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Uma limpeza étnica sob os nossos olhos – 3

Os projectos para a consumação da limpeza étnica da Faixa de Gaza já em andamento traduzem a maneira de pensar e de viver o sionismo tal como é praticado em Israel, posicionando-se acima da lei como um dom natural.

Edifícios na Faixa de Gaza que mostram a devastação causada pelos bombardeamentos israelitas 
Créditos / Wafa

«Matar, matar, matar e matar»

«Vai ser uma guerra terrível. Então, se quisermos continuar vivos teremos de matar, matar, matar e matar – durante todo o dia, todos os dias»

(Prof. Arnon Soffer, demógrafo sionista, conselheiro   governamental, ícone das elites académicas de Israel)

 

Limpeza étnica ou extermínio colectivo?

A primeira opção está em andamento; a segunda não pode ser descartada enquanto a ameaça de um ministro de Netanyahu sobre o lançamento de uma bomba nuclear em Gaza não for convincentemente desmentida e afastada. O comportamento do primeiro-ministro depois das palavras do seu ministro da Herança de Israel, Amichai Eliahu, não foi dissuasor, principalmente sabendo nós que está em campo uma horda de sociopatas que têm pela vida dos não-sionistas um olímpico desprezo.

Não se pense, porém, que a hipotética queda do governo de Netanyahu, tão apregoada e aparentemente tão desejada, no exterior, mas longe de consumada – provavelmente amanhã não será a véspera desse dia – iria resolver o problema e pacificar a região ou, pelo menos, tolerar um cessar-fogo em Gaza. O que concluiremos se consultarmos um artigo do experiente Thomas Friedman no New York Times. Citando um «alto funcionário dos Estados Unidos», o subscritor do texto garante «que os líderes militares israelitas são agora, na verdade, mais agressivos do que o primeiro-ministro; estão vermelhos de raiva e determinados a dar um golpe no Hamas que toda a vizinhança nunca esquecerá».

Tenhamos em conta, olhando para o que se passa em Gaza, o que os chefes militares sionistas entendem por «golpe no Hamas», que afinal se transformou numa catástrofe para centenas de milhar de civis.

Se recuarmos um pouco no tempo, ao primeiro lustre deste século, encontraremos congeminações sobre a «solução final» para Gaza que nos aproximam da realidade em que vivemos.

O prof. Arnon Soffer, um ícone da elite académica sionista, fundador da Universidade de Haifa, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, geógrafo, especialista em «ciências ambientais» e demógrafo, actuou como conselheiro do primeiro-ministro Ariel Sharon nos primeiros anos do século. Soffer foi um dos autores e defensores da política adoptada pelo governo sionista a partir de 2007: retirada dos colonos, cerco e bloqueio da Faixa de Gaza.

«O Prof. Soffer deixa escancarada a opção da limpeza étnica; mas não exclui o extermínio, no que não difere do actual ministro da Herança de Israel, quanto à "finalidade", podendo eventualmente a metodologia ser diferente, mas ambas convergentes na via da "solução final"»

Os seus escritos de 2004, transcritos na imprensa israelita da época, são proféticos em relação aos dias de hoje e contêm implicitamente a necessidade de extermínio ou de limpeza étnica, tal como a que está em curso, para travar «um banho de sangue perpétuo».

Escreveu o emérito prof. Arnon Soffer: «Quando 2,5 milhões vivem numa Gaza fechada» – uma ideia do próprio, como já vimos – «será uma catástrofe humana. Essas pessoas tornar-se-ão animais mais do que já são hoje. A pressão na fronteira será terrível. Vai ser uma guerra terrível. Então, se quisermos continuar vivos, teremos de matar, matar, matar e matar – durante todo o dia, todos os dias. A única coisa que me preocupa é como garantir que os meninos e homens que terão de fazer a matança possam voltar a casa, para as suas famílias, e serem seres humanos normais».

Assim foi a dissertação de um ilustre membro da academia sionista, conselheiro de primeiros-ministros, um qualificado demógrafo – é impossível pôr em dúvida a qualidade do seu saber na matéria – e, naturalmente, professor da Escola de Defesa Nacional.

O Prof. Soffer deixa escancarada a opção da limpeza étnica; mas não exclui o extermínio, no que não difere do actual ministro da Herança de Israel, quanto à «finalidade», podendo eventualmente a metodologia ser diferente, mas ambas convergentes na via da «solução final».

«Esses animais não podem continuar a viver»

Estaremos perante casos isolados, sociopatas incuráveis que atingiram aleatoriamente lugares de topo e decisão no regime sionista, ou serão fruto de uma mentalidade doentia decorrente do elitismo, do pendor racista e supremacista inerentes ao próprio sionismo, sobretudo à medida que vai abandonando as ficções «seculares» para se fixar no carácter fundamentalista religioso e messiânico? Uma mentalidade transtornada dando origem a comportamentos inerentes a um regime confessional e de apartheid, considerando como animais todas as pessoas que estejam no exterior desta casta de eleitos ou, na melhor das hipóteses, seres humanos de segunda?

Não se trata de casos isolados. Imediatamente antes do início da invasão de Gaza, os altos comandos militares sionistas escolheram um idoso militar, Ezra Yachin, para proferir uma alocução mobilizadora das tropas prestes a entrar em acção. Yachin, com 95 anos, foi membro do grupo terrorista Lehi que, por exemplo, em 9 de Abril de 1948 executou a tristemente célebre chacina da aldeia palestiniana de Deir Yassin, nos arredores de Jerusalém, da qual restou um monte de escombros. Mais de cem pessoas, sobretudo mulheres e crianças, foram exterminadas. Diz-se que a história não se repete, mas Israel é uma entidade com grandes poderes, inesgotáveis capacidades e insanidade de sobra para desmentir o aforismo: Deir Yassin e umas centenas de outras aldeias e cidades em 1948/49; Sabra e Chatila em Beirute em 1982; Gaza em 2023 são exemplos uma sucessão, uma extensa cronologia criminosa de mais de 75 anos onde o agente comum é o terrorismo de Estado sionista.

«Estaremos perante casos isolados, sociopatas incuráveis que atingiram aleatoriamente lugares de topo e decisão no regime sionista, ou serão fruto de uma mentalidade doentia decorrente do elitismo, do pendor racista e supremacista inerentes ao próprio sionismo (...)?»

Ezra Yachin não desmereceu do seu passado e da sua fama. Na exortação às tropas incitou: «sejam vencedores, acabem com eles, não deixem ninguém para trás. Apaguem a sua memória, apaguem-nos a eles, às suas famílias, mães e filhos. Esses animais não podem continuar a viver. Todos os judeus deveriam empunhar uma arma e matá-los. Se têm um vizinho árabe não esperem, vão até casa dele e disparem.» Em boa verdade, esta linguagem é uma escola. Netanyahu disse mais ou menos o mesmo, embora escondido na simbologia dos ditos atribuídos ao profeta Samuel.

