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Milhares em Madrid exigiram liberdade para o Saara Ocidental

Mais de dez mil pessoas manifestaram-se este sábado em Madrid para exigir «liberdade e independência» para o Saara Ocidental, frisando que «nem Trump nem Sánchez vão travar a determinação» do povo saarauí.

Milhares de pessoas reclamaram liberdade para o Saara Ocidental nas ruas de Madrid, a 15 de Novembro de 2025 Créditos / ecsaharaui.com

Com o lema «A existência também é resistência: 50 anos de ocupação», o movimento de solidariedade com o povo saarauí no Estado espanhol uniu-se para exigir «que o governo espanhol assuma as suas responsabilidades históricas e legais» com um território africano que colonizou durante quase um século.

Apesar da chuva, milhares de pessoas protestaram contra a ocupação marroquina do território e denunciaram «a cumplicidade espanhola e europeia», refere El Diario.

«Instamos o governo espanhol a regressar à senda do direito internacional e a recuperar o consenso que sempre existiu na política externa espanhola em relação ao Saara Ocidental», declarou a actriz Andrea Guardiola ao ler o manifesto da mobilização, no centro da cidade espanhola.

«Enquanto erguemos a voz na mesma cidade onde foi formalizada a ocupação marroquina, dezenas de presos políticos saarauís estão em prisões marroquinas a sofrer tortura e condições desumanas», denunciou.

Por seu lado, a jovem saarauí Salka Mahfoud declarou: «Há 50 anos, foi tomada uma decisão que arruinou a vida de quatro gerações de saarauís, mas nós, a quarta geração, estamos aqui, prontos para conquistar a nossa liberdade. Nem Trump nem Pedro Sánchez vão travar a nossa determinação de sermos livres.»

Denúncia dos Acordos Tripartidos de Madrid, da ocupação e das manobras actuais

Hassana Aaila, prisioneiro político saarauí de 38 anos que se encontra refugiado em Espanha desde 2015, considerou que a situação nos territórios ocupados por Marrocos – quase 80% da área total – é comparável «ao regime do apartheid na África do Sul».

O activista saarauí denunciou que, só este ano, «49 observadores internacionais, incluindo jornalistas, foram expulsos quando tentavam entrar nos territórios ocupados». Isto acontece «porque Marrocos não quer testemunhas das violações que comete», acusou.

Várias intervenções aludiram ao acordo celebrado em Madrid há 50 anos, a 14 de Novembro de 1975, entre os governos espanhol, marroquino e mauritano, que decidiram que o Saara Ocidental, até então uma província espanhola e o último território africano a aguardar descolonização, seria partilhado por Marrocos e Mauritânia.

Os chamados Acordos Tripartidos de Madrid foram posteriormente declarados «nulos e sem efeito» pelas Nações Unidas, tendo em conta que a soberania sobre um território não pode ser transferida entre países.

Na marcha deste sábado pelo centro de Madrid ficou patente, mais uma vez a força do movimento solidário no Estado espanhol com o povo saaruí, apenas duas semanas depois de o Conselho de Segurança das Nações Unidas ter aprovado, por iniciativa da administração norte-americana, uma resolução que insta as partes a encontrar uma «solução política definitiva e mutuamente aceitável», mas tendo por base «a proposta de autonomia de Marrocos».

Esta demonstração de apoio diplomático à monarquia marroquina segue-se à «traição de Sánchez», em Março de 2022, quando o primeiro-ministro espanhol anunciou o seu apoio ao plano de autonomia marroquina como opção «mais séria, realista e credível».

Posteriormente, países como a França e o Reino Unido também se pronunciaram no mesmo sentido, para gáudio de Rabat, com a Frente Polisário e a Argélia a manifestarem forte repúdio.

Determinação inabalável do povo saarauí

Em declarações à imprensa, Abdulah Arabi, delegado da Frente Polisário em Espanha, presente na mobilização, disse que a Frente «vai continuar a apostar na negociação e na via pacífica, mas com a mesma determinação de recorrer a todas as vias que o direito internacional nos proporciona».

«A guerra já dura há cinco anos e estamos preparados para a intensificar e escalar se a comunidade internacional continuar a ignorar o nosso direito à autodeterminação», advertiu.

Aludindo à resolução recente aprovada no Conselho de Segurança, Arabi afirmou que «isto não trava o povo saarauí nem nos desmoraliza».

«Isto não é mais que uma nova manobra para tentar anular os nossos direitos. Não conseguiram há meio século e não conseguirão agora», declarou.

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