Depois de um dia em que Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa que detém a tutela da Carris, se escudou numa reunião do Conselho de Ministros para dizer que Lisboa «precisa de respostas», sem direito a perguntas dos jornalistas, como vem sendo habitual em conferências que envolvam o PSD ou o Governo, Alexandra Leitão concedeu uma entrevista à SIC Notícias e aproveitou o momento para criticar Carlos Moedas. Sendo certo que a gestão autárquica PSD/CDS-PP merece duras críticas, a candidata da coligação Viver Lisboa quis, no entanto, fugir a responsabilidades históricas que o PS tem no desmantelamento da Carris.
Ao longo da entrevista, a cabeça de lista da coligação PS/Livre/Bloco de Esquerda foi, naturalmente, repetindo frases como «honrar as vítimas é obter esclarecimentos», ou «é importante apurar responsabilidades técnicas e políticas». A mesma fez questão de criticar a declaração de Moedas que, por não ter permitido perguntas dos jornalistas, deu azo a interrogações.
A grande questão da entrevista começou quando, após Alexandra Leitão dizer que é preciso «recuperar a confiança da Carris», a jornalista pergunta: «sobre a manutenção [do elevador da Glória] em outsourcing há 14 anos, portanto também nas presidências de Câmara de António Costa e Fernando Medina, tem sido posta a questão, nomeadamente por parte dos trabalhadores da Carris, parece que faz sentido que seja colocada para levantar a dúvida da confiabilidade do trabalho de uma empresa de outsourcing?».
A jornalista queria saber se a candidata à presidência da Câmara Municipal de Lisboa pela coligação PS/Livre/Bloco de Esquerda defendia a externalização do serviço de manutenção na actividade da Carris, invocando o papel do Partido Socialista na gestão autárquica.
À questão, Alexandra Leitão teve dificuldades em responder: «Eu vi várias críticas à externalização dessa manutenção, até porque atendendo a uma certa vetustez e à antiguidade do próprio equipamento, será um equipamento… até com as peças é difícil, mas eu não sou técnica, não sei dizer».
Se, nesta primeira parte da resposta, a candidata foi esquiva, o restante não foi melhor: «Há uma coisa que, sim digo, e que é importante que se veja: aquele equipamento tem muita utilização, muito por ser tão turístico, é um símbolo da cidade, é um ícone da cidade, isto também tem consequências do ponto de vista até internacionais, foi notícia em todos os jornais estrangeiros porque exactamente é um símbolo e um ícone da cidade, e portanto quando se diz que a manutenção manteve… porque não aumentou, lá está na sequência de uma pergunta que foi feita ao senhor presidente do conselho de administração relativamente aos custos com a manutenção, na verdade se há mais utilização, se calhar a manutenção deve ser reforçada. Eu estou apenas a lançar questões, não as pretendo resolver, não sou técnica, mas pretendo vê-las respondidas em tempo útil».
A cabeça de lista da coligação PS/Livre/Bloco de Esquerda teve ainda grande dificuldade em ser objectiva quanto ao reforço da Carris. A verdade é que Carlos Moedas, que ontem apelava à realização de uma investigação externa independente à Carris para apurar responsabilidades, ignorou as reivindicações dos trabalhadores e, como se isso não tivesse sido suficiente, retirou quatro milhões de euros à empresa municipal para entregar o mesmo valor à Web Summit, com a conivência do PS, que foi um verdadeiro aliado da gestão municipal do PSD e do CDS-PP, nomeadamente na descapitalização da Carris.
Segundo revela a edição do Público desta sexta-feira, a externalização da actividade de manutenção, atribuída por concurso público tendo como único critério o preço mais baixo, veio reduzir de 24 para seis o número de pessoas afectas a esse trabalho, que antigamente durava 24 horas por dia. E, em vez de dois operários em permanência, passou-se para vistorias diárias que, no caso da do dia do acidente, durou 33 minutos.
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