|Irão

Acordo estratégico China-Irão é um «sério aviso» aos EUA

O acordo de cooperação recentemente firmado entre Irão e China constitui, segundo o presidente do Parlamento iraniano, um sério aviso de que as relações internacionais não avançam a favor dos EUA.

O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, e o seu homólogo iraniano, Mohammad Javad Zarif, posam para a foto com o acordo integral de cooperação China-Irão, a 27 de Março de 2021, em Teerão 
Créditos / france24.com

«A assinatura do acordo integral de cooperação entre Irão e China é um alerta importante para que os Estados Unidos entendam que as relações internacionais estão a avançar depressa em seu detrimento e que [os EUA] já não estão em posição de impor unilateralmente um modelo, plano ou acordo a países independentes», disse este domingo Mohammad Baqer Qalibaf, presidente do Parlamento iraniano, numa sessão aberta da instituição.

O acordo é, em seu entender, um «passo estratégico», uma vez que diz ao mundo que as questões globais não se restringem ao Ocidente e que o «próximo século pertence à Ásia», informa a PressTV.

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Ordem executiva de Trump repõe sanções contra o Irão

Três meses depois de abandonar o acordo nuclear com o Irão, o presidente norte-americano repôs as sanções levantadas há três anos, por entre ameaças e a declaração de que está «a pedir a paz mundial».

Mural no edifício da antiga Embaixada dos Estados Unidos em Teerão
Créditos / usni.org

Na sua conta de Twitter, Donald Trump, classificou esta terça-feira as sanções ontem repostas ao Irão como «as mais dolorosas alguma vez impostas», avisando que em Novembro elas passam para «outro nível».

«Quem quer que faça negócios com o Irão não fará negócios com os Estados Unidos. Estou a pedir a paz mundial, nada menos!», escreveu ainda o chefe de Estado a propósito das restrições que haviam sido levantadas pelos EUA na sequência da assinatura do acordo nuclear de 2015 e que entraram em vigor novamente.

As sanções afectam sobretudo as exportações do sector automóvel e o comércio de ouro e de outros metais preciosos do país persa. Para além disso, as empresas norte-americanas deixam de ser autorizadas a importar tapetes e alimentos do Irão, segundo referem a Prensa Latina e a HispanTV.

Pressionar para vergar

Já depois de concretizada a saída dos EUA, no dia 8 de Maio, do Plano de Acção Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), que foi subscrito em 2015 pelo Irão e pelo Grupo 5+1 (os cinco membros com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas – EUA, Reino Unido, França, Rússia e China – e a Alemanha), o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, deixou clara a abordagem do seu país relativamente ao Irão: aumentar a pressão financeira e impor-lhe as «sanções mais fortes de sempre», caso Teerão se recuse a aceitar as exigências feitas ao nível da sua política interna e externa.

De acordo com Pompeo, Teerão terá de abandonar a título definitivo qualquer programa relacionado com actividade nuclear, renegociando o acordo como Washington entende, e terá de alterar a política externa regional, na medida em que os EUA – e o seu amigo Israel – considera o Irão uma amaeaça aos seus interesses no Médio Oriente.


Nos termos do acordo firmado em Julho de 2015, o Irão pode desenvolver o seu projecto nuclear com fins pacíficos e enriquecer urânio até 3,67%, sendo o excedente enviado para a Rússia.

Em pelo menos dez ocasiões, especialistas da Organização Internacional de Energia Atómica confirmaram que Teerão respeita o que está estipulado no acordo. No entanto, Donald Trump ameaçou sair do acordo praticamente desde que chegou à Casa Branca, considerando que subscrever o JCPOA foi «o pior que os EUA podiam ter feito».

Rouhani destaca apoio da Rússia e da China

Em declarações transmitidas pela TV iraniana, o presidente iraniano, Hassan Rouhani, sublinhou o apoio da China e da Rússia face à reposição de sanções por parte dos EUA.

