A Azul, controlada por David Neeleman, está à beira da falência. Entrou, no final de Maio, com um processo para a protecção judicial de credores nos EUA ao abrigo da Lei de Insolvências. As dívidas ascendem a 2 mil milhões e as necessidades de capitalização a mais mil milhões. Faltam cerca de 3 mil milhões.
Os próximos tempos ditarão como vai terminar o processo, qual o custo para os actuais accionistas e para os trabalhadores, se a empresa continuará, se se fundirá ou se será absorvida. Uma coisa podemos ter a certeza: David Neeleman, que controla a empresa com uma espécie de golden share, pois já não detém mais que 5% das acções, vai sair mais rico. São assim os gestores geniais, como já demonstrou na TAP: aconteça o que acontecer, o seu património cresce.
Entretanto, os governos anteriores criaram e deixaram arrastar o processo de dívida da TAP à Azul. Que vence no próximo ano. Uma dívida que quando for cobrada ascenderá a 189 milhões de euros, representando uma taxa de juro de 110% nos 10 anos decorrentes desde o momento da contração da dívida de 90 milhões. Pura usura.
Uma dívida criada quando David Neeleman dirigia os dois lados do processo, a TAP e a AZUL, e que no fundo, com o acordo do governo PS, significou um segundo prémio para que o empresário cipriota-americano-brasileiro saísse da TAP depois de, genial e brilhantemente, a ter conduzido à insolvência.
«Uma coisa podemos ter a certeza: David Neeleman, que controla a empresa com uma espécie de golden share, pois já não detém mais que 5% das acções, vai sair mais rico. São assim os gestores geniais, como já demonstrou na TAP: aconteça o que acontecer, o seu património cresce.»
Entretanto, e para facilitar a privatização da TAP SA, o anterior governo PSD/CDS mudou o nome à TAP SGPS, que passou a chamar-se SIAVILO SGPS, passou desta para a TAP SA um conjunto de património, e no fundo, garantiu que a dívida à Azul não será paga pela TAP SA, que vai para privatização sem esse encargo. Veremos o que fará o governo com a dívida de 189 milhões da agora SIAVILO à Azul, se a fará desaparecer no inevitável processo de insolvência da SIAVILO,ou se a pagará no momento da venda da TAP SA fazendo um enorme estardalhaço perante mais esta dívida que a TAP deixou ao país. Veremos. Mas há uma coisa que o governo já demonstrou que não quer fazer: contestar essa dívida, artificialmente criada durante a gestão privada da TAP, e do fraudulento processo de entrada e saída desses privados na empresa, pois tal exigiria colocar ainda mais a nu toda a podre realidade do anterior processo de privatização, e isso o governo não quer e não vai fazer.
Por isso, termino com duas notas: (1) A nova insolvência de uma empresa de David Neeleman vem ilustrar, uma vez mais, que a gestão privada não é uma panaceia milagrosa – no modo de produção capitalista as falências e insolvências são inevitáveis e frequentes; (2) Os mesmos que se prepararam para aprovar a privatização da TAP SA (PS, PSD, CDS, CH e IL) são exactamente aqueles que se recusarão a contestar frontalmente a dívida à Azul, por falta de vontade política em expor os meandros da sua criação.
Preferirão todos – provavelmente com sucesso – substituir o debate sério destes processos pela berraria demagógica e anti-comunista.
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