Numa altura em que se fala de ambiente e alternativas à energia fóssil, a ferrovia seria uma alternativa colectiva de deslocações que garantiria uma maior unidade e coesão territorial. Neste sentido, havia um plano delineado para o desenvolvimento do sistema ferroviário português que não só não se desenvolveu como, por fruto do desinvestimento, também foi sendo desmantelado.
A 2015, até porque a degradação da ferrovia era notória, o governo apresentou o Plano Estratégico dos Transportes – Mobilidade Sustentável, aprovado em Conselho de Ministros. Tal plano apresentava os principais constrangimentos do sector e os graus de prioridade a atender, sendo que os mais elevados eram: a degradação da infraestrutura, a vida útil e obsolescência técnica, a ausência de eletrificação, a falta de ligação eficiente dos principais portos e centros logísticos à Europa e a falta de ligação eficiente aos portos, plataformas logísticas e pólos industriais.
Um ano após este diagnóstico, o governo do Partido Socialista anunciou então o Ferrovia 2020. Este audaz plano, ao qual foram destinados dois mil milhões de euros, contou com um pacote financeiro composto por fundos comunitários do Programa Connecting Europe Facility, do programa de Coesão e do Programa Portugal 2020, entre outros.
Discutiu-se esta manhã no Parlamento o estado da ferrovia nacional, as limitações e os problemas vividos no sector. BE, PCP e PEV apontaram a necessidade de defender a ferrovia nacional. Esta manhã, na Assembleia da República, a situação da ferrovia nacional esteve em debate, a partir do projecto de lei do BE sobre um Plano da Ferrovia Nacional. Pela parte do BE, PCP e PEV a discussão sobre a ferrovia assenta no facto de o Governo se encontrar em incumprimento dos diplomas do PEV e do BE, aprovados em Novembro de 2015, sobre esta matéria. Apontaram-se, em diversas intervenções daqueles partidos, as opções políticas erradas de décadas no sector da ferrovia. Não apenas o investimento ferroviário caiu a pique desde 2011, como o plano de investimentos do Governo da Ferrovia 2020 se encontra com o seu cumprimento atrasado, não dando resposta às necessidades urgentes. Segundo BE, PCP e PEV, o investimento na ferrovia, para além das implicações positivas que pode vir a produzir na economia, nos utentes e empresas, será necessariamente positivo para a necessidade de defesa do ambiente. Para o BE foram importantes os passos dados na presente legislatura para travar privatizações dos transportes públicos e para a diminuição dos valores dos passes. Já para o PCP, são necessárias «opções estratégicas para a rede ferroviária do país». Bruno Dias alertou para o facto de o projecto do BE apresentar preocupantes medidas quanto ao financiamento, aproximando-se das soluções do Governo, das quais o PCP discorda. O deputado chamou ainda atenção para a importância da terceira travessia do Tejo, a qual não pode, no seu entendimento, deixar de ser rodoviária e ferroviária, e não pode estar sujeita nem a imposições da União Europeia, nem a limitações decorrentes do contrato PPP com a Lusoponte, porque isso seria colocar questões estratégicas do País dependentes de factores que não o interesse público. Também lembrou a necessidade de reintegração da EMEF na CP e da urgência de implementação do plano nacional de material circulante. O PEV reclama um novo paradigma nos transportes, com vista à coesão territorial, como forma de dar resposta aos problemas ambientais. Os Verdes assinalaram que a proposta bloquista «peca por não valorizar o interior do país» e ignora o ramal de Portalegre. PSD e CDS não apresentaram quaisquer propostas concretas para a situação da ferrovia nacional, limitando as suas intervenções à conclusão, segundo aqueles partidos, de que por um lado a solução política não é coesa por haver divergências entre os partidos, e por outro lado, que todos os problemas da ferrovia decorrem da actual legislatura. Recorde-se, a propósito, que em relação a material circulante, só 88 unidades ultrapassaram a sua vida útil na vigência governação do PSD e do CDS-PP e não foram substituídas. Heitor Sousa, do BE, por seu turno, não deixou de apontar as responsabilidades de PSD e CDS com o plano de privatizações e de desinvestimento na ferrovia do anterior governo. Carlos Pereira, do PS, exaltou o papel do Governo e avançou que só não se foi mais longe na Ferrovia 2020 por dificuldades técnicas e processuais ocorridas, nomeadamente em sede dos contratos públicos. Recorde-se que esta discussão é feita quando se encontra já em vigor o decreto-lei que transpôs para a legislação nacional o chamado «pacote ferroviário» da União Europeia aprovado pelo Governo, medida que representou um passo no projecto de partição do sector em várias empresas públicas e, também, abrindo a porta a privados. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Nacional|
Ferrovia nacional: é urgente dar resposta
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As metas passavam por: ter mais de 1000 km de linha férrea intervencionada; melhorar e ampliar os corredores internacionais; melhorar o transporte ferroviário com a redução de tempos de percurso, a redução dos custos de transporte e o aumento da capacidade no número e comprimento dos comboios; bem como eletrificar mais de 400 km de linha, investir na sinalização e alterar as bitolas.
No quadro das grandes conquistas panfletárias, o governo anunciou a Março deste ano que 85% do investimento tinha sido concluído, num plano que deveria estar concluído e já tinha um atraso de dois anos. O relatório da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes acabou por trazer um conjunto de preocupações, contrariando o regozijo do Governo. De acordo com o relatório, apenas 15% dos projectos de investimentos estão concluídos, 57% dos projectos ainda estão em fase de obra, 12% estão em fase de contratação e 16% ainda não foram lançados.
De acordo com a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes existe a «possibilidade de os trabalhos se prolongarem para além de 2023», o que fará com que um plano que seria de quatro anos passe a ser de nove. As justificações da IP são variadas, e actualmente centram-se na guerra e nos impactos da pandemia, sendo que o sector da construção foi dos poucos que não cessou a sua actividade.
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