Na lógica da mentalidade de eliminar todo e qualquer não-judeu da Palestina têm surgido planos concretos e estruturados sugerindo as modalidades e as metodologias para realização da limpeza étnica em Gaza. Os princípios básicos neles contidos, porém, são válidos para a Cisjordânia.

São planos e programas emanados de entidades e pessoas da área governamental, revelando-nos que pelo menos a primeira fase da operação já está em curso, sob os olhares benevolentes – logo cúmplices – do «mundo ocidental». Benevolência que encontramos, por exemplo, no ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, que, perante o assassínio em Gaza de três cidadãos luso-palestinianos, dois dos quais crianças, se limitou a manifestar o seu «desgosto» às autoridades israelitas. Só lhe faltou pedir desculpa pelo incómodo.

«Alternativa para uma Directiva Política destinada à população civil em Gaza» é o título de um plano de limpeza étnica elaborado pelo Ministério da Inteligência de Israel.

Propõe três alternativas num processo que permita ao Estado sionista «precaver-se através de uma mudança significativa da realidade civil». Duas delas, a A e a B, são liminarmente descartadas. Previam a «extensão da governança da Autoridade Palestiniana (‘Malévola para Israel’) a Gaza», medida recentemente defendida pelo presidente dos Estados Unidos mas para a qual Netanyahu e o seu governo têm orelhas moucas; ou «fomentar a governança árabe local». Nenhuma delas, segundo os autores, «garante a segurança de Israel», não são dissuasoras para o Hezbollah libanês e, sobretudo, representam uma «perda estratégica para Israel», porque a divisão entre Gaza e a Cisjordânia – razão pela qual o regime sionista apoiou a criação do Hamas – «é um dos principais entraves ao estabelecimento de um Estado Palestiniano». As hipóteses consideradas liminarmente sem viabilidade foram expostas para deixar a sensação de que os autores do documento reflectiram sobre outras perspectivas de «solução» além da limpeza étnica.

Em relação à hipótese A, extensão do governo da Autoridade Palestiniana a Gaza, os autores do plano consideram-na «a mais arriscada» porque «seria uma vitória sem precedentes do movimento nacional palestiniano».

A alternativa C propõe «a evacuação da população civil de Gaza para o Sinai». É a que «produz resultados estratégicos positivos e de longo prazo», exigindo, no entanto, «determinação diante da pressão internacional, com ênfase na importância de reunir apoio dos Estados Unidos e outros países pró-Israel».

«Na lógica da mentalidade de eliminar todo e qualquer não-judeu da Palestina têm surgido planos concretos e estruturados sugerindo as modalidades e as metodologias para realização da limpeza étnica em Gaza. Os princípios básicos neles contidos, porém, são válidos para a Cisjordânia.»

Sugere o Ministério da Inteligência que sejam erguidas «cidades de tendas» numa «área de reassentamento no Norte do Sinai». Também nessa fase deverá ser criado «um corredor humanitário» para «ajudar a população civil de Gaza» a chegar o destino traçado pelo terrorismo de Estado israelita. O processo prevê uma «zona de terra de ninguém» de vários quilómetros no interior do território do Egipto, de modo a que «a actividade e a residência perto da fronteira israelita (Gaza sob ocupação sionista) não sejam permitidas». No interior do «nosso território» (Gaza) «deverá ser estabelecido um perímetro de segurança».

A primeira fase do «desenvolvimento operacional» da «opção C» do documento estabelece o «apelo à retirada da população» da zona de combate» entre Israel e o Hamas, reforçado com «operações aéreas focadas no Norte de Gaza de modo a permitir a manobra terrestre na zona evacuada sem obrigar a combates em zonas civis densamente povoadas». A semelhança desta recomendação com a realidade de hoje não é, portanto, uma coincidência.

Na fase seguinte acontecerá a «ocupação total» do território, ao mesmo tempo que os bunkers e túneis «são limpos de combatentes do Hamas». «É importante», acrescenta-se no documento, que «sejam desobstruídas as rotas de transporte para sul, de modo a permitir a evacuação».

Como fintar o direito internacional

Analisando este programa, deduz-se então que o primeiro passo da limpeza étnica já está em prática. A pressão terrorista e propagandística do sistema político-militar sionista tem como objectivo assumido a transferência das populações do Norte de Gaza para o Sul, onde ficam muito mais perto da passagem para o Egipto, no posto de Rafah. O que o documento não assume, no seu criminoso e asséptico cinismo, é que as pessoas em êxodo para o Sul continuam a ser bombardeadas como se estivessem ainda no Norte. Sob estas práticas assassinas, muitos milhares de pessoas nem sequer chegarão ao Sinai. Cerca de 46% das vítimas mortais registam-se entre deslocados em movimento para o Sul, ou mesmo já nesta região. Segundo os serviços da ONU, o número total de desalojados e deslocados ultrapassa já o milhão e meio de pessoas, entre 2,3 milhões de habitantes, cerca de 65% da população do território, isto é, aproximadamente dois terços.

Reconhecem os autores do plano que esta operação de limpeza étnica «pode ser complexa em termos de legitimidade internacional», o que, ensina-nos a história, não constitui qualquer problema para o Estado sionista, desde a sua fundação.

Existe mesmo uma «unidade encarregada de estudar como contornar o direito internacional». O chefe da entidade, David Reisner, explica que «estamos a ser testemunhas de uma revisão do direito internacional: se fizermos uma coisa durante o tempo suficiente, o mundo aceitá-la-á». E cita como exemplo o ataque terrorista cometido pela aviação israelita em 1981 contra o reactor nuclear de Osirak, no Iraque: «Então a atmosfera era a de que Israel tinha cometido um crime; hoje diz-se que foi um acto legítimo de defesa preventiva. O direito internacional progride através de violações», conclui. Embora não fosse essa a intenção, Reisner fez uma das melhores definições da «ordem internacional baseada em regras» pela qual se rege o chamado «mundo ocidental» e «civilizado».

«Reconhecem os autores do plano que esta operação de limpeza étnica «pode ser complexa em termos de legitimidade internacional», o que, ensina-nos a história, não constitui qualquer problema para o Estado sionista, desde a sua fundação.»

O Ministério da Inteligência propõe então que a transferência da população de Gaza seja apresentada como uma «migração em massa», tal como as que decorreram e continuam, por exemplo, nas guerras da Síria e do Afeganistão. Nessa perspectiva, «são um resultado natural e necessário, dados os riscos associados à permanência numa zona de guerra». São, igualmente, «um método aceite para salvar vidas». Estas migrações relacionadas com outros conflitos, porém, não eliminaram o direito dos refugiados ao regresso, quando existirem condições para isso; o que não acontece aos palestinianos: Israel proíbe-os de voltarem às suas terras de origem, violando o direito internacional, o que, como acabámos de ver, não é problema.

