«Alto, magro e escanzelado, calvo, usando óculos com lentes muito grossas devido a uma forte miopia, vestindo roupas usadas (por vezes andrajosas e abaixo do seu tamanho), hipersensível ao álcool (gostava de vinho tinto e de cerveja), hipocondríaco sempre à beira da morte (devido à asma e a um coração fraco), impenitentemente cínico e honesto, paradoxal e desconcertante, é sem dúvida, como pícaro personagem literário, um digno herdeiro de Luís de Camões, Bocage, Gomes Leal ou Fernando Pessoa», eis a caracterização do editor e autor satírico, pela companhia Artistas Unidos.
A sessão especial das leituras «Em voz alta», esta noite, pelas 21h30, na sadina Casa da Cultura, pelos actores Lia Gama e Luís Lucas, é dedicada a Luiz Pacheco, no centenário do seu nascimento, com selecção de textos de António Simão. «Gostamos de ler em voz alta, de ouvir textos lidos pelos actores que trabalham connosco, de textos lidos para várias pessoas, de leituras, ver gente, sentir gente à volta das palavras suspensas do escritor», lê-se na nota d'os Artistas Unidos.
Luiz Pacheco nasceu a 7 de Maio de 1925, numa velha casa da Rua da Estefânia, em Lisboa, no seio de uma família da pequena burguesia, de origem alentejana. Estudou no Liceu Camões e chegou a frequentar o primeiro ano do curso de Filologia Românica da Faculdade de Letras de Lisboa, onde foi óptimo aluno, mas optou por abandonar os estudos. A partir de 1946, recorda-se na nota, trabalhou como agente fiscal da Inspecção-Geral dos Espectáculos, acabando por se demitir. «Teve uma vida atribulada, sem meio de subsistência regular para sustentar a família crescente (oito filhos de três mães adolescentes), chegando a viver na miséria, à custa de esmolas e donativos, hospedando-se em quartos alugados e albergues, indo à Sopa dos Pobres». Esse período inspirou-lhe o conto Comunidade, considerado por muitos a sua obra-prima.
Em 1950, fundou a editora Contraponto, onde foi editor de Raul Leal, Vergílio Ferreira, José Cardoso Pires, Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Natália Correia, Herberto Hélder, entre muitos outros, tendo sido amigo de muitos deles. Luiz Pacheco foi o defensor e divulgador dos surrealistas portugueses e o seu primeiro editor, ao ponto de o crítico João Gaspar Simões lhe chamar «sacristão do surrealismo».
Escreveu, entre outros títulos, O libertino passeia por Braga, a idolátrica, o seu esplendor, O Teodolito e Memorando, mirabolando. Denunciou a desonestidade intelectual e a censura imposta pelo regime salazarista. Em 1989, Pacheco tornou-se militante do Partido Comunista Português, para, segundo o próprio, «ter um funeral como o do Ary: com a bandeira do Partido e com discurso». Morreu a 5 de Janeiro de 2008.
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