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André Martins: Reconhecimento da Arrábida «é uma vitória de toda a região»

A candidatura da Serra da Arrábida a Reserva da Biosfera da Unesco começou a ser trabalhada em 2014 pelos municípios de Palmela, Sesimbra e Setúbal. O reconhecimento chegou dia 27 e já há trabalho a fazer. 

Créditos / Visit Setúbal

O anúncio foi feito pela instituição das Nações Unidas numa cerimónia realizada em Hangzhou, na China, no passado sábado, no âmbito do Congresso Mundial de Reservas da Biosfera. Desde então, o «laboratório vivo» que a Arrábida representa integra o catálogo de reservas da Unesco. 

Promover o território e protegê-lo, através de uma maior harmonização entre a conservação da natureza e as actividades económicas desenvolvidas na Serra da Arrábida, na Península de Setúbal, eram os objectivos da candidatura submetida pelas três autarquias, com o apoio do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), coordenada pela Associação dos Municípios da Região de Setúbal e com a participação das comunidades locais. «Os municípios de Setúbal, Sesimbra e Palmela [...] têm procurado sempre um reconhecimento maior da Arrábida, para que este património seja melhor defendido e também promovido», disse André Martins, presidente da Câmara Municipal de Setúbal, pouco depois do reconhecimento daquele território como Reserva da Biosfera da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Ao AbrilAbril, o eleito, e novamente candidato da CDU (coligação PCP-PEV) às eleições de 12 de Outubro, regojizou-se pela vitória e afirmou a importância de respeitar os valores naturais, de forma a garantir um futuro sustentável para as gerações vindouras.

Percebendo a questão do equilíbrio entre as actividades económicas e a protecção do território da Arrábida, que impacto tem este reconhecimento para os três municípios que propuseram a candidatura?

Há alguns anos que os municípios de Setúbal, Sesimbra e Palmela têm vindo a considerar que a Arrábida deve ter uma avaliação e um estudo e uma atenção conjunta, porque é, de facto, um território único e que valoriza muito a nossa região. 

E, portanto, esta candidatura, no fundo, é o reflexo desta visão de conjunto e desta percepção que nós temos da importância da valorização do nosso território a nível nacional e internacional, por um lado, e, por outro lado também, dos valores que este território encerra. Seja do ponto de vista do património cultural, que está identificado em grande parte, como também do património natural das reservas integrais que existem neste território e que naturalmente foram identificadas e reconhecidas já aquando da candidatura da Arrábida a Património da Humanidade. Desde essa altura, tendo o Estado português retirado a candidatura a Património da Humanidade, ficou a ideia de que valeria a pena considerar estes valores a nível internacional (Unesco), para que possam ser salvaguardados, e por isso nós achámos que era uma oportunidade de valorizar o território e defender estes valores da cultura, do património cultural e do património natural, como forma também de valorizar aquilo que são as actividades económicas, o resultado da sua actividade neste território da Arrábida.

Quais são as actividades-referência?

Estamos a falar do queijo, em particular, e dos vinhos, além de outras actividades que se desenvolvem na serra. Mas estas duas produções, digamos assim, do queijo e do vinho, são de facto referências da região, que os três municípios têm promovido, divulgado e continuamos empenhados, naturalmente, em fazer tudo o que esteja ao nosso alcance para que eles também tenham um valor acrescido naqueles que investem nestas duas produções da região. E, portanto, no fundamental é isto, é prosseguir este projecto de, nas várias vertentes do que é o conhecimento, tanto do ponto de vista desportivo e do lazer, e também dos valores da natureza e do património cultural, eles serem prosseguidos pelos investidores e pelos investigadores científicos, no sentido de valorizar este património. 

Ou seja, a par da valorização ambiental, trará também uma maior dinamização económica. 

Sim, valorização económica, mas em que as actividades económicas ali desenvolvidas se comprometem a respeitar os valores da conservação da natureza. Isso é muito importante. 

Que reacções já teve dos setubalenses relativamente a esta conquista? 

O que eu tenho verificado é que eu encontro as pessoas, os cidadãos, e parabenizam-nos por este objectivo concretizado. Nós sabemos que os setubalenses e os azeitonenses, falando apenas do concelho de Setúbal, são gente que considera a Arrábida como um património único. E, nesse sentido, naturalmente que não era de esperar outra coisa, ou seja, reconhecer que esta é uma vitória de toda a região. E que, naturalmente, aqueles que escolheram Setúbal para viver reconhecem que foi uma boa escolha, estão muito orgulhosos. 

Feito o reconhecimento, que medidas serão tomadas, já no curto prazo? 

Estão identificados os valores e os compromissos e agora há que começar a trabalhar nos projectos para que esses compromissos sejam cumpridos. Naturalmente que isto implica um envolvimento das populações, dos responsáveis das actividades económicas e também da comunidade científica, que tem sido e continuará a ser, necessariamente, um parceiro neste projecto. Nós não queremos, não é o objectivo, tornar a Serra da Arrábida qualquer coisa de isolado das pessoas, da civilização, não é nada disso, antes pelo contrário.

«Nós sabemos que os setubalenses e os azeitonenses, falando apenas do concelho de Setúbal, são gente que considera a Arrábida como um património único.»

André Martins, presidente da câmara de setúbal 

O objectivo é que se salvaguarde aquilo que é fundamental e que a comunidade científica identifique valores a conservar e a valorizar e, ao mesmo tempo, se garanta a todas as outras actividades que podem ser desenvolvidas neste território, que podem continuar a desenvolver-se, mas, naturalmente, dentro dos limites da salvaguarda desses valores da cultura e do património natural. Esta é que é a grande questão. Para isso é preciso fazer campanhas de sensibilização, valorização e informação, para que todos possam estar estreitamente envolvidos neste projecto e que quando visitem a Serra da Arrábida, que está aberta a todos, [saibam que] têm de cumprir as regras que vierem a ser estabelecidas.

A seguir às eleições de 12 de Outubro, nós [os três municípios], com, naturalmente, a coordenação que tem sido feita da Associação dos Municípios da Região de Setúbal, e com a preciosa disponibilidade e empenhamento do Instituto da Conservação da Natureza, vamos ter de prosseguir este trabalho, como já disse, de informação e divulgação junto da comunidade. Promover iniciativas, congressos, reuniões, no sentido de melhor identificar e divulgar esses valores, esse património, para que todos possamos sentir melhor o que é que está aqui em causa. O envolvimento da comunidade é fundamental, porque aquilo que nós sabemos é que quanto melhor conhecemos os valores que estão em causa, melhor preparados e sensibilizados estamos para os defender. 


Com agência Lusa

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