Os autores do plano olham ainda para mais longe. Se os países citados no «Anexo A» do documento aceitarem os «refugiados» palestinianos de Gaza, a operação pode «ganhar maior legitimidade» porque passará a haver «uma população integrada em quadros estatais e com nova cidadania». A principal «vantagem», desde sempre pretendida por Israel, não a encontramos exposta no documento: a da esperança de que a nova cidadania de cada «deslocado» elimine a sua condição de «palestiniano». Assim, deixa de haver palestinianos na Palestina e também nos países do mundo onde forem recebidos e integrados. Fim da história para o problema israelo-palestiniano.

O plano parece ter imensas «vantagens estratégicas»: uma «dissuasão significativa em toda a região», uma «forte mensagem ao Hezbollah», o «apoio dos países do Golfo» uma vez liquidado o Hamas, «um golpe significativo e inequívoco na Irmandade Muçulmana» e mais um piscar de olhos ao Cairo: fortalecerá «o domínio egípcio no Norte do Sinai» – o que parece um contra-senso, quando o que está em causa é o acolhimento de toda uma população estrangeira chegada de um outro território. Eis o «novo Médio Oriente» de que fala Benjamin Netanyahu ao transformar Gaza «numa ilha deserta».

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Até ao último dos palestinianos

A chamada «comunidade internacional» parece disposta a continuar a assistir à Nakba até à extinção do último palestiniano, triunfo supremo do terrorismo militar, político, diplomático e mediático.

Crianças palestinianas têm aulas ao ar livre, depois de Israel ter destruído uma escola na Margem Ocidental ocupada (imagem de arquivo)
Créditos / Sputnik News

O que está em curso há mais de setenta anos contra o povo palestiniano é um genocídio. Bárbaro. Impune. Ignorado. Branqueado por uma «comunidade internacional» que repudia o próprio direito pelo qual deveria guiar-se; e por uma comunicação social absorvente e totalitária que tomou conscientemente o partido dos genocidas, pelo que chega ao comportamento perverso de acusar as vítimas de práticas terroristas.

Os acontecimentos sucedem-se e atropelam-se em contínuo, muitos denunciados pelas próprias vítimas ou por aqueles que, desafiando as altas probabilidades de virem a ser acusados de antissemitismo ou de serem autores de execráveis delitos de opinião, não calam os crimes tornados banais e, sempre que possível, silenciados ou mistificados pelo sistema de censura mainstream.

Há um sentido único na barbárie desde que, há 71 anos, foi proclamado o Estado de Israel como fruto de imigração em massa de populações oriundas de vários países, sobretudo da Europa e da América do Norte, muitas fugidas de um outro genocídio, o Holocausto, a generalidade invocando preceitos e direitos de índole antropológica, histórica e religiosa que não cabem na teia de normas e leis pelas quais seria suposto regerem-se os Estados, as nações e os povos.

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milhões de palestinianos recenseados, dos quais apenas 3 milhões vivem na Palestina

Um genocídio – o Holocausto – acabou por servir de pretexto a outro – a Nakba, a «catástrofe», em árabe – por via dos que, invocando as vítimas do primeiro, se transformaram em algozes do segundo. Uma mistificação gigantesca de consequências arrasadores para os direitos humanos, com a particularidade perversa de se consumar em nome dos direitos humanos, da democracia, da liberdade e da civilização.

Cadeia de mistificações

A relação de causa e efeito entre o Holocausto e a Nakba não era automática, mas o primeiro ministro de Israel em funções, Benjamin Netanyahu, acabou por estabelecê-la, tornando-a oficial para os escritores da História na perspectiva dos vencedores. Foi ele quem afirmou que Hitler originalmente não defendia a «solução final» para os judeus, mas foi convencido a consumá-la pelo Grande Mufti de Jerusalém, a autoridade religiosa da comunidade muçulmana da Palestina. Moral da história: os palestinianos muçulmanos incentivaram a matança dos judeus pelo que é justo serem castigados.

«O crime vai-se consumando. Dos cerca de oito milhões de palestinianos recenseados são menos de três milhões os que vivem na Palestina: dois milhões no imenso campo de concentração a céu aberto em Gaza; cerca de 800 mil em guetos e sob ocupação na Cisjordânia, incluindo os que vivem na zona de "autonomia" formal»

O genocídio do povo palestiniano é praticado ao compasso de mistificações em cadeia aliando a política, a diplomacia, as próprias história e geografia, num discurso de propaganda como que hipnotizando a chamada «comunidade internacional». A qual, com uma espécie de consciência de culpa do Holocausto, permite que esta tragédia seja manipulada com múltiplos objectivos coloniais, mesmo os mais perversos e desumanos.

A operação de genocídio é sistemática e decorre de maneira impune.

Desde a mistificação básica do sionismo, «um povo sem terra para uma terra sem povo» – a Palestina, uma entidade com uma história longa e rica de quatro mil anos – que a limpeza étnica dos palestinianos é executada em contínuo por duas vias: em vagas, criando ou aproveitando oportunidades históricas; e passo-a-passo, dia-a-dia, através de uma teia elaborada de pretextos e medidas arbitrárias travestidas de leis que o sionismo internacional e o seu ramo que gere o Estado de Israel puseram em funcionamento à margem e contra o direito internacional.

A primeira vaga aconteceu há 71 anos, quando as organizações terroristas das comunidades imigrantes derrotaram os exércitos árabes na Palestina e proclamaram o Estado de Israel. Mais de 700 mil palestinianos foram chacinados e expulsos de Israel, enquanto as suas comunidades funcionando em aldeias, vilas e cidades foram arrasadas, apagadas do mapa. Este massacre é assinalado como o início da Nakba.

Colonização igual a anexação

Com essa ofensiva terrorista, os dirigentes sionistas impuseram a primeira grande derrota às Nações Unidas na questão da Palestina, sabotando desde logo o «plano de partilha» de 1947, que previa a divisão do território em duas áreas étnicas – de maioria hebraica e de maioria árabe – ocupando Israel uma superfície da Palestina bastante superior à prevista no documento da ONU.

Na guerra de 1967, ou dos «Seis Dias», Israel expulsou as administrações egípcia e jordana de Gaza, da Margem Ocidental do Jordão e de Jerusalém Leste, ocupando esses territórios; a própria guerra e as pressões terroristas provocaram um novo êxodo de populações palestinianas para os países vizinhos.

«Os instrumentos de genocídio estão afiados e operacionais como nunca: anexação, colonização, guerra, terrorismo, segregação e isolamento, fome e sede, supressão de direitos, prisões e campo de concentração – 50 mil crianças presas por Israel desde 1967 – assassínios organizados e aleatórios, devastações de campos de refugiados»

Israel deu então verdadeiramente início a um novo processo de anexação de territórios e de limpeza étnica sistemática, o da construção de colónias nos territórios ocupados. Com ela incentivou novas vagas de imigração hebraica, nas quais as correntes ortodoxas e fundamentalistas religiosas foram dominantes. As consequências da estratégia são cada vez mais visíveis nos dias de hoje pela maneira como essas correntes dominam a gestão sionista em Israel – não hesitando, sequer, em assumir constitucionalmente um regime de apartheid étnico e religioso.

