John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, anunciou esta segunda-feira a imposição de sanções à Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA), que passam pelo congelamento de 7 mil milhões de dólares em activos dessa empresa estatal em solo norte-americano, a que acresce uma perda nas suas exportações, nos próximos anos, estimada em 11 mil milhões de dólares, segundo referiu o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin.
O anúncio ocorre no meio de uma série de declarações de apoio, por parte da Casa Branca, à autoproclamação do deputado Juan Guaidó como «presidente interino» da Venezuela. Mnuchin foi claro nas suas afirmações: «Continuaremos a usar todas as nossas ferramentas diplomáticas e económicas para apoiar o presidente interino Guaidó», disse, sublinhando que a «via para o alívio das sanções» à PDVSA é através da «transferência expedita do controlo» desta para esse deputado ou para um governo subsequente.
O posicionamento é claro: deixar o governo legítimo de Nicolás Maduro sem acesso a estes activos – com o pretexto, já comum na narrativa antichavista, de que o governo venezuelano se apodera dos recursos do seu povo – e passá-los para o controlo do protegido de Washington em Caracas. Bolton pediu mesmo ao Exército e às forças de segurança do país caribenho que aceitem a transferência de poder, nas suas palavras, «pacífica, democrática e constitucional», indica a RT.
Um guião em curso
O portal Misión Verdad destaca que Bolton, o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o senador Marco Rubio já se tinham pronunciado sobre a passagem dos activos venezuelanos em solo norte-americano para o controlo de Juan Guaidó, deixando em evidência a «usurpação» dos activos soberanos da Venezuela, que passam a estar à disposição do dirigente do partido Voluntad Popular, de extrema-direita, que Washington caracteriza como «presidente interino do governo legítimo».
Por seu lado, o autoproclamado «presidente interino», cujo partido se recusou a concorrer às eleições presidenciais de Maio de 2018, afirmou esta segunda-feira à tarde que dará início ao processo de nomeação das administrações da PDVSA e da sua filial norte-americana CITGO, sendo que, para esse efeito, decretou a posse «progressiva e ordenada» dos activos da Venezuela no exterior.
Estas acções de Washington não são novas, bastando para tal lembrar que foram precedidas, nos últimos anos, por um conjunto de acções de bloqueio económico-financeiro destinadas a desestabilizar o país e a mergulhá-lo numa crise económica profunda.
O elemento novo nesta estratégia, que tem por fito deitar mão aos recursos da Venezuela – e Bolton não esconde à imprensa que seria uma «boa notícia» ter o petróleo do Orinoco à mão – é a do «governo paralelo» engendrado por Washington e que Washington torna o fiel depositário dos activos da petrolífera estatal, de modo a acelerar o derrube do governo legítimo do país, eleito em Maio com 67,84% do sufrágio.
«Ilegalidade» e «roubo»
O presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro, qualificou as sanções impostas pela Casa Branca como «ilegais, unilaterais, imorais e criminosas».
Tendo em conta que os «Estados Unidos decidiram enveredar pela via do roubo da empresa CITGO à Venezuela», o mandatário anunciou que o seu país defenderá nos tribunais norte-americanos «a propriedade e as riquezas da empresa filial da Petróleos de Venezuela em solo norte-americano», revela a AVN.
Considerando que estas acções, por parte da administração dos EUA, visam a apropriação dos recursos naturais venezuelanos e do seu território, Maduro responsabilizou Juan Guaidó, o «autoproclamado presidente» e deputado da Assembleia Nacional – órgão que se encontra em situação de «desobediência» perante o Supremo Tribunal de Justiça e cujos actos são «nulos» –, de promover estas novas sanções contra o país.
Recentemente, tanto a agência Associated Press como The Wall Street Journal publicaram peças que dão conta da estreita ligação de Washington à «autoproclamação» de Guaidó, no dia 23 de Janeiro, como «presidente interino» da Venezuela.
De acordo com ambas as fontes, a movimentação da extrema-direita venezuelana foi precedida por uma intensa acção do lobby antichavista nos EUA. No dia 22 de Janeiro, à noite, uma chamada do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, a Juan Guaidó confirmou o aval de Washington à sua «autoproclamação».