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Incêndios e comissões: gira o disco e arde o mesmo

Já ardeu mais de 3% do país, oito anos depois o município de Pedrógão Grande voltou a ser consumido pelas chamas e quem tem responsabilidades evita assumi-las. Entre comissões técnicas independentes e comissões de inquérito, o oportunismo político afasta medidas concretas. 

CréditosPedro Sarmento Costa / Agência Lusa

Na sessão de abertura da 21.ª edição da Universidade de Verão do PSD, Hugo Soares considerou «despropositada e inútil» a proposta do Chega de um inquérito sobre os incêndios desde 2017, mas disse ver «com bons olhos» a do PS de uma nova comissão técnica independente.

As avaliações do presidente do Grupo Parlamentar do PSD têm a sua validade, se não vejamos. Com a comissão de inquérito, o Chega diz querer investigar os «negócios e interesses económicos que alegadamente prosperam» com os incêndios. Recorde-se que um dos suspeitos na operação que investiga os contratos da Força Aérea com empresas de helicópteros foi financiador do Chega.

Segundo o que veio a público, a Helibravo disponibilizava helicópteros para o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais, tendo conseguido mais de 45 milhões de euros. A Polícia Judiciária acredita que a empresa encontra-se num grupo que funcionava em cartel para controlar concursos públicos de forma a alcançar lucros milionários. De acordo com a revista Sábado, João Bravo, sócio da empresa e um dos suspeitos, foi financiador do Chega.

Já o PS quer a criação de uma nova Comissão Técnica Independente, o que naturalmente agrada ao Governo, que assim tenta escapar do escrutínio público. «Vemos com bons olhos a criação de uma comissão técnica independente, longe dos políticos, longe do combate partidário», disse Hugo Soares. 

Com isto, o PS volta a dar a mão a PSD/CDS-PP e, numa partilha de culpas, relega a discussão sobre o que realmente faz falta para que o País seja capaz de enfrentar fogos da dimensão que conhecemos desde Pedrógão, estava então o PS no governo. 

Aquilo a que assistimos neste Verão é o resultado da incúria e do desprezo a que os sucessivos governos têm votado o território nacional, mas sobretudo o Interior, cada vez mais desertificado e, consequentemente, menos cuidado. Com as imagens do País a arder ficarão para sempre outras, como as do primeiro-ministro na praia, da prepotência da ministra da Administração Interna, que se recusou responder aos jornalistas, e da Festa do PSD no Pontal, a que se junta o oportunismo do Chega nas redes sociais. 

Em nenhum momento estes partidos apontaram a necessidade de uma política florestal séria e livre de amarras dos grandes interesses. Os incêndios estão a ser uma arma de arremesso e, com isso, as populações é que saem prejudicadas. De falsas preocupações está a floresta cheia e no que depender do PSD, CDS-PP, Chega e PS, no próximo Verão tudo voltará a acontecer.

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