AAs empresas de Elon Musk, particularmente a Tesla, a SpaceX e a SolarCity, ganham perto de 38 mil milhões de dólares em apoios públicos, de variadas formas. A Tesla ganhou com benefícios fiscais, vendeu créditos de emissões desenhados para si, e recebeu empréstimos federais; já a SpaceX recebeu mais de 17 mil milhões de dólares em contratos federais desde 2015.
Sob o manto de uma suposta genialidade e capacidade de inovação está a ajuda do Estado. Em 2016, o suspeito rival de Musk, Jeff Bezos, dono da Blue Origin, empresa rival da Space X, disse, segundo o The Washington Post, que «o verdadeiro superpoder de Elon é conseguir dinheiro do governo», ilustrando a promiscuidade existente entre o poder económico e o poder político norte-americano.
O pináculo dessa promiscuidade veio ao de cima na corrida eleitoral de 2024. Elon Musk, que até ganhava um bom dinheiro com a administração Biden, decidiu apoiar a candidatura de Donald Trump. A questão é que o dono da Tesla não se ficou pelas doações avultadas, como é hábito nos Estados Unidos. Musk fez campanha activa, comprou votos, gastou perto de 270 milhões de dólares e, com isso, conquistou um lugar na Administração Trump.
No Executivo republicano, Musk conduziu o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), em parte, pela imagem de empresário de sucesso.. Criticando o excesso de burocracia e o despesismo, alegava que o Estado tinha gastos supérfluos. Esta ideia alimentou os ventos reaccionários que animaram Milei, na Argentina, e a Iniciativa Liberal, em Portugal, que propôs um departamento semelhante.
Associado a criptomoedas especulativas, Musk animou a agenda libertária, com lugar na Administração Trump apoiou abertamente partidos de extrema-direita, como é o caso da AfD na Alemanha, e colocou em prática o sonho da direita mais reaccionária: despediu milhares de funcionários públicas e cortou o financiamento de instituições públicas.
Apesar de não ter feito tudo aquilo que queria, Musk reduziu as despesas através de cortes de pessoal em quase todas as agências federais e da rescisão de milhares de milhões de dólares de contratos públicos. O seu esforço cortou cerca de 160 mil milhões de dólares em despesas.
As acções de Musk criaram uma guerra entre instituições, com o FBI a recusar cumprir orientações de cortes ou cedência de dados, Estados democratas a ameaçar levar a Administração Trump a tribunal e, dentro do Executivo republicano, falava-se de um desconforto com a sua presença.
Rapidamente, o dono da Tesla e da Space X passou de bestial a besta e a especulação em torno da sua saída do Governo norte-americano acabou confirmada, esta quinta-feira, com Musk a tecer críticas à nova legislação fiscal de Donald Trump. «Estou desiludido em ver que a legislação aumenta muito os gastos, o que aumenta o défice orçamental, e prejudica o trabalho que a equipa da Doge está a fazer», disse o empresário em entrevista à CBS.
O projecto de lei de Trump prevê cortes nos impostos, aumento de despesas na defesa, combate à imigração, com a receita fiscal a descer. Pelo meio, 10,3 milhões de pessoas vão perder cobertura de saúde e 7,6 milhões vão ficar sem seguro de saúde. O presidente norte-americano considerou a sua iniciativa «uma lei grande e linda» e a «mais importante na história do país».
Musk usou, assim, as palavras de Trump para dar corpo às suas críticas: «penso que a legislação pode ser grande ou pode ser linda, mas não sei se pode ser as duas ao mesmo tempo. É a minha opinião pessoal».
Chega, por agora, ao fim a aventura do empresário, que cumpriu o sonho e deu ânimo aos projectos mais reaccionários. Quem sofreu foram os milhares de trabalhadores que perderam os seus postos de trabalho e viram Musk colocar em prática o seu desígnio de classe. Chamaram-lhe «louco», mas é apenas mais um capitalista.
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