A colonização, conjugada com o carácter militar e terrorista da ocupação e com os meios de segregação físicos – o muro de Jerusalém e da Cisjordânia e a cerca de Gaza – está na origem de uma balcanização dos territórios ocupados e do êxodo constante de palestinianos. Expulsões, prisões, destruição de casas de habitação, check-points militares e outros entraves à circulação, devastação de colheitas e propriedades agrícolas, confisco arbitrário de recursos hídricos são formas comuns de terrorismo quotidiano que tornam praticamente inviável uma vida digna e com um mínimo de qualidade.

A transformação do Processo de Paz iniciado com as negociações de Oslo de 1993 num «processo de paz» eterno e de imposição da rendição da principal força nacionalista da resistência palestiniana, a Fatah, tornou ainda mais débil e menos organizada a oposição dos palestinianos à limpeza étnica.

A partilha das funções administrativas da chamada «autonomia» palestiniana entre a Fatah e o Hamas, grupo que tem na sua génese histórica o veneno do patrocínio israelita para dividir os movimentos de resistência cívica (Intifadas), foi um golpe profundo assestado pelo sionismo em comunhão com o establishment norte-americano e beneficiando da cumplicidade da chamada «comunidade internacional» – neste caso actuando como um todo através de uma entidade farsante, o «Quarteto para a Paz no Médio Oriente», nova e flagrante derrota das Nações Unidas.

A punição dos refugiados

A limpeza étnica da Palestina não se resume à substituição da população autóctone por contingentes imigrados. Tem uma componente menos abordada e que reforça a oposição ao retorno dos refugiados, um direito estabelecido nas normas da ONU: devastar comunidades de palestinianos nos países vizinhos.

Não se trata de eliminá-las pura e simplesmente, mas de manter sobre elas a pressão terrorista e de instilar a convicção de que o regresso será impossível, por isso mais vale desistir e deixarem-se assimilar pelos países de acolhimento – tornando eternos os campos de refugiados.

As invasões israelitas do Líbano desde o início dos anos oitenta do século passado visaram permanentemente as zonas habitadas por palestinianos – e dessa sanha ficou como símbolo o massacre de civis, sobretudo idosos e crianças, nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, nos subúrbios de Beirute, em Setembro de 1982.

O jornalista suiço Pierre-Pascal Rossi (1943-2016) teve a coragem de se comover em frente às câmaras, antes de conduzir os espectadores, durante dois longos e dolorosos minutos, pelo inferno dos massacres realizados em Sabra e Chatila pelas milícias fascistas (falangistas) aliadas de Israel, com a cumplicidade do exército israelita.

«Expulsões, prisões, destruição de casas de habitação, check-points militares e outros entraves à circulação, devastação de colheitas e propriedades agrícolas, confisco arbitrário de recursos hídricos são formas comuns de terrorismo quotidiano que tornam praticamente inviável uma vida digna e com um mínimo de qualidade»

O novo modelo colonial instaurado pelos Estados Unidos no Médio Oriente, através das guerras iniciadas por George W. Bush, contém perseguições organizadas e chacinas em zonas de refugiados palestinianos tanto no Iraque como na Síria. Tratam-se de acções cometidas por interpostas entidades, grupos terroristas como o Estado Islâmico e a al-Qaida, apesar de serem «sunitas» como a maioria originária da Palestina. Já deixou de ser novidade a cooperação existente entre Israel e grupos terroristas islâmicos, sobretudo na guerra da Síria, pelo que é óbvia a definição do palestiniano como um inimigo comum.

Ao reforço das correntes fundamentalistas religiosas e segregacionistas na gestão do sionismo correspondem passos ainda mais largos para a consumação do genocídio, da limpeza étnica da Palestina.

Anexação da Cisjordânia

Assim que Benjamin Netanyahu concluir a formação de um novo/velho governo está no horizonte o início da anexação progressiva da Cisjordânia, através da integração dos colonatos na estrutura administrativa de Israel. O reconhecimento pela administração Trump da anexação de Jerusalém Leste por Israel foi um balão de ensaio bem sucedido, uma tomada de pulso à «comunidade internacional» que, como é norma, permitiu que se atropelasse mais uma vez o direito internacional. Nem o eng. António Guterres acreditará na sua frase feita para a ocasião, segundo a qual «nada muda» no estatuto oficial de Jerusalém; como no dos Montes Golã; como dos colonatos a anexar. A velha política dos factos consumados a funcionar, como tem acontecido ao longo da limpeza étnica da Palestina.


O crime vai-se consumando. Dos cerca de oito milhões de palestinianos recenseados são menos de três milhões os que vivem na Palestina: dois milhões no imenso campo de concentração a céu aberto em Gaza; cerca de 800 mil em guetos e sob ocupação na Cisjordânia, incluindo os que vivem na zona de «autonomia» formal.

Os instrumentos de genocídio estão afiados e operacionais como nunca: anexação, colonização, guerra, terrorismo, segregação e isolamento, fome e sede, supressão de direitos, prisões e campo de concentração – 50 mil crianças presas por Israel desde 1967 – assassínios organizados e aleatórios, devastações de campos de refugiados.

A chamada «comunidade internacional» parece disposta a continuar a assistir à Nakba até à extinção do último palestiniano, triunfo supremo do terrorismo militar, político, diplomático e mediático.

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O «Anexo A» do plano de limpeza étnica de Gaza idealizado pelo Ministério israelita de Inteligência designa os países com os quais o regime sionista «deve trabalhar», porque estarão «dispostos a ajudar a população deslocada e capazes de a aceitar como migrantes». Estados Unidos, Canadá, Espanha, Grécia (como se não lhe bastassem os refugiados da Síria nas suas ilhas), Arábia Saudita, Marrocos, Tunísia, Líbia (pessoas expulsas de Gaza seriam condenadas a hospedar-se num território que a NATO deixou em escombros) são os países citados no documento. Caso a Arábia Saudita levante dificuldades para «desenvolver esforços» no sentido de proporcionar a «transferência de migrantes para vários países», ou se recuse a «financiar a campanha que exponha os danos causados pelo Hamas», os Estados Unidos poderão agir através de pressões, designadamente «jogando com o guarda-chuva de defesa dos grupos de combate estacionados na área para ameaçar o Irão». Essa «pressão» norte-americana deverá também ser requerida, segundo os autores, contra os países europeus «para que assumam as suas responsabilidades na abertura da fronteira de Rafah», permitindo «a fuga para o Egipto»; e também para que «prestem assistência financeira à actual crise económica egípcia».

