - Com a guerra, a produção de carros civis deixou de ser uma prioridade da Volkswagen e dedicou-se ao fabrico de armamentos também. Em 1940, chegaram 300 polacas, as primeiras trabalhadoras forçadas do local. E a Volkswagen passou a basear grande parte de sua mão-de-obra no trabalho forçado, entre prisioneiros de guerra, civis estrangeiros e prisioneiros dos campos de concentração. Em 1944, 11 334 das 17 365 pessoas que trabalhavam na fábrica eram trabalhadores forçados de diferentes nacionalidades.
Daimler-Benz - Desde 1937, a Daimler-Benz AG produziu cada vez mais peças de armamento, como o camião LG 3000 e motores de aeronaves, como o DB 600 e DB 601. Para criar capacidade adicional para a produção de motores de aviões, além da fábrica de Marienfelde, foi construída a fábrica de Genshagen em localização florestal bem escondida a sul de Berlim, em 1936. Trabalhadores da Europa Oriental e prisioneiros de guerra foram internados em acampamentos. Os detidos dos campos de concentração foram forçados pelas SS a condições desumanas. Foram «emprestados» a empresas em troca de dinheiro. Em 1944, cerca de metade dos quase 64 mil trabalhadores da Daimler Benz eram trabalhadores forçados civis, prisioneiros de guerra ou detidos em campos de concentração.
Estúdios de Hollywood - Para continuar a fazer negócios na Alemanha após a ascensão de Hitler ao poder, os estúdios de Hollywood concordaram em não fazer filmes que atacassem os nazis ou que condenassem a perseguição aos judeus na Alemanha. Foram figuras deste negócio Joseph Goebbels e o patrão da Metro Goldween Mayer (MGM).
Hugo Boss - Desenhou os intimidantes uniformes das SS assim como as camisas castanhas das SA e das juventudes hitlerianas.
Chase Bank - A contribuição do Chase Bank (agora J.P. Morgan Chase) com os nazis não é muito surpreendente, já que um dos seus acionistas mais importantes, J. D. Rockefeller, financiou directamente as experiências eugénicas antes da guerra. Entre 1936 e 1941, o Chase e outros bancos estadunidenses ajudaram os alemães com a recolha de recursos que chegaram a atingir mais de 20 milhões de dólares.
Deutsch Bank - começou por demitir os seus funcionários judeus, passando depois para a «arianização» da empresa (363 processos), ou seja, a passagem do controlo accionista para quem não fosse judeu, segundo a própria empresa. Essa expulsão da população judaica dos negócios do país chegou ao seu auge em 1938, quando, após uma série de leis e decretos, os judeus foram proibidos de participar em qualquer actividade económica. Em 1938, o governo nazi começou a monitorizar e congelar bens de judeus sistematicamente, afectando clientes do Deutsche Bank e de outros bancos. Até ao final da guerra, quase todos os bens e depósitos de clientes judeus tinham sido transferidos para o Reich, de acordo com o banco. O Deutsche Bank também se envolveu no comércio de ouro entre 1942 e 1944. Neste período, o banco comprou 4 446 quilos de ouro do banco central alemão e vendeu-o em Istambul, capital da Turquia, país que ficou «neutral» durante a guerra, mas onde o Deutsche Bank tinha uma filial…
Aliam - Fundada na Alemanha em 1890, não foi surpreendente que fosse a maior seguradora alemã quando os nazis chegaram ao poder. Como tal, em seguida se envolveu no regime nazista. O seu conselheiro delegado, Kurt Schmidt, também era o Ministro da Economia de Hitler, e a companhia assegurou as instalações e pessoal de Auschwitz. O director-geral assegurou o pagamento ao Estado nazi, em vez de aos beneficiários judeus afectados pela «Noite de Cristal». Além disto, a empresa trabalhou estreitamente com o governo nazi para localizar as apólices de seguro dos judeus alemães enviados para os campos de morte e, durante a guerra, assegurou a transferência para o regime nazi das propriedades de que foram privados esses mesmos judeus.
Kodak - Usou mão-de-obra escrava na filial alemã da empresa durante a guerra. As filiais da Kodak nos países europeus «neutrais» fizeram grandes negócios com os nazis, proporcionado mercado para seus produtos, mas também permitindo a valiosa divisa estrangeira. A filial portuguesa inclusive enviou seus benefícios para Haia, que estava ocupada pelos nazistas naquele momento. Esta empresa não produzia apenas as câmaras. Diversificaram o negócio e produziram gatilhos, detonadores e outros artigos militares para os alemães.
Novartis - As empresas químicas suíças Ciba e Sandoz fundiram-se para constituir a Novartis, mais conhecida pelo seu famoso remédio, Ritalin. Em 1933, a filial berlinense da Ciba despediu todo o conselho de administração e o substituiu por um grupo de pessoas arianas mais «aceitáveis». Entretanto, a Sandoz estava ocupada a fazer o mesmo com o seu presidente. As empresas produziram tintas, remédios e produtos químicos para os nazis durante a guerra.
Ao leitor:
Este é o primeiro de uma série de artigos que o autor consagra à celebração do 75.º aniversário da Vitória e que serão publicados entre Março e Maio, sob a designação comum de «Lembrar o fim da Segunda Guerra Mundial sem reescrever a História». Próxima publicação: 18 de Março de 2020.
- 1. Uma abreviatura da sua designação em alemão: Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei.
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