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Mainz 05 vai pagar 1,7 milhões por despedimento ilegal de jogador pró-palestina

Anwar El Ghazi foi despedido em 2023 pelo Mainz 05, da Bundesliga alemã, por ter assumido publicamento o apoio ao povo palestiniano. Clube foi agora condenado a pagar 1,7 milhões de euros pelo despedimento ilegal.

CréditosMaurice Van Steen / EPA

Poucos dias depois de 7 de Outubro de 2023, nos primeiros momentos do genocídio levado a cabo pelas forças de ocupação israelitas contra o povo palestiniano em Gaza, Anwar El Ghazi, extremo holandês ao serviço do Mainz 05, um clube que disputa a Bundesliga (a primeira liga do campeonato alemão), publicou nas suas redes sociais um apelo ao fim da violência.

«Isto não é um conflito e não é uma guerra. Isto é um genocídio e destruição em massa, estamos a testemunhar isso ao vivo. Do rio até ao mar, a Palestina será livre», publicou o futebolista, na sua conta de Instagram. A direcção do clube considerou a mensagem «inaceitável», suspendendo de imediato El Ghazi. Perante a recusa do jogador em pedir desculpa por exigir o fim do massacre de dezenas de milhares de civis, o contrato foi oficialmente terminado, dois meses depois de ter sido assinado.

O jogador manteve uma postura combativa, afirmando a necessidade de defender «o que está certo, mesmo que isso signifique ficar sozinho. A perda do meu ganha-pão não é nada quando comparado com o inferno a que estão a sujeitar as pessoas inocentes e vulneráveis de Gaza. Parem com a matança».

Em Julho de 2024, a justiça alemã considerou o despedimento ilegal e as declarações de El Ghazi protegidas pelo direito à liberdade de expressão. Uma posição partilhada pelo jogador: «por que é que temos problemas [por expressar solidariedade com a Palestina]? Vimos crianças mortas, pessoas mortas, como ia viver comigo mesmo sem dizer nada?», afirmou numa entrevista ao The Athletic.

O Mainz 05 ainda apresentou um recurso mas, esta quarta-feira, o tribunal confirmou a sentença: o clube vai ter de pagar cerca de 1,7 milhões de euros ao seu antigo jogador, despedido ilegalmente. Estes valores correspondem aos salários que ficaram por pagar no cumprimento do contrato.

Numa declaração publicada no site do clube, o presidente Stefan Hofmann reiterou a posição do clube, segundo a qual uma posição «anti-Israel» é motivo para um despedimento sumário: «Temos de aceitar a decisão do tribunal de que a conduta do nosso trabalhador após o hediondo ataque do Hamas em 2023 não constituiu motivo suficiente para a rescisão imediata do contrato. No entanto, mantemos firmemente a nossa posição: com base nos valores e princípios que definem o Mainz 05, não podemos, no futuro, empregar pessoas cujas declarações ou acções os contradigam fundamentalmente».

Nas declarações de Hofmann não fica claro porque é que o apoio ao assassinato de milhares de crianças, mulheres e homens inocentes ou a limpeza étnica de milhões de pessoas fazem parte dos «valores e princípios» deste clube que, neste momento, ocupa o penúltimo lugar da tabela da Bundesliga (17.ª posição).

Depois de uma passagem rápida pelo Cardiff (depois de um ano sem jogar, envolvido nesta situação), El Ghazi joga agora no Al-Sailiya, no Qatar. «Que esta última vitória envie uma mensagem em alto e bom som e aos belicistas, os seus cúmplices e aos iludidos membros da direcção do FSV Mainz 05: vocês não podem e não vão silenciar as vozes dos palestinianos e dos seus defensores. Viva a Palestina!», afirmou nas suas redes sociais, em resposta à posição assumida por Hofmann.

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