A China, um dos signatários do acordo, tornou-se o maior parceiro comercial do Irão, enquanto a Rússia reafirmou os compromissos que tem com o país, disse Rouhani, que considera que o diálogo com Washington não tem sentido enquanto as sanções forem aplicadas.

Entretanto, a União Europeia (UE) anunciou ontem a entrada em vigor de nova legislação para proteger as empresas europeias no Irão, de modo a diminuir o efeito das sanções norte-americanas contra o país.

Num comunicado conjunto, a chefe da diplomacia da UE, Federica Mogherini, e os ministros dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, da França e da Alemanha afirmaram estar «determinados a proteger os operadores económicos europeus envolvidos em negócios legítimos com o Irão», indica a Prensa Latina.

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Qalibaf, refere a fonte, destacou a importância de aproveitar as oportunidades existentes para «traduzir este documento em projectos económicos e políticos, planos e cooperação, salvaguardando os interesses nacionais».

No passado dia 27, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Javad Zarif, e o seu homólogo da China, Wang Yi, procederam à oficialização, na capital iraniana, do acordo de cooperação estratégica integral, vigente por um período de 25 anos.

Ainda não foram revelados detalhes do acordo, que, ainda assim, foi caracterizado pela TeleSur como «um marco nas relações entre ambos os países» e sobre o qual Javad Zarif disse, na sua conta de Instagram, que busca «promover de forma prática» os laços estratégicos e apresenta «uma rota para um horizonte a longo prazo».

Por seu lado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China deixou claro que o acordo visava cimentar os laços bilaterais de cooperação e não era contra terceiras partes.

Regresso às metas do JCPOA dependem do levantamento total das sanções

Baqer Qalibaf disse ainda que o Plano de Acção Estratégico para Combater as Sanções, uma lei aprovada em Dezembro último pelo Parlamento iraniano, desbloqueou a indústria nuclear do país e inclinou a balança para o lado do Irão.

De acordo com essa lei, foram suspensos mais compromissos ao abrigo do acordo nuclear subscrito em 2015 pelo Irão e pelo Grupo 5+1 (os cinco membros com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas – EUA, Reino Unido, França, Rússia e China – e a Alemanha), designado oficialmente como Plano de Acção Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês) e do qual Washington se retirou em Maio de 2018. Três meses depois, uma ordem executiva de Donald Trump repôs as sanções contra o país persa.

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Irão: «Não haverá acordo melhor do que o alcançado em 2015»

O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, afirmou que o acordo celebrado em 2015 foi «o melhor» e que Donald Trump fez uma «burrice» ao sair dele, instigado pela «Equipa B».

Uma mulher passa junto a um mural numa parede da antiga embaixada dos EUA em Teerão
Créditos / hindustantimes.com

O diplomata iraniano escreveu ontem na sua conta de Twitter que cada vez fica mais claro que «não haverá acordo melhor» que o Plano de Acção Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), sobre as actividades nucleares pacíficas do país persa.

Javad Zarif acusou a «Equipa B» de ter convencido o presidente norte-americano, Donald Trump, a optar pela «loucura de matar o JCPOA com o terrorismo económico» para assim «obter um acordo melhor», refere a HispanTV.

A «Equipa B» a que o diplomata iraniano se referiu esta segunda-feira e cuja actividades «anti-iranianas» tem denunciado de forma reiterada é composta pelo conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton; o príncipe herdeiro saudita, Muhamad bin Salman Al Saud; o seu homólogo dos Emirados Árabes Unidos, Muhamad bin Zayed Al Nahyan; e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

EUA saem do JCPOA e repõem sanções

Já depois de concretizada a saída dos EUA, no dia 8 de Maio de 2018, do Plano de Acção Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), que foi subscrito em 2015 pelo Irão e pelo Grupo 5+1 (os cinco membros com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas – EUA, Reino Unido, França, Rússia e China – e a Alemanha), o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, deixou clara a abordagem do seu país relativamente ao Irão: aumentar a pressão financeira e impor-lhe as «sanções mais fortes de sempre», caso Teerão se recusasse a aceitar as exigências feitas ao nível da sua política interna e externa.

