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À «má-fé» da Ryanair/Groundlink trabalhadores respondem com greve

«A empresa recuou em inúmeras matérias» para as quais já havia consenso: é «má-fé negocial», considera o Sitava/CGTP. Greve às horas extra de 24 de Julho a 31 de Outubro e greve total a 30/31 de Julho e 5/6 de Agosto.

CEO da Ryanair, Michael O'Leary
CréditosChema Moya / EPA

Em Março de 2023 foram retomadas as negociações (interrompidas pela pandemia em 2020) para fechar um Acordo de Empresa entre a Ryanair/Groundlink e o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava/CGTP-IN). O processo decorreu dentro da normalidade, tendo os trabalhadores e o sindicato a genuína expectativa de ter o processo concluído em Maio.

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SITAVA agenda plenários em todos os aeroportos nacionais

Nem o lucro de 2,6 mil milhões de dólares em 2021 levou a Vinci, multinacional francesa que tem a concessão da Ana Aeroportos, a valorizar minimamente os seus trabalhadores.

CréditosJoão Relvas / Agência Lusa

Aeroporto Humberto Delgado, Francisco Sá Carneiro, de Faro, Porto Santo, Santa Maria, Horta, Aeroporto João Paulo II (Ponta Delgada) e o Cristiano Ronaldo, na Madeira. Até ao início de Março, os trabalhadores que garantem o funcionamento de cada uma destas instalações vão reunir, em plenário, e discutir os vários atropelos da administração ANA/Vinci.

O mais inusitado dos problemas, neste momento, é o Sistema de Avaliação de Desempenho (SAD), que funciona há poucos anos. «Para melhor manipular os resultados, a empresa definiu, ilegalmente, um tecto máximo grupal de 3,2 de média de avaliação». Seguramente, «uns estarão acima da média e outros abaixo mesmo que não o mereçam», impedindo a sua progressão na empresa.

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Pagamento de indemnização à Vinci é «chantagem» da multinacional

A Plataforma Cívica Aeroporto BA6-Montijo Não! lembra que o contrato não prevê indemnizações caso se altere a localização do novo aeroporto e que futura avaliação ambiental deve ser isenta e credível.

Créditos / Bomdia.eu

Ouvida esta terça-feira na Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação da Assembleia da República, a Plataforma Cívica confirmou, através da leitura de uma das cláusulas do memorando de entendimento assinado em 2017 entre o Governo e a ANA/Vinci, que a concessionária aceitou não ter direito a qualquer indemnização pelo facto de o concedente não concordar com a alternativa à construção do novo aeroporto de Lisboa.

Neste sentido, e depois de a Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) ter indeferido o pedido de apreciação prévia de viabilidade de construção do aeroporto complementar do Montijo, apresentado pela ANA Aeroportos, a Plataforma constata que «toda a narrativa acerca das supostas indemnizações» reflecte a «pressão» e a «chantagem» por parte da multinacional. 

A organização alertou ainda que, no caso de o processo avançar, o regulador iria confrontar-se com outra legislação que, sendo devidamente cumprida, impediria a localização e a utilização da pista 01/19 da Base Aérea do Montijo (BA6) pelo facto de esta estar situada a pouco mais de 800 metros do Parque Industrial do Lavradio/Barreiro incluído nas indústrias ditas Seveso (ver caixa) e que têm enquadramento na Directiva com o mesmo nome, transcrita para a legislação nacional.

Quanto ao anúncio feito por Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, a propósito de uma nova avaliação ambiental estratégica, a Plataforma Cívica defendeu que a mesma teria de obedecer a três pontos «essenciais e inultrapassáveis». Isenta, credível e tecnicamente sustentável são os critérios requeridos pela Plataforma, acrescentando que só o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) terá as «condições necessárias» para realizar a dita avaliação. 

