Na delegação da PIDE/DGS no Porto (instalada na Rua do Heroísmo, ao lado do Cemitério do Prado do Repouso) estiveram presas, ao longo dos 40 anos em que esteve activa, mais de 7600 pessoas, mulheres e homens, que enfrentaram o fascismo. As torturas que eram reiteradamente praticadas no local provocaram a morte de dois resistentes antifascistas, ambos militantes do PCP: o barbeiro Joaquim Lemos de Oliveira, de Fafe, e o operário Manuel Fiúza da Silva Júnior, de Viana do Castelo, antigo editor d'A Voz dos Famintos (um quinzenário anarquista) que acabou por se juntar aos comunistas.
Ambos foram torturados até à morte em 1957, com 16 dias de diferença. Manuel Fiúza da Silva Júnior, de 69 anos, é preso pela PSP enquanto distribuía propaganda que denunciava o assassinato de Joaquim Lemos de Oliveira (de 48 anos) às mãos da PIDE. Depois do 25 de Abril, este edifício ficou sob a tutela do Ministério do Exército que, em 1977, e depois da demolição de parte das instalações prisionais, ali instalou o Museu Militar do Porto.
A proposta apresentada pelo PCP esta sexta-feira, na Assembleia da República, pretende mudar as instalações do Museu Militar para outro local e criar o Museu da Resistência Antifascista no Porto, instituindo ao mesmo tempo a Rede Nacional de Museus da Resistência, permitindo a articulação entre o Museu do Aljube – Resistência e Liberdade, de Lisboa, o Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, de Peniche, e este novo espaço. Em 2018, o Ministério da Defesa, em resposta aos deputados comunistas, assumiu a inteira disponibilidade para deslocalizar o seu museu, nomeando diversas infra-estruturas que poderiam receber o seu espólio.
O espaço é, desde 2015, partilhado pela URAP e o Museu Militar, estando patente uma exposição com o título Do Heroísmo à Firmeza - Percurso na memória da casa da Pide no Porto - 1934-1974, que não colide com o projecto do Museu Militar.
Direita continua com dificuldade em lidar com o seu passado
«Urge dar um novo passo na valorização deste espaço como local de memória e homenagem às vítimas do fascismo e à luta pela democracia», refere o documento apresentado pelo PCP. A proposta foi aprovada com o votos favoráveis do PS, BE, Livre e PCP, a abstenção do PSD e da Iniciativa Liberal, e os votos contra do Chega e do CDS-PP, incapazes de se libertarem das suas pesadas heranças.
«O edifício do Heroísmo é um símbolo do regime fascista e, como antiga sede da polícia política, é o local adequado e justo para documentar, musealizar e, dessa forma, homenagear a luta pela liberdade daqueles que lá estiveram detidos e ali resistiram para construir no nosso país o 25 de Abril e o seu projeto emancipador de liberdade, progresso e desenvolvimento social», afirmam os comunistas.
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