Teerão teria não só de abandonar a título definitivo qualquer programa relacionado com a actividade nuclear, renegociando o acordo como Washington entendia, como também de alterar a política externa regional, na medida em que os EUA – e o seu fiel amigo Israel – considera o Irão uma amaeaça aos seus interesses no Médio Oriente.

Nos termos do acordo firmado em Julho de 2015, o Irão pode desenvolver o seu projecto nuclear com fins pacíficos e enriquecer urânio até 3,67%, sendo o excedente enviado para a Rússia. Em pelo menos dez ocasiões, especialistas da Organização Internacional de Energia Atómica (OIEA) confirmaram que Teerão respeitava o que está estipulado no acordo.

No entanto, Donald Trump ameaçou sair do acordo praticamente desde que chegou à Casa Branca, considerando que subscrever o JCPOA foi «o pior que os EUA podiam ter feito». Três meses depois do anúncio de saída do acordo, Trump assinou uma ordem executiva repondo as sanções que haviam sido levantadas ao país asiático três anos antes.

Irão volta a enriquecer urânio acima dos 3,67%

Em Maio último, o governo iraniano anunciou que, caso os signatários europeus do JCPOA não respeitassem as suas obrigações para salvaguardar o pacto, o Irão voltaria a enriquecer urânio acima dos 3,67%; deixando, no entanto, a porta aberta ao diálogo.

Este domingo, Teerão anunciou que, findo o prazo de 60 dias dado aos parceiros europeus no acordo para que tomassem medidas práticas que compensem o país pelos danos causados pelas sanções que lhe são impostas por Washington, tomou a decisão de aumentar o nível de enriquecimiento de urânio – algo que foi confirmado ontem pela OIEA.


Reino Unido, França e Alemanha reagiram instando Teerão a não avançar para um enriquecimento de urânio superior aos 3,67%, alertando o país persa para «consequências» (não especificadas) que podem advir desse passo.

Numa conferência de imprensa que deu esta segunda-feira em Teerão, Abbas Mousavi, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, advertiu os países europeus contra qualquer resposta «estranha», sublinhando que o Irão poderá ponderar «voltar atrás», tal como as potências europeias exigem, se estas responderem «positivamente às exigências» iranianas.

As diplomacias da Rússia e da China também expressaram preocupação com o passo dado pelo Irão, que agora enriquece urânio até 4,5%, e solicitaram às partes uma saída diplomática para a situação.

Geng Shuang, porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, afirmou esta segunda-feira que o «bullying unilateral [por parte dos EUA] é um tumor que só gera mais problemas e crises em todo o mundo», tendo acrescentado que «a pressão máxima exercida pelos Estados Unidos sobre o Irão é a raiz da actual crise nuclear iraniana», indicam a PressTV e a Prensa Latina.

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«Os americanos deviam saber que a principal estratégia do Irão para se livrar das sanções assenta em neutralizá-las, e agora a indústria nuclear do país foi reactivada; cabe-lhes a eles decidir e levantar as sanções como um todo e de forma prática», disse Qalibaf, citado pela PressTV.

Promessas no papel ou o levantamento incompleto das sanções não correspondem às exigências do Irão. «Dissemos repetidamente que vamos cumprir o que assumimos com base no JCPOA depois de comprovar que o levantamento das sanções não ocorre apenas no papel», frisou.

O destino do Plano de Acção Conjunto Global permanece incerto, uma vez que o presidente dos EUA, Joe Biden, se tem mantido fiel à política de pressão da Casa Branca quando o inquilino era Donald Trump, apesar da vontade aparente em regressar ao acordo.

Depois das declarações recentes do Departamento de Estado norte-americano sobre os «passos que o Irão teria de dar para regressar ao cumprimento do JCPOA», o Ministério iraniano dos Negócios Estrangeiros afirmou, no sábado passado, que uma retirada gradual das sanções impostas ao país estava fora de questão.

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