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Macri blindou o Congresso, mas a reforma das pensões ainda não passou

A votação da reforma das pensões promovida pelo governo de Macri teve de ser adiada, esta quinta-feira, tendo em conta a tensão vivida no interior do Congresso, em Buenos Aires, e a grande violência e a repressão policial ocorridas nas suas imediações.

Mais de mil efectivos usaram jactos de água, gás pimenta, gás lacrimogéneo, balas de borracha para silenciar os protestos contra as políticas anti-populares de Macri
CréditosLeandro Teysseire / Página 12

Muitas vedações e mais de mil efectivos de diferentes forças de segurança cercaram o Congresso no dia em que a reforma das pensões ia a votos – um de vários projectos que Macri está a promover no âmbito da «política de ajuste» contra trabalhadores e pensionistas.

Tal não impediu que, mobilizados por vários sindicatos, partidos políticos e organizações sociais, milhares de trabalhadores se voltassem a manifestar no Centro da capital argentina, dirigindo-se para a Praça do Congresso.

Em ocasiões recentes, reformados e pensionistas já tinham deixado clara a sua oposição a uma política assente na diminuição dos direitos, a um projecto que «economiza» milhares de milhões nas pensões a que têm direito e em prestações sociais.

A manifestação de ontem, em que participaram muitos reformados e pensionistas, começou de forma pacífica, mas terminou com fortes confrontos nas ruas próximas do Congresso e com grande repressão policial – cada vez mais comum nos «tempos macristas».

De acordo com a Prensa Latina, o Brasil de Fato e outros meios de comunicação, a tensão aumentou quando alguns grupos queimaram contentores do lixo e atiraram pedras e garrafas contra a Polícia, que respondeu com extrema violência contra o grosso da mobilização, lançando jactos de água, gás pimenta, gás lacrimogéneo e balas de borracha contra os manifestantes.

Da «batalha», que durou várias horas, resultaram várias dezenas de feridos, e pelo menos 30 pessoas foram detidas, cuja «libertação imediata» foi exigida por diversas organizações argentinas de defesa dos direitos humanos. No comunicado que emitiram, reclamaram também a demissão da ministra da Segurança, Patricia Bullrich.

Agitação no plenário

No interior do Parlamento, a sessão plenária foi tumultuosa, havendo relatos de insultos, empurrões e de dois deputados da oposição agredidos à entrada. Emilio Monzó, presidente do Congresso, chegou a anunciar a existência de quorum para prosseguir os trabalhos, mas a oposição questionou o facto e pôs em causa a sessão, tendo em conta, também, a repressão policial no exterior.

Elisa Carrió, deputada apoiante do governo (Cambiemos), solicitou ao presidente que suspendesse a «sessão escandalosa», mas sublinhando que a aprovação da reforma é uma questão de semanas.

A sessão acabou por ser suspensa, a meio da tarde, ainda com trocas virulentas de palavras entre os deputados, enquanto no lado de fora a repressão das forças de segurança ia aumentando. Vários trabalhadores da imprensa foram feridos. O repórter fotográfico do diário Página 12 foi atingido com dez balas de borracha.

Aprovação por decreto ponderada

Ainda ontem, o governo argentino, pela voz do Chefe de Gabinete, Marcos Peña, veio pedir «paz» e «diálogo», salientando que os confrontos vividos dentro e fora do Congresso tinham «ultrapassado um limite».

A Confederação Geral do Trabalho da República Argentina (CGT), que tinha agendado uma greve geral de 24 horas para hoje, decidiu suspendê-la, aguardando pelo debate sobre o projecto de reforma.

De acordo com a TeleSur, o governo de Macri chegou a colocar a hipótese de aprovar a reforma das pensões por decreto, na sequência do adiamento da votação no Congresso, mas não terá chegado a tanto depois de elementos da sua base de apoio terem afirmado que a aprovação por decreto de uma reforma deste tipo «violaria gravemente a Constituição».

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