|Eleições Regionais dos Açores

Contrastes socioeconómicos cada vez mais evidentes nos Açores

Nos Açores, anos sucessivos de política de direita têm contribuído para um fosso cada vez maior entre ricos e pobres. No ano em que as receitas do turismo cresceram mais nos Açores do que noutras regiões do país, a taxa de risco de pobreza aumentou para 26,1%.

CréditosEduardo Costa / Lusa

Se muito se falou de uma crise política nos Açores que foi o espelho de uma suposta irresponsabilidade da governação de direita que precipitou as eleições marcadas para o dia 4 de Fevereiro, muito pouco se falou das condições do povo de dos trabalhadores da região. Enquanto há quem acumule capital, quem trabalha acumula cada vez mais dificuldades. 

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, no período acumulado de Janeiro a Novembro de 2023, os maiores crescimentos nos proveitos totais e no turismo ocorreram nos Açores (+27,0% e +28,6%). Seguem-se Lisboa (+25,1% e +26,5%), Norte (+25,0% e +26,1%) e Madeira (+24,1% e +27,1%).

Numa comparação com igual período de 2019, os maiores aumentos nos proveitos totais e no turismo açoriano são ainda mais escandalosos atendendo à degradação das condições de vida, já que verifica-se um aumento de 61,3%. No período acumulado de Janeiro a Novembro de 2023, os proveitos totais cresceram 20,4%, atingindo os 5,7 mil milhões de euros.

Se em todo o balanço se tiver em conta os trabalhadores, pode-se afirmar que enquanto os grandes senhores do turismo enriquecem, quem trabalha empobre a trabalhar. Numa conferência de imprensa realizada no passado mês de Dezembro, o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Alimentação, Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios e Serviços, Hotelaria e Turismo, Transportes e Outros Serviços dos Açores, revelou que, segundo o INE, a taxa de risco de pobreza nos Açores aumentou para 26,1% .

Para o sindicato há uma clara explicação para isto, já que «o mercado de trabalho regional assenta essencialmente em trabalho precário e num modelo de baixos salários, pelo que ter um emprego deixou de ser suficiente para afastar a pobreza. As famílias açorianas continuam a ser empurradas para situações de pobreza real, porque os rendimentos do trabalho dos membros do agregado familiar não são suficientes para garantir a sua subsistência».

Na avaliação pelo sindicato afecto à CGTP-IN, «os salários praticados não garantem a muitos açorianos o acesso a um vasto conjunto de bens e serviços essenciais, não permitindo a fixação dos que aqui querem viver e trabalhar» e «contrastam com os níveis de acumulação e centralização das grandes empresas».

Apesar da dramática situação e da situação política instável, o sindicato salienta que os trabalhadores têm, com as eleições marcadas, uma oportunidade para reivindicar que o próximo Governo Regional aumente o valor do acréscimo Regional ao salário mínimo nacional de 5%, para 10%.
Como salienta a estrutura sindical açoriana, não faz sentido falar de crescimento económico sem que esse crescimento se traduza numa justa e equilibrada distribuição da riqueza gerada, como não faz qualquer sentido falar de emprego apenas para fins estatísticos, mas com vínculos precários e sem direitos. 
 

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