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Começa a greve dos mineiros de Neves Corvo contra escalas de trabalho perigosas

Nas minas da Somincor, morreram quatro mineiros desde que foram aplicadas escalas de trabalho mais intensas. Nova administração, da Boliden, quer acelerar ainda mais o ritmo, contra a vontade expressa pelos trabalhadores.

Trabalhadores da Somincor das Minas de Neves Corvo participam numa marcha rumo ao Ministério do Trabalho para reclamar a intervenção na resolução do conflito que opõe os trabalhadores à administração. Lisboa, 10 Novembro de 2017 
CréditosAndré Kosters / Agência Lusa

A greve pela manutenção do horário actual no fundo da mina e por respostas ao Caderno Reivindicativo vai paralisar, nos dias 16 e 17  de Junho, as equipas A e B e, a 20 e 21 de Junho, as equipas C e D. Na mina de Neves Corvo (da Somincor, privatizada em 2004), em Castro Verde, os trabalhadores laboram numa escala de 3 por 2: 3 noites de trabalho, 2 dias e noites de descanso, 2 dias de trabalho com 3 noites e dias de descanso. A nova administração quer aplicar uma escala 4x4, quatro de trabalho, quatro de descanso.

Em referendo, os cerca de 2 mil trabalhadores das minas rejeitaram, por maioria, a possibilidade de se mexer nas escalas de trabalho.

Gunnar Nyström, director-geral da Boliden Somincor, em entrevista ao jornal Correio Alentejano, defendeu que a alteração para a escala de 4x4 é «uma medida essencial para melhorar os índices de segurança da Somincor e para aumentar os níveis de produção da empresa, invertendo a tendência negativa verificada nos últimos anos».

Uma opinião diferente tem a direcção do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira (STIM/CGTP-IN). Com a implementação dos horários actuais (aplicados em 2019), mais intensivos, «aumentaram os acidentes de trabalho, 4 dos quais fatais». Ainda assim, contra todas as evidências, Nyström considera que prolongar ainda mais os períodos de trabalho dos mineiros permitirá «melhorar as condições de segurança dos nossos trabalhadores».

Este aumento do risco para os mineiros não se fez sentir nos resultados financeiros, pelo contrário – desde esse momento, a exploração mais acentuada do trabalho destes profissionais resultou em resultados financeiros cada vez mais fracos.

Porque «insiste» a Boliden, então, «em concentrar ainda mais o horário em dias seguidos de trabalho», questiona o sindicato. Em reunião de mediação realizada com a Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), a empresa sueca recusou até prorrogar a alteração dos turnos até a audiência do pedido de providência cautelar apresentado pelo STIM.

«É de extrema importância que todos os trabalhadores da Somincor mantenham a união, pois este é só o primeiro passo da empresa para retirar direitos, os próprios afirmaram que têm intenção de pôr em prática outras medidas». As medidas tomadas pela empresa até ao momento, considera o sindicato, foram sempre com o propósito de «“tirar aos trabalhadores” e não de “dar"».

A Boliden é a terceira multinacional a gerir as minas de Neves Corvo, em Castro Verde, desde a privatização da Somincor em 2004 (durante o Governo PSD/CDS-PP de Durão Barroso). Depois da Eurozinc e da canadiana Lundin Mining, a sueca Boliden adquiriu em 2025 os direitos de exploração desta importante mina de cobre, chumbo e zinco, que emprega cerca de 2 mil trabalhadores.

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