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|racismo

Vinícius escolheu lutar

O racismo tentou derrotar Vinícius Júnior, mas acabará derrotado. O jogador brasileiro iniciou, em campo e fora dele, um movimento que obrigará quem profere insultos racistas a enfrentar a lei. Uma lei que sai reforçada pela ação de uma vítima que escolheu lutar.

CréditosBiel Alino / EPA

A expetativa de quem profere um insulto racista é a de vergar quem está no alvo do mesmo. Sempre assim foi. Essa vontade de menorizar o outro, destituí-lo de direitos ou virtudes, transformando-o numa entidade nebulosa de inferioridade. Quem profere o insulto racista fá-lo do trono da sua ignorância, da sua incapacidade para conhecer o outro. Fá-lo, também, de um território de medo, um receio profundo e pueril de não ser capaz de ver confrontada a sua visão do mundo. 

O insulto racista é uma história do mundo. Uma história incompleta, parcial, pobre. A história de quem não foi capaz de entender que a linha do tempo se fez de uma enorme convivência entre raças, credos, civilizações, filosofias. Uma convivência que muitas vezes transformou as suas tensões em guerras. Guerras que não se fizeram apenas de armas ou de territórios, mas sempre se fizeram com um enorme custo de vidas humanas, destituindo o outro da capacidade de ser igual, pertença do nós. Um nós que explorou e se aproveitou de privilégios indevidos.

Perante tudo isto, Vinícius escolheu lutar. O jogador do Real Madrid não é só um enorme talento do futebol mundial. É fruto das suas circunstâncias e a sua vida é uma contínua superação daquilo que diziam ser possível alcançar. Desde que chegou a Espanha percebeu que nada daquilo que o tinha levado até Madrid valeria. Teve de começar do zero. Dos jogos na equipa B, das dúvidas sobre a sua qualidade, de constantes questionamentos sobre a possibilidade de ser quem é. E quando, no campo, provou que seria um grande jogador, não querem que seja um homem livre.

«O jogador do Real Madrid não é só um enorme talento do futebol mundial. É fruto das suas circunstâncias e a sua vida é uma contínua superação daquilo que diziam ser possível alcançar.»

Ao nunca desistir de ser quem é, ao nunca permitir que os insultos que se foram tornando cada vez mais insistentes perante a sua afirmação enquanto jogador, Vinícius Júnior despertou novas raivas. Já não era só o insulto racista que lhe era constantemente atirado à cara, era também a sua instabilidade emocional, a sua incapacidade para lidar com a adversidade, a sua falta de maturidade. Tudo réplicas que costumam chegar com o insulto racista. A verdade é que Vinícius escolheu lutar. Ao apontar o dedo à bancada, ao ameaçar sair do jogo, Vinícius Júnior provocou uma reação de mudança que não pode ser parada. Mesmo que tantos insistam em tentá-lo. 

A LaLiga espanhola está hoje debaixo de forte escrutínio pela forma como tem permitido o alargar da tensão em volta de Vinícius Júnior, num enorme espetáculo de racismo que vai tendo lugar em diversos estádios espanhóis. A FIFA interveio relembrando que as regras do jogo permitem a interrupção do mesmo até que terminem os insultos. O Valência, clube adversário deste último fim-de-semana, procurará identificar e proibir a entrada dos adeptos que insultaram no seu estádio. Até o Presidente brasileiro, Lula da Silva, demonstrou solidariedade com o jogador e avisou o Governo Espanhol da situação. 

A expetativa de quem proferiu o insulto racista em Valência teve uma pequena vitória na expulsão de Vinícius Júnior desse jogo. Mas o racismo prepara-se para uma enorme derrota na forma como, finalmente, o dedo apontado do jogador do Real Madrid fez com que o mundo se movesse para identificar e condenar os culpados deste crime que temos todos que ajudar a erradicar. 


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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