A greve geral só foi anunciada no passado sábado, na presença de mais de 100 mil trabalhadores que desceram a Avenida da Liberdade, em Lisboa, numa manifestação convocada pela CGTP-IN contra o pacote laboral, porém já está a provocar incómodo dentro do Governo e PSD.
A ministra do Trabalho, Maria do Rosário Palma Ramalho, considerou «extemporâneo» o anúncio da greve geral. Para a ministra que promoveu o ante-projecto de alteração à legislação laboral, ainda decorrem negociações com a UGT e, como tal, espera que venha a haver um acordo.
Numa entrevista concedida à RTP, a ministra considerou a greve geral fora de tempo e, nunca referindo quais as críticas feitas à reforma laboral proposta, optou por dizer que «houve uma reacção um bocadinho epidérmica quando nós lançamos a reforma, porque as matérias laborais são sempre matérias de grandes paixões e, portanto, há uma reacção quase instantânea e, por isso, sem a necessária ponderação, até sem o conhecimento das normas».
Importa lembrar que o que está em discussão é um documento que prevê a normalização da precariedade, o alargamento dos horários de trabalho, o ataque à contratação colectiva, a facilitação dos despedimentos ou o impedimento dos sindicatos de entrarem nos locais de trabalho.
Neste momento, o ante-projecto de revisão da legislação laboral está a ser discutido na Concertação Social, espaço composto por quatro confederações patronais (Confederação Empresarial de Portugal; Confederação do Comércio e Serviços de Portugal; Confederação dos Agricultores de Portugal e Confederação do Turismo Português) e apenas duas centrais sindicais (CGTP-IN e UGT), o que evidencia um campo desnivelado para os trabalhadores.
Ainda assim, a ministra do Trabalho desvaloriza as motivações da greve e rejeita as acusações de que o diálogo em sede de Concertação Social seja «de fachada», considerando que o que está a ser discutido «são normas em construção, em aperfeiçoamento, e estão a ser construídas e aperfeiçoadas com todos os parceiros».
Com o anúncio da greve geral, também Luís Montenegro demonstrou incómodo e, numa visita à Colômbia, considerou a decisão incompreensível e acusou os sindicatos de olharem para os interesses partidários do PCP e do PS. O primeiro-ministro procurou, desta forma, desviar as atenções da discussão do pacote laboral e quis criar uma falsa narrativa, insultando assim os trabalhadores e as suas justas reivindicações.
Como não podia deixar de ser, Hugo Soares, secretário-geral do PSD e presidente do grupo parlamentar do mesmo, seguiu a orientação comunicacional desenhada pelo Executivo e alinhou no ataque à liberdade sindical. Para o deputado, a CGTP-IN «é o braço armado sindical» do PCP, ensaiando assim o velho argumentário anti-comunista que procura demonizar a justa luta dos trabalhadores.
Mesmo depois da ministra do trabalho ter dito na RTP que «o Governo não está disponível para retirar toda a proposta», Hugo Soares quis entrar na vitimização: «o que parece estar em causa é uma espécie de greve preventiva que eu nunca vi», disse à SIC Notícias.
Na sua entrevista, Hugo Soares parece deixar claro que, ao longo deste mês, a linha argumentativa daqueles que querem defender os interesses patronais passa pelo ataque à legitimidade da greve geral, adoptando uma posição maniqueísta que distorce a realidade e não fala, em concreto, das mais de 100 propostas de alteração ao Código do Trabalho.
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