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A Science4You continua a apurar a sua receita de precariedade laboral

Uma dose de trabalho temporário, duas de subsídios de natal e férias pagos em duodécimos. Mistura-se tudo com uma pitada de falta de condições laborais, et voilá: aí está a receita do empreendedorismo.

Linha de montagem do armazém da Science4You, que continua a recorrer ao trabalho temporário para preencher posições de trabalho efectivas 
Créditos / Notíciasaominuto

«Torna-te um verdadeiro empreendedor e aprende a delinear uma estratégia de negócio! Desenvolve competências de matemática, vendas, marketing e estratégia empresarial, enquanto brincas! Liberta a tua imaginação e usa a tua bancada montável para criares uma start-up inovadora», anuncia a Science4You, empresa de «brinquedos e jogos educativos», por ocasião do lançamento do seu último «brinquedo educativo»: «A minha primeira Startup», para crianças de seis ou mais anos.

Infelizmente o brinquedo vem, de origem, incompleto. É que seguindo à risca a estratégia empresarial da própria Science4You, não bastam os «placares de exposição, a máquina registadora montável, bloco de registo de vendas, quadro de ardósia, lápis e giz» para atingir o sucesso no mundo empresarial. Só mesmo assentando numa política de agressiva exploração do trabalho precário.

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Ciência «baseada em baixos salários e precariedade laboral»

Em reunião com o CESP/CGTP-IN, a empresa de brinquedos científicos Science4you deixou claro que iria recusar qualquer proposta de aumento salarial para este ano.

António Costa ouve explicações do director-executivo da empresa Science4you, Miguel Pina Martins, durante a sua visita à fábrica em São Julião do Tojal, 27 de Novembro de 2018 
CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

A receita para a precariedade laboral nesta empresa tem uma lista sem fim de ingredientes. Ao longo dos anos têm vindo a ser denunciados, por trabalhadores e pelo Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN), um rol de abusos laborais, que só com uma intervenção determinada dos trabalhadores e das suas organizações representativas foram sendo ultrapassados.

Desde forçar trabalhadores a pagar do seu bolso o acesso à fábrica, onde exerciam a sua função (obrigados, sempre, a usar o NIF da empresa nas suas despesas), às fracas, ou inexistentes, condições de segurança no trabalho, que implicam o manuseio de substâncias perigosas, provocando, ao longo dos anos, doenças pulmonares e gástricas entre os funcionários.

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Trabalhadores da Science4You exigem melhoria das condições laborais

Lembrando que a empresa não pode esconder os baixos salários com o pagamento de subsídios em duodécimos, o CESP afirma que os trabalhadores na Science4You continuam «a pagar para trabalhar».

Armazéns da Science4you dentro do MARL
CréditosCâmara Municipal de Loures

A denúncia parte do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços (CESP/CGTP-IN) e refere-se à «discriminação» sofrida pelos trabalhadores contratados através de agências de trabalho temporário.

Para além de serem sujeitos a «comportamentos repressivos» por parte das chefias devido à precariedade dos seus vínculos, estes trabalhadores continuam a ser discriminados em relação ao subsídio de refeição, refere o sindicato em documento distribuído.

No que se refere ao pagamento dos subsídios de férias e de Natal, o sindicato lembra que a Lei determina que devem ser pagos por inteiro, antes do gozo de férias e do Natal, o que não ocorre.

O CESP considera que Science4You não pode continuar «a esconder os baixos salários que paga» através do pagamento de subsídios em duodécimos.

Em comunicado, o sindicato informa ainda que a empresa assumiu, em reunião, o compromisso de negociar uma proposta de aumento dos salários, garantindo a diferenciação salarial dos diversos níveis e categorias, e considerando a antiguidade sem discriminações.

Outras questões, relativas à melhoria dos fardamentos e dos equipamentos, bem como à aplicação do plano de contingência no âmbito da Covid-19, foram também tidas em conta pela empresa.

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Considerando que a «política da empresa é baseada em baixos salários», o CESP não estranha «a estagnação salarial e a desvalorização profissional dos trabalhadores, nomeadamente daqueles com mais anos de antiguidade na Science4you». A proposta de «aumento salarial de 90 euros, três euros por dia, para todos os trabalhadores, sem discriminações», foi prontamente recusada pela administração.

Apenas no que toca às condições de segurança e salubridade houve algum assentimento, por parte da entidade empregadora, na introdução de medidas de protecção da saúde e bem-estar dos trabalhadores.

Compromete-se a Science4you a «resolver os impactos nefastos de quem trabalha na sala dos corantes», a «melhorar as condições das casas de banho» e a procurar soluções para «minimizar os impactos físicos na movimentação manual do material com peso excessivo».

No que toca à contratação, a postura geral da empresa mantem-se inalterada, não dando mostras de pretender abandonar o recurso ao trabalho precário, subcontratado.

À exigência do sindicato, «que ao trabalhador de uma agência de trabalho temporário a ocupar um posto de trabalho permanente», desempenhando uma função indispensável ao funcionamento normal e regular da empresa, e que responde «directamente às orientações dadas pela Science4you», devesse ser atribuído um vínculo de trabalho efectivo, foram feitos ouvidos moucos.

No comunicado do CESP, enviado ao AbrilAbril, é ainda referido o protesto deste sindicato face «ao ambiente intimidativo e hostil», dinamizado por uma chefia do armazém da empresa, tendo a Science4you assumido a necessidade de agir para resolver as situações denunciadas. O CESP lembra que todos «os trabalhadores devem continuar a comunicar ao delegado sindical qualquer incumprimento verificado».

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Dia 4 de Novembro, apenas três semanas depois da apresentação deste brinquedo, os trabalhadores da agência de trabalho temporário a que a empresa recorre, «foram "convidados" a assinar uma adenda com data de 1 de Abril, para alterarem o motivo da sua contratação», denuncia o comunicado que o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP) enviou ao AbrilAbril.

No fundo, «o que a empresa Science4You pretende é ter uma justificação para despedir estes trabalhadores». É indispensável que «todos os trabalhadores das empresas de trabalho temporário, que ocupam um posto de trabalho permanente, sejam integrados na empresa com vínculo efectivo», e não dar seguimento à «ilegalidade da justificação patronal» para não pagar o que deve a estes trabalhadores.

Entretanto, ainda se mantém a «obrigatoriedade de os trabalhadores das agências de trabalho temporário continuarem a pagar diariamente a portagem para aceder ao seu local de trabalho», no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), em Loures, assim como não foi feito nenhum esforço para resolver a maioria das dezenas de queixas levantadas pelos trabalhadores por falta de condições de trabalho.

A Science4You reduziu o valor pago de subsídio de refeição dos 4,27 euros para os 2,80, a todos os trabalhadores com contratos assinados depois do dia 1 de Janeiro de 2021, uma discriminação que vai custar 1,47 euros por dia, 355 euros por ano, a estes trabalhadores.

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