O plano sugere que as campanhas de propaganda sobre os benefícios da «transferência» sejam entregues a agências de publicidade transnacionais, a exemplo do que tem feito o regime nazi de Kiev, para que «promovam a operação no mundo ocidental» e «o esforço para resolver a crise sem insultar nem vilipendiar Israel».

A parte da campanha virada para «o mundo não pró-Israel» deve focar a necessidade de «ajudar os irmãos palestinianos e a sua recuperação», mesmo ao preço de «condenações e até ofensas contra Israel», de modo a que os objectivos da operação «consigam chegar a populações incapazes de aceitar uma mensagem diferente».

«O plano sugere que as campanhas de propaganda sobre os benefícios da "transferência" sejam entregues a agências de publicidade transnacionais, a exemplo do que tem feito o regime nazi de Kiev, para que "promovam a operação no mundo ocidental"»

Quanto à população de Gaza, a campanha para «a incentivar a aceitar o plano» deve sublinhar que «não há esperança de retorno ao Estado de Israel, que em breve ocupará o território (seja verdade ou não)». A mensagem que os autores sugerem é a de que «Alá decidiu que vocês perderam esta terra por causa da liderança do Hamas e a única opção é mudarem-se para outro lugar com a ajuda dos vossos irmãos muçulmanos».

Por muito cínico, racista e sociopata que todo este articulado pareça, ele não é um delírio. É obra da nata de operacionais do ministério que tutela as políticas de espionagem do sionismo. Os autores levam-no a sério. E a chamada comunidade internacional deveria preparar-se para lidar com esse projecto de crime de guerra apresentado como programa para «salvar vidas», resolver um problema regional, solucionar crises económicas de países e comunidades e proporcionar novas e melhores condições de vida a pessoas que vivem que vivem sob «opressão terrorista».

Limpeza étnica «barata e sustentável»

Outro dos projectos para consumar a limpeza étnica de Gaza que saiu dos bastidores governamentais sionistas, provavelmente muito mais um balão de ensaio para preparar a opinião pública do que uma fuga de informação, é o «Livro Branco» do Instituto de Segurança Nacional e Estratégia Sionista.

O seu autor é Amir Weitman, chefe da bancada parlamentar «libertária» do Likud, o partido de Netanyahu, e professor da Escola de Defesa Nacional. Designou o trabalho como «plano para a recolocação e reabilitação definitiva no Egipto de toda a população de Gaza». Trata-se, segundo Weitman, de «um plano sustentável que se alinha com os interesses económicos e geopolíticos de Israel, Egipto, Estados Unidos e Arábia Saudita».

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A matança, o cessar-fogo e a solução de dois estados

Não é uma guerra, é um massacre de uma das partes; e o único cessar-fogo possível para a situação é o reconhecimento dos direitos do povo palestiniano estabelecidos nas leis internacionais.

Uma mulher lamenta-se junto aos destroços de um prédio arrasado em Gaza, Palestina, a 16 de Maio de 2021. O edifício, uma torre que albergava diversos meios de comunicação, como a <em>Associated Press</em> e a <em>Al-Jazeera</em>, fora destruído no dia anterior por um bombardeamento da aviação israelita
CréditosAdel Hana / AP Photo

Enquanto o regime israelita continua a chacinar paulatinamente a população indefesa do campo de concentração em que transformou Gaza multiplicam-se os apelos ao «cessar-fogo» nesta suposta «guerra entre o Hamas e Israel», como afirma a comunicação social corporativa. É o habitual jogo de enganos que visa partilhar equitativamente responsabilidades numa situação de incomensurável desequilíbrio de forças e que pretende colocar no mesmo plano os criminosos e as vítimas. O que está a acontecer não é uma guerra, é um massacre de uma das partes; e o único cessar-fogo possível para a situação é o reconhecimento dos direitos do povo palestiniano estabelecidos nas leis internacionais. Tudo o resto significa o arrastamento da situação e o extermínio de um povo.

«A colonização conduz, ninguém o duvide, à criação de uma situação no terreno que inviabiliza totalmente a criação do Estado Palestiniano, porque deixa de haver território para isso; entretanto, os bem-intencionados deste mundo, como os chefes da União Europeia, forçados a dizer qualquer coisa quando as imagens de extermínio não podem ser escondidas, continuam a falar em “solução de dois Estados para a Palestina”»

O chefe do governo de Portugal, a exemplo de outros colegas europeus, diz que é necessária a paragem dos ataques de Israel. Belas palavras. E depois? «Para que possamos regressar a um ponto onde o caminho para a paz seja possível», assegura Costa. Palavras muito bem-intencionadas também, reproduzidas de um texto da agência Lusa onde se lê que «existe uma escalada de violência entre israelitas e palestinianos».

Qual «caminho para a paz»? O conduzido pelo «Quarteto» chefiado pelo aldrabão profissional Anthony Blair e de que fazem parte a Rússia – manietada pelo veto norte-americano no Conselho de Segurança e por muitas e evidentes cumplicidades com Israel – a complacente União Europeia, o seu aliado norte-americano, cúmplice objectivo do crime no mínimo através do Conselho de Segurança, e também a ONU, entidade que, a reboque de Washington, cultiva a guerra para que dela floresça a paz?

Ora este «caminho para a paz», quase sempre «arbitrado» pelos Estados Unidos, aliado da parte agressora, está barrado há muito por acção de Israel, que acusa o lado palestiniano de não ceder às suas exigências de rendição total. Enquanto continua a falar-se de «processo de paz» para que nada de pacífico aconteça, Israel tem recorrido a todos os métodos para inviabilizar uma solução compatível com o direito internacional, isto é, através da criação de um Estado Palestiniano viável, soberano e pleno.

Da colonização ao extermínio

O mecanismo mais utilizado e mais eficaz – porque pode ser aplicado sem operações militares que dêem muito nas vistas, sob o silêncio da comunicação social dominante – é o da colonização dos territórios palestinianos ocupados através de uma gradual limpeza étnica com expulsão das populações, destruição de casas, roubo de terrenos, edificação de muros e até prosaicos actos de banditismo como a destruição de colheitas agrícolas. Enfim, a institucionalização de um sistema de apartheid.

«Quando um dirigente político, seja ele qual for, fala em necessidade de “cessar-fogo” para regresso ao “caminho da paz” e não formula mecanismos e medidas que permitam à chamada comunidade internacional impor efectivamente a solução de dois Estados, está a ser cúmplice do comportamento criminoso do Estado de Israel. E a participar, no mínimo por omissão, num processo genocida»

A colonização conduz, ninguém o duvide, à criação de uma situação no terreno que inviabiliza totalmente a criação do Estado Palestiniano, porque deixa de haver território para isso; entretanto, os bem-intencionados deste mundo, como os chefes da União Europeia, forçados a dizer qualquer coisa quando as imagens de extermínio não podem ser escondidas, continuam a falar em «solução de dois Estados para a Palestina» sabendo perfeitamente – como não pode deixar de ser – que está a ser percorrido não «um caminho para a paz» mas uma via para liquidar o objectivo inscrito no próprio «processo de paz». A guerra que existe é verdadeiramente esta: a do regime sionista contra o povo palestiniano pela liquidação total dos seus direitos, se necessário através do extermínio físico.

