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|luta de classes

Está com calor? Pense que até nisso há diferenças de classe

Os termómetros têm chegado aos 40ºC e poder-se-ia pensar que o calor seria igual para todos.  Não é. Um recente estudo sobre o impacto do calor nos bairros de Madrid afirma que até no calor está uma expressão da luta de classes.  

Créditos / Câmara Municipal de Setúbal

Vários têm sido os alertas do IPMA relativamente ao calor. Apesar de ser Verão e o expectável serem temperaturas elevadas, segundo o Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas, um dos seis serviços fornecidos pelo Programa Copernicus da União Europeia, a temperatura global do ar à superfície em Julho de 2023 foi a mais elevada desde que há registo para qualquer mês no conjunto de dados do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo, que remonta a 1940.

Por si, estes dados já são preocupantes, mas podem ficar ainda mais. Um estudo da Universidade Politécnica de Madrid sobre o impacto do calor nos bairros da capital espanhola afirma que as diferenças de temperatura entre os bairros mais humildes e mais ricos existem e podem ultrapassar os 8ºC. 

Entre os bairros analisados, surge, a título de exemplo, o mítico e histórico bairro operário de Vallecas, bairro cuja a composição social é essencialmente trabalhadora. O ponto de partida para a afirmação que o estudo da academia madrilena faz, prende-se com o aumento da electricidade e a pobreza energética, algo que só afecta a classe trabalhadora e é evidente neste tipo de bairros. A questão, no entanto, vai mais longe e centra-se na tipologia das casas, na dimensão das mesmas e no número de habitantes por casa, mas  também na própria arquitectura da cidade, já que, nesses bairros essencialmente dormitórios, verifica-se a ausência de zonas verdes, longevidade entre edifícios, parca qualidade da construção e do isolamento das casas, e uma forte presença de trânsito como consequência de uma fraca rede de transportes.

Tudo isto tem influência directa no calor registado e não se prende somente com os baixos rendimentos dos trabalhadores no plano da capacidade para contrariar os elevados preços da energia. Prende-se também com a forma classista com que as cidades foram sendo planeadas e construídas. As elites económicas conseguem facilmente pagar a factura da eletricidade e têm em seu redor menos trânsito e mais zonas verdes como jardins.

O estudo vai ainda mais longe e indica que até em termos laborais o calor é uma questão, pois um operário da construção civil ou um cantoneiro passa mais horas exposto ao calor do que alguém que pertence à pequena, média ou grande burguesia que mais facilmente trabalha em escritórios com ar-condicionado. 

Segundo os segundo um estudo do Instituto de Saúde Global de Barcelona, actualmente em Espanha, 17% das casas não conseguem manter uma temperatura adequada (tanto no Verão como no Inverno), perfazendo mais de oito milhões de pessoas.

Já em Portugal, segundo dados da Estratégia Nacional de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética 2022-2050, «estima-se que em Portugal estejam em situação de pobreza energética entre 1,8 a 3 milhões de pessoas, consoante o critério de avaliação seja “condições de vida”, ou seja, população a viver em agregados sem capacidade para manter a casa adequadamente aquecida ou «rendimento vs. despesa com energia», ou seja, agregados familiares em situação de pobreza cuja despesa com energia representa +10 % do total de rendimentos, as quais podem ser repartidas em dois grupos, cerca de 660 a 680 mil pessoas em situação de pobreza energética severa (cumulativamente com uma situação de pobreza monetária ou económica) e entre 1,1 a 2,3 milhões pessoas em situação de pobreza energética moderada».

A par destes números, sabe-se que na Europa o calor provoca 61672 mortes. Espanha foi o segundo país de toda a Europa com mortes atribuíveis ao calor durante o Verão de 2022 com 11324 mortes e Portugal teve duas mil, sendo que são os idosos com idade superior aos 80 anos os mais afetados. Quanto à taxa de mortalidade, Itália ocupa o topo da lista com 295 mortes por milhão, seguindo-se a Grécia com 280, Espanha com 237, e Portugal, em quarto lugar, com 211 mortes por milhão.

Para combater todos este problema, em Espanha discutem-se um conjunto de medidas que passam pela  proibição de cortes de água, electricidade e gás em habitações que se encontrem em situação de vulnerabilidade e a criação de um plano para fazer face à dívida acumulada durante a moratória aos cortes em vigor desde Março de 2020; a criação de uma tarifa social progressiva, que seria uma tarifa definida com base na renda familiar. Nada estrutural, é certo. 

Dizem que «quando o sol nasce é para todos», mas a questão é que quando se fala do calor, esse não é igual para todos. O calor acaba por ser mais uma expressão da luta de classes que afecta particularmente a classe trabalhadora. As medidas que estão a ser discutidas em Espanha são apenas uma forma de atenuar os impactos do sistema económico e social, quando o que se exige é superá-lo. 
 

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