Nascido em Murça, no distrito de Vila Real, a 7 de Outubro de 1928, António Borges Coelho cedo desperta para desigualdades estruturais do mundo em que foi criado. «A miséria que se vivia em Trás-os-Montes», e com a qual se confronta ao longo de toda a sua infância, é um dos motivos que o levam, na sua juventude, a abdicar (temporariamente) do sonho de uma vida: ser escritor.
O seu primeiro contacto com o Partido Comunista Português (PCP) é estabelecido na sua vila natal, um velho militante comunista, pedreiro de profissão, com os dentes partidos pela PIDE, que lhe dá a ler uma tradução espanhola do Manifesto do Partido Comunista (lê-a «como se fosse um poema»). É, no entanto, através dos colegas da Faculdade de Direito de Lisboa que integra o MUD Juvenil (do qual será, mais tarde, dirigente) e, por fim, as fileiras comunistas, em 1949, nas quais se torna funcionário clandestino.
A 3 de Janeiro de 1956 é preso pela PIDE, sendo enviado para a cadeia do Aljube. Seguem-se, depois, estadias em Caxias e na delegação da PIDE no Porto. Julgado a Junho de 1957, Borges Coelho é condenado a dois anos e nove meses de prisão (acabando por cumprir quase seis anos e meio de cárcere) em Peniche, onde casa com Isaura Silva, em 1959.
Não querendo voltar para a clandestinidade, Borges Coelho rejeita participar na fuga de Peniche de 3 de Janeiro de 1960, quando fogem vários dirigentes do PCP, como Álvaro Cunhal, Jaime Serra, Francisco Miguel Duarte e Carlos Costa. A vontade de dar início a uma carreira de historia é, no entanto, frustrada pela brutalidade da PIDE: castigado e enviado para o Aljube, é submetido à tortura da estátua e a seis meses de isolamento. Em 1962, é-lhe concedida liberdade condicional por um período de cinco anos.
Conclui, por fim, a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Lisboa, dando início a uma longa carreira de investigação sobre a história portuguesa e sobre filosofia (de que é exemplo a sua mais recente obra, publicada em 2023, Espinosa e Leibniz). Destacam-se, na sua bibliografia sobre a História de Portugal, obras como Raízes da Expansão Portuguesa (1964), A Revolução de 1383 (1965), Comunas ou Concelhos (1973), da série Questionar a História (seis volumes, 1983-2007), Quadros para Uma Viagem a Portugal no Século XVI (1986), A Inquisição de Évora (dois volumes, 1987), O Vice-Rei Dom João de Castro (2003), Ruas e Gentes da Lisboa Quinhentista (2006).
Como poeta publicou Roseira Verde (1962), Ponte Submersa (1969), Fortaleza (1974), No Mar Oceano (1981) e Ao Rés da Terra (2002), entre outros. Depois do 25 de Abril, foi professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
O historiador saiu do PCP em 1991, mas nunca abdicou de uma activa vida política e associativa. Foi o primeiro director do Le Monde Diplomatique - Edição Portuguesa e, até 2020, presidente do Conselho Consultivo do Museu do Aljube, com o qual colaborou desde o seu início. Em 1999, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada, em 2018 com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e, em 2019, foi-lhe atribuída pelo Governo a Medalha de Mérito Cultural.
António Borges Coelho morreu esta sexta-feira, 17 de Outubro de 2025, aos 97 anos.
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