Quando um dirigente político, seja ele qual for, fala em necessidade de «cessar-fogo» para regresso ao «caminho da paz» e não formula mecanismos e medidas que permitam à chamada comunidade internacional impor efectivamente a solução de dois Estados, está a ser cúmplice do comportamento criminoso do Estado de Israel. E a participar, no mínimo por omissão, num processo genocida. Num caso destes até o silêncio seria mais honesto.

Um rapaz, em fuga devido aos ataques da artilharia e da aviação israelitas, puxa uma carreta com o irmão e alguns pertences, junto a um edifício destruído em bombardeamentos anteriores, em Gaza, Palestina, a 14 de Maio de 2021 CréditosMohammed Salem / Reuters

Contaminação xenófoba

Acompanhando os ecos da comunicação corporativa sobre «a guerra entre o Hamas e Israel» ou a «escalada de violência entre israelitas e palestinianos» percebe-se que o conceito de «cessar-fogo» implícito é o da paragem dos bombardeamentos contra Gaza e também do lançamento de foguetes a partir da faixa cercada. Foguetes esses que são, na verdade, os únicos instrumentos através dos quais – perante a imobilidade internacional – sectores palestinianos fazem sentir a Israel que, apesar de tudo, não está completamente impune. Fisgas contra tanques ou foguetes contra tecnologia de guerra de última geração: estamos perante afirmações possíveis de existência e de resistência; nada que se pareça com um confronto entre dois exércitos. Sendo certo que cada vida perdida é uma vítima inútil de uma situação que as forças dominantes teimam em não resolver, a não ser através da aniquilação da outra parte, o cenário mediaticamente instituído de um falso equilíbrio permite-nos perceber até que ponto a comunicação social corporativa se deixou contaminar pelo conceito xenófobo cultivado pelo sionismo quanto à diferença de valor entre as vidas de cidadãos israelitas e árabes.

«Se, por exemplo, os dirigentes da União Europeia – ainda que incomodando a administração Biden – experimentassem suspender as relações económicas e militares com Israel até que este país abrisse comprovadamente as portas à solução de dois Estados, talvez o cenário se alterasse. Afinal, suspender relações económicas e impor sanções a países terceiros já não constitui qualquer novidade para a União Europeia, predisposta assim a sofrer as respectivas consequências»

A guerra de Israel contra os palestinianos iniciou-se muito antes desta nova fase da barbárie contra Gaza, há mais de setenta anos, e irá prosseguir se o «cessar-fogo» determinar apenas que se calem agora as armas e não for além disso, impondo a Israel medidas completas para que se cumpra de uma forma viável e com um conteúdo plenamente soberano a solução de dois Estados na Palestina. Caso contrário, o fim da actual ofensiva contra Gaza significará a continuação da colonização, do cerco contra a pequena e sobrelotada faixa, da limpeza étnica, das expulsões em Sheik Jarrah e, uma após outra, em todas as comunidades palestinianas de Jerusalém ou da Cisjordânia. Até ao próximo ataque contra Gaza se os palestinianos ousarem exercer activamente o seu direito à existência e à resistência.

Por que não carregar onde dói?

Um exemplo de como Israel é completamente imune às palavras inconsequentes dos seus amigos e aliados sempre que as imagens da chacina tornam impossível o silêncio é a demolição premeditada do edifício da agência Associated Press (AP) em Gaza.

A Israel não será difícil responder a Biden, forçado a perguntar sobre os motivos de tal atitude: o edifício daria acesso aos «túneis do Hamas» ou serviria até de «escudo humano» para o grupo fundamentalista islâmico palestiniano. Uma organização que ganhou vida – é oportuno recordá-lo – com apoio sionista quando se tornou importante dividir o movimento do primeiro Intifada, em finais dos anos oitenta, iniciado precisamente em Gaza.

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Gaza, notas sobre uma chacina

As forças armadas sionistas que participam em exercícios atlantistas são as mesmas que fazem jorrar o sangue de civis indefesos na Palestina, impedidos de escapar às suas bombas.

A mãe do jovem palestiniano Rasheed Abu Arra, morto por tropas israelitas, chora o seu filho, durante o funeral realizado em Aqqaba, perto de Tubas, na Cisjordânia ocupada por Israel, a 13 de Maio de 2021 
Os bombardeamentos de Israel causaram 126 mortos na Faixa de Gaza até dia 14 de Maio de 2021, dos quais 20 mulheres e 31 criançasCréditosRaneen Sawafta / REUTERS

Israel está a cometer mais um acto de apogeu da chacina a que tem vindo a submeter impunemente a população da Faixa de Gaza – e da Palestina em geral – durante as últimas décadas. Os alvos não são «os túneis do Hamas», como informa o regime sionista, mas dois milhões de pessoas que vivem enclausuradas num imenso campo de concentração do qual não podem escapar. Não se trata de um «confronto»: é uma barbárie.

Algumas notas sobre o que está a passar-se.

1) O principal responsável pelo massacre não é Israel: é a chamada comunidade internacional

A Faixa de Gaza e a respectiva população são um alvo que Israel tem sempre à mão quando necessita de recorrer a manobras de diversão por causa da degradação política interna, como acontece no momento actual, em que se misturam a prolongada indefinição governativa, a corrupção a alto nível do regime e a polémica gestão da pandemia – por sinal, insolitamente elogiada no plano internacional.

«A Faixa de Gaza e a respectiva população são um alvo que Israel tem sempre à mão quando necessita de recorrer a manobras de diversão por causa da degradação política interna, como acontece no momento actual»

Os dirigentes sionistas não duvidam, nem por um instante, de que podem utilizar o instrumento da guerra contra Gaza porque sabem que a chamada comunidade internacional o permite. As instâncias internacionais, com a ONU à cabeça, e as grandes potências, com destaque para os Estados Unidos e a União Europeia, permitem tudo a Israel sem assumir uma única medida para conter a barbárie. Há mais de 70 anos que a comunidade internacional se vem dotando de instrumentos legais para fazer respeitar os direitos inalienáveis do povo palestiniano e há mais de 70 anos que eles são interpretados como letra morta. Este comportamento é um incentivo à discricionariedade de Israel; e Israel aproveita-o consoante as suas conveniências sabendo que nada de mal lhe acontecerá e nenhuma reacção irá além do apelo à «moderação» e a um «cessar-cessar entre as partes». Isto é, entre uma «parte» que pode tudo e uma «parte» que sofre tudo. Os foguetes do Hamas são irrelevantes quando comparados com o aparelho de guerra usado pelo regime sionista. A actuação da comunidade internacional na questão israelo-palestiniana é o exemplo mais flagrante da sua permanente utilização do sistema de pesos e medidas variáveis.

