O Dia Internacional do Trabalhador tem em cada país a sua importância. Confirma, independentemente das formas, que é nos trabalhadores que reside a força que cria a riqueza, que pela venda da sua mão-de-obra mete cada país a funcionar. Confirma que se são os trabalhadores que tudo criam, é também aos trabalhadores que tudo deve pertencer.
Em Portugal o Dia Internacional do Trabalhador tem um significado ainda mais especial. Se a 25 de Abril de 1974 se fez a Revolução, foi a 1 de Maio do mesmo ano que essa confirmou os seus moldes revolucionários, mas sobretudo de classe.
O AbrilAbril fez o seu acompanhamento do dia. Em Lisboa viu a enchente de gente que foi do Martim Moniz até à Alameda. Confirmou que a luta continua a articular-se com os ideais de Abril e falou com, Filipa Costa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Comércio Escritórios Serviços de Portugal (CESP) e com José Correia, presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional, Empresas Públicas, Concessionárias e Afins (STAL).
Sim, são sectores diferentes. E sim, há uma tentativa de colocar os trabalhadores de ambos os sectores (público e privado) uns contra os outros numa clássica tentativa de dividir para reinar. As conclusões não podiam ser mais claras: tanto no público como no privado a luta dos trablhadores é só uma.
Filipa Costa: «Os trabalhadores do privado querem 35h para todos, não querem que o sector público recue nos seus direitos»
Temos vindo a assistir a um forte ataque aos trabalhadores. O salário real não tem acompanhado os níveis de inflação e como tal assistimos ao empobrecimento generalizado de quem trabalhada. Posto isto, como foi trabalhar para a mobilização nacional para esta jornada de luta?
Somos um sector de baixos salários e de empresas com milhões de lucro, exemplo comércio, sector das empresas de distribuição. Existe um sentimento de injustiça, os trabalhadores vivem com dificuldades enquanto o patrão enche de milhões. Sabemos que muitos trabalhadores aderiram hoje á greve. Sabendo que muitos, não o fizeram por dificuldades financeiras. Tivemos trabalhadores que justificaram que não iam fazer greve, por precisarem do dinheiro.
O CESP tem agora uma campanha pelo encerramento do comércio aos domingos e feriados e pela redução dos tempos de funcoinamento até às 22h. Como está a correr esta campanha?
A campanha está a ser muito bem aceite pelos trabalhadores. São eles próprios a fazer a divulgação da Iniciativa legislativa de cidadãos e recolhem assinaturas. Os trabalhadores estão muito cansados de não ter vida pessoal e familiar. Hoje vamos divulgar que já temos mais de 10 mil assinaturas recolhidas.
O CESP acompanha uma imensidão de trabalhadores. Sentes que esta reivindicação está a ser acolhida pelos trabalhadores do comércio e se sim quais as principais questões pessoais que os levam a dar razão?
Os trabalhadores revêem se no encerramento do comércio aos domingos e feriados. A questão familiar tem um peso muito grande. O facto de não darem o acompanhamento devido aos filhos, é algo que toca muito estes trabalhadores. Mas todos os trabalhadores de outros sectores que acompanhamos, estão muito solidários com os trabalhadores do comércio.
Para terminar, e fiz esta pergunta ao José Correia do STAL e tenho que te fazer a ti também: muitas são as vozes que visam colocar trabalhadores do sector Privado contra trabalhadores do sector Público. Qual é a tua perspectiva sobre isso?
O patronato faz de tudo para tentar dividir os trabalhadores. Com discursos de criar diferença entre público e privado. Algo que une todos os trabalhadores é a melhoria das condições de trabalho e vida, seja de que sector for. E os trabalhadores cada vez focam se mais nisso. Exemplo, as 35h. Os trabalhadores do privado querem 35h para todos, não querem que o sector público recue nos seus direitos. Como sindicatos de classe, importa unir cada vez mais os trabalhadores por uma vida digna para todos
José Correia: «Apesar das manobras costumeiras de dividir para reinar, os trabalhadores não se deixarão iludir.»
Temos vindo a assistir a um forte ataque aos trabalhadores. O salário real não tem acompanhado os níveis de inflação e como tal assistimos ao empobrecimento generalizado de quem trabalhada. Posto isto, como foi trabalhar para a mobilização nacional para esta jornada de luta?
O governo insiste em não responder aos problemas que hoje infernizam o dia a dia dos trabalhadores. A desvalorização salarial na Administração Pública leva a que os seus trabalhadores empobreçam mais a cada dia que passa, num contexto em que o Estado tem condições para reforçar o investimento nos serviços públicos, mas quem pode e deve, infelizmente não quer, porque as suas opções políticas são outras. O descontentamento e a indignação avolumam-se e este 1 de Maio constituiu uma resposta poderosa, pela dimensão da participação e um sério aviso de que a luta por melhores condições de vida irá continuar.
Recentemente o Governo anunciou um conjunto de aumentos para a função pública. Num Governo agarrado ao dogma das «contas certas» e da persecução de uma almofada financeira, certamente que esta medida não foi tomada por livre e espontanêa vontade. Como analisas este aumento?
Não lhe chamaria propriamente um aumento, mas uma resposta tardia e claramente insuficiente, muito longe do que seria necessário e que não teria acontecido, não fosse a persistência da luta por melhores salários no quadro da Frente Comum, que cilindrou acordos que atraiçoaram legítimas aspirações e expectativas dos trabalhadores, e em que no desenvolvimento desta luta, a Greve Nacional de 17 de Março e a Manifestação Nacional de 18 de Março tiveram um papel absolutamente fundamental para obrigar o governo a sentar-se à mesa com os sindicatos.
Com base nesta última pergunta que te fiz, qual tem sido a reacção dos trabalhadores a estes aumentos anunciados?
Os trabalhadores sentem-se desrespeitados por aumentos de 8, 10 ou 12 € por mês, quando no supermercado, na bomba de gasolina ou na prestação da casa ao banco, têm sofrido aumentos desde Janeiro, que para a grande maioria das famílias se traduz no aumento de despesas muito superiores à centena de Euros. Este aumento de 1 % não repõem minimamente o poder de compra perdido.
Para terminar, e fiz esta pergunta à Filipa Costa do Cesp e tenho que te fazer a ti também: muitas são as vozes que visam colocar trabalhadores do sector Privado contra trabalhadores do sector Público. Qual é a tua perspectiva sobre isso?
Apesar das manobras costumeiras de dividir para reinar, os trabalhadores não se deixarão iludir. Nunca como hoje, são tão evidentes as razões para lutar, as suas causas e consequências, fruto de políticas de direita, que têm como objectivo reduzir salários e direitos. A Manifestação Nacional convocada pela CGTP realizada a 18 de Março, que fez convergir para Lisboa trabalhadores dos sectores público e privado, constituiu a maior mobilização dos últimos anos, com mais de 100.000 trabalhadores a darem visibilidade às suas reivindicações. Os trabalhadores sabem que podem contar com este Movimento Sindical Unitário para prosseguirem e intensificarem unidos, esta luta comum pelo direito a terem uma vida digna.
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