É isso que evidencia a evolução do Produto Interno Bruto (PIB), que cresce 2,3% no segundo trimestre, face ao mesmo período do ano passado, mas estagna relativamente ao primeiro trimestre de 2023.
Um ligeiro abrandamento da inflação, que em Julho registou 3,1% em termos homólogos e baixou 0,3 pontos percentuais relativamente a Abril, continua, no entanto, a somar-se aos aumentos sucessivos de preços e agrava as dificuldades sentidas pela maioria da população.
Isto para não falar do problema da habitação. O aumento brutal das rendas em Portugal, reconhecido até no estrangeiro[fn]Ver «Portugal’s bid to attract foreign money backfires as rental market goes ‘crazy’», no The Guardian de 29/07/2023.[/fn], e a persistente subida das taxas de juro no crédito à habitação própria[fn]Do pagamento das prestações da casa, segundo um cálculo realizado pelo Público, apenas 25% se destinam a amortizar o capital, sendo os restantes 75% para pagar os juros à banca. Ver «Com escalada das Euribor, 75% da prestação são juros pagos ao banco», 1 de Agosto de 2023.[/fn], consomem cada vez mais a vida dos trabalhadores portugueses e das suas famílias, enterrados em baixos salários.
Aliás, o aumento dos custos com os empréstimos à habitação contrasta flagrantemente com os lucros que vêm sendo anunciados pelos grandes grupos económicos e pela banca – esta lucrou quase 2 mil milhões de euros, no primeiro semestre.
Entretanto, importa lembrar que o Banco Central Europeu (BCE) aumentou novamente a taxa de juro, colocando-a em 4,25%, com efeitos a partir desta quarta-feira, 2 de Agosto. A decisão, tomada no quadro de uma estratégia de compressão do rendimento disponível dos trabalhadores e das famílias, representa, no nosso País, uma pressão adicional sobre cerca de 1,2 milhões de famílias com crédito à habitação a taxa variável, para além de outras implicações no plano económico.
Não há justificações técnicas que escondam os interesses defendidos pelo BCE, que procura por todos os meios travar o aumento de salários, enquanto passa ao lado das reais causas da inflação, nomeadamente o aumento de bens com impacto significativo na produção e no rendimento das famílias, como a energia e os bens alimentares, aproveitado pelos grupos económicos para obterem ainda mais lucros.
Não há volta a dar: o combate aos impactos da inflação não pode deixar de passar pelo aumento dos salários e das pensões e pela regulação dos preços dos bens e serviços essenciais.