Mais de duas centenas de órgãos de comunicação de 50 países, entre os quais a agência Lusa e o jornal Público, estão em protesto, esta segunda-feira, para exigir a protecção de jornalistas palestinianos em Gaza, a evacuação de emergência de repórteres, o fim da impunidade para crimes israelitas contra repórteres de Gaza e que a imprensa estrangeira tenha acesso independente ao enclave.
Organizada pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF), pelo movimento de campanhas Avaaz e pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), a acção é apresentada como o primeiro «protesto editorial em grande escala» da história moderna coordenado em simultâneo por redacções em todos os continentes.
A operação internacional consiste num apagão total ou parcial das primeiras páginas dos jornais impressos, banners em sites de notícias online e mensagens de áudio ou vídeo transmitidas por emissoras de rádio e televisão.
A Lusa manterá em manchete na sua página online durante todo o dia uma fotografia da guerra em Gaza com as palavras do director-geral da RSF: «Ao ritmo em que jornalistas estão a ser mortos em Gaza pelas forças de defesa de Israel, em breve não haverá mais ninguém para manter o mundo informado».
A organização assinala que «Israel tem impedido a entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza há quase dois anos, deixando apenas os jornalistas palestinianos para reportar sob fogo».
A agência de notícias portuguesa junta-se a este protesto mundial, pelo acesso dos meios de comunicação internacionais a Gaza e contra a guerra. «Como jornalistas, não podemos assistir impávidos aos assassínios deliberados ou colaterais dos jornalistas que, enfrentando todos os riscos e ameaças, deslocações sistemáticas, fome e até a morte, testemunham e informam o mundo sobre o que se está a passar em Gaza. Na sua guerra contra este enclave, Israel também faz guerra ao jornalismo e ao direito a informar e de ser informado», sustenta Luísa Meireles, directora de informação da Lusa.
Contactado pela agência, o director do jornal Público, David Pontes, admitiu que o «eclipse da humanidade» em Gaza «tem de ser reportado com urgência, sob pena de não conseguirmos reunir forças para parar o terror que vivem os civis palestinianos».
Citado num comunicado, o director-geral da RSF, Thibaut Bruttin, alerta que «não é apenas uma guerra contra Gaza, é uma guerra contra o próprio jornalismo. Jornalistas estão a ser mortos, alvo de ataques e difamados. Sem eles, quem vai falar da fome, quem vai denunciar crimes de guerra, quem vai expor genocídios», questiona.
Já o secretário-geral da FIJ lembra que os jornalistas mortos «arriscaram tudo para contar a verdade ao mundo e pagaram com a vida». «O direito do público à informação foi profundamente prejudicado por esta guerra. Exigimos justiça e uma convenção internacional da ONU sobre a segurança e a independência dos jornalistas», diz Anthony Bellanger.
Os ataques mais recentes contra jornalistas em Gaza ocorreram em 25 de Agosto, quando forças israelitas bombardearam o complexo médico al-Nasser – um conhecido ponto de encontro de repórteres – matando cinco jornalistas. Duas semanas antes, outros seis jornalistas foram mortos num único ataque. Desde Outubro de 2023, as forças de ocupação israelita já assassinaram impunemente mais de 200 jornalistas, o que faz deste «o conflito mais letal para repórteres nos tempos modernos».
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui