Este trabalho audiovisual, um anúncio que foi transmitido pela TVI e CNN, não é «apenas uma provocação», considera o Movimento Democrático das Mulheres (MDM), em nota enviada à comunicação social – «é um ataque violento ao direito à Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG)», o aborto, «consagrado na lei portuguesa após décadas de luta, sofrimento e resistência das mulheres deste país».
No anúncio «Obrigado Mãe», que tem uma versão mais alargada a ser divulgada nas redes sociais, é feita uma representação falseada e sem qualquer adesão à realidade de uma IVG, que inclui um documento carimbado pelo «Estado» com a palavra «aprovado» escrita em sangue. O vídeo e a música, financiados por Miguel Milhão, dono da Prozis, «não têm qualquer inocência. São instrumentos de guerra cultural contra os direitos conquistados».
Sob uma «estética encenada e melodramática», o anúncio «manipula emocionalmente, distorce a realidade dos factos médicos e lança um julgamento moral torpe sobre as mulheres que decidem interromper uma gravidez». Miguel Milhão «cria uma imagem falsa, grotesca e desumana do procedimento, como se se tratasse de um assassinato, como se uma mulher, ao decidir pelo aborto, estivesse a renegar a vida», afirma o MDM. «Esta narrativa é abjecta, desonesta e perigosa».
Para além do conteúdo profundamente retrógado e reaccionário que Milhão e outros figuras da extrema-direita patrocinam, todos os dias, nas redes sociais, acrescenta-se o facto de ter sido «transmitido em canal de televisão generalista, propriedade de grupos de comunicação social, com a conivência silenciosa das instituições e a complacência cúmplice de quem não tem vergonha em normalizar o discurso de ódio sob o disfarce da liberdade de expressão».
Os segmentos publicitários da TVI e CNN estão a soldo, aceitando, sem limitações, qualquer tipo de conteúdo desde que seja bem pago. Cada vez mais, a extrema-direita «serve-se do poder económico para tentar impor uma visão fundamentalista e obscurantista sobre o corpo das mulheres – como se fôssemos propriedade do Estado, da religião ou do patrão». «Não somos», reafirma a organização das mulheres portuguesas, fundada em 1968.
O MDM assume o compromisso de combater esta tentativa «infame de regressar ao tempo da clandestinidade», que provocou a morte a centenas de mulheres, causando traumas irreparáveis a outras milhares, apenas «por não terem acesso a cuidados de saúde seguros, legais e gratuitos». Uma coisa é certa, as mulheres não aceitarão «nem um passo atrás».
Miguel Milhão, que se apresenta com o nome Guru Mike Billions, é o fundador da Prozis, uma empresa de produtos de nutrição desportiva que recebeu milhões de euros em apoios do Estado português e da União Europeia. A sua persona «demonstra uma encenação egocêntrica digna sim de um guru de pacotilha, que se coloca num pedestal de pseudo-salvador moral enquanto cospe preconceito e ignorância com ar de iluminado». «Usa o palco, o dinheiro, o nome» e o facto de não trabalhar como arma contra as mulheres.
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