As praias de Famagusta são as melhores de Chipre. Águas cristalinas, quentes, em praias de areia recortadas na rocha. A cidade nova (Varosha) nasceu para aproveitar esse recurso e, em 1974, era um dos mais modernos locais turísticos do planeta. Ergue-se hoje perante os nossos olhos tal qual a deixaram as tropas invasoras turcas em Julho de 1974. E impressiona.
Vazia e abandonada, cercada de arame farpado, Varosha, que chegou a albergar mais de 20 mil pessoas, está há quase 50 anos desabitada, intocada e, só recentemente, violando resoluções da ONU, a Turquia procura iniciar a sua colonização.
É talvez o maior monumento à estupidez humana no planeta. À estupidez de alguns humanos. E à cupidez, imoralidade e carácter criminoso do imperialismo. Mas, para explicar isso é preciso regressar a 1973...
A NATO planeia a divisão de Chipre
É em Lisboa, em plena ditadura fascista, que reúne a NATO em 1973 e aprova um plano simples, tipicamente britânico, para eternizar a sua presença militar em Chipre, que encara como um gigantesco porta-aviões no Mediterrâneo, frente às costas do Líbano e de Israel.
Desde a independência, arrancada aos britânicos em 1960, o Chipre era um país bi-comunal. Por exemplo, o Presidente da República seria oriundo da comunidade grego-cipriota e o vice-Presidente da comunidade turco-cipriota.
O plano da NATO é continuar a alimentar e provocar ambos os nacionalismos, na comunidade grego-cipriota e na comunidade turco-cipriota, para cimentar a influência da direita nacionalista e travar a crescente influência do movimento popular encabeçado pelo AKEL, o continuador do Partido Comunista de Chipre.
Na República de Chipre, as agressões contra a comunidade turco-cipriota multiplicam-se, cometem-se crimes. A 15 de Julho de 1974, o nacionalismo pan-grego mais reaccionário, mesmo fascista, que afirma querer integrar o Chipre na Grécia, avança com um golpe de estado na República de Chipre. Cinco dias depois, a Turquia invade e ocupa a parte norte da ilha. Quer a Grécia (no final da ditadura fascista dos Coronéis) quer a Turquia (sob ditadura militar, na prática) são então membros da NATO, dito expoente da liberdade, da democracia e da paz.
O problema cipriota está criado e vai infernizar a vida do povo cipriota durante o próximo meio século, criando o caldo de cultura necessário para alimentar retóricas nacionalistas e a necessidade de patronos estrangeiros (a Grécia, o Reino Unido, a Turquia). A continuação das bases militares do Reino Unido (ainda hoje ocupam 3% do território da ilha) está garantida.
E Varosha, a cidade nova de Famagusta, ali fica, presa no tempo, tal como a podemos encontrar ainda hoje.
O nojo
Aproveitando o enfraquecimento da ONU, e o crescente peso da Turquia face à luta entre a NATO (mais conhecida por «o Ocidente») e a Rússia, a Turquia decidiu em 2017 começar a colonizar Varosha. Paredes meias com a Cidade Fantasma já funcionava um Hotel e uma praia que o ocupante turco colocou à exploração comercial, com preços seguramente convidativos, destinada a um tipo de seres humanos completamente bestializados: a alguém capaz de aproveitar uma boa praia, um bom hotel e uma excelente refeição, literalmente rodeado pelas ruínas da agressão turca à República de Chipre. Mas a verdade é que em Setembro de 2023, como pudemos constatar, ambos estavam cheios.
O que o ocupante turco pretende com esta «abertura» de Varosha é legitimar a sua ocupação, colonização e exploração. E aumentar a pressão sobre os antigos proprietários para aceitarem soluções «realistas» e «venderem» as suas propriedades. No entanto, ao visitante mais informado, o caminho aberto à circulação pelas forças turcas dentro da Cidade Fantasma é uma excelente oportunidade para conhecer esta aberração, filha do imperialismo britânico e norte-americano, filha da NATO, naquele que é um dos três países da União Europeia com parte do seu território ocupado por potências estrangeiras... todas integrantes da NATO.
A reunificação
No Chipre, há uma força que resiste aos planos do imperialismo. Que resiste ao fascismo, ao racismo, à xenofobia, e mantém como prioridade a reunificação de Chipre numa República Federal bi-comunal e bi-zonal. Um poderoso movimento popular, encabeçado pelo AKEL.
Num país que o imperialismo divide e o povo une.
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