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Médica australiana descreve a «matança» na Cidade de Gaza

«Não se sabe de quem é esta mão e de quem é esta perna – é como um filme de terror», disse uma médica voluntária no Hospital al-Shifa. A Protecção Civil alerta que a cidade é atacada «de todas as direcções».

Pacientes feridos recebem tratamento num dos poucos edifícios do hospital al-Shifa ainda em pé, na Cidade de Gaza Créditos / Al Jazeera

Nada Abu Alrub, médica australiana voluntária no Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, falou à Al Jazeera sobre a situação no local, descrevendo cenas «desoladoras» como famílias inteiras mortas em ataques israelitas e a chegar ao hospital «desfeitas, aos bocados».

«Não se sabe de quem é esta mão e de quem é esta perna – é como um filme de terror», disse, acrescentando que a unidade hospitalar parece um «matadouro» e um «cemitério».

«Ninguém está a salvo em Gaza, todos estão apenas à espera da sua vez», afirmou, tendo referido que «os bombardeamentos continuam» e que parece que as forças de ocupação «estão a testar todos os tipos de armas contra estas pessoas».

«Matam de todas as direcções imagináveis, psicológica, emocional e fisicamente – o tipo de ferimentos que vejo nas crianças, estão despedaçadas, é inaceitável», lamentou.

Para a voluntária australiana é incompreensível como se permite que esta situação continue: «Simplesmente não se consegue compreender porque é que ninguém tem a coragem ou se preocupa suficientemente para impedir que isto aconteça.»

«Temos de parar isto, cada minuto conta para impedir famílias inteiras de ser exterminadas, só porque ninguém é capaz de dizer ao governo israelita para parar a matança em massa», disse.

Assalto total da ocupação à Cidade de Gaza

Por seu lado, a Protecção Civil afirmou que a cidade está a ser atacada «de todas as direcções» pelas forças de ocupação, com bombardeamentos contínuos a destruírem infra-estruturas e edifícios residenciais.

De acordo com o organismo, todos os dias as forças sionistas fazem explodir, nos bairros habitados, mais de duas dezenas de viaturas blindadas carregadas de explosivos.

Em declarações à imprensa, representantes da Protecção Civil palestiniana também fizeram referência a múltiplos pedidos de socorro da parte de famílias encurraladas em edifícios destruídos, sem que as equipas de resgate possam aceder a muitas zonas, devido à intensidade dos bombardeamentos.

O organismo alertou ainda para a situação de risco em que se encontram milhares de deslocados à força pela ocupação, sem abrigo e a dormir ao relento.

Hospitais sem meios e a funcionar sob ataques constantes

A ofensiva genocida levada a cabo pelas forças israelitas de ocupação contra o enclave costeiro e, em particular, contra a Cidade de Gaza provocou um novo êxodo populacional do Norte para o Sul do território, estimando-se que 500 mil pessoas tenham seguido para sul.

Neste contexto de ofensiva terrestre a intensificar-se, as autoridades de saúde em Gaza alertam para a grande falta de materiais e combustível nos hospitais, que estão a funcionar sob ataques constantes.

A situação é tão grave que as equipas médicas têm de decidir no momento quem tratam e quem deixam para mais tarde, refere a Al Jazeera.

Além disso, vários hospitais de campanha foram obrigados a «fechar portas» e a mudar-se mais para sul, na tentativa de salvar pessoal de saúde e equipamento.

OMS critica ataques a infra-estruturas de saúde

Entretanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criticou, pela voz do seu director-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, os ataques israelitas a infra-estruturas de saúde na Cidade de Gaza.

«A escalada de violência nas imediações dos hospitais al-Rantisi e Oftalmológico tornou as instalações inoperacionais, inseguras e inacessíveis, forçando os pacientes e o pessoal a fugir para sua segurança», afirmou Ghebreyesus na sua conta de Twitter (X) esta quarta-feira.

O funcionário lembrou que o al-Rantisi, que foi atacado e danificado na semana passada, era o único hospital pediátrico especializado de Gaza, com serviços de oncologia, diálise, cuidados respiratórios e gastroenterologia para crianças.

O outro hospital era o único que prestava cuidados especializados na área da oftalmologia, frisou Ghebreyesus, que advertiu que há ainda centenas de milhares de pessoas na Cidade de Gaza e que mais vidas se irão perder com o encerramento dos hospitais.

De acordo com as autoridades de saúde no enclave, desde Outubro de 2023 até ontem, os ataques israelitas provocaram pelo menos 65 419 mortos e 167 160 feridos entre a população palestiniana.

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