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O Mundial como oportunidade para o futebol português no feminino

A realidade da Liga Feminina continua aquém do esperado pelas atletas, com perspetivas de profissionalização, preparação e planeamento integrado de carreiras ainda não correspondidas.

Créditos / Mais Futebol

O crescimento do futebol no feminino em Portugal levará à estreia da seleção nacional no Mundial. Trata-se de uma evolução que continua a ter ainda imensas pontas a melhorar para que as mulheres encontrem nesta modalidade todas as condições para singrar. 

Quando Carole Costa marcou, em tempo de compensação, o penálti que deu a vitória sobre a seleção dos Camarões, colocando pela primeira vez Portugal na fase final de um Mundial Feminino, uma boa parte das muitas mulheres que fizeram parte da história do crescimento do futebol no nosso país terá sentido estar num lugar onde nunca sonhou estar. Numa realidade feita de resistência social e familiar, dificuldades múltiplas impostas pela falta de condições, proibições à prática e à organização de uma seleção e uma capacidade para superar cada uma destas barreiras, chegar à maior competição do mundo não era sequer um sonho: era um acontecimento irreal. E, no entanto, no próximo verão, Portugal entrará em campo, na Nova Zelândia, para aquela que se espera a primeira de muitas presenças. 

Não deixa de ser simbólico ter sido Carole a marcar o golo decisivo. Aos 32 anos, a jogadora natural de Braga atravessou todo o tipo de dificuldades que constituem grande parte da história do futebol no feminino. Iniciou a prática numa equipa de rapazes, passou pela segunda divisão, chegou à primeira, com a camisola do Leixões, quando se mudou para o Porto para estudar, e acabou por emigrar para conseguir, na Alemanha, atingir o profissionalismo. Regressada a Portugal, primeiro no Sporting, agora no Benfica, teve a oportunidade de perceber as mudanças que se começam a sentir na Liga Portuguesa, onde a realidade profissional ainda continua a enfrentar limitações, mas que tem nestes dois clubes, ao lado de SC Braga e FC Famalicão, os motores de uma transformação que terá que ir mais fundo. 

«É um caminho que está a ser desenvolvido, com forte aposta da Federação Portuguesa de Futebol, mas que precisa de aceleradores para podermos dizer que rapazes e raparigas partem em condições iguais para se transformarem em jogadores de futebol, se esse for o seu desejo.»

Na generalidade do território nacional, o início da prática do futebol no feminino faz-se através de equipas masculinas, com a transição para as equipas femininas a colocar quadros ainda limitados até idades já muito avançadas, com o Nacional de Sub-19 (Segunda Divisão) a ser disputado com equipas de apenas nove jogadoras. A realidade da Liga Feminina, que tem sido o centro do desenvolvimento do futebol feminino, continua aquém do esperado pelas atletas, com perspetivas de profissionalização, preparação e planeamento integrado de carreiras ainda não correspondidas. É um caminho que está a ser desenvolvido, com forte aposta da Federação Portuguesa de Futebol, mas que precisa de aceleradores para podermos dizer que rapazes e raparigas partem em condições iguais para se transformarem em jogadores de futebol, se esse for o seu desejo. 

É, aliás, a questão do desejo que foi tratada nestes últimos anos. A jovem que deseja praticar futebol tem, hoje, muito mais oportunidades do que as pioneiras da modalidade em Portugal. Mas é necessário que se passe do foco no desejo para o foco na comodidade. Ainda não é cómodo ser uma jovem jogadora de futebol em Portugal. A generalidade dos clubes ainda dispensa piores condições de treino e de acompanhamento às equipas femininas. O trabalho que é feito na Seleção Nacional, com o foco num jogar que se adapta às características das jogadoras, também não tem ainda um grau de dispersão generalizada pelas equipas nacionais. Precisamos de treinadores culturalmente mais preparados para os desafios que têm em mãos. Também vai ser necessário que mais mulheres se envolvam na modalidade, como treinadoras, como dirigentes, como agentes, como analistas, como jornalistas, para poderem trazer a sua visão e forma de estar para o desporto. 

Essa transformação cultural pode ser beneficiada pela presença de Portugal num Mundial feminino. É uma transformação que precisa de começar a ser feita na Liga Feminina, que será sempre a realidade onde as raparigas poderão encontrar como o primeiro objetivo a atingir. Com as equipas muito presentes na televisão (por via do Canal 11) e nas redes sociais, será preciso adicionar condições de espetáculo a estes jogos. Melhores estádios, melhores relvados permitirão melhores eventos. Maiores condições de integração em treino e cuidados com a atleta, desde o início da prática na modalidade, permitir-lhe-á atingir outros patamares competitivos.

Melhores jogadoras tornarão o campeonato mais interessante, aumentarão as praticantes e as equipas e cada um desses conjuntos dará mais força às vozes que exigem melhores condições. Numa semana onde os direitos das mulheres são recordados, é bom perceber que direitos, hoje, se devem reivindicar.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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