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«Não pode haver justiça até que o capitalismo seja varrido da Terra»

Reunidos na África do Sul, cerca de 200 delegados de 40 organizações progressistas estão a debater estratégias concretas para uma luta unida contra a violência do capitalismo e do imperialismo.

Cerca de 200 delegados participam na conferência «Dilemas da Humanidade: Diálogos Pan-Africanos para Construir o Socialismo», em Bela-Bela 
Créditos / Peoples Dispatch

Com o início dos trabalhos da conferência «Dilemas da Humanidade: Diálogos Pan-Africanos para Construir o Socialismo», em Bela-Bela, os representantes dos movimentos, organizações, sindicatos e partidos progressistas presentes decidiram discutir estratégias com vista a criar uma frente unida de luta contra a violência do capitalismo e do imperialismo.

«Que caminho vamos traçar rumo ao socialismo?» Esta foi a pergunta que animou o primeiro dia da conferência, que começou no dia 17 e decorre até dia 20 de Julho, indica o Peoples Dispatch.

A conferência, refere a fonte, foi dividida em comissões, cada qual mandatada para deliberar sobre um tema em particular e estabelecer um plano concreto de acção, que integrará a resolução final do evento.

Na segunda-feira, estiveram em debate temas como a soberania alimentar, a agroecologia, questões ligadas ao género e à luta contra a sociedade patriarcal, e a luta pelo direito à habitação em zonas urbanas.

Sabemos que somos mantidos na pobreza para que outros possam continuar ricos

O evento de quatro dias, onde se juntam representantes de cerca de 40 organizações populares, sindicais e políticas progressistas de toda a África, tem por base um consenso: «O capitalismo não tem soluções para os problemas com que a humanidade se confronta.»

Além disso, outra questão debatida tem a ver com o facto de o capitalismo se ter tornado cada vez mais violento à medida que os seus fracassos se tornaram claros.

Cataz da conferência «Dilemas da Humanidade: Diálogos Pan-Africanos para Construir o Socialismo», que decorre na África do Sul / Newsclick

Na cerimónia de abertura, S'bu Zikode, presidente do Abahlali baseMjondolo, movimento militante socialista de moradores de barracas da África do Sul, disse: «Não sabíamos que, quando insistimos na nossa humanidade, estaríamos em guerra. Uma guerra travada com balas reais, balas de borracha, gás lacrimogéneo, tribunais, prisões, mentiras e calúnias.»

«Sabemos que nos tornámos pobres para que outros possam ser ricos. Sabemos que somos mantidos na pobreza para que outros possam continuar ricos... Não pode haver justiça até que o capitalismo seja varrido da Terra e a terra, a riqueza e o poder sejam partilhados de forma justa. Para nós, o socialismo, ou aquilo a que chamamos comunismo vivo, deve ser construído a partir de baixo», frisou.

Zikode sublinhou que os movimentos não devem só defender a sua autonomia. «Devemos construir movimentos de movimentos e comunas de comunas, porque para nós o socialismo é um conceito que fala dos valores da humanidade. Portanto, é importante que não estejamos a trabalhar isolados uns dos outros», disse, alertando que as forças da opressão estão a tentar dividir os pobres e os oprimidos, querendo virá-los uns contra os outros para que «não sejamos capazes de nos unir contra a opressão».

«Não queremos um pão, queremos a padaria toda para a classe trabalhadora»

A importância da unidade foi também enfatizada por Irvin Jim, secretário-geral do Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul (NUMSA): «Estamos aqui para dizer que, separados por rios, por florestas, somos por outro mundo. Um mundo livre de opressão, um mundo livre de exploração. Somos a favor de um mundo que faça avançar a humanidade em vez da ganância.»

«Não queremos um pão, queremos a padaria toda para a classe trabalhadora!», clamou.

Peoples Dispatch

Jim acrescentou que a tarefa é, então, criar uma agenda revolucionária e mobilizar os trabalhadores em torno dela, indica o Peoples Dispatch. Essa necessidade de articular objectivos revolucionários foi igualmente reafirmada por Kwesi Pratt Junior, secretário-geral do Movimento Socialista do Gana (SMG), durante o seu discurso aos delegados.

«Já não vamos lutar a guerra por eles, vamos travar as nossas próprias batalhas»

Isto passa, nomeadamente, pela rejeição de qualquer tentativa das forças imperialistas de atrair os países do continente africano para um conflito, enquanto lutam para manter a sua hegemonia. «Não lutaremos ao lado da Grã-Bretanha… da Alemanha… da França… e nunca lutaremos ao lado dos Estados Unidos», disse Pratt.

«Já não vamos lutar a guerra por eles, vamos travar as nossas próprias batalhas. As nossas batalhas são por comida, por ampliar o acesso à educação, melhorar o acesso das pessoas a uma saúde de qualidade, sacudir o imperialismo das nossas costas e unir-nos ao resto do mundo que sofre a opressão imperialista», frisou Kwesi Pratt Junior.

Pratt acrescentou: «A nossa luta é uma luta internacional. A nossa luta é para tornar o mundo um lugar melhor, a nossa luta é para nos unirmos a todas as outras lutas e desferir um golpe definitivo ao imperialismo – e sei que teremos êxito, pois não temos outra opção a não ser vencer.»

«Vamos construir o socialismo em África, vamos construir o socialismo no mundo. O socialismo derrotará o capitalismo porque é o único sistema que pode oferecer justiça económica... social... política», disse.

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