O fotógrafo captou o momento em que uma torre residencial de 13 andares colapsou, na cidade de Gaza, na Faixa de Gaza, a 11 de Maio de 2021, na sequência de um bombardeamento da aviação israelita. Os ataques em diversos pontos da Faixa de Gaza causaram 28 mortos, 10 dos quais crianças, e cerca de 180 feridos  CréditosMohammed Abed / AFP

2) O mundo árabe isola cada vez mais a Palestina

Isolada pela comunidade internacional em geral, a Palestina conta cada vez menos com a solidariedade do chamado mundo árabe. Sob a égide da administração Trump nos Estados Unidos, países árabes como os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein juntaram-se recentemente ao Egipto na normalização das relações com Israel, o que significa abandonar a defesa dos direitos dos palestinianos. Acresce que existem, de facto, relações diplomáticas entre o Estado sionista e a Arábia Saudita, encimadas pela amizade e afinidades entre o primeiro-ministro Netanyahu e o herdeiro do trono wahabita, Mohammed Bin Salman. Uma aliança sobre os escombros da Palestina.

«Há mais de 70 anos que a comunidade internacional se vem dotando de instrumentos legais para fazer respeitar os direitos inalienáveis do povo palestiniano e há mais de 70 anos que eles são interpretados como letra morta. Este comportamento é um incentivo à discricionariedade de Israel»

Na prática, a solidariedade árabe nunca desempenhou um papel que permitisse a criação de um Estado palestiniano, como determinam as normas e a doutrina estabelecidas pela comunidade internacional. O reconhecimento de Israel por cada vez mais países árabes, porém, reforça a ideia de que o problema palestiniano poderá ter outras «soluções» que não sejam a criação de um Estado palestiniano independente, viável e plenamente soberano.

Por outro lado, as relações entre países árabes e Israel transformam cada vez mais o Estado sionista numa entidade plenamente integrada no Médio Oriente, dando assim forma ao arranjo pretendido pelos Estados Unidos de uma região com duas potências dominantes – Israel e Arábia Saudita –, ambas viradas contra o Irão.

3. Um massacre com o Irão na mira

O novo pico de guerra de Israel contra Gaza não pode desligar-se dos permanentes esforços de Israel para tentar provocar uma guerra directa contra o Irão – à qual as administrações norte-americanas ainda têm resistido. A ofensiva supostamente «contra o Hamas» – grupo que Israel liga a Teerão apesar de ser sunita e não xiita – acontece no preciso momento em que a administração Biden ainda não definiu se regressa ou não ao acordo nuclear 5+1 com o Irão. A mensagem israelita é directa: apoiando grupos activos no Médio Oriente, como o Hezbollah no Líbano e na Síria e o Hamas na Palestina, o Irão terá de ser desencorajado de o fazer. E os acordos com Teerão têm de ser invalidados.

Forças israelitas atacam palestinianos no complexo da Mesquita de al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém  Créditos

4. O papel dos Estados Unidos, União Europeia e NATO

Por muito que possam vir a proclamar verbalmente o contrário, os Estados Unidos e a União Europeia estão por detrás de mais esta chacina israelita em Gaza. Se em relação a Washington não existe qualquer dúvida, tanto mais que o aparelho do Partido Democrata no poder é o que está mais sintonizado com os interesses dominantes do sionismo, poderão levantar-se reticências em relação ao papel da União Europeia.

«a prática de Bruxelas e dos 27 é objectivamente favorável às atitudes assumidas por Israel, sejam elas quais forem: nada fazem para que seja concretizada a solução de dois Estados na Palestina, mantêm relações económicas e políticas preferenciais com Israel e não assumem nas instâncias internacionais qualquer posição contra as atitudes militares extremas do sionismo»

O que não tem qualquer razão de ser. Apesar de algumas declarações de distanciamento, como foi o caso por ocasião da transferência da embaixada norte-americana para Jerusalém, a prática de Bruxelas e dos 27 é objectivamente favorável às atitudes assumidas por Israel, sejam elas quais forem: nada fazem para que seja concretizada a solução de dois Estados na Palestina, mantêm relações económicas e políticas preferenciais com Israel e não assumem nas instâncias internacionais qualquer posição contra as atitudes militares extremas do sionismo. Antes pelo contrário: Israel é um parceiro activo da NATO – que rege a União Europeia do ponto de vista militar – e está mesmo envolvido nos exercícios em curso na Grécia e no Mar Egeu no quadro dos jogos de guerra «Defender Europe». Isto é, as forças armadas sionistas que participam em exercícios atlantistas são as mesmas que fazem jorrar o sangue de civis indefesos na Palestina, impedidos de escapar às suas bombas. Uma aliança que dizima vidas e direitos humanos.

Protesto contra a expulsão de famílias palestinianas do Bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental ocupada  Créditos

5. A causa próxima: colonização e limpeza étnica

A mensagem de Israel com esta nova operação de barbárie é directa: nada fará parar o sionismo no seu objectivo de limpar e submeter etnicamente a Palestina e de impedir qualquer tentativa, por débil que seja, de implementar a solução de dois Estados.

O instrumento para concretizar esse objectivo é a colonização ininterrupta dos territórios da Cisjordânia – a par do cerco férreo a Gaza – de maneira a estender a ocupação, inviabilizar as possibilidades territoriais de instaurar um Estado e quebrar a resistência nacional palestiniana.

«a operação militar sionista assumiu as já conhecidas proporções de punição colectiva. Contando, para isso, com a habitual impunidade que lhe é assegurada pelas instâncias internacionais. De facto, Israel usa o terrorismo para impor a lei do mais forte sabendo que encontrará pouca oposição e condenação nenhuma»

Nas últimas semanas o regime sionista expulsou mais famílias e arrasou as suas habitações no bairro de Sheik Jarrah, em Jerusalém Leste, no quadro da «limpeza» de todos os palestinianos da cidade. Acontece que a ofensiva encontrou forte resistência da população atingida, sinal de que, apesar de isolados internacionalmente, os palestinianos não estão dispostos a abdicar dos seus direitos. Uma vez que Gaza respondeu à agressão e da Faixa de Gaza foram disparados foguetes contra território israelita, a operação militar sionista assumiu as já conhecidas proporções de punição colectiva. Contando, para isso, com a habitual impunidade que lhe é assegurada pelas instâncias internacionais.

De facto, Israel usa o terrorismo para impor a lei do mais forte sabendo que encontrará pouca oposição e condenação nenhuma.

A nova fase da chacina contra Gaza e da limpeza étnica da Cisjordânia é, afinal, mais um passo no sentido de um desfecho que inviabilize de vez a solução de dois Estados na Palestina. Ao mesmo tempo que este princípio vai sendo invocado como um mantra cada vez mais vazio de significado pelos que insistem em dizer-se defensores das leis internacionais e dos direitos humanos.

