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OE «continua a degradar contas públicas». PS responde com «abstenção exigente»

Recorrendo ao estafado argumento da «estabilidade política», mas assumindo que satisfaz «condições básicas» do PS,  José Luís Carneiro anunciou abstenção no Orçamento do Estado para 2026. 

CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

O anúncio foi feito depois de uma reunião da Comissão Política Nacional do PS, que acabou já de madrugada, e que aconteceu depois de uma reunião, na terça-feira, com o grupo parlamentar do PS sobre a posição do partido em relação ao Orçamento do Estado (OE) para 2026.

De acordo com o líder do PS, nestes dois órgãos houve uma «manifestação geral de apoio» à proposta que fez de abstenção, que qualificou como «abstenção exigente». Segundo Carneiro, o documento entregue pelo Governo na Assembleia da República «satisfaz essas condições básicas colocadas pelo Partido Socialista ao primeiro-ministro». «Cumpridas essas exigências, o PS deverá honrar a palavra dada aos portugueses, não se constituindo como um factor de instabilidade política», disse. Mas, a avaliar pelas medidas que constam da proposta de Orçamento para o próximo ano, instabilidade vai continuar a ser a marca na vida dos portugueses. Desde logo para os trabalhadores da Administração Pública, que com os 2% previstos de aumento (abaixo do valor da inflação previsto pelo próprio Orçamento) vão continuar a lutar pela reposição do poder de compra, como confirma a greve geral marcada pela Frente Comum para o próximo dia 24 de Outubro. 

Embora reconheça que, «apesar de continuar a degradar as contas públicas», o Orçamento do Estado desenhado pelo Governo de Montenegro «está esvaziado de medidas decisivas de apoio às famílias e às empresas», o secretário-geral do PS insiste no argumento de que «o princípio geral é o de contribuirmos para a estabilidade». Carneiro tenta resguardar-se ao afirmar que a abstenção «para o conjunto» do Orçamento, «vai depender também muito da forma como o Governo olhar para os partidos, neste caso para o Partido Socialista, em sede de diálogo na especialidade». Mas assegurando que não fará depender o seu voto do Governo «aceitar ou não» as propostas do PS, como «minimizar o aumento do custo de vida, nomeadamente na aquisição de produtos alimentares essenciais, bem como os custos com habitação».

No entanto, é já claro que a proposta de Orçamento do Estado para 2026 agrava injustiças, mantendo o investimento público subjugado aos ditames do défice e da dívida. No caso da Saúde, em que o quotidiano se faz de urgências encerradas e um cada vez mais difícil acesso aos cuidados, dada a falta de médicos em virtude de carreiras desvalorizadas, o aumento nominal de 1,5% previsto pelo Governo representa uma quebra em termos reais, considerando a inflação. De qualquer forma, basta ver a execução orçamental dos últimos anos para constatar que o pouco investimento público orçamentado não é executado na totalidade.

Por trás dos números escondem-se as opções do Governo em matéria de resposta (ou não) às necessidades do País. Enquanto a Cultura representa uns míseros 0,26% da despesa total do Orçamento do Estado para 2026, e a dotação para a Educação, onde também se reclama por carreiras valorizadas, aumenta 4,5%, não sendo suficiente para interromper o ciclo de desinvestimento na Escola Pública, o Executivo prevê um aumento de 25% para a Defesa face ao Orçamento previsto para 2025, ficando com um orçamento semelhante ao total previsto para o Ensino Superior, Ciência e Inovação. 

No plano fiscal, mantêm-se injustiças, com os impostos indirectos (como o IVA, pagos de forma idêntica por ricos e pobres) a ser a principal fonte de arrecadação de receita. Enquanto no IRS continua a não obrigatoriedade do englobamento obrigatório de rendimentos de capital, no IRC, em que a taxa normal baixa no próximo ano dos actuais 20% para 19%, a estabilidade continua para os grandes grupos económicos, que deverão beneficiar de 1800 milhões de euros, num aumento de 9% face a 2023. Mas continua também para as parcerias público-privado (PPP), com 1538 milhões de euros, destacando-se um aumento de 25% para as áreas da saúde, rodovia e ferrovia.

Entre os que não vão beneficiar desta estabilidade estão os reformados, e são mais de um milhão os que actualmente recebem menos de 510 euros mensais, já que o Governo quer limitar o aumento das reformas e pensões a cerca de 2,5%.

Com agência Lusa

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