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«Parto Sem Dor», uma homenagem a Cesina Bermudes no IndieLisboa

O trabalho marca a estreia de Marie Mire na realização e é uma homenagem à médica obstetra e resistente antifascista Cesina Bermudes (1908-2001), pioneira da introdução do parto sem dor em Portugal. 

O filme «Parto Sem Dor» será exibido também no dia 3 de Setembro, às 18h45, na Sala 3 do Cinema São Jorge, em Lisboa
O filme «Parto Sem Dor» será exibido também no dia 3 de Setembro, às 18h45, na Sala 3 do Cinema São Jorge, em Lisboa Créditos / Gerador

«Através de arquivos e exercícios de memória, conta-se a história da médica obstetra Cesina Bermudes. Uma conversa que começa no peitoril de uma janela e que se prolonga através de uma intimidade imaginada», lê-se na sinopse do filme Parto Sem Dor, que estreia hoje no festival de cinema IndieLisboa. 

O trabalho integra a competição nacional de curtas-metragens do IndieLisboa 2020 e estreia mais logo, pelas 21h45, na Sala Manoel Oliveira do Cinema São Jorge.

Parto Sem Dor apresenta-se como uma homenagem pessoal da realizadora à médica, obstetra, investigadora, feminista e resistente antifascista, com uma educação e percurso profissional vanguardistas, e cujo epíteto podia ser «a primeira». 

Filha do escritor teatral e ensaísta Félix Bermudes, Cesina Borges Adães Bermudes foi a primeira mulher a doutorar-se em Medicina, mas, não obstante os 19 valores obtidos, a ditadura de Salazar impediu-a de fazer carreira docente nesta área. Tendo sido pioneira da introdução do parto psicoprofiláctico em Portugal, foi também a vencedora da primeira Volta a Lisboa em bicicleta, em 1923, tendo sido das primeiras mulheres a tirar a carta de condução automóvel no nosso país.

Na preparação deste filme, revela a também artista plástica Marie Mire, «o mergulho histórico foi feito inicialmente através da leitura dos inúmeros textos científicos escritos por Cesina Bermudes, assim como da consulta a documentos históricos nos arquivos nacionais sobre o período do fascismo e da realização de entrevistas a pessoas que foram suas pacientes, colegas ou que se ligaram a ela em algum momento da sua vida».

Ao fascismo, que em 1949 a encarcerou no Forte de Caxias pelo facto de integrar a Comissão Central do Movimento Nacional Democrático Feminino, Cesina Bermudes respondeu sempre com resistência e luta.

Em 1950, esteve envolvida na constituição do Comité Nacional de Defesa da Paz, juntamente com Maria Isabel Aboim Inglês, Maria Lamas e Virgínia Moura. Com esta assinou também o documento comemorativo do 10.º aniversário do Movimento de Unidade Democrática (MUD), tendo integrado, em 1957, a Comissão Cívica Eleitoral de Lisboa com as escritoras Maria Lígia Valente da Fonseca Severino e Natália Correia.

Apoiou a candidatura de Arlindo Vicente à Presidência da República, em 1958, e depois a do General Humberto Delgado. Posteriormente, dedicou-se a prestar assistência médica a mulheres do PCP que viviam na clandestinidade, nomeadamente na ajuda a parturientes. 

Parto e dor, termos que não devem coexistir

Proibida de leccionar na Faculdade de Medicina, Cesina Bermudes acabou por exercer o magistério na Escola Técnica de Enfermeiras, tendo trabalhado como médica no Centro de Assistência à Maternidade e Infância, um centro de saúde inovador que funcionou entre 1939 e 1949, em Lisboa.

Em 1954 ruma a Paris para descobrir como funcionava um medicamento para o coração que provocava contracções uterinas. De regresso a Portugal, depois de ter trabalhado com o obstetra francês Fernand Lamaze, seguidor do método psicoprofiláctico criado nos anos 20 do século XX na URSS, Cesina Bermudes introduz em Portugal o método psicoprofiláctico em obstetrícia, inicialmente conhecido como parto sem dor.

Uma revolução no Portugal conservador, onde as mulheres só deviam procriar desde que fossem casadas e se entendia que o sofrimento e a dor deviam ser condições naturais do parto.

Impedida de trabalhar no sistema público, Cesina ajudou a nascer milhares de bebés na Maternidade de Cascais e também em Lisboa, numa clínica criada por um dos médicos que conheceu em Paris (Pedro Monjardino) para mães solteiras, que a ditadura proibia de dar à luz nos hospitais públicos.

Referência no meio médico e científico, Cesina Bermudes, cujo nome figura na toponímia da freguesia de Carnide, em Lisboa, publicou vários textos em revistas médicas, nomeadamente «Bases Científicas do Parto sem Dor», em 1955, e «Notas Soltas sobre o Parto sem Dor», em 1957.

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