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Novo livro infantil de Capicua alerta para crise da habitação

Como é que um caracol foge de casa?, a editar no dia 22, é o segundo livro para crianças que a rapper Capicua (Ana Fernandes) publica com ilustrações de Matilde Horta. Será apresentado este sábado, em Lisboa.

CréditosMário Cruz / Agência Lusa

O conto é protagonizado por um caracol, farto de andar com a casa às costas, que, a caminho de umas férias no mar para visitar os primos caramujos, se vai cruzando com outros animais com dificuldade em conseguirem uma casa, seja um ninho, uma toca, uma teia.

«Vivemos num mundo com muitas desigualdades e não temos essa capacidade de olhar para a nossa situação de privilégio e de valorizar aquilo que temos, num contexto em que há tantas pessoas a passar dificuldades, que é o tema de fundo desta narrativa que é a questão da habitação», explicou Capicua.

No final desta história, em prosa marcada por humor e ironia, este caracol «vai perceber que afinal é um afortunado e há muito quem inveje a sua situação» de ter direito a uma casa só para ele.

O livro Como é que um caracol foge de casa?, da Nuvem de Letras, será apresentado amanhã na Casa do Jardim da Estrela, em Lisboa. É recomendado para crianças a partir dos três anos, pré-leitoras, o que significa que convida a uma leitura partilhada e, espera a autora, a um diálogo entre adultos e crianças.

«Interessa-me cruzar gerações e diferentes capacidades de entendimentos; é mais interessante quando partilhamos a leitura, porque temos alguém com quem conversar sobre o livro e as pessoas captam sentidos diferentes nas mesmas frases», explicou.

Para Capicua, há um desafio acrescido em escrever prosa, saindo da métrica que lhe é conhecida no rap ou no projecto Mão Verde, dirigido aos mais novos, mas tenta manter a mesma lógica: «Não infantilizar, não simplificar o vocabulário».

«Quanto mais enriquecermos o texto e o discurso com coisas que podem parecer exigentes, com palavras que podem parecer rebuscadas, mais perguntas e mais interesses suscitamos nas crianças», defendeu.

Segundo Capicua, os seus dois livros ilustrados – Cor-de-Margarida (2023) e Como é que um caracol foge de casa – estão interligados. Ambos falam «um bocadinho sobre aceitação de quem somos e de encontrarmos um certo conforto nas nossas circunstâncias».

Ana Fernandes, natural do Porto, formada em Sociologia e na cultura pop e hip hop dos anos 1990, contou à Lusa que teve uma infância privilegiada na relação com o livro e com a leitura. «Sempre tive muito acesso a livros e muita gente disponível para ler quando eu ainda não sabia ler. […] Gostava muito de poesia, de lengalengas, encontrava uma relação muito lúdica com as palavras e tenho uma memória muito boa do património da tradição oral transmitido na primeira infância», lembrou.

Dessa infância, Capicua recorda-se ainda, em particular, de um livro com selecção de poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen.

«Foi um portal que se abriu para mim, perceber que era possível falar sobre o intangível e o emocional e sobre todos esses mistérios a partir dos versos e das palavras. Foi uma grande descoberta. Para mim essa relação com as palavras vem da infância e é quase uma retribuição eu poder contribuir para a literatura infantil e língua portuguesa», reconheceu.


Com agência Lusa

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