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Governo «só consegue impor o Montijo silenciando as autarquias»

Os presidentes das câmaras do Seixal e da Moita criticam a proposta de lei do Governo, que lhes retira poder de veto em matérias nacionais estratégicas, e a cedência aos interesses da multinacional Vinci. 

Créditos / 24.Sapo

De acordo com a iniciativa enviada ao Parlamento, dias após a Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) ter chumbado o projecto para a construção do aeroporto no Montijo, as autarquias passariam a ter apenas 20 dias para emitir parecer sobre a construção de aeródromos e aeroportos, sendo que em relação aos segundos o parecer seria facultativo e não vinculativo. 

Ao AbrilAbril, os presidentes dos municípios do Seixal e da Moita, cujo parecer negativo determinou o indeferimento por parte da ANAC, afirmam que a manobra do Governo constitui um «atentado à democracia» e que o Executivo «vai por mau caminho» se insistir na base área do Montijo. 

«O Governo quer implementar a decisão que um privado tomou, que é de não fazer um aeroporto que interesse a Portugal, mas uma solução aeroportuária minimalista que interesse a uma empresa, e vai fazê-lo por cima de todas as questões legais, políticas e ambientais», critica Joaquim Santos. A atitude, acrescenta o presidente da Câmara Municipal do Seixal, «revela bem a que interesses o Governo do PS responde». 

«Eu diria até que o Governo, que pretende retirar o direito de veto às autarquias, pelos vistos continua a alinhar com o direito de veto da Vinci», salienta o presidente da Câmara Municipal da Moita. Afinal, elucida, é a multinacional que está a sabotar a construção do aeroporto de Lisboa na «localização estudada e decidida», o campo de tiro de Alcochete, e «pelos vistos esse direito de veto agrada ao Governo, a posição das autarquias é que não lhe agrada». 

Rui Garcia vai mais longe e admite que, «alterem as leis que alterarem, não nos vão impedir de defender os direitos da nossa população, do nosso território, continuaremos a usar todos os meios ao nosso alcance para impedir essa má solução».

A decisão de construir o novo aeroporto de Lisboa no Montijo afectaria directamente 90 mil pessoas dos concelhos da Moita, Barreiro e Seixal, no distrito de Setúbal. No caso da Moita, a União das Freguesias da Baixa da Banheira e do Vale da Amoreira, onde vive metade da população do concelho, seria a zona mais impactada pela poluição e pelo ruído. 

Joaquim Santos alerta para o «gravíssimo problema» com que estes concelhos estão confrontados, agora e no futuro. «Toda a gente sabe que é na Margem Sul que está o crescimento populacional da região metropolitana. Agora são 90 mil, no futuro se calhar são 120, 150 mil». 

Quem não está alinhado com o interesse nacional «é o próprio Governo»

Na exposição de motivos da proposta saída do Conselho de Ministros, o Governo refere que a lei de 2007 faz «depender a construção de um aeroporto, uma infra-estrutura de interesse nacional e de importância estratégica, de pareceres das autarquias locais, o que não acontece com, por exemplo, a construção de infra-estruturas rodoviárias ou ferroviárias», alegando que estes pareceres das autarquias «resultam de interesses de cariz eminentemente local que, por vezes, nem sempre estão alinhados com o superior interesse nacional».

Joaquim Santos reage, realçando que, neste caso, as autarquias do Seixal e da Moita estão alinhadas com o interesse nacional. «Quem não está, é o próprio Governo», critica.

Face ao entendimento do Executivo de António Costa, o presidente da Câmara da Moita lembra que os aeroportos internacionais são infra-estruturas com impactos no território «superiores a quaisquer outras», daí que, sublinha, «faz sentido e é justo» que uma decisão desta natureza tenha a participação e seja construída em consenso com as autarquias locais. 

«É esse o espírito da lei e é correcto que assim seja», acrescenta, salientando que, ao retirar esta capacidade de intervenção e de participação às autarquias, o Governo «está a reconhecer que não tem razão, que esta é uma má decisão, que só consegue impor silenciando as autarquias».

