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Sugestões culturais com muitas marginálias

Neste Verão de calores intermitentes, procurar o refrigério do ar condicionado das salas de cinema é uma boa proposta. Há salas de cinema onde a qualidade dos filmes em exibição, à margem de uma linha dominante onde é preciso pescar o que de bom por lá se vê, é praticamente garantida.

Ensaio de imprensa da peça «Karl Valentin Kabarett», que estreia no dia 10 de Julho no Festival de Teatro de Almada
Ensaio de imprensa da peça «Karl Valentin Kabarett», que estreia no dia 10 de Julho no Festival de Teatro de Almada CréditosManuel de Almeida / Agência Lusa

A programação em Lisboa do Cinema Ideal e das salas de cinema da Medeia Filmes em Lisboa, Porto, Setúbal, Figueira da Foz, Coimbra e Braga, passe a publicidade que quando é justa liberta-se dos lábeus que vulgarmente se lhe colam, têm esse selo.

Esta semana os destaques vão para um ciclo de cinema dedicado à Revolução de Outubro, sem ar condicionado, mas ao ar livre do terraço do Hotel Vitória e entrada livre, com os filmes Outubro, de Sergei Eisenstein, dia 7, e O Fim de São Petersburgo, de Vsevolod Pudovkin, a 21, ambos às 21h30, uma iniciativa do Sector Intelectual da ORL do PCP.

Espera-se que prossiga e inclua o Couraçado Potemkin, de Eisenstein, não só pelo tema, mas sobretudo pelo que representa de inovador com a montagem dialéctica que inovou, pode mesmo afirmar que inventou, a linguagem cinematográfica tal como hoje a conhecemos em todas as suas variantes.

O grande destaque no cinema vai para Treblinka, o filme de Sérgio Tréfaut sobre os horrores do Holocausto, premiado no IndieLisboa 2016. A antestreia foi dia 6, no Capitólio, em Lisboa, com apresentação do cineasta, entrará nos circuitos comerciais dia 13.

Adorno questionava se seria possível escrever poemas depois da barbárie nazi. Equivocou-se Adorno, de certo modo recupera-o Tréfaut quando argumenta que «O horror está no texto e não na imagem, porque a imagem do horror se banalizou». Eleito o melhor filme português do IndieLisboa de 2016, Treblinka acontece dentro de vários comboios em viagem entre a Rússia, a Ucrânia e a Polónia, para lembrar que foi dessa forma que os judeus foram levados para os campos de concentração e de extermínio, durante a Segunda Guerra Mundial.

No filme, o horror corporiza-se nos textos ditos pelo actores Isabel Ruth e Kirill Kashlikov. Por malhas que o cinema tece, o seu outro filme Seara de Vento, a partir do romance homónimo de Manuel da Fonseca ainda está por acontecer nas salas de cinema.

Malhas não só do cinema, mas das artes em que os sujeitos criativos são sujeitos à violência de vidas em suspenso pela exploração e precaridade, que não sendo um seu exclusivo, tem nessas áreas uma expressão nada despicienda, uma anormalidade que é quase uma normalidade, como o recentemente conhecido caso dos salários em atraso dos cerca de 60 trabalhadores – actores e equipa técnica da série televisiva O Ministério do Tempo.

Uma situação grave que se inscreve num território mais geral e menos referido que é o da economia da cultura ser campo de experimentação para conceitos económicos fundamentais por estar num terreno em que a formação do valor é específica, mais volátil, mais dependente de factores não materiais.

Em 1994, o economista David Throsby, num artigo publicado no Journal of Economics constata: «ser dominante (na economia da cultura) a propensão para gerar fluxos variáveis de receitas ou de empregos, a necessidade de avaliação das decisões culturais e, no plano teórico, o fomentar a economia política dirigida a novos campo, economia de actividades não comerciais, economia das organizações, da informação e da incerteza implicando a revisão dos pressupostos de racionalidade. A economia da cultura é o terreno privilegiado para a verificação empírica de elementos novos.» 

Esses elementos novos aplicam-se ao mundo do trabalho. As actividades artísticas são um laboratório da flexibilidade e precarização do trabalho, por se tratar de trabalho qualificado onde o trabalho independente, a intermitência do emprego sem custos de angariação nem de despedimento, a generalização da fragmentação do salário e a irregularidade do estatuto da actividade abrem caminhos para se estudar e experimentar como abrir brechas nos direitos dos trabalhadores.

Retornando a Treblinka de Sérgio Tréfaut que recorda o Holocausto, em que os judeus não foram os únicos, mas foram as maiores e mais mediatizadas vítimas, com a galeria de horrores que faz condenar com veemência o nazismo, mas também deveria, como bem sublinha Brecht, fazer condenar o capitalismo que está na sua raiz, na sua origem.

 

 

Deve igualmente fazer lembrar que não se deve em caso algum confundir os judeus com o estado de Israel, um estado confessional que comete crimes monstruosos e continuados contra o povo palestiniano e que, por isso, deve ficar à margem de colaborações em qualquer área, as artísticas não podem ser excluídas, como é referido no comunicado do MPPM.

Com uma excelente programação também não se percebe porque é que o Festival de Teatro de Almada, não tem nenhum espectáculo, nenhuma conferência, nenhuma exposição, nada de nada que se reporte aos 100 anos da Revolução de Outubro que, com textos de teatro e novas concepções líricas, coreográficas, de encenação e cenográficas introduzidas por impulso de um período em que as vanguardas artísticas foram particularmente criativas e inovadoras, fez o teatro dar um salto qualitativo.