Enquanto isto, continuam a morrer inocentes indefesos e a Nakba, o holocausto palestiniano, prossegue, dia após dia, sob os olhos e a passividade do mundo. Até ao último dos palestinianos.

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Na sequência dos recentes acontecimentos na Faixa de Gaza, republicamos um artigo de 2021 sobre a situação vivida, diariamente, pelos milhões de palestinianos cercados por Israel: alvos de bombardeamentos indiscriminados, assassinatos e prisões arbitrárias.
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Israel poderá ainda dizer que não fez nada que a NATO não tenha executado por exemplo em Belgrado, em 1999, quando bombardeou e destruiu o edifício da televisão jugoslava.

É certo que a AP tem prestado permanentes e bons serviços ao regime sionista, tal como as outras principais agências internacionais de informação. E não será este aparentemente inusitado bombardeamento que irá interromper a sua fidelidade para com Israel. O governo israelita está seguro disso – é a ordem natural das coisas.

Para interrompê-la de maneira favorável ao reconhecimento dos direitos dos palestinianos seria necessário muito mais do que as rotineiras palavras de inquietação e um «cessar-fogo» transitório.

Impossível?

Nem tanto. Se, por exemplo, os dirigentes da União Europeia – ainda que incomodando a administração Biden – experimentassem suspender as relações económicas e militares com Israel até que este país abrisse comprovadamente as portas à solução de dois Estados, talvez o cenário se alterasse. Afinal, suspender relações económicas e impor sanções a países terceiros já não constitui qualquer novidade para a União Europeia, predisposta assim a sofrer as respectivas consequências.

De um ponto de vista objectivo, não haverá país tão merecedor de tais medidas como Israel, pelo menos tendo em conta palavras proferidas de quando em vez por alguns dirigentes europeus.

Fazer sentir aos chefes sionistas que a barbárie tem um preço a pagar seria a maneira de lhes proporcionar um inesperado encontro com uma nova realidade e as consequências dos seus comportamentos cruéis. E seria, sobretudo, um caminho para o fim de uma tragédia humana, não apenas em Gaza mas também na Cisjordânia e até em Israel, onde os dirigentes se debatem com uma interminável crise governativa e mesmo – eles o dizem – com os riscos de «uma guerra civil».

José Goulão, exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril

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Tal como o projecto do Ministério da Inteligência, este documento é igualmente um concentrado de «vantagens» distribuídas em muitas direcções. Parte do princípio de que no Egipto «há dez milhões de unidades habitacionais desocupadas… que poderiam ser imediatamente preenchidas com palestinianos».

Para que isso possa acontecer, Israel deveria comprar essas propriedades por um preço total entre cinco mil e oito mil milhões de dólares norte-americanos, quantia equivalente a uma percentagem do PIB israelita entre 1 e 1,5%.

Diz Weitman: isto equivaleria a «comprar a Faixa de Gaza», «um investimento muito valioso». Apresentado também como «um gestor de investimentos e investigador», o autor explica que «investir milhares de milhões de dólares para resolver tão difícil questão é uma solução inovadora, barata e sustentável». Poderá atenuar ou até solucionar o problema da falta de habitação em Israel; para o Egipto será «um estímulo imediato» e representará «um benefício tremendo e imediato» para a região do Sinai.

Além disso, o impacto demográfico no Egipto não será significativo, garante. Os habitantes de Gaza «constituem menos de dois por cento da população egípcia total, que hoje já inclui nove milhões de refugiados. Uma gota no oceano».

Portanto, enquanto alguns responsáveis israelitas antevêem, numa primeira fase, transferir a população de Gaza para «cidades de tendas» no Sinai, a «solução» do Dr. Weitman garante, desde logo, a utilização de casas de habitação.

Sublinha o autor que a Alemanha e a França, «os principais credores do Cairo», não deixarão de concordar com este processo, uma vez que «a economia egípcia será revitalizada» graças ao «investimento israelita».

Também os países da Europa Ocidental «aceitarão a transferência de toda a população de Gaza para o Egipto» porque «reduzirá significativamente o risco de imigração ilegal…, uma tremenda vantagem».

Neste aspecto, os planos do Ministério da Inteligência e do professor Amir Weitman parecem dissonantes, uma vez que o primeiro encara os países europeus como acolhedores de palestinianos; o segundo aposta firmemente no Egipto, o que, a acreditar nas sucessivas declarações do presidente Al-Sisi de que não abrirá a fronteira para permitir a limpeza étnica, pode deixar o projecto sem plano B. No entanto, como a actual fase do processo é ainda a chacina generalizada da população de Gaza, que os Estados Unidos e os seus satélites continuam a permitir recusando a imposição de um cessar-fogo, pode dizer-se que haverá tempo para acertar e fazer coincidir os mecanismos do projectado crime de guerra.

«Será que o mundo assim ameaçado por "centenas de ogivas atómicas" (Sharon dixit) ainda não entendeu o significado e os perigos do que está a acontecer no pequeno território da Faixa de Gaza?»

O Dr. Weitman continua a distribuir «vantagens» associadas ao seu programa. «A evacuação da Faixa de Gaza significa a eliminação de um aliado significativo do Irão»; o encerramento da questão de Gaza garantirá, por outro lado, «o fornecimento estável e crescente de gás israelita ao Egipto» – roubado nas águas palestinianas – «e a sua liquefacção».

Por fim chega a «vantagem dos palestinianos»: «deixam de viver na pobreza sob o domínio do Hamas». Isto é, enquanto continuam a ser massacrados pelas tropas sionistas, afinal têm à sua frente um futuro risonho.

O Dr. Weitman deixa um conselho: não há tempo a perder. «Não há dúvida de que para que este plano se concretize há muitas condições que devem ser reunidas simultaneamente. Actualmente essas condições estão reunidas e não está claro quando uma oportunidade destas voltará a surgir, se é que alguma vez surgirá. Este é o momento de agir».

O jornalista israelita Gideon Levy, que escreve no diário Haaretz, costuma dizer que «o sionismo confunde o judaísmo com o mundo», no fundo uma expressão do racismo e dos atributos mitológicos, messiânicos, inerentes a esta doutrina. Os projectos para a consumação da limpeza étnica da Faixa de Gaza já em andamento traduzem essa maneira de pensar e de viver o sionismo tal como é praticado em Israel, pondo e dispondo do mundo, posicionando-se acima da lei como um dom natural, uma escolha divina, recorrendo a todos os meios possíveis e impossíveis para afirmar a sua superioridade, que considera inquestionável. Ou, como em tempos disse o criminoso de guerra Ariel Sharon, «temos a capacidade de destruir o mundo e garanto-vos que isso acontecerá antes de Israel se afundar».

Será que o mundo assim ameaçado por «centenas de ogivas atómicas» (Sharon dixit) ainda não entendeu o significado e os perigos do que está a acontecer no pequeno território da Faixa de Gaza?

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