Rui Garcia frisa que, também do ponto de vista do respeito pelo Estado de Direito, mudar-se uma lei em função de circunstâncias momentâneas «não é um bom exemplo do que deve ser o respeito pela lei». 

«Imaginem se o PCP estivesse no Governo e tirasse o poder de participação vinculativo a uma câmara municipal, o que não diriam de um ataque à democracia. Como é um Governo do PS, para servir um interesse privado, não há problema nenhum», observa Joaquim Santos. 

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A organização regista ainda que, tal como acentuado na audição, «dificilmente se pode compreender» o abandono de uma solução baseada no Campo de Tiro de Alcochete em favor da solução Montijo, «muito limitativa na capacidade, operacionalidade, impactos ambientais, duração/longevidade e flexibilidade.

Nesse sentido, defende que, em vez de um aeroporto complementar, se exige dar concretização à decisão de 1969, de retirar o aeroporto da cidade de Lisboa, mas de forma a permitir a construção progressiva de uma cidade aeroportuária multipolar, que sirva os interesses da região e do País. 

Na mesma audição, a Plataforma Cívica Aeroporto BA6-Montijo Não! afirmou que «não é correcto» envolver na questão do novo aeroporto o projecto da terceira travessia do Tejo, no corredor Chelas-Barreiro, tendo salientado que o novo aeroporto em Alcochete, de acordo com a solução inicial, não está dependente de uma nova ponte, tal como o facto de esta ainda não existir não impede a construção do novo aeroporto.  

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«É mais uma brilhante e ardilosa iniciativa da empresa que visa exclusivamente prejudicar os trabalhadores», mas não é a única que se tem verificado desde 2020, denuncia o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (SITAVA/CGTP-IN).

Desde a chantagem com a denúncia do Acordo de Empresa à «decisão unilateral de não contribuição para o Fundo de Pensões», os trabalhadores vêm sendo prejudicados em várias frentes: «a revogação do pagamento de monitorias no âmbito de acções de formação ministradas pelos trabalhadores da ANA, a interpretação enviesada de cláusulas como a que define o pagamento do subsídio de turno» e a ausência de uma resposta à proposta feita pelo SITAVA de revisão salarial para 2022. 

É a «radiografia de uma empresa e de uma administração que tem como principal objectivo punir e desrespeitar os trabalhadores», ainda para mais se tivermo em conta as declarações de Thierry Ligonnière, presidente-excutivo da ANA: o capital humano da empresa «é o seu activo mais valioso, e o modelo de avaliação de desempenho é uma ferramenta chave para desenvolvê-lo». Valiosos só mesmo na medida do lucro que criam para a administração.

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Esse «espírito construtivo» assumido pelo sindicato e os trabalhadores foi, no entanto, boicotado pela «má-fé negocial» demonstrada pela Ryanair (assim como a Groundlink, empresa que faz a assistência em terra da low-cost), que em finais de Junho «recuou em inúmeras matérias pecuniárias já acordadas».

Ainda assim, num sinal de «boa-fé», o Sitava comunicou à empresa a sua disponibilidade para assinar o Acordo de Empresa até ao passado dia 7 de Julho, «nos termos que já estavam discutidos e acordados pelas partes». Decorrido o prazo, a empresa fez questão de demonstrar que, na Ryanair, nem só as viagens são de baixo custo, também a sua palavra vale muito pouco.

«Não resta aos trabalhadores outra alternativa que não seja lutar pelos seus direitos»: o Sitava convocou greve a todo o trabalho suplementar de 24 de Julho a 31 de Outubro e paralisações totais nos dias 30 e 31 de Julho e 5 e 6 de Agosto, tanto na Ryanair como na Groundlink. Os trabalhadores «exigem respeito e a assinatura dos Acordos de Empresa».

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