Estas datas redondas são vulgarmente usadas para relembrar factos que continuam a ter influência decisiva nos nossos tempos, pelo que não é entendível o silêncio de um festival com o gabarito do Festival de Teatro de Almada. Será que, por exemplo, um Meyerhold, um Kroutcheykh, um Maiakovsky passaram a ser desconhecidos em Almada? Que, por aquelas bandas, não se tenha entendido que o teatro soviético se tornou um teatro plurinacional?

Os estudiosos e teóricos da história do teatro que registam essa realidade desapareceram das bibliotecas do TMJB? Já lá estiveram e devem continuar a estar por lá, só que agora estarão ocultos ou sepultados? Não o eram para Joaquim Benite, que não saltaria ao eixo sobre esta data central da História da Humanidade e das Artes.

Dito isto, que tem que ser dito e sublinhado a traço bem grosso, consulte a programação do 34.º Festival de Teatro de Almada, de 4 a 18 de Julho. Não perca a oportunidade de assistir a excelentes espectáculos.

Com tempo, comece a preparar os livros para ler em férias. Desmontada a Feira do Livro as editoras regressam em força no mês de Julho. Reedições de grandes romances do séc. XX, em novas ou revistas traduções, vão em breve aparecer nas livrarias. Destaque para O Castelo dos Destinos Cruzados de Italo Calvino, Ratos e Homens de John Steinbeck, O Factor Humano de Graham Greene, Oliver Twist de Charles Dickens, com prefácio de G. K. Chesterton e ilustrações de George Cruikshank, As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain, A Revolta dos Anjos, o último romance do Prémio Nobel da Literatura francês Anatole France.

Novidades, A História da Minha Mulher, de Milán Faust, autor húngaro inédito em Portugal, que influenciou sucessivas gerações de escritores da Europa Central, um romance de Roberto Bolano, Putas Assassinas, uma selecção de contos russos inéditos, em português O Fantasma no Palácio dos Engenheiros, que inclui autores como Ivan Bunin, Aleksandr Kuprin ou Turgenev e o único romance de Nelson Rodrigues, O Casamento.

Capa da edição com a chancela da Elsinore Créditos

No ensaio um livro provocatório Os Não-Europeus Pensam?, em defesa do pensamento que existe e é feito fora da órbita dos centros dominantes no ocidente, dando de certo modo continuidade ao que foi feito, entre outros, por Edward Said ou Samir Amin, de crítica cultural ao eurocentrismo que, no entanto, fica bem representado nas próximas edições de Momentos Decisivos da Humanidade, de Stefan Zweig, Como Reconhecer o Fascismo e Da Diferença entre Migrações e Emigrações, de Umberto Eco, e por um dos mais estimulantes estudiosos dos fenómenos estéticos e artísticos, Georges Didi-Huberman, Diante do Tempo – História da Arte e Anacronismo das Imagens.

Vários são os livros de literatura infanto-juvenil que vão reaparecer. Destaque para A Volta do Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne, Contos Maravilhosos, de Hans Christian Andersen e As Aventuras de Pinóquio, de Carlo Collodi. Muito por onde escolher para preencher tempos livres entre ondas do mar e brisas das serras e planícies.

Na música há para todos os gostos e muito para lá dos festivais em que o marketing impera. O 25.º Festival de Curtas (Metragens) de Vila do Conde, de 8 a 16 de Julho, integra vários espectáculos musicais com relevo para a revisitação dos Mão Morta de Adolfo Luxúria Canibal, um grupo com compromissos cívico-culturais o que nos tempos actuais não é, infeliz e estranhamente, coisa vulgar sobretudo no universo do pop-rock o território que exploram. Dia 15 de Julho no Teatro Municipal.

Por compromissos cívico-culturais dos intelectuais: a 14 de Julho, na Casa-Museu Teixeira Lopes, em Gaia, por iniciativa do Sector Intelectual do Porto do PCP, Memória da Espanha Republicana, com intervenções de Jorge Sarabando, Miguel Ramalhete Gomes e José António Gomes. A actriz Olga Dias evoca o bombardeamento de Guernica e o célebre quadro de Picasso nas palavras do poema de Carlos de Oliveira, «Descrição da Guerra em Guernica». Haverá momentos musicais com Fausto Neves e Manuel Pires da Rocha.

Pode ainda ouvir Fausto Neves, bem conhecido pelos seus trabalhos ensaísticos sobre Fernando Lopes-Graça de que é um dos melhores intérpretes, que vai tocar obras de Mozart e Debussy na PianoPorto 2017, a segunda maratona de 24 horas de música para piano, uma organização do Conservatório de Música do Porto, no palácio Balsemão, no Porto, a 12 de Julho de 2017.

A 9 de Agosto, na Semana Internacional de Piano de Óbidos, Fausto Neves interpretará obras de Mozart, Prokofiev, Lopes-Graça, Ravel e Debussy. Concertos a não perder.

Ainda na música, noutro registo. Os Músicos do Tejo, Marta Araújo e Marcos Magalhães, realizaram na Antena 2 um notável programa de divulgação musical, Ao Correr do Som. São treze programas, em que se cruzaram músicas de todos os tempos e de todos os géneros, numa interessantíssima e original viagem pelo fenómeno musical.

O horário não seria o mais confortável, às 22h de sábado e repetição segunda-feira às 13h. Se perderam alguns desses programas, as novas tecnologias permitem a sua recuperação, para ouvir os que não conseguiu ouvir ou para quem não os ouviu, descobrir aqui.

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