Aquando da reunião com o Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA), em Novembro passado, não foi prestada informação sobre a criação da USF de Sines, a comissão de utentes quer saber porquê, desconfiando, no entanto, que tal se deve ao facto de os utentes terem uma posição «contrária».
Isto porque, precisa num comunicado, a Unidade de Saúde Familiar baseia o seu funcionamento no cumprimento de indicadores, como o número de consultas efectuadas, por parte dos profissionais, «nem sempre condizentes com verdadeiros ganhos em saúde».
Entre os «vários problemas» identificados por parte dos utentes está também a possibilidade de «autonomia progressiva da unidade até atingir o modelo C (privatização)». «O caminho para a atomização e privatização dos cuidados primários será catastrófico para a saúde dos utentes, pois significa o fim dos cuidados universais», lê-se na nota.
Ao mesmo tempo, a Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Concelho de Sines defende que, ao assentar em indicadores, este modelo «branqueia a necessidade da valorização do salário base» dos profissionais de saúde e acarreta riscos. «Os baixos salários podem induzir ao cumprimento forçado de indicadores, para obter o necessário reforço salarial», regista, acrescentando que «o cumprimento forçado» de indicadores pode levar a que a lista de utentes abrangidos pela USF inclua aqueles com menor risco de doença.
1125
No total de USF, em todo o País, faltam 1125 médicos e 560 enfermeiros, revela a Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Concelho de Sines
«O que se tem visto no terreno é que as Unidades de Cuidados Personalizados (UCSP) têm dado resposta à esmagadora maioria da população migrante, com listas de utentes altamente voláteis, por exemplo, mesmo sem os necessários recursos, enquanto que as USF costumam ter listas de utentes mais estáveis», constata a comissão de utentes. Por outro lado, o facto de haver vários modelos de organização dos cuidados primários em todo o País e dentro da mesma unidade local de saúde, «é mais um ataque aos princípios básicos da Constituição», entende a comissão, assumindo que cria utentes «de primeira, de segunda e de terceira».
A estrutura salienta que «não é por existirem USF que vão deixar de existir utentes sem médico de família», e que o problema da falta de clínicos «não se resolve com a contratação de médicos indiferenciados» e desvalorizando a especialidade de Medicina Geral e Familiar. Neste sentido, deixa um recado ao Executivo: «Se o Governo PS quer de facto melhorar os Cuidados de Saúde Primários tem em primeiro lugar de garantir que toda a população tenha acesso a médico e enfermeiro de família».