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Conselho de Ministros extraordinário foi tudo menos extraordinário

Após a reunião extraordinária do Conselho de Ministros, o primeiro-ministro, ao invés de apresentar medidas de prevenção e combate aos incêndios, fez um discurso vazio, revestido de populismo, no qual prometeu «esforço na acção repressiva».

CréditosTiago Petinga / Lusa

O drama é real e consequência de uma política florestal negligente ao serviço dos interesses dos grandes grupos económicos que vêem no eucaliptal e nos incêndios uma forma de lucro. A chamada «lei Cristas» vai fazendo os seus estragos e a cada ano os fogos vão-se multiplicando. 

Por norma, aquando de uma catástrofe, os governos têm uma acção reactiva, uma vez que nunca tiveram uma política activa preventiva. Seria de esperar que a reunião extraordinária do Conselho de Ministros fosse neste sentido, mas não foi. 

A reunião convocada pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, podia ter esse efeito, até porque o presidente da República foi convidado a participar e a dirigir os trabalhos, no entanto para pouco ou nada serviu.

Nas declarações à imprensa depois da reunião, num momento que o Governo quis que fosse solene e carregado de simbolismo, já que todos os membros do executivo estavam presentes, Luís Montenegro não anunciou nada estrutural, recorrendo à demagogia populista para vincar uma suposta intransigência contra os incendiários, mas nunca abordando as causas dos incêndios. 

A reunião extraordinária, em primeiro lugar, serviu para aprovar o normal, ou seja, o apoio às vítimas e, em segundo lugar, a mobilização de todos os recursos para combater as chamas. Prometeu o primeiro-ministro «oferecer o apoio mais imediato e urgente àqueles que não têm em casa um abrigo, um alojamento para os próximos dias, àqueles que ficaram sem meios de subsistência para se alimentarem, para se vestirem, para terem acesso às mais elementares necessidades do dia a dia». 

A grande questão da declaração de Luís Montenegro foi o evitar de uma abordagem concreta relativamente à política florestal. O primeiro-ministro optou por focar-se na parte da criminalidade, dado a entender que o drama que se sente no Norte e Centro do país daí advém. «Nós não podemos perdoar a quem não tem perdão. Nós não podemos perdoar atitudes criminosas que estão na base de muitas das ignições que ocorreram nos últimos dias», afirmou. 

A ausência de uma política florestal que valorize o território e previna incêndios, investindo num ordenamento equilibrado e em meios materiais e humanos esteve ausente no discurso do chefe do executivo. O que esteve presente foi o clima de suspeição, meias palavras, o saudir de responsabilidades dos sucessivos governos e a garantia de um «esforço na acção repressiva» que serve para manchetes, mas não garante que os desastres deixem de acontecer. 

Para já no terreno estão 4400 operacionais, apoiados por 1600 meios terrestres, de forma a combater cerca de 50 fogos rurais em Portugal continental, de